terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Flamengo Campeão

Por força das circunstâncias, passei a maior parte da infância e pré adolescência indo ao campo de futebol assistir com meu pai milhares de jogos, desde intermunicipal a campeonato brasileiro. Sentava-me, pequeno e magrelo, em uma ponta do banco onde estava, além dele, geralmente, Grimoaldo Soares, o grande comentarista, que talvez não gostasse muito das mentas que lhe roubava. Depois, meu pai já era o comentarista e eu continuava ali sentado no canto. Mais adiante, trabalhei como comentarista de futebol transmitido por televisão em canal fechado. Fica entranhada outra postura que não a de um torcedor. Exatamente o oposto. Não podia gritar, xingar, vibrar. Nada. O lado positivo foi aprender a "ler" uma partida que se desenrole à minha frente. Mas dificilmente vibro, ainda hoje, por conta do costume. Mas é que o Flamengo campeão pela sexta vez do Campeonato Brasileiro foi uma grande emoção. Os desconfiados de tudo espalham que houve um grande "aggiornamento" para isso. Também é verdade que o Grêmio jogou com muitos reservas e se uma equipe quer ser campeã, precisa ganhar e bem uma equipe escalada assim. Mas o que mais me emocionou foi o outro lado desse Flamengo endividado, que no dia seguinte à vitória deu um dos passos mais importantes de sua história ao eleger Patrícia Amorim sua presidente, tirando da frente mega ladrões que conseguiram jogar o clube no mais profundo dos poços. O que me emocionou foi mais uma vez, a grande força do futebol, que é a amizade. A união. O Real Madri é cheio de astros, mas não repete o ajuste do Barcelona. Há outros exemplos mais claros. Amizade a Andrade, grande figura, tímido, educado, "na dele", de quem todos desconfiaram e no entanto, além de mudar o esquema deixado por Joel Santana e seguido por todos os outros, uniu o grupo, onde todos "sujavam o calção" pelo companheiro. Jogadores medianos, veteranos, malandros da noite carioca, comandados pelo sérvio Petkovic e Adriano, no momento certo, aceleraram e chegaram àquele domingo. E no sofrimento do gol da vitória, vem a cabeçada de Ronaldo Angelim, um cearense tímido, magro, pouca massa muscular, pouca altura, leal, discreto, eficiente e correto. O gol de Angelim me fez chorar, pelas maravilhas que o futebol nos proporciona. Andrade e Angelim. Não podia ser melhor. Chorei por mim e por meu pai que adoraria assistir. Chorei por meus filhos que me enviaram sms. Agora, como será o ano que vem, ninguém sabe. Mas é outro assunto.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A nova Escola de Teatro

Saiu ontem, na Folha de São Paulo, matéria sobre a inauguração da SP Escola de Teatro, projeto do governo estadual para formação de profissionais de artes cênicas, ali no Brás. A sede definitiva funcionará na praça Roosevelt, no centro, custando pouco mais de 4 milhões de reais. Enquanto o prédio não fica pronto, prometido para agosto, foi reformada a Oficina Cultural Amácio Mazzaroppi, que custou 500 mil reais. A necessidade de se antecipar à finalização do prédio, foi pela adequação ao calendário letivo padrão, com aulas a partir de fevereiro. Custará, anualmente, 8 milhões de reais, geridos pela organização social de cultura Associação Amigos das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo. O valor supera o montante que o governo estadual destinou neste ano a seus principais projetos culturais, entre eles, Programação de Ação Cultural, campanha Vá ao Teatro, Festival Nacional de Teatro Infantil de
Salto (no noroeste do Estado), Circuito Cultural Paulista e Virada Cultural Paulista. Tudo começou com a galera dos Satyros, reativando um prédio abandonado na Praça Roosevelt, então completamente abandonada a mendigos, traficantes e usuários de crack. Os Satyros e Parlapatões sçai responsáveis pela maioria dos cargos de direção e coordenação. A instituição oferecerá oito cursos regulares para atuação, cenografia e figurino, direção, dramaturgia, humor, iluminação, sonoplastia e técnicas de palco, com dureção de dois anos. Tudo gratuito. Haverá também cursos livres de seis meses.
Porque posto esse acontecimento? Precisa explicar? A Escola de Teatro e Dança da Ufpa, que depois de muita luta, conta com doutores e mestres e um teatro perfeitamente equipado, também tem colocado novos técnicos no mercado. E agora sei de uma Escola Estadual, que ainda não visitei, que fica ali, ao lado do Sebrae, dirigida por Vânia Castro. Mas a pergunta que faço é o que fazer, uma vez saído de uma dessas escolas locais? Em São Paulo, há um imenso mercado. Aqui, não há nada. Temos alguns novos encenadores, como Saulo Sisnando, Danilo Bracchi, talvez tenha esquecido alguém, com gente nova em cena, mas um trabalho hercúleo em trazer de volta o público. A maioria dos nossos grandes nomes está a serviço da Escola de Teatro, muito justamente recebendo salários condizentes com o grau que alcançaram, mas sem tempo para fazer teatro. Enquanto isso, aqui fora, quais são os novos teatros? Em São Paulo, o Shopping Bourbon inaugurou um de 2 mil lugares. Há outro, creio que na Vila Olímpia, que acaba de ser inaugurado, com 600 lugares. É o teatro, levado, também pela iniciativa particular como algo importante para a sociedade. Por aqui, pelo menos temos o Cuíra, com toda a luta do dia a dia.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Uma loja no shopping

Acabo de assistir, na web, trecho da inauguração de um teatro com uns 2 mil lugares, no Shopping Bourbon, em São Paulo. Alguns artistas falaram. Talvez Fernanda Montenegro, não lembro agora, disse : obrigado pela iniciativa privada decidir abrir uma loja para nós, neste shopping imenso, onde possamos vender nossos produtos, nossas peças de teatro. É quando vem a melancolia pelo deserto de idéias e iniciativas em que vivemos e lemos a relação de vips locais que viajam para Dubai, Paris, NY, Barcelona, Johanesburgo, sei lá, e voltam cada vez mais burros, mais egoístas, com mais desprezo para a terra onde vivem, de onde sugam tudo o que podem e não devolvem nada. Não querem mais, sequer patrocinar espetáculos pelas leis municipal e estadual, para se esquivarem de qualquer fiscalização. Uma loja no shopping. Nós também acabamos de ver inaugurado um shopping gigantesco, na Doca.

Vamos ao Teatro, mas não me chame

Não sou inocente. Sei perfeitamente o que estou fazendo. Também não quero ir para o céu. Faço o que faço, simplesmente porque desejo fazer. Acredito nisso. Também sei que vivemos um momento terrível, especialmente em Belém. É um assunto complexo. Mas a cada dia, o que me faz pular da cama é a vontade de fazer, realizar, passar do discurso à ação. E olha que nesses três anos de Cuíra, vi muita gente cair fora, confrontada entre o discurso que norteava uma vida e a possibilidade da ação.
Estamos no último final de semana da segunda temporada de “Abraço”, texto de minha autoria, minha primeira direção, e também música de minha lavra. Em cena, dois dos maiores atores paraenses, Cláudio Barradas e Zê Charone. Não posso me queixar de meus colegas jornalistas. Saíram matérias nos jornais, nas televisões, chamadas em rádio e até anúncio, pela amizade de Camilo Centeno. Sim, temos problemas de público. Quem vai, após o espetáculo, não cabe em si de alegria pelo que viu. Mas são poucos, para o tamanho dos dois atores. Será que ainda é porque o Cuíra fica na Riachuelo com Primeiro de Março? Como se as demais ruas da cidade fossem tranqüilas e seguras? Será porque acham que há prostitutas constrangendo as pessoas? Será porque o Cuíra não tem ar condicionado, embora os ventiladores instalados garantam uma temperatura absolutamente civilizada?
Vou apenas citar os doze anos tucanos, mais os quatro petistas, em que andamos para trás. É bom dizer que já de antes dos tucanos havia uma queda nas platéias. E eu posso encher o peito de orgulho e dizer que lotava Teatro da Paz, Schivazappa, até com sessões extras.
O problema é complexo, envolve o completo descrédito da Cultura, hoje confundida com lazer. Como disse um conhecido, dia desses, “a gente sai de casa para desopilar o fígado e não para ver o sofrimento dos outros”.
Quanto à sobrevivência, deixando de lado as leis de incentivo à Cultura, municipal e estadual, já que hoje ninguém mais quer patrocinar desse jeito, com medo de fiscalização, optamos pela Rouanet, com algumas possibilidades. Mais do que isso, concorremos e ganhamos alguns prêmios do Ministério da Cultura, Funarte e até mesmo da Secult, na forma de dinheiro, além de nos tornarmos Ponto de Cultura. Depois de três anos de luta extrema, as coisas parecem tomar rumo. O problema é o público. E eu me queixo. Como disse, no começo, não sou inocente e sei o que estou fazendo. O que não compreendo é o afastamento de uma parte do público que era essencial: os formadores de opinião. Eles escrevem blogs, são articulistas, jornalistas, artistas, profissionais liberais que no entanto, percorrem rodas disseminando conceitos dos livros, filmes, peças de teatro, exposições em que estiveram. Onde estão eles? Dão todo o seu apoio. Abrem espaço nos blogs, nos jornais, televisão, recomendam, mas não vão. Então, não estão assistindo nenhuma peça de teatro local ou é somente no Cuíra? Não consigo entender. São pessoas que sabemos, gostam de teatro, de Cultura. Gente importante. Gente com as quais gostaríamos de debater o que foi visto. Não para receber elogios, mas para o debate, para ouvir outros pontos de vista. Para ajudar a compreender. Para dar uma força. Para nos proteger. Para que sintamos alento, pois a guerra é terrível, como se uma montanha estivesse em nossas costas, nos empurrando para a desistência, deixar para lá, ir cuidar da vida. Agora mesmo, parece que estamos perdendo o apoio da Leal Moreira, tão frágil, tão importante para nós, onde ela construiria um mezanino e abaixo, banheiro para o público. Em contrapartida, eu escreveria crônicas para sua bela revista Living. A gente respira fundo, olha em volta e retoma a luta. Depois percebe que isso dá ainda mais força para continuar. Mas há momentos em que desejamos nos queixar, como agora. Onde estão vocês, amigos, gente inteligente, que gosta de Cultura, que vai assistir aos espetáculos. Onde estão vocês? É nosso último final de semana. Barradas faz 80 anos em janeiro. O cara vale qualquer coisa para ser assistido. E Zê Charone dá um show de técnica interpretativa. E agora temos até pano de boca, doado pelo amigo Gerson Araújo, do Centur. Senão é como a frase que está como título, que vi em uma tshirt há algum tempo atrás. Vamos ao teatro, mas não me chame. Isso não pode continuar assim.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Replay 2

Tal como informei antes, estou republicando alguns posts que até hoje acho legal e atuais. Às vezes vem a vontade de escrever algo e lembro que já o fiz, antes. Assim, mais um Replay..


CARCAÇAS NOVÍSSIMAS

Quantas vezes você ouviu aquele cd que comprou, antes do novo, que acabou de comprar? Quanto tempo faz que aposentou seu iPod, porque comprou e agora circula por aí com seu nano iPod? Quanto tempo faz que deixou de lado seu computador pelo belíssimo notebook que acabou de chegar? Quanto tempo durou seu carro, até que, ensandecido por aquele comercial, você decidiu comprar o lançamento? Vivemos a era do consumo. Tudo muito tudo agora. De novo! Tudo muito tudo agora. De novo! De uma vez! O mercado tem fome. Você também. É o tempo da infelicidade. Sou infeliz porque não tenho as novas havaianas com desenhos dos cartunistas paulistas. Sou infeliz porque não tenho a nova camisa lançada há dois dias por Fause Haten. Qual a razão da minha infelicidade, hoje? Não há tempo para degustar. Somente para engolir e abrir a boca novamente, para engolir algo diferente. Aquele cachorro robô da Sony, está esgotado na cor branca. Agora saiu na cor preta. Imaginem. Nada de novo. Somente a cor.
Sei que é coisa do passado mas houve um tempo em que chegava o disco de um artista e o ouvíamos sem parar, por uns três meses, decorando as faixas, sabendo as letras, até que chegava o disco de outro artista favorito. Havia um tempo de degustação das coisas. Hoje, a obsolescência do material é tão alta que no Japão, aparelhos de tv são empilhados como lixo, por apresentarem defeitos cujo conserto sairia inviável em preço, sendo melhor comprar um novo. A internet e seus hightlights. A MTV com seus clips de três minutos, levando o jovem a dispersar a atenção com qualquer coisa além disso. Agora, com o vídeo iPod, teremos filmes, curta metragens, outra linguagem completamente diferente. É tela pequena, muda tudo. É como se quisessem comprimir tudo em menos tempo. Não há tempo a perder. Vêm aí os implantes de cultura, como naquele filme do Keanu Reeves? Toda a carreira de Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, sei lá, que maturei em longos anos, a garotada, hoje, faz download e já sai conhecendo tudo. Conhece, mas pôde maturar? Fez digestão? Sacou? Também não gosto dos prolixos, mas é verdade que email e msn, por um lado, estimularam as pessoas a voltar a escrever, mas por outro, também é tudo menor, curto, sem perda de tempo. Repare nas novelas. Cada take não leva mais que dez segundos. Informações subliminares. Torpedos, via celular, cada vez mais curtos, utilizando uma linguagem própria, que encurta as palavras, encantadora, sem dúvida, mas redutora, também. É como deixar de gostar de assistir partidas de futebol e se contentar com os “Melhores Momentos”. E, no entanto, nesse jogo, tudo é importante, porque há um contexto a perceber. E o que é feito com todo esse equipamento que fica velho, mesmo sendo, ainda, absolutamente novo? Vira decoração, fica jogado nas estantes, não tem serventia. Se é alta a obsolescência, também é o descarte. E é um material que não vai se consumir. Vai ficar. E ao mesmo tempo, o fosso entre os ricos e os pobres é cada vez mais profundo. Por que será que ninguém pensa neles? Informação é poder. Um computador, por exemplo, ainda novíssimo, mas obsoleto para você que já tem o novo notebook Vaio, da Sony, é essencial para quem precisa. Para quem não tem, é um tesouro. Um cd player substituído por um iPod. Máquinas fotográficas que ainda usam filme, substituídas por digitais. Para onde vai esse mundo de equipamentos descartados? Teríamos a humildade, juízo e generosidade em entregar em postos autorizados esse equipamento substituído, para que fosse entregue a quem não pode comprar? E seria entregue? Continuaremos feitos uns malucos, comprando e gastando cada vez mais e mais? Seduzidos pela propaganda? Iludidos pela fome do mercado? Devorando o que nos apresentem? Sem mastigar, sem sentir o gosto, sem fazer a digestão? Quando deixaremos de ser infelizes por não ter um celular último modelo, que faz tudo, só falta falar e que está sobre a mesa daquele restaurante, sendo propriedade de outra pessoa? É cobiça que nos move? É ascensão social? Psicólogos não gostam, mas há pessoas que quando estão deprimidas, correm para um shopping onde compram de tudo. Presenteiam a si próprias. Inflam o ego. Será que realmente queremos tudo isso? É novo, eu quero. Tudo muito tudo agora. De novo! Tudo muito tudo agora. De novo! Pense nisso. Liberte-se. Não precisa virar nenhum ermitão, ou guardião de carcaças novíssimas, mas é bom escolher bem suas guerras. Você realmente precisa deste ou daquele aparelho, que promete armazenar tantos dados que nem em três vidas você daria conta de preencher? Mas aprenda a degustar. Curtir. Qual é a sua?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Apagão

Parece teoria da conspiração, ou que venho assistindo demais as aventuras de Jack Bauer, mas o que me impressionou mais nesse apagão que tomou conta de vários Estados, foi a facilidade aparente de se atingir três torres de transmissão e com isso, causar tanto estrago, por até cinco horas, por exemplo. O sistema foi feito para resistir a até duas quedas de torres, não três. E se, sincronizados, grupos terroristas derrubam as três torres, aproveitando que o presidente e demais autoridades pertinentes estão em alguma dessas cidades? E se tomam o Poder, sei lá que mais? Parece muito frágil isso, não?

A nova civilização

Por alguns dias, diariamente, republicarei alguns posts dos quais continuo gostando. é porque vem a vontade de escrever e lembro que já o fiz, anteriormente. Está bem?


A Nova Civilização
Coincidência ler em Flanar um desabafo sobre todo o desrespeito, estupidez, falta de educação, cultura e tudo o mais que chocou quem esteve no Mosqueiro, no Reveillon. Os incomodados que se retirem. Eles devem ter se divertido muito. A nova lei. A nova civilização se reinventando. No sábado, o Repórter Diário divulgou pesquisa realizada pelo sociólogo Valber Pires, sobre os camelôs atuantes no centro de Belém. O resultado é desamparo, falta de qualificação técnica e violência. Imaginem que a maioria dos camelôs já está na faixa etária de 30 anos, com 70% na informalidade, há mais de cinco anos, ou seja, ingressou na área em plena juventude e não deverá mais sair. A maioria não tem carteira profissional e 90% não paga Previdência. Mais de 70% dos entrevistados não possui Ensino Médio e muitos, sequer concluíram o Fundamental. Segundo Dados do IBGE e do Anuário Estatístico do Município de Belém, apesar do crescimento da economia acima dos 10%, registrou-se também um aumento no trabalho informal na cidade. Leio também, no Jornal Pessoal de Lúcio Flávio Pinto, que dos 7 milhões de paraenses, 6% é de analfabetos ou analfabetos funcionais. Dos 126 mil professores da rede pública de ensino médio, 1/3 não possui nível superior. E os que têm formação universitária, vieram de escolas particulares. Das 1216 escolas, 80% tem infra estrutura deficitária e obsoleta. Dados da Seduc.
Chega de números. Este é o abismo em que nos encontramos. Nosso povo não tem Cultura e por isso não tem Educação, Saúde, Saneamento e seguimos adiante. Não tendo nada disso, mas assistindo na Tv, diariamente, tudo o que o mundo moderno pode oferecer, age. E quando não obtém roubando, e nisso, deixando de lado tênis, relógios, celulares, mas colocando comida, por exemplo, inventa. A Nova Civilização. São novas leis, que podemos perceber em coisas simples. A motocicleta, por exemplo, virou sonho de consumo, depois da bike. Em ambos os transportes, não há lei a ser obedecida, a não ser a de quem está na direção. As motos também se transformaram em instrumentos ideais para matar e fugir rápidamente. O capacete, o disfarce ideal. Os jornais, parece, adequando-se à nova era, enchem suas páginas de cadáveres nas mais grotescas posições, encharcados de sangue. A reinvenção do mercado fonográfico, através do Calypso, negociando diretamente, estimulando a venda de piratas por camelôs, faturando nos shows. E se reinventam no visual, assistindo Shakiras e Madonnas, para dar seu jeito. Os números da Seduc mostram a gravidade do assunto. Sua mera revelação bastaria para cair um governo. E nem é somente culpa deste, claro. Pergunto o que Ana Júlia pensa disso. Como consegue dormir com esse barulho? E o tal prefeito, que também não é culpado único? Quanto à pesquisa entre os camelôs, percebam que eles são propagadores de Cultura no centro da cidade, por onde passa, diáriamente, boa parte da população. Vendem roupas, adornos, filmes, cds e outras coisinhas, digamos assim. Vendem seu mundo. O mundo reinventado. Tudo pirata. Bolsas e tênis Nike. Quem compra, sabe que é falso. Todo mundo sabe. E daí? Não é para ser Nike? Quem manda custar tão caro?
Agora mesmo, um grupo de lúmpens, deslocado de uma casa na Riachuelo onde a Polícia encontrou laboratório de drogas, achou de ocupar a esquina do Cuíra, Riachuelo com Primeiro de Março. Ocupar, simplesmente. Homens e mulheres em idade de trabalho, passam seus dias jogados em colchonetes pútridos, namorando, fazendo sexo, necessidades fisiológicas, bebendo, se drogando, brigando, discutindo, a qualquer hora do dia ou da noite, sem distinção. O mais interessante é que não tentam, de maneira alguma, se esconder, ocultar sua vadiagem, suas roupas andrajos, ou a trouxa onde guardam petecas de crack, que vendem para comprar PFs e bebida. Procuram exatamente o foco do holofote que ilumina a frente do Teatro Cuíra. Estão no palco, entendem? O mundo é deles. Infelizmente, a culpa é toda nossa. Nós, com nossas briguinhas internas, nossos ódios eternos, antipatias, nossos lucros pessoais, nos inviabilizamos políticamente desde que o Pará é Pará. Leiam o livro de Carlos Rocque sobre Magalhães Barata. Leiam sobre o velho Lemos. Nossa elite é uma elite de merda. Viaja o mundo inteiro e não traz nada de bom para a cidade. Pelo contrário. Nossos ricos, ao invés de agradecer à cidade por ter proporcionado sua riqueza, nada fazem. Está certo que pagamos impostos exorbitantes, mas também somos responsáveis por votar nesses pulhas que ao longo de nossa história, nos deixaram assim. Nossos jornais, aos domingos, repetem as mesmas fotos, das mesmas pessoas, nas mesmas festas, ou festejando os mesmos negócios. Um dia desses, ingênuo, Luizão tornou pública a má educação de Edu Lobo. Pra quê. Li mensagens que já o detratavam apenas por ter trazido o artista. Luta de classes, ainda. Lutamos entre nós. Queremos morrer abraçados. E somos caçados feito ratazanas prenhas, como diria Nelson Rodrigues, mortos a vassouradas, apenas porque ou nascemos em um lar de classe média ou conseguimos chegar lá, por mérito, por estudo, educação, cultura, e tentamos sobreviver com altivez nesta que tentou ser uma metrópole, mas voltou a ser uma selva. A floresta voltou e está engolindo a cidade. É a nova civilização. Tudo está por ser reinventado, segundo cada um de nós. Há esperança? Somos minoria

O Príncipe e a Abelha Rainha

Gosto muito de História. Desde criança. Há uns dois anos, livros contando a história do Brasil vêm obtendo expressivas vendas, mercê de um contexto maravilhoso e uma escrita leve e agradável. Acabo de ler "O Príncipe Maldito", de Mary del Priori, contando a história de Pedro Augusto, que seria o Pedro III, imperador do Brasil. A história tem todas as características de romance, novela, filme, o que quiserem. Eu não sabia nem de sua existência. Na sala de aula, passamos por cima de tudo isso, mais preocupados em guardar datas, ou saber se isso vai cair na prova. Um absurdo. A todas as pessoas que contei o enredo, ficou a impressão de ser algo agradável, bacana de saber. Imaginem se ao invés dessa bobajada das salas de aula, contadores de histórias passassem tudo, com interpretações, debates, discussão. Seria ótimo.
O Regente Feijó esteve à frente de tudo até Dom Pedro II assumir. Teve duas filhas, Isabel e Leopoldina, que casaram com dois europeus. Isabel seria a Rainha, com a morte de Dom Pedro II. O monarca iniciou a velhice, algumas doenças e começou o zunzunzum. Fofocas políticas, do povo e principalmente, nas internas. Isabel era casada com o Conde D'Eu, que ninguém suportava. Demorou a ter filhos. Leopoldina, não. Deu à luz dois meninos, o mais velho, Pedro, um homem bonito, que logo se impôs na sociedade e passou a ser um candidato natural ao trono. E a vida vai passando. Dom Pedro II resolve ir à Europa, tratar-se e também levar Pedro para conhecer o Velho Mundo. Enquanto o imperador se trata, o jovem corre as monarquias sendo homenageado, condecorado, procurado por candidatas a consorte. Enquando isso, no Brasil, não suportando as pressões, e já demorando muito, Isabel assina a Lei Áurea. Nem por isso fica mais simpática, bem como o marido. É bom dizer que a autora, Mary, cita apenas de passagem a Condessa de Barral, Domitila, que, convenhamos, não parece ter sido alguém a ser citado apenas de passagem. O imperador volta e é recebido com júbilo. No entanto, Benjamin Constant, Aristides Lobo, Rui Barbosa, Quintino Bocayuva, José do Patrocínio e outros que tais, tramavam a República. Chamaram Deodoro de Mendonça, herói da Guerra do Paraguai, que por fuxiquinhos foi mandado para o Mato Grosso e declararam a República. O jovem Pedro, que articulava algum golpe, desde que o colocasse no cargo, só foi saber de manhã cedo, ao sair para dar uma volta de cavalo. Passou o resto do dia aguardando ser chamado para ocupar o trono. Isabel e o marido ficaram desesperados. Dom Pedro II voltava de Petrópolis e recusava aceitar o fato. Imaginem a guerra interna nesta família. Está bem, mandaram dizer que partiriam para o exílio no dia seguinte, às cinco da tarde. Não. Partem logo mais, de madrugada, sem tempo para reunir bens, resgatar títulos, nada. Já na viagem, o jovem Pedro apresenta sinais de loucura. Fica internado em um hospício, onde fica até morrer. Dom Pedro II morreu mansamente, algum tempo antes. De Isabel, não lembro. Leopoldina morreu logo, lá no começo da história. Uma novela.
Abelha Rainha
Sempre gostei de Bethânia. Desde a Boate Barroco. Depois, adolescente, me apaixonei pelo Maria Bethânia Viana Telles Veloso, que tinha "Olha o tempo passando". Adiante, em "Rosa dos Ventos", ela me ensinou a ouvir Fernando Pessoa. Algumas opções nem sempre me agradaram de todo, mas Bethânia sempre esteve íntegra. Agora, colhe os frutos, lançando, mais uma vez, dois discos de uma só vez. É MCB, eu diria, hoje, Música Culta Brasileira, que há alguns anos, era Popular. Tudo é bom em "Tua", principalmente a primeira música, "É o amor outra vez", de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro e a última, "Domingo" (domingo eu não sou boa companhia), de Roque Ferreira. O outro, "Encantaria", ainda não ouvi. Depois eu digo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Perdoem os erros

Quando comecei a escrever aqui, decidir fazê-lo de prima. Direto no blog. Acho que assim, vira como que um diário, na temperatura do momento. Sei que posso cometer alguns erros. Concordância, repetição de palavras, ortográficos, sei lá. Perdoem. Se tiver de escrever primeiro, copiar, colar e tal, já fui. Não tenho saco. Tá bem?

O que as pessoas pensam de você?

Essa é mais difícil. Lembro que, a cada vez que alguém ergue uma máquina fotográfica e percebemos, há uma movimentação em nosso corpo. Assumimos, cada um, a persona que por algum motivo, queremos que seja capturada naquela foto. Alguns mexem os ombros, outros abrem um sorriso Colgate, baixam o rosto, mulheres dão valor ao busto, qualquer coisa, menos a gente. Isso, não deixamos que seja capturado. Quais são os sinais públicos que damos para as pessoas, o público externo, formar idéia sobre quem somos? Que roupas vestimos? O carro. Onde vamos. Onde sentamos. Com quem. Vivemos em sociedade e todos analisamos a todos, alguns com mais outros com menos talento. O que as pessoas pensam de você? De mim, tenho a impressão que pensam que sou antipático. Digo isso porque não consigo superar uma certa timidez em público, não sendo expansivo como sou quando estou com meus próximos. E também sofro por morar em uma cidade que ainda guarda resquícios sócio econômicos que geraram grupos sociais. Já fui Diretor de Cultura da Assembléia Paraense e lá me acharam alternativo demais, qua qua qua. Muitos da área de Teatro ainda me acham mauricinho demais, qua qua qua.. Isso por conta de não ser nem de um, nem de outro. Pelo contrário, almejo entrar e sair de todas as estruturas incólume, sendo apenas eu próprio e o que determinar meu pensamento. Às vezes estou em um determinado grupo, plenamente aceito e vou buscar meu carro. Quando chego, sinto que olham e já me qualificam de outra maneira. Como se, na idade em que estou e após trabalhar desesperadamente, não pudesse ter um carro. Em outras, quando desço do carro de t shirt e jeans, sinto que há um olhar que deprecia, talvez. Muito pequeno. Belém. Mas esse é outro tema bacana para discutir. Os sinais que emitimos. A sociedade em que vivemos. O que as pessoas pensam de você?

Como você se vê?

Essa vem da lembrança de dois papers que escrevi. O primeiro, na extinta Província do Pará e o segundo, no texto de uma crônica em que comentava meus 50 anos de idade, que já vão longe...
Esse "Como você se vê", surgiu há pouco tempo. Em alguns lugares, com vários espelhos, podemos nos perceber em ângulos improváveis. Já começa uma surpresa. Hoje, com a profusão de câmeras e processos de filmagem, qualquer pessoa pode ver-se em uma tela. Não é algo simples. Como nos vemos? Quem pensamos que somos? Então nos vemos, aquela pessoa, na tela, ganhando volume, uma pessoa que tem gestos, um corpo, uma voz, andar, expressões. Nós. Em ângulos que nunca imaginamos. Percebemos, talvez, uma cabeça em desacordo com a elegância, gordurinhas, andar estranho, uma voz que se ouve diferente. Como você se vê, é para mim, algo para discutir muito mais. Gosto do tema. E como se veste? Ih, você percebeu que parece um velho, barrigudo, se vestindo como se tivesse 25 anos.. Bem, hoje qualquer um pode fazer isso. O problema é se cabe. Fit. E você percebeu isso naquele momento. Voltar para casa, refazer tudo? É, companheiro, a verdade é dura e pior, todos sempre viram isso, menos você, até agora. O problema é outro e aí, entro no que escrevi no texto dos 50 anos. Homens e mulheres, a maioria, diariamente, botam a cara em um espelho. No caso dos homens, para barbear-se. São alguns minutos se encarando. Mas, não é assim, simples. Olhamo-nos e imaginamos a cara de sempre, uma imagem, e nos barbeamos onde já sabemos, ser necessário. Vemos mas não vemos, não sei se me faço entender. Experimente olhar-se para valer. Examinar seus ângulos. Agora é ali, onde está chapada, sua face. Vêm as imperfeições. Bochecha caída, rugas, marcas no rosto, enfim, um desastre. Sabem o que me acontece? O cara que mora dentro de mim, o cara que me habita, digamos, é muito mais novo do que a carcaça. Ele não havia percebido a passagem do tempo. E as pessoas em volta, no dia a dia, também não percebem. É como deixar de ver alguém por um tempo e no reencontro, notar cabelos brancos, barriga, ou magreza, sinais de mudança, passagem do tempo, rejuvenescimento, sei lá. Mas o cara que me habita é danado. Ele ainda gosta de rock, é curioso, está sempre esfomeado atrás de novidades, dorme porque tem horário de dormir, quer jogar futebol todos os dias e emite um brilho pelos olhos que deve confundir estranhos. E então ele precisa raciocinar se não avança muito os sinais. Se a roupa que escolheu para sair combina com o resto. Já comprei várias camisas e calças que após a euforia da compra, passaram, direto, para meus filhos. Pena. Mas fico feliz em vê-los com elas. Me realizo, também. Enfim, bom de discutir isso, não?

Complexo de Vira Lata?

Isso me ocorreu de repente e divido com vocês meus pensamentos. O paraense sempre foi tomado como hospitaleiro. Pessoas de outros Estados passam por aqui e fazem muitos elogios. Dizem que "os paraenses, nem bem te conhecem e já vão te levando para casa, fazer refeição, passear". Isso é verdade. Às vezes, está uma visita na cidade e de repente, não nos contentamos em levá-la para passear, não deixá-la pagar nada. Chega a segunda feira e deixamos de trabalhar para levá-la até Mosqueiro, Salinas, sei lá. Antigamente, Belém era uma cidade portuária. Havia muitos estrangeiros nas ruas. Li que mais de 30 consulados. Mais tarde, até a Segunda Guerra, fomos uma cidade onde os aviões faziam escala e muitos ficavam. Normal, então, essa facilidade do povo em lidar com visitas, com estrangeiros, inclusive. Mas o tempo passou e hoje, tenho a impressão que temos complexo de vira latas, como dizia Nelson Rodrigues do Brasil. Creio que desejamos, ardentemente, ser aceitos. Queremos, ardentemente que a visita diga que somos pessoas bacanas. Que nossa cidade é linda. Que não vêem a hora de retornar. Que nunca esquecerão os passeios, a hospitalidade. Creio que depois de ouvir isso, respiramos fundo e nos aliviamos. Ufa. Tudo isso porque sabemos que somos esquecidos. Com o tempo, o Sul ficou forte e se segura. Minas, São Paulo e Rio. Há Salvador e Pernambuco. Recentemente, o turismo em Fortaleza. Manaus arrebentou e levou a Copa. Ficamos para trás. Nas pesquisas nacionais, não somos citados. Os aviões que vêm aqui, chegam de noite ou madrugada. Vôos internacionais? E espera lá, quem vem a Belém fazer turismo? Talvez turismo de negócios, os números provam. E o que mais? Para ver santos barrocos, há 365 igrejas na Bahia. Sabemos disso, mas adoramos nossa terra. Assim, ficamos nos arrastando, pirangando um elogio, largamos tudo, paparicamos a visita até vir o tal elogio. E isso me leva a outra pergunta: realmente amamos nossa cidade? Se a resposta é sim, eu digo que é mentira. Um sentimento antigo, que não resiste a uma atualização. Porque se amamos, qual a razão de não fazer nada para a destruição que assistimos, sem querer nos meter, ou não podendo, ou na base do deixa pra lá. Nós votamos nessas autoridades, ou trabalhamos de maneira ao nosso opositor não se eleger também, preferindo o caos, que é o caso atual. Realmente amamos a cidade? Não. E então, qual a razão de ficar nessa "hospitalidade", que na verdade é complexo de vira latas? Por favor, goste de mim.. Gostar pelo quê?

Ainda em Woodstock?

Pois é, virou uma obsessão. Bem, sou um pouquinho obcecado por algumas coisas. Primeiro assisti aos 4 DVDs sobre Woodstock, contendo shows que nunca haviam sido vistos. Depois, ouvi seis Cds contendo outros shows que haviam ficado de fora nas comemorações pelos 30 anos, quando saíram apenas 4 cds. Então, li Woodstock, de Pete Fornatale, dj e jornalista novaiorquino que estava lá e então, analisa show por show, na ordem correta em que foram feitos, diferente do documentário que criou seu próprio roteiro, bem como me posicionou sobre onde os músicos ficavam, o que diziam, os atrasos, alguns bem chapados, achando que se apresentariam quatro horas mais tarde e no entanto, chamados na hora e simples hippies que estiveram lá. Muito legal. E então veio "Aconteceu em Woodstock", de Elliott Tiber. Resumindo: Bethel foi uma região, nos anos 50, onde muita gente de NY ia jogar nos cassinos. Inventaram Atlantic City, Miami e a região entrou em decadência. Mark Lang, depois de investir uma nota em um terreno em Woodstock, recebeu uma negativa. Desesperado, achou Elliott. Este, com seus pais, tinham um hotel decadente. Mais ainda, Elliott, gay ainda não assumido, anos 60, fazia alguns shows de verão, tentando animar a galera. Era presidente da Câmara de Comércio da região e concedeu a si próprio a licença para promover um festival. Lang foi até lá. O terreno não servia. Em frente, havia a fazenda de Max Yasgur, perfeita. O livro conta todas as demarches, os obstáculos colocados por diversos moradores, os artistas, enfim, o ambiente em que se desenvolveu o festival. Agora virou filme, também. Acho que vou assistir e depois, dá um tempo, né?
Mas acabei de ler "Passageiro", de Cesário Mello Franco, muito bom. Linguagem rápida, orientação total da zona sul carioca, Ipanema, Leblon, bares, ruas, hum, acho que conheço esse estilo. Um garoto inteligente mas tímido, perde o pai, riquíssimo, self made man, a quem pouco conhecia, mas antipatizava. Descobrem que havia uma mulher com o pai. Atrás disso, ele vai conhecendo a vida e a luta do pai, que aos poucos, vai melhorando sua imagem, à medida em que ele também vai amadurecendo, inclusive com as meninas que adorava, mas tinha medo de chegar junto. Bacana.

A Feira Canalha, mais uma vez

Mais uma vez, a Feira do Livro. O secretário Edson dá entrevista mostrando a grandiosidade do evento. Que beleza! O número de participantes e o público estimado. Os escritores convidados, grandes nomes nacionais e alguns artistas da música, creio que estes, por conta do Hangar, extremamente generoso em trazê-los, por qualquer motivo. Todos parecem felizes, muito felizes. Até, talvez, os escritores locais, desinformados, frágeis, ingênuos, inscrevendo-se alegremente para participar do stand do escritor local. Será que eu é que estou errado? Desafino o côro dos contentes? Tento evitar sentir raiva, mas, idealista, não posso evitar. Essa Feira é canalha desde seu surgimento, retrato fiel da administração passada, absolutamente ignorante de seu papel e no entanto, imbuída dos melhores ou piores sentimentos na direção do sucesso de público, do evento, sem nenhuma preocupação com os alicerces. Creio que a mesma equipe prosseguiu à frente, na atual administração, que mais uma vez caracteriza-se pelo mais absoluto desconhecimento de sua função, de sua obrigação, trocando tudo por um projeto que pretende eleger seu dirigente máximo nas próximas eleições. Nos primeiros meses, compreendia-se a falta de ação, pois após doze anos de destruição, havia muito a construir. Com o tempo, deu para perceber que ninguém queria construir nada, a não ser uma candidatura.
Para os que somente agora podem me acompanhar, em poucas palavras, a razão de chamar a Feira do Livro de canalha. Se uma empresa particular decide promover uma Feira de Livros e para isso, aluga um lugar e por conta disso, aufere dinheiro vendendo espaços para livrarias, recebendo percentagens ou não; se traz escritores de fora, famosos, artistas da música, outros que tais e até, por boa vontade, abre inscrições para autores locais participarem de um stand do escritor local, tudo bem. Nada a opor. Agora, quando é uma ação de uma Secretaria de Estado da Cultura, está tudo errado. Porque é fundamental que não se esteja perseguindo ou apenas lucro, ou meramente sucesso de vendas ou de público, mas principalmente, um resultado cultural. Uma Feira de Livros é uma coroação anual de todo um trabalho desenvolvido, em todo o Estado, dividido, por exemplo, em três fases: relançamento de livros esgotados e importantes; lançamento de novos autores; popularização dos atuais escritores; diversos outros processos que popularizem de uma maneira geral a Literatura e os escritores locais. Assim, na Feira, teríamos o ápice de tudo e até podemos convidar algumas estrelas, que dividiriam palco com os locais. A festa é nossa. Enfim, o assunto é longo. Claro, assumo que sou suspeito para falar. Afinal, venho sendo censurado há 15 anos nessa feira, mesmo tendo escrito e publicado 11 livros, quatro deles com distribuição nacional, um deles traduzido e lançado na Inglaterra, além de compilações com outros autores, algumas internacionais. Mas, quem quiser que acredite, se não fosse escritor e atingido, também acharia a mesma coisa. É uma Feira canalha.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Eu e Verequete

Desculpem o título, vocês verão que não é nada demais. Mas é que ainda imerso na dor pela morte do nosso Verequete, lembrei de um encontro que tivemos, há mais de dez anos, quando exercia o cargo de Diretor ou Coordenador (coisa que o valha) da Secretaria de Estado de Cultura, no Centur. Não lembro as circunstâncias, mas estávamos gravando um disco ou cassete com Verequete, que mais uma vez, há muito andava sumido. Cheguei para trabalhar e o encontrei na sala de espera, querendo falar comigo. Preocupado se alguém o havia tratado mal, sei lá, fui logo perguntando, afobado, ao que ele me acalmou. "Eu vim aqui lhe fazer uma pergunta, que está me deixando muito atazanado. Agora que eu sou "contratado" aqui do Centur, queria saber se o senhor vai permitir que eu continue com a minha vendinha de churrasquinho, na porta de casa.. Sabe, é que além do dinheirinho, eu fico ali, conversando e vou levando o tempo, né?" Agora, ele está enchendo de ritmo a galera lá do alto.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Brownie Augusto

Nunca havia tido um cachorro pra chamar de meu. Até então, passaram pela casa de meus pais algumas figuras, que minha mãe deve saber o paradeiro. Mas é que vimos, em São Paulo, um labrador lindo, chocolate, atendendo pelo sugestivo nome de Brownie. Pesquisei e encomendei. O meu Brownie chegou com 45 dias, lindo, gordinho, calado, ainda comportado e instantaneamente, tomou conta de nossas vidas. Estava com quase sete meses, uns 33 quilos, gordinho, mimado. Nós o comparávamos a esses garotinhos com o cabelo partido ao lado, roupas vincadas, mauricinho total. Destruiu parte de nossas casas. Certamente concluiria o serviço. Aos finais de semana, vinha para o Edifício Renascença. Na sala não havia mais tapete, caixas de som, cds, livros e filmes subiram nas prateleiras. Mesas de centro, pés de mesa, cômodas e camas roídos. E logo na manhã de sábado nos acordava com a guia à boca, sugerindo seu passeio pela Praça da República, onde encontrávamos Zé Filé, Jambu, Rocky, Clark, seus amigos. No domingo, nem era um passeio, mais um desfile. Passava, majestoso, recebendo elogios, no local onde são vendidos cachorrinhos e adiante, onde são doados. Enorme, dengoso, lindo, adaptou-se às nossas vidas, com todas as danações de um filhote de labrador, amigo de todos.
Na última sexta feira, ele se foi. Chegou na garagem do prédio pouco depois das três da tarde, e em sua curiosidade absurda, engoliu pedaço de potente veneno para rato. Brincou conosco e ficou na cozinha, enquanto fomos ao Teatro da Paz para o ensaio geral do PRC5, a Voz que Fala e Canta para a Planície. Pouco antes das seis, fui apanhá-lo para dar de comer e passear. Encontrá-lo morto foi uma das coisas mais chocantes da minha vida. Ainda quente. Onde antes havia tanta energia e jovialidade, nada mais estava. E fazer os procedimentos. Deixa-lo até o dia seguinte, enrolado em toalhas, não mais ele, apenas o corpo e aguardar pela remoção. E conter a dor para consolar Z, tão apegada, apaixonada. Vivemos o vazio que ele deixou. Ainda não sabemos se queremos outro. Melhor deixar passar uns dias. Sonhei com ele. Como dói.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Eric Clapton não é nada disso

Acabei de ler Clapton, a autobiografia de Eric Clapton, um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Estou decepcionado. Ao mesmo tempo em que popularizou o blues, mesmo sendo inglês e branco. Tocou com os Bluebreakers, Yardbirds, explodiu com o Cream e Blind Faith, era também um alcoólatra e viciado em cocaína e heroína. Na maior parte do tempo, nem sabia o que estava fazendo nos palcos. Apaixonado por Pattie Boyd, mulher de George Harrison, seu amigo, sofria e fazia propostas que ela ignorava. No meio do caminho, namorou outra mulher, a quem viciou em heroína e alcool de tal maneira que, internados separados, quando saiu do hospital, suicidou-se por não conseguir mais, viver sem drogas. Quando gravou I Shot The Sheriff, não conhecia Bob Marley e nem acreditava que faria sucesso. Tocava tão mal, por conta das drogas, que deixou os solos e ficou fazendo guitarra base. Roubou de JJ Cale a voz, a guitarra e as músicas, como Cocaine. Recentemente pagou a dívida, gravando um album inteiro em dueto. Quando Pattie separou de George, voltou à carga. Ficaram juntos. Ela, alcoólatra e cocainômana. Ele, na heroína. Fez um filho em uma italiana. Uma filha em uma mulher de Antigua. Trancou-se em casa até arrombarem a porta e o tirarem, totalmente drogado. No Festival de Bangladesh, chegou totalmente dopado no palco. Nem sabe o que tocou. O filho morreu. Foi um toque. Ficou apenas bebendo. Depois, casou com uma moça de vinte e poucos. Parou de beber. Ela engravidou. Aos 50 anos, começou a viver de verdade. Incrível que enquanto isso, tenhamos gostado tanto do que gravou. É estranho. Pensei em Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix. Será preciso estar no limite, ou inconsciente, viajando, sei lá, para fazer brilhar o genio? Sempre me perguntei isso, talvez porque escreva e não me drogue, nem beba. Já bebi, já experimentei drogas. Não gostei, nem gosto. Parece clichê, mas quanto mais sóbrio, mais meu cérebro viaja em suas loucuras, é o que penso. Não posso estar nem por um instante, fora de mim, sem controle. e há quem procure, exatamente, isso. Mas Clapton, que teve problemas de infância, é um doente. Uma decepção.

PRC5 no Teatro da Paz

Vai ser neste final de semana, sexta, sábado e domingo, a apresentação de "Prc5 - A Voz que Fala e Canta para a Planície", que escrevi para o Grupo Cuíra, comemorando os 80 anos da Rádio Clube do Pará. Será um grande momento e penso que ficarei muito emocionado. Os aniversários da emissora eram comemorados no TP, com a presença de artistas de renome nacional, além dos locais. Tenho uma foto de meu avô, ao microfone, naquele palco. Lá ele também encenou peças de sua autoria e foi diretor da casa. O final de semana é por conta de uma oportunidade que o Estado oferece, a título de política cultural, recebendo ofertas de ocupaçao pelos grupos locais de determinadas datas que por qualquer motivo, ficaram em branco, e que são oferecidas sem o pagamento de qualquer taxa. Normalmente, por noite, algo em torno de 1500 e 2000 reais é cobrado. Sei porque já fiz Convite de Casamento por lá, pagando a taxa. O Teatro da Paz também é o lugar onde estreei como autor, em Foi Boto Sinhá. Não esquecerei a emoção do blackout, seguido do som do tambor de carimbó, iniciando o espetáculo. Adiante, escrevi Angelim, o Outro Lado da Cabanagem, novamente com Geraldo Sales e Grupo Experiência. Foi a primeira montagem profissional local. Tão preocupada em pagar suas contas, que devolvemos, integralmente, o valor que o Banco do Estado do Pará emprestou, esquecendo tudo o que lhe demos em imagem promocional, durante três meses. Também lá estive com A Menina do Rio Guamá. Em todas essas oportunidades, tive casa lotada. É inesquecível. O que acontecerá agora, não sei. Vivemos outros tempos. Vai ser a oportunidade de muita gente, que ainda tem preconceito contra a localização do Teatro Cuíra, assistir. O ingresso também está indecentemente barato. Imaginem que a tal "política cultural", te dá o teatro sem taxa, mas não se pode cobrar mais de 15 reais o ingresso. Talvez, ganhar dinheiro com Teatro, muito dinheiro, seja apenas para o pessoal do Zorra Total, que vem bamburrando nos últimos tempos, por aqui..
Mas já está sendo uma grande alegria. Logo no primeiro dia de ensaios, a turma voltando a reunir. Elenco grande. Grande elenco. Eles cantam, dançam, atuam. E tudo isso com muito talento, felicidade. Um elenco feliz. Feliz por encontrar. Botar o papo em dia. Uma está grávida, outra volta de uma hepatite, outro foi contratado pela Globo e está em Malhação, por isso uma substituição. Vamos lembrar as coreografias. Diversas técnicas são empregadas e logo, tudo está certo. Memória cênica. E toca a música, eles se emocionam, eu também e todos cantamos. Miles Davis disse uma vez que felicidade era reunir um grupo de músicos para tocar um uníssono. Pois eu digo que felicidade é reunir um grande elenco para ensaiar e se apresentar. É claro que vou estar bem emocionado. Escrevi a peça para homenagear a emissora, falar de meu avô querido e muito mais, falar de meus pais, das pessoas. Me sinto honrado, feliz, de bem com a vida. Nem precisa muito, não é? Espero que tenhamos um bom público. O elenco merece. A Prc5, também. Muito mais as pessoas que não sabem o que perderam até agora.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Praça

Sou o que chamam de "garoto de apartamento". Nasci e cresci morando no quinto andar do Edifício Renascença, um dos primeiros de Belém, na esquina da Presidente Vargas com Riachuelo. A Praça da República, foi meu playground. Quando me vi como gente, lembro de ver, distante, a testada da Basílica de Nazaré, hoje inteiramente vedada pelos prédios da modernidade. Lembro da noite em que os operários liberaram para o passeio das pessoas, a Presidente Vargas totalmente asfaltada, no que antes eram paralelepípedos. Lembro de passear em minha bicicleta, sobre o betume. E lembro da Praça da República. É porque agora tenho um cachorro, sobre o qual escreverei próximamente. E aos finais de semana, levo-o para passear na Praça, em um ótimo exercício de observação de pessoas e do lugar que tanto amo. Primeiro bem criança, brincando de cowboy nos coretos, começando por aquele atrás da Banca do Alvino, que chamávamos "Gruta", com seus esguichos de água e iluminação à noite. O outro, junto a outro chafariz, próximo à Assis de Vasconcelos, onde pedras, em nossa imaginação, transformavam-se em cavalos e diligências a serem assaltadas, com muitos tiros, animado pelo seriado de Bill Eliott, que minha saudosa Babá Bia me levava, no Paramazon, ali próximo, na Piedade, aos domingos. Uma manhã, desci à praça, evidentemente armado até os dentes, como convinha a um pistoleiro perigoso e encontrei Jacinto Castro, de quatro, rosnando tremendamente. Era um leão. Preferia ser um leão, pelo barulho e medo que inspirava. Bom. Nas férias, todas as tardes, havia "Cemitério", um jogo disputado por meninas contra meninos, ali próximo ao anfiteatro onde Alberto Silva, recentemente, apresentou sua Mandrágora. E vieram as bicicletas. Tornei-me um ás. A brincadeira era de "tranca". Trancávamos a passagem de nossos adversários, com habilidade e equilíbrio, em volta do monumento, com suas estátuas belas, impávidas, seus postes no estilo Boulevard de Paris, seu piso colorido. Corríamos por toda a praça, feito cavaleiros da Távola Redonda em eterna ronda e procura pelo Cálice Sagrado. Por falar nisso, houve a onda de capa e espada. Na casa dos pais de Nelson Lima, cortávamos compensado para fazer escudos pintados conforme os Cruzados, bem como espadas. Chegamos a brincar, temerariamente, com chuços improvisados, correndo e tocando nos escudos. Certa vez, um de nós, querendo tomar de assalto o segundo andar, pela escada, tomou uma espadada na cabeça, abrindo um bom golpe. Houvemos por bem encerrar a batalha, por aquele dia, tendo em vista os castigos que vieram, por conta do acidente. Em alguma de nossas expedições, invadimos e exploramos a Escola de Química, onde hoje está a Livraria da Universidade, que fica fechada aos sábados, quando posso comprar alguma coisa. Pelo chão, jogadas peças de Química em vidro e borracha. Uma emoção. Nem tudo foram flores. Fui assaltado, na praça. À bordo de minha bicicleta, armado até os dentes com uma "besta" e uma espécie de alforje, feito a partir de uma capa térmica da mamadeira de minha irmã Ana Carolina, fazia minha "ronda" quando fui parado por um garoto, agressivo, com uma faca nas mãos. Não vão rir, mas o objeto de seu assalto não foi a bicicleta, o que seria normal. Bom, tambem não levava dinheiro, celular, relógio... Ele queria meu alforje. Levou. Pior, levei algum tempo até recuperar a calma. O garoto havia quebrado meu escudo pessoal de defesa, absolutamente ingênuo, infantil, mas um escudo. Boa lembrança. Bons tempos. No colégio, voltava e disputava renhidas partidas de peteca com motoristas de praça que ali faziam seu ponto. Mais adiante, estudando para o vestibular, parávamos no posto de gasolina que havia na esquina da Assis de Vasconcelos com Osvaldo Cruz e cada um comparecia com 1 cruzeiro. Era o suficiente para o Belair de Nelson Lima circular pelo Moderno, Nazaré, Gentil, enfim, o que nos interessava. Hoje, circulo com Brownie pela praça, tropeçando em minhas lembranças, ouvindo gritos de crianças, meus gritos, em uma época em que tudo se resumia em ser feliz, correr de braços abertos, contra o vento, pedalando firme, esquivando-me da bola do cemitério e disparando intermináveis balas de meu 45. Conheço cada centímetro da praça. Em cada um deles está impressa minha infância e pré adolescência. Ali acontecia tudo. A boate da Assembléia Paraense em frente. O Porão, tão convidativo, por conta do ar proibido para menores. O Papa Jimi, onde Ivan Novais, um de seus inúmeros discotecários me mostrou um vinil onde, em um lado, Jimi Hendrix tocava no Monterrey Festival. Praça da República, quanta saudade e quanta revolta sinto ao te ver violentada, cuspida, suja, imunda, fedendo, tratada como lixo, seja pelas autoridades, seja por seus frequentadores. E caminho, cabisbaixo, ruminando ações que deixo para depois, por imaginar ser um solitário, bradando no deserto. Nós, aqueles que estudam, que lêem, assistem, fazem, diminutos diante do gigantismo da cretinice vigente. A Gruta quebrada, imunda de fezes. Vagabundos dormindo nos bancos, fedendo. A maconha dividida entre jovens, com toda a tranquilidade, em qualquer dia da semana, como se a Praça fosse em Amsterdam. A falta de cuidado com a grama, que sumiu, trocada por imensos formigueiros, raízes a descoberto, lutando para segurar suas árvores. Os quiosques reunindo não somente jovens a namorar, mas a fazer sexo, pessoas mal encaradas, vendedores de bombom, cerveja e drogas, instalados à vontade, afrontando as pessoas de bem com sua sem cerimônia de se saberem seguros em sua avacalhação. O monumento todo pixado, quebrado, com guardas municipais mais interessados em namorar entre si, conversar, do que tomar qualquer medida mínima, justificando seu uniforme. A imensa sujeira que fica após os domingos, onde a praça deixa de ser somente um local ao ar livre, para seus habitantes respirarem, para incluir venda de bobagens e comida, bebida, com nenhuma higiene, absolutamente nenhuma, para um povo mal educado, que tudo joga no chão, como se o mundo não fosse sua casa. E mais tarde, estranhas crianças, vestidas de preto, sem nenhuma ideologia, objetivo, reunindo-se para conversar, fazer sexo, drogar-se, beber, sem que nenhuma ação seja feita. A praça é território livre, inclusive para ser agredida, violentada. Assim, a Praça da República, a bela praça, uma das mais bonitas que já vi, está, como a cidade, entregue à sanha de quem se apresentar. E a cada vez que volto para casa, estou dividido entre a emoção de pisar em local tão importante, para mim, e penso, para cidade e seus habitantes, e ao mesmo tempo, a revolta por encontrá-la do jeito que está.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Rosto Colado

Às vezes vou lá no velho baú de prata onde guardo minhas lembranças e me delicio. Um dia desses, alguém comentou do tempo em que se dançava de "rosto colado". Me fez pensar no assunto. Não fui desses adolescentes que cedo já é chefe de turma e trata as meninas de igual para igual, trafegando com naturalidade em território hostil. Que vai às festas, dança com todas, namora com duas, três de cada vez e é disputado. Pelo contrário. Minha infância durou muito tempo, o que acho determinante para a maioria das minhas atividades, para a imaginação, encantamento e ingenuidade. Mas ali, a partir dos 13 anos, começaram a haver os aniversários, 15 anos, tertúlias (como eram chamadas as "Pipocas" de hoje) e os amigos me levavam. Era natural. UM amigo me chamou em sua casa. As vizinhas de apartamento, duas irmãs, fariam uma festa somente para nós, em seu quarto. Apagavam a luz. Não pensem que acontecia algo moralmente discutível. Era para dançar, flertar. Havia as festas. O problema era o que fazer, uma vez ali dentro. Pouca luz, Esmeril Band ou Guilherme Coutinho tocando, ou toca discos, e a garotada em volta. Meu primo corria e pegava a primeira que via, saindo dançando pelo salão. Aquilo é que era coragem! Uma vez, férias de julho, Mosqueiro, o saudoso Dr. Rubem Ohana chega em casa com sua kombi cheia de meninos e meninas do Chapéu Virado. Alguém põe discos. Todos dançam. Eu, assistindo. O que fazer? Onde estava a coragem de chegar, frente a uma das meninas e dizer a fatídica frase: quer dançar comigo? E se a resposta fosse "não"? Pior, "estou cansada".. Pior, pior, bem pior. A garota topa dançar. Vai uma música, outra, mais outra. Ultrapassando três músicas, Houston, temos um problema. A menina cola seu corpo no seu. Cola sua cabeça no seu peito. Temos um problema. Você não estava a fim da garota. Chamou apenas para dançar. O que fazer, então? Decepcioná-la? Uma vez, uma garota com quem dançava foi embora, faltando duas ou três músicas para o encerramento da "tertúlia", na boate da Assembléia Paraense. Inebriado pela música, olhei em volta, disposto a ficar até o fim na pista, dançando. Havia uma moça, linda. Não quis nem saber. - Quer dançar? - Não, estou cansada. Acabou com a minha noite. Ou então, é a garota dos seus sonhos e finalmente ela está ali, de "rosto colado", todos estão vendo e uma atitude terá de ser tomada. Vamos levando, a música vai, o rosto continua colado e nossa cabeça, dá cambalhotas nos pensamentos. Dizer a ela, no pescoço, que a amamos? Pedir para namorar, assim, no pé do ouvido? Convidar para ir até lá fora, onde podemos formalizar o pedido? Parece tão fácil, não é? Jogar para trás a forma de criança e assumir a adolescência. Tomar uma atitude por si próprio. É a idade dos primeiros amores. Aqueles que não esqueceremos jamais. Minha primeira namorada formal, teve de, corajosamente, ter o destemor de me perguntar, uma noite, na boate Papa Jimi, onde dançávamos há horas, como já vínhamos fazendo desde a boate Ressaca, no Mosqueiro, se estávamos ou não namorando.. Que alívio! Sim.. O tempo que levei ensaiando de inúmeras formas, aquele pedido. O que essa garotada de hoje, com toda sua liberdade não sabe, é que nós, garotos, principalmente como eu, mais pro infantil do que para o adolescente, víamos as garotas como seres diferentes. Lindas, audaciosas ou tímidas, com suas vozes, seus rostos, seus corpos a nos enlouquecer e principalmente, sem nos deixar perceber como, realmente, pensavam. E, de repente, ter ali, em seus braços, "rosto colado", corpo junto, corações disparados, "My Cherie Amour", com Stevie Wonder rolando, a garota com que você sonhou. Gente, é uma dessas ocasiões em que melhor seria ir para uma "Situation Room" como nos melhores seriados, e discutir a questão. E então, dar aquele beijo, meu Deus, como será beijar de língua?
Aquele beijo de perder o fôlego, sorrir e se despedir, porque a mãe ou a tia com quem veio já está indo embora. E então, voltar ao convívio dos amigos, como um herói retornando de mais uma façanha, coberto de glórias, peito estufado, tirar por menos, aquela que foi sua primeira conquista na vida e enfim, mais tarde, sozinho, em sua cama, sem conseguir dormir de excitação pura, de espírito, sem malícia, sentir-se feliz, conquistador, poderoso, por saber-se amado, admirado por uma mulher, uma garota que somente ao olhar, piscar ou dizer qualquer coisa, fará você ir até a lua. Você agora é alguém, não mais a criancinha da casa. Você tem uma namorada. Alguém com quem dançará, a partir daí, de rosto colado. Os amigos sentirão ciúmes dela e ela, deles. E voce dividido, tendendo para ela, claro, como um vapor que vai desatracando do porto, as pessoas acenando. Meu Deus, como era bom!

A Paradinha

Quer dizer então que o Sr. Blatter quer proibir a "paradinha" em cobrança de pênaltis? Quanta burrice! Então, terá de proibir ou punir o jogador que ao cobrar um lateral, refugar e tentar novamente. Proibir uma cobrança de falta onde, quase no momento de tocar na bola, o jogador decida outra ação. É um absurdo. Na "paradinha", o jogador não toca na bola. E enquanto não tocar, ela não estará em jogo. Pior, sua perna está no ar, movimentando-se, ou driblando. Ele não refuga, volta, toma outra distância e bate o pênalti. Como punir algo que não ocorre em momento propício, já que a bola não está em jogo? Sim, eu acho que em muitos casos, o cobrador chega a humilhar o goleiro com sua habilidade, sua sonsidão, malícia. Lembro daquele jogador, Djalminha, aguardando até o último segundo, como caçador experiente, a presa mover-se, para, com algum nojo, tocar a bola, mansamente, em outro lugar enquanto o goleiro se arrebentava, perdido. É preciso muito sangue frio e sonsidão, qualidades boas em um batedor. Quanto ao goleiro, só pode mover-se após a bola ser chutada. Se ela não sai do lugar, o que fazem, caindo antes? Pior, o pênalti é a penalidade mais grave do futebol. Porque dar mais chance aos goleiros? Vamos então a essa disposição mundial, que vai de encontro ao princípio básico do futebol, que é o gol. Hoje, por todos os motivos, desmarca-se um gol. Não se marca pênaltis por diversas e malucas interpretações. Marca-se impedimento por qualquer dúvida. E a disposição é contrária! Na dúvida, deixe seguir o lance. Na dúvida, marque o pênalti!
Tem cada uma! Será que Blatter já jogou futebol?

Teatrinho

Foi muito desagradável ler, pela segunda vez, em menos de três meses, o Comendador Mário Sobral escrever em sua coluna diária em O Diário do Pará, que o Teatro Cuíra é um teatrinho, indigno de receber o grande Cláudio Barradas, que em companhia de Zê Charone, acaba de completar dois meses em cartaz na primeira temporada da peça "Abraço". Sobral sempre faz elogios a Barradas, de quem foi colega em rádio novelas e novelas de televisão para o grupo Marajoara. E sempre deplora que, ao invés de estar em um Teatro da Paz, por exemplo, e como merecia, está num "teatrinho" como o Cuíra, em plena zona do meretrício. Barradas pode dizer porque está no Cuíra. Mas posso, também, dizer aqui o que ele acha, porque me disse e é meu amigo. Barradas sabe a barra pesada de fazer teatro em Belém e não é de hoje. Também acha que o tipo de texto da peça em questão, é melhor para teatros com menor capacidade de público, de maneira a travar-se um encontro mais íntimo, cara a cara, ator e platéia. Isso é uma coisa. A outra é o preconceito de Sobral, que insistindo em chamar de "teatrinho" para o Cuíra, favorece apenas a prosperidade para o preconceito que só faz crescer, entre os belemenses, contra o teatro local. O Teatro da Paz, o Schivazapa e o Maria Nunes, estão todos lotados, aos finais de semana, com peças caça níqueis vindas do Rio de Janeiro, com artistas globais, atuando em novelas ou até em humorísticos de qualidade duvidosa como Zorra Total. Sei perfeitamente que ele não faz isso para nos agredir, por nos desprezar, por má vontade. É por ignorancia, uma vez que sua coluna, hoje não tão muito lida como antes, pela repetição das piadas e pouca graça, sempre defendeu a Cultura local. Sobral não vai a teatro, não sei se nesses espetáculos "globais", mas não tem idéia da complicação em montar um espetáculo em uma terra sem nenhuma ação cultural por parte do Governo do Estado ou Prefeitura, reunir dinheiro, ensaiar, figurinos, enfim, tanta coisa e depois de três meses de ensaio para mostrar um bom produto, ter apenas um final de semana disponível nos teatros da terra. Três meses em três dias. Não sabe que foi por isso que o pessoal do Cuíra teve o peito de alugar o Teatro, bem na zona do meretrício. Não sabe dos trabalhos sociais e culturais que são desenvolvidos. Que agora será um Ponto de Cultura. Não lembra mais que antigamente, atores e prostituras tinham a mesma carteira de identificação para a Polícia e assim, nada de estranho em estar ali, na Primeiro de Março com Riachuelo. Não sabe que o Cuíra, ou os diversos grupos que já ocuparam seu ótimo palco, precisam ficar, no mínimo, 30 dias em cartaz! Não sabe que há cem confortáveis poltronas. Não sabe que não temos ar condicionado, mas vários ventiladores garantindo um mínimo de conforto para todos. Não sabe. Ele acha que Cláudio Barradas se diminui indo para o "teatrinho" Cuíra, mas não vê que ele, Sobral, se diminui e ajuda a aumentar o fosso existente entre os artistas locais e o público. Fosso para ele, também, como se ler colunas compradas no sul do país, fosse melhor que a dele, no mesmo jornal. Puxa, que mancada, que decepção, caro Sobral! Teatrinho!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Bônus de Woodstock

A Saraiva está vendendo com exclusividade, uma caixa com 4 Dvds de Woodstock. Nos dois primeiros, a versão do diretor, que já havia sido lançada uns dez anos atrás. O melhor vem nos dois outros dvds. Em um, série de entrevistas com o diretor do documentário, músicos presentes, o produtor do festival, e outras figuras que vemos, tão jovens, no filme original. Compreede-se que Woodstock, foi um raro momento, desses em que parece, todos os deuses decidiram que daria certo, diante de qualquer coisa inusitada que fosse acontecer. O local foi decidido quase no momento de desistir. Woodstock foi em Bethel, mas ficou o nome do local onde o conselho de cidadãos da região não permitiu. Cento e vinte mil ingressos foram vendidos com antecedência, mas foram até lá 500 mil pessoas. As estradas, engarrafadas, foram interditadas. Calamidade pública. Fazendeiros e até o exército ajudaram com alimentos e medicamentos. Houve uma morte, parece, alguns partos, overdoses e certamente uma ou outra desavença. Em uma comunidade de meio milhão de pessoas, um sonho. Não havia, estocado, em NY, carreteis de filme em número suficiente. Foram chamados os melhores cinematografistas americanos. Os carretéis foram chegando de helicóptero. Como os artistas. O Ten Years After recusou a primeira oferta para se apresentar. Depois, quando os caras souberam que Janis, Jimi e Who estavam na lista, correram. O líder do Sha Na Na confessa. Woodstock foi tudo. O grupo entrou, contratado para ser uma novidade, algo engraçado, pois fazia uma linha primórdios do rock com muito glitter. "Dali, seguimos adiante, gravamos dez discos, rodamos o mundo, ganhamos dinheiro", disse o cara. Problemas com energia. Com falta de luz suficiente para filmar à noite. Eddie Kramer, trancado em uma casinha, gravando tudo em gravador de rolo.. E então vem o último dvd. Um por um, passam as tomadas dos artistas que estiveram lá em performances inéditas. Alguns, nunca tinham sido mostrados. Jimi e Janis assistindo, divertidos, Sha Na Na. Canned Heat, o mais mostrado. Bandas com dois guitarristas solo, dando show. The Who em My Generation e outras. Grateful Dead em duas longas, sensacionais em sua mistura de anarquia e precisão, jazz, blues, rock and roll. Creedence Clearwater Revival pleno de energia em Born on the Bayou e I Put a Spell on You. Santana em Evil Ways. Johnny Winter, maravilhoso. Paul Butterfield Blues Band. Jimi em Spanish Castle Magic. Mountain, com o gordo e excelente guitarrista Felix Papallardi. Uma loucura. E os caras ali, com um mínimo, 1%, penso, do que hoje seria necessário para algo daquele tamanho e todo mundo curtindo, se amando, percebendo o tamanho de estar ali. Meu filho pergunta se nunca havia visto Grateful Dead tocando. Ele é de hoje, quando tudo está ao nosso alcance. Meu primeiro contato com Hendrix, guardo até hoje, uma foto, radiofoto da UPI onde ele toca a guitarra com a língua. Agora aguardo uma caixa com 6 cds, aumentando os 4 que foram lançados 10 anos atrás. E há o livro. E vem um filme passado durante o festival. Está bem, nostalgia, mas da boa.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

As embalagens. Qual a sua embalagem?

Vivemos em uma sociedade de espetáculo. A aparência é importante. A embalagem. Designers são altamente importantes ao criar embalagens para os produtos. A briga pelo consumo é feroz. Sou muito influenciado por embalagens. Mesmo quando vou a uma livraria, loja de discos, banca de revistas. Fico ali como criança em loja de doces. No supermercado, também. É claro que há mil técnicas de arrumação de prateleiras, displays, tudo para afetar nossa disposição de consumir, uma vez que entremos nesses templos de consumo. Não há nada de errado nisso, desde que os produtos cumpram o que dizem, pelo que são fiscalizados e tal, mesmo que me dê raiva quando leio, por exemplo, que gordura trans faz mal e no entanto, justamente os melhores biscoitos são assim, e ninguém faz nada, afinal, se é ruim para a saúde, as autoridades não poderiam permitir, blábláblá. O problema está no que fazer com a embalagem, uma vez cumpridas suas finalidades iniciais, digamos, primeiro nos convidar e convencer a compra, ficando em segundo embalar, servir de invólucro para o produto adquirido.
Uma lata de refrigerante. Após ser consumido seu conteúdo, será descartada. Para se desintegrar inteiramente, muitos anos. As pets, também, creio. Porque não apostar em uma garrafa parecida com as tradicionais, de vidro, retornáveis? Vou ao McDonald’s. O Big Mac, no trajeto entre a cozinha, balcão e minha travessa, trinta segundos, talvez, vai-se a embalagem, caixa de papelão. Quantas árvores vieram abaixo somente para esse pequeno tráfego? Peço uma pizza pelo telefone. Chega aquela embalagem grande. Após comer, vai aquilo tudo para o lixo. Bem, faça a sua lista. É interminável. Não é querer ser ecochato. Isso, definitivamente, não sou. Mas, é claro perceber que ao comprar uma latinha de refrigerante, já compro também o lixo, que representa a latinha, após ser ingerido seu conteúdo. Imagine milhões, a cada minuto. Será que esses designers são tão bons assim? Porque imagino também que essas grandes empresas mundiais sabem que se parecerem preocupadas com a ecologia, ganharão muitos pontos na imagem institucional. As embalagens são cada vez mais lindas, modernas, mas são também lixo. O tempo de validade da beleza ao lixo é pequeno, a partir do momento do Shazam, quando o adquirimos. Então, nos transformamos em bruxos. Mal tocamos aquela beleza que ambicionamos, é efêmero seu reinado e já vira lixo. Compre um Chicabom. Retire o papel. Lixo. E o palito? Lixo. Enfim, o Chicabom, após algum tempo, nosso organismo também o descartará.. Tem alguma coisa errada aí.
Qual é sua embalagem? Você se preocupa com isso? O que passa? O que veste conta sobre sua pessoa? Você usa alguma coisa diferente, dependendo do lugar ou a quem vai ver? Na medida em que troca de roupa, de embalagem, você também muda alguma coisa no seu comportamento? Mais simples. Durante a semana, paletó e gravata, você é mais sério? Sente-se mais importante? No final de semana, de bermudas, você muda? Você é advogado, usa terno e gravata, tem uma imagem severa, séria, mas vai até o boteco da esquina, encontrar com amigos e muda de postura? E a mulher? Cor do cabelo, alisamento japonês, isso pode ser considerado mudança de embalagem? Você entregaria sua imagem visual a um dress designer? Não se sentiria incomodado com uma embalagem que não é a sua? Você se veste tal qual sua turma? Você é mauricinho, alternativo, largadão, afinal, qual é sua embalagem? Você já sofreu preconceito por ser considerado mauricinho e querer freqüentar os petistas, com roupas de mauricinho? Você, mulher, veste sempre aquele saião, camisa regata, sandália baixa, cabelão, e te convidam para um jantar social. Qual será a roupa? E quem se deixa despir totalmente, pela mídia, quem se desnuda, se oferece em sacrifício, como no filme Apocalypto? Explico. No Apocalypto, no alto de uma escadaria, prisioneiros são degolados, para saciar o deus e trazer de volta as boas colheitas. Hoje, a mídia sacrifica diariamente modelos e políticos para saciar nossa fome. Lembro daquela bandeirinha de futebol, belíssima, por sinal. Ela revoltava os torcedores machistas ao ficar, na lateral do campo, em posição de mando, sobre vinte e dois homens, com uniformes apertados, realçando a beleza do corpo. Quando errava, o mundo vinha abaixo. Era preciso desnudá-la. Alimentar a mídia. Tirar seu uniforme. Sua autoridade. Escarafunchar sua vagina, ânus, seios, estrias, celulites, certamente tiradas em photoshop. Depois ela vem em entrevista, dizer que fez por dinheiro. Sacrificou-se por dinheiro. Fica até constrangida. Diz que precisou beber alguns goles para relaxar. Chamá-la de prostituta pareceria careta? Não houve coquetel, noite de lançamento, por conta de ameaças vindas de torcidas organizadas. Como assim? Não estão satisfeitos em humilhá-la pagando uma fortuna para se despir, perder uniforme, autoridade, apresentar-se em público? Irá a programas de televisão explicar seu constrangimento. Jô Soares vai mostrar algumas fotos. Ficará ruborizada.
Enquanto alguns precisam de embalagem para se vender, outros precisam perder a embalagem para saciar a sociedade do consumo, do desperdício, do estupro midiático. E tudo vira lixo, rápido.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Segundo Abraço

Foi bom o segundo final de semana de "Abraço", peça que apresentamos às sextas, sábados e domingos, 21h, no Teatro Cuíra, com Cláudio Barradas e Zê Charone. Fazemos temporada de 1 mês, o que parece um sonho para quase 100% dos grupos locais. Ensaiamos por três meses e temos um final de semana, apenas, nos teatros oficiais. Não há tempo para formação de público, nem para a maturação do trabalho. Não no Cuíra. Lá, a oferta é de 1 mês em cartaz. Há quem não queira, tudo bem. Mas em "Abraço", é assim. Os atores vão ficando mais e mais à vontade, saboreando o texto, descobrindo nuances, percebendo respostas da platéia. O grande problema que enfrentamos agora, é conseguir novas pautas nos jornais locais, tão receptivos na estréia. É que, ao contrário do pessoal do Zorra Total, não vamos embora na segunda feira. Continuamos aqui, em cartaz, precisando convidar as pessoas a sair de suas casas e em vez de ir direto para os bares, passar antes no teatro e isso, não na expectativa de dar boas gargalhadas, mas de beber Cultura, assistir a performance de dois grandes atores, discutir o que o espetáculo mostra, enfim, degustar o que foi assistido. Alunos de uma turma do amigo Ismael Machado foram assistir e após, conversaram conosco. É muito curioso perceber que alguns, nunca haviam assistido a uma peça. Outras, somente as do Zorra Total. E agora, ali, parecem embevecidos, talvez constrangidos, diante dos atores, gente daqui, paraenses, que talvez sejam até vizinhos, sei lá. Fomos levados a acreditar que Cultura é Lazer. Não é. Amigos comentam que quando vão assistir peças sérias, lá pelo meio, sentem sono. Puxa, me dá pena. Desacostumaram a pensar, avaliar, discutir. Querem somente a superfície, nada profundo. Como essas crianças que baixam toda a história do rock pela internet e acham que já sabem tudo. Também sentimos falta de crítica, de comentários. Gostaram? Não? O que há de bom ou de ruim? Nos atores, na direção, texto, música. Procuramos na internet e não encontramos. Nos jornais, nada. O professor Meirevaldo Paiva, em sua coluna em O Liberal, fez menções, a partir de seu tema principal, que era um livro sobre consumismo no mundo moderno, creio. Que mais? Então, aqui, neste blog, onde vibro quando alguém que passa por aqui deixa um recado, novamente, convido a todos a assistir "Abraço". Tem apenas 50 minutos de duração, embora intensos. Até agora, dos amigos blogueiros, somente Carlos Barreto passou por lá, pelo que lhe agradeço muito. Venham, gente!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O primeiro abraço

Foi muito bom o primeiro final de semana de apresentações da peça "Abraço", lá no Cuíra. E muito interessante, também. Problemas na estréia. Os programas atrasaram. Caso de morte na família de um grande amigo, dono da gráfica. Afinal, entregaram. Não. Trocaram os pacotes. Até que chegaram. Pouco antes de começar, uma chuva torrencial. E o telhado do Cuíra é de zinco, tipo "chapa quente"... Carlos Barreto me chama "Edyr, eu sou o Barreto". Eu querendo conversar tanta coisa, e naquela pressa de início de espetáculo, subir uma escada difícil para a minha idade, e dar início a algo tão importante para mim, para o Cuíra e todos os envolvidos, após meses de muito trabalho. Metade da platéia formada por paroquianos do Padre Cláudio, lá da Marambaia. O que acharam? Conseguiram separar o padre do ator? Ficaram chocados? Pessoas diferentes estão assistindo, alguns pela primeira vez por lá. O professor Meirevaldo Paiva e meu amigo Rui, seu filho. Professor Ubiratan do Rosário, que também foi meu professor na faculdade. Uma peça de teatro, quanto mais vezes é feita, melhor. E nós avançamos muito. Identificamos as reações da platéia, alguns risos nervosos. Estamos felizes, fazendo o que gostamos, com quem gostamos e como gostamos. Uma equipe pequena, mas multitarefas. E é o nosso teatro, agora com pano de boca, gentileza do amigo Gerson Araújo, do Centur, que também deu outra ajuda maravilhosa. Imagino que não houve maldade no comentário do Comendador Mário Sobral, ao dizer que Cláudio Barradas merecia um retorno a um palco mais importante, como o Teatro da Paz, e não o cuírazinho, ali na zona do meretrício. O que ele não sabe, tenho certeza, é da real situação do teatro paraense e o que faz Barradas ir para o Cuíra com o maior amor e disposição, após passar o dia inteiro rezando missa. Sei o que quis dizer, Sobral, mas o Cuíra é o nosso templo, nosso lugar sagrado, tanto quanto um Teatro da Paz, onde estaremos, em outubro, com PRC5 a voz que fala e canta para a planície, por conta da "sensacional política cultural para o teatro", que não nos irá cobrar a taxa de ocupação do local.
Barreto, espero estar com você em outra situação, para que possamos conversar. Todos os outros flanares, também. Que tal marcar um fim de tarde, começo de noite, em uma cantina, por exemplo. Vai quem quer, cada um paga o seu, todos se divertem. Que tal? Vocês são amigos virtuais muito queridos, pois estou em contato todos os dias. O primeiro abraço, foi bom.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Meus lançamentos

Não tenho facilidade em escrever sobre meus próprios feitos. Talvez o costume de jornalista em escrever sobre fatos relativos a outras pessoas. Talvez. Mas é que ando bem feliz com os últimos acontecimentos na área literária. Infelizmente, aqui em Belém, em função de diversos motivos, reina um silêncio completo. Não posso me queixar dos colegas jornalistas que noticiam meus lançamentos. Mas não há crítica literária e nem um retorno saudável de opiniões para que se abra debates. Não pertenço a nenhuma turma. Nem sequer do futebol. Quando acaba a pelada, estou sempre apressado para voltar, por conta de alguma peça de teatro passando no Cuíra. Quem sabe, pode ser isso. Mas permitam revelar minhas últimas alegrias. Houve o lançamento de Um Sol Para Cada Um, pela Boitempo, ano passado. Há dois meses, O Tempo do Cabelo Crescer, coletânea de poemas recolhidos dos meus quatro primeiros livros. Agora, sábado que vem, dia 25 de agosto, em Lima, Peru, o lançamento de 90-00 Cuentos Brasileños Contemporáneos, pelas Ediciones Copé - Petroperu, na Feria Internacional del Libro de Lima. Abre uma outra janela, para o mercado em língua espanhola, após o Hornet's Nest, em inglês. E no final do ano, pela Record, Antologia Panamericana. God, esqueci do Todas as Guerras, reunindo contos, onde participo escrevendo sobre palestinosxisraelenses, lançado pela Bertrand Brasil na Flip e já nas melhores livrarias. Desculpem, mas estou super orgulhoso. Gostaria de ser mais conhecido como escritor por aqui. Lá fora, Rio, São Paulo e redondezas, há mais reconhecimento. Tenho outro livro, de poesias, inéditas, para lançar até o final do ano. E outro de Crônicas, esperando o momento certo. Idéias para outro romance? Uma, maravilhosa, mas não posso contar. E tenho também dois capítulos escritos de uma série policial que se passa em Belém, lógico, tentando negociar, através de um produtor carioca, com os grandes canais de tv fechada. De repente, também lanço em livro. E também escrevo peças, dirijo Abraço, que estréia em 7 de agosto, começo a dirigir uma comédia Não me pega, não me toca, não me beija e enfim. Um escritor escreve. Por favor, não digam como dizem, às vezes, sem maldade alguma, "puxa, outro livro, já?"
Vem aí outra Feira do Livro, errada em todas as suas motivações. Talvez por isso eu seja absolutamente deixado de fora em todas as suas edições. Ou talvez porque nem saibam que eu escrevo alguma coisa. Vai ver escrevo mal, mesmo e pronto.

40 anos de Woodstock

Olhar para trás. Confesso dificuldade. Meu passado, como diz Gil, está guardado num velho baú de prata, dentro de mim. De vez em quando vou lá, abro e me delicio. Mas sou desses que gosta das novidades. E no entanto, são 40 anos de Woodstock. A primeira lembrança que tenho de Jimi Hendrix, e guardo até hoje, é uma radiofoto UPI, onde ele está tocando guitarra com a língua. Na época, era um doido. Para mim, uma revolução. Quando o filme passou em Belém, creio que já devia ter passado um ano, pelo menos. Foi no Olímpia. Assisti sete vezes. A montagem, a turma chegando, brincando na lama, o John Sebastian dedicando música aos nenéms que haviam nascido. Roger Daltrey e seu microfone voando cantando See me Feel me. Sly and Family Stone e I want to take you higher. Higher! Joan Baez e seu discurso pacifista, o marido preso, por conta da guerra no Vietnã. Alvin Lee do Ten Years After. Jimi Hendrix. Tudo. O disco triplo. Depois, outro duplo. Jimi e as bases da fusão de rock, jazz, soul, instrumental. Está tudo lá. Aos poucos, fui lendo e sabendo o resto. As dúvidas financeiras até momentos antes dos artistas chegarem. Problemas com drogas, alimentação. Foi decretado estado de emergência. As estradas engarrafadas, pararam. Só entravam e saíam por helicoptero. Joni Mitchell, não conseguiu. Mas compôs o hino. Jimi e uma banda de amigos, que nunca se concretizou. Apresentou-se com enorme atraso. Mais de 70 por cento da audiência já havia se retirado e perdeu o momento mágico. Outros grandes estiveram lá mas problemas com editoras evitaram a divulgação no filme e disco. Janis cantou e mal. Creedence Clearwater Revival. The Band. Muitos outros. E ao longo dos anos, a participação total de Hendrix e de outros. Foram três dias e tudo mudou. Foi como uma celebração e ao mesmo tempo, o final do flower power. Ainda houve outros pequenos eventos, até mesmo a Ilha de Wight, na Inglaterra, mas já era outra coisa. Jimi morreu algum tempo depois. Curioso porque na guerra das editoras, os artistas de outras gravadoras tiveram permitidas a divulgação em imagem e na trilha de, digamos, músicas menos populares de seus discos, tipo, a última do lado B. Foi assim com Santana, por exemplo. E no entanto, mudou a vida da banda. O Ten Years After, banda de blues, decidiu encerrar a apresentação com um rock and roll, tipo jam session. Isso mudou tanto a vida da banda que ela acabou. Onde iam, depois, os pedidos eram de rock and roll e a banda era de blues. Enfim, tanta coisa a dizer. Lembro, naquela época, de estar ouvindo Mahavishnu Orchestra, de John McLaughlin, mais King Crimson e etc. Chegar nas lojas e perguntar por eles parecia um esquete humorístico. Eu tinha 15, 16, 17 anos, sei lá e o mundo era um imenso parque de diversões. Parece que foi ontem.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Para o amigo Juvêncio

Deixa que o mar lamba pela última vez teus pés. Deixa que a lua te banhe prateado, deixa que o vento que ondula as folhas dessa árvore na porta da tua casa, sopre também e desarrume o teu cabelo. Deixa que um beijo sele em tua fronte essa passagem por aqui. O que foi belo e o que não foi. O que foi bom de viver e o que foi ruim. Os momentos de prazer, tristeza, ódio, esses que marcaram, que vincaram teu rosto. Todos os corpos que abraçaste com teus braços vigorosos. Todos os pensamentos que dominaste com tua cabeça fabulosa. Tudo isso te deixa aqui. Mas não perdes nada, porque a tua essência permanece em ti até apagar a chama e em seguida, quem sabe, para onde irá?. Não irá para descanso porque a essência não pede nenhum descanso. Ao contrário, ela precisa queimar e queimar incessantemente. Tu foste um homem bom. (trecho do espetáculo Abraço)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ser ator no Pará e no mundo

Escrever sobre o papel do ator em Belém e em qualquer lugar do mundo é um tema tão gigantesco e difícil que tenho vontade de desistir já ao enunciar o título. Um olhar de fora, talvez. Assim como posso dizer, com orgulho, que vi Bibi Ferreira e Rubens Correa em ação, posso dizer, mais orgulhosamente ainda, que não apenas vi, mas convivo e sou amigo de um gênio chamado Cacá Carvalho. E que o teatro, seu mundo, seu palco, é o começo e o fim de todo o mundo. Que não há melhor lugar, que os bastidores de um teatro, nos poucos minutos antes de abrir as portas à platéia, todos em seus lugares, o espetáculo vai começar. Meu avô foi diretor do Teatro da Paz. E foi lá que assisti meus primeiros espetáculos. Então vieram Geraldo Salles e José Maria Villar me pedindo Foi Bôto Sinhá. Tímido, nem fui aos ensaios. Na estréia, blackout, tambor de carimbó, arrepio e emoção. Agora estou na coxia, vendo Cleodom Gondim, no papel de Malcher, na peça Angelim, sobre a Cabanagem. Aquele homenzarrão, espada em riste, dá seu texto, enfrenta a platéia, e no entanto, noto que treme de emoção, nervosismo, pelo embate. Como uma folha, ao vento. Tão forte, potente, tão frágil, leve. Naquele instante, pode tudo. É Malcher, tomado, visceralmente. Antes, veio Cacá Carvalho com Antunes Filho e mudou tudo, revirou a minha cabeça. Por isso escrevi Angelim. As cenas de multidão, congelamento de cenas, papéis prateados flutuam, iluminados frenéticamente em um quadro lindo. Não precisa ser visceral. Ou isso pode vir de outro lugar. Vêm Gilda e Convite de Casamento. E vem Cacá, de Pontedera. Agora, os atores traçam percursos no palco. Zê e Cláudio. Cada um o seu. Depois ele vem e mistura. E somente três dias antes da estréia, põe o texto. Quando o ator diz e mostra com o corpo algo relativo ao texto, para a platéia entender, o artista está, na verdade, pessoa, contando, exprimindo com toda sua verdade, algo pelo que passou intensamente. Emotivamente. Deu pra entender? Não. Pois é. Não é de primeira.
Na primeira cena de Hamlet, um extrato de nós, onde era mostrado o velório do rei, havia, de verdade, uma mulher na Igreja de Lourdes, pedindo bênçãos à imagem; uma mulher pagando a conta no caixa do supermercado; um vigia noturno que é despertado por um ruído possivelmente feito por um rato; uma adolescente em um banco de ônibus olhando-se no espelho e retocando a maquiagem; um rapaz entre as poltronas do cinema Ópera. “Saiam e me tragam pessoas. Seus gestos, emoções, sua compreensão do mundo”. O que se está mostrando, não é o que se está sentindo, mas o que se está sentindo é verdadeiro o suficiente para conferir emoção e verdade genuínas ao que se mostra, entende? Ser ator é muito difícil, dependendo do ângulo. É riquíssimo. Um poço onde mergulham para discutir suas vidas, suas verdades, crenças, a partir e à procura de personagens, de tal forma que possam enriquecer outros, a platéia. É o detalhe do dedinho do pé, das mãos, olhar, postura, sob o comando de um diretor, preso a uma estrutura, mas com todo o poder que uma pessoa com sua auto determinação tem.
No espetáculo PRC5 A Voz que fala e canta para a Planície, estive no palco, em um papel que misturava meu avô e meu pai. Não eram personagens. Era também meu próprio personagem. Nada me foi pedido em termos dramáticos a não ser a postura de um locutor das antigas. Uma vez, no ensaio, esqueci o texto. Ficou aquele silêncio, quebrado por uma das diretoras, dando a dica. Deve ser terrível o tal branco, diante de multidão, revelando a fragilidade onde havia até uma invencibilidade. Nos bastidores, mais do que nunca, o convívio. Paulo Santana, nervoso, detalhista, no pé dos mais jovens, aparentemente até desligados, menos de 1 minuto antes de entrar em cena. A troca de roupa veloz. O suor. A eletricidade. Não há melhor lugar no mundo do que coxias, ou bastidores, minutos antes de abrir a porta à platéia. Tem ator que é lento. Outros, velocíssimos. Já sabiam antes de começar. Agora estou dirigindo pela primeira vez. É Abraço, meu melhor texto. A volta de Cláudio Barradas e Zê Charone. Estive com Cacá em São Paulo, para aprender. É muito difícil. Pensar em tudo. Mas quando se começa, é como desenrolar um fio. Técnico, disponível, entregue, Barradas é uma revelação. De Zê nem precisa falar. Ela foi preparada por Cacá Carvalho. Ser ator é conjugar técnica e emoção, observação e talento. É deixar passar pela mente todos os argumentos que vêm, inicialmente, com o texto, depois pelas idéias do diretor, somadas aos demais técnicos como Iluminação, Som, Figurino. Tudo isso vem e também passa pelo seu intelecto. Quando atua, é o instrumento de divulgação de uma mensagem coletiva. Muita responsabilidade. Dependendo da iluminação, curiosamente, eles assistem à platéia, enquanto atuam. Sabem quem dormiu, beijou, bocejou. Mas quando há apenas aquele foco direto, que cega a platéia, que vira apenas fundo escuro, é como estar em um interrogatório, luz no rosto, fale, confesse, diga tudo, sem haver interrogadores diretos. O que é aquela luz que desnuda o ator, embora esconda a pessoa? Quem é essa personagem que parece alimentar-se daquela luz? Ser ator, no Pará, é alimentar-se de luz mesmo no breu em que vivemos. No mundo, é expressar o sentimento de todos. É anunciar os novos tempos, bons ou ruins. É entregar-se a uma causa. Refrear toda a vaidade em nome da disciplina, da mensagem, e ainda assim ser vaidoso, bonito, brilhante, correto. Na medida. Estou com Cacá Carvalho nos bastidores de “O Homem com a Flor na Boca”. Haverá mais uma sessão, já com ingressos esgotados. Conversamos relaxados, bebemos refrigerantes. Nem de longe parece aquele personagem perturbado, emotivo, no limite. E, no entanto, em cena, quem duvida disso? Sim, somos atores na vida e isso não é meramente uma citação, ou lugar comum. Muitas vezes, não escolhemos texto, direção, personagem ou palco. Basta estar vivo. Mas a mensagem depende de nós. Faço o meu possível. Ou como no poema “passo os dias maquinando meu suicídio perfeito. Nisso, vou legando a vida”...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...

Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...

Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...

Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...

Após ler os jornais e também os blogs que visito diariamente; após ir e voltar do almoço, usando o carro, pensei na letra desta música de Renato Russo e a Legião Urbana, grupo do qual não chego a ser grande fã, mas que quando acerta é no alvo. Melhor ainda o término, quando sob um tapete de bateria, baixo e guitarras "quebrando" tudo, cacofonia, vem Renato cantando uma letra de esperança, que o futuro recomeça, que vem perfeição.
Estamos sitiados em nossa própria cidade, clamando no deserto, tudo aquilo que parece normal e natural em outros países. Estamos reclamando, os incomodados que se retirem, pois há uma nova civilização, uma reconstrução de uma massa de pessoas que sobrevivem reinventando, reaproveitando os restos que recebe, a não Educação, não Saúde, não Cultura, não Emprego, não Porvir. A cada minuto que passa, piora. E nada é feito. Pedir uma revolução? A quem? O Exército que também está aniquilado e sem opinião a respeito? À esquerda radical, desmoralizada pelos novos tempos? À direita ridicularizada? O caos virou normal. E vamos todos para Salinas, mostrar nossos barrigões em alegres fotos regadas a selo preto.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um rei morreu. Viva o rei!

Fiquei muito triste com a morte de Michael Jackson. Junto com Madonna, o considero ícone da música pop, sobretudo nos anos 90. Michael revolucionou o mundo da música, dos discos. Trabalhou com remixes, vídeo clips autorais, dirigidos por profissionais de Hollywood. Quebrou a barreira entre música negra e música branca. Colocou Eddie Van Halen tocando sua guitarra em Thriller. Paul McCartney em The Girl is Mine. Soul Makossa em Wanna be starting something. Inovou nos shows, em tudo. Penso que o fenomenal êxito também quebrou sua frágil personalidade. Alcançou público infantil e a partir daí, a preocupação em atingir mais e mais pessoas, com restrições de temas o prejudicou. Um mártir da mídia. Desnudou sua vida. Ousou, enfrentou, iluminou a escuridão e sofreu as consequências. Preto que quer virar branco. Gay. Pedófilo. O mundo é cruel. Ele não teve forças. Desde criança, cantando para ganhar dinheiro. Pais que o surravam e ao que parece, também abusaram sexualmente. É o outro lado do popstar idolatrado.
Eu o encontrei. Sim, estive ao seu lado e fui cumprimentado. Estava em Londres, zanzando na Oxfort Street. Atravesso uma ruela junto ao prédio da então portentosa HMV Records, loja de discos. Passa por mim uma limousine. Por curiosidade, olho. Ela pára adiante na ruela. Sai alguém que, uau, é Michael Jackson, mesmo? Ele chega junto a mim, andando rápido. Me cumprimenta, porque imagino, estava abobalhado olhando sua chegada. Sinto cheiro de perfume forte e roupa suada, sei lá. Não gostei. Ele passa por mim e imediatamente ouço gritos das pessoas que o descobrem. Já estão a seu lado seguranças e ele entra na HMV onde rapidamente é acolhido em um elevador. Deixa pra lá. Alguns minutos mais tarde eu o vejo novamente, no terceiro andar da loja. Brevemente. Foi só.
Um rei morreu. Viva o rei.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O breve instante entre o silvo do machado que se ergue e outro silvo, quando ele baixa sobre nosso pescoço

Leio no Jornal Pessoal de Lúcio Flávio números aterradores a respeito da brutal decadência de Belém, do Pará. Ao mesmo tempo, leio na coluna de Mauro Bonna, sobre a rapidez com que foram vendidas os apartamentos de luxo ao longo da Dom Romualdo, prédios construídos por várias empresas. Uma noite dessas, da porta do Bistrô de Denis Cavalcanti, tentando encontrar a lua, percebi o número de edifícios em construção. Quem compra? Com que dinheiro? Não estamos falidos? Não. Apenas não amam o Pará. E são tão burros, tão egoístas, que querem o dinheiro somente para si. Morar em hollywoods aéreas, enquanto embaixo, está a podridão, a lama, a violência. Como em Salinas, onde milionários não pagam Iptu e fora de suas mansões, basta botar o pé para fora, pisam no lamaçal. Onde vamos parar? Na separação? Como tirar a razão dos paraenses que vivem distantes de Belém, sem receber qualquer ajuda, apoio, nada? Como? É claro que separando, viveremos, todos, pior, quer dizer, bem pior ainda, nós, que ficaremos apenas com Belém, hoje já degradada, afundada na lama fétida da imoralidade, roubo, desamor. Vêm eleições aí e não há, rigorosamente em quem votar. O tal casamento do ano foi mais uma prova de violência explícita, contra a moral, comportamento. Uma prova evidente do tipo de pessoa que o noivo é, ao usar sua vida pessoal, momento íntimo, a merecer comemoração, mas com o casamento permanecendo como fato principal, como festa política, onde a noiva se transformou em peça ridícula, deixada de lado. Ridículo. Imoral. Violento.

Insistência

Estive, na sexta passada, na cerimônia de inauguração do Teatro Cláudio Barradas, na Escola de Teatro e Dança da Ufpa. Inaugurar um teatro nos dias de hoje é ato de extrema ousadia. Um teatro para estudantes, maleável, para nele caber qualquer formato, mas com todos os equipamentos estalando de novos. Parabéns a todos os professores, estudantes, e principalmente ao reitor Alex Fiuza de Melo. Meu Deus, uma autoridade pensando em Teatro!
E todos nem se importaram com o fato do homenageado, Cláudio Barradas, estar aí, vivíssimo, celebrando missas e ensaiando "Abraço", ao contrário que a lei permite. É Cláudio, mesmo, a nossa grande figura teatral. O ator, diretor, escritor, agitador, polemista. Imagino seu orgulho. Admiro sua figura. E insistimos. Sofremos nocautes, mas levantamos novamente, porque ninguém vai nos jogar no chão. Pura insistência.


Este é o convite para o lançamento, dia 4 de julho, na Off Flip, em Paraty, da coletânea de contos "Entre Guerras", lançada pela Bertrand Brasil, organizada por meu amigo Nelson Oliveira. Entre vários autores nacionais, estou incluído com um conto que me foi encomendado. Houve um sorteio de "guerras" e tive a grande sorte de ser sorteado com o conflito entre israelenses e palestinos. Mais ainda, próximo ao meu deadline, recrudesceram as questões entre as partes, facilitando, para mim, o drama a ser relatado. Claro que fiz muita pesquisa, inclusive com amigos que moram em Israel. Claro que tudo começa em Belém. Um judeu e um palestino saem daqui para se encontrar em Jerusalém. Tomara que gostem. Espero que chegue por aqui.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Abraço

Vão de vento em pôpa os ensaios para Abraço, com Cláudio Barradas e Zê Charone, que deve estrear em agosto, no Teatro Cuíra. Estamos tão bem que estrearíamos agora em julho, não fosse o mês das férias. Se no resto do ano já não pensam em Cultura, imagine nas férias.. Ensaiamos quase todos os dias e já estamos direto, do começo ao fim, com marcações e tudo. Uma honra ensaiar com Barradas. Como é correto, doce, pró ativo e talentoso. Percebe as sutilezas da melodia do texto. As marcações. Ao seu lado, Zê Charone, que considero a melhor atriz de sua geração. Uma dupla e tanto. Quanto a mim, tento cuidar para que fiquem à vontade. Não me vejo assim, nem sou diretor. Estou diretor, por circunstâncias. Estive em São Paulo e após umas cinco horas de aula/conversa, com Cacá Carvalho, pude sentir mais segurança. Ir assistir Cláudio Barradas, prestes a completar 80 anos, cheio de saúde e talento é uma obrigação. Por enquanto, a alegria é minha de estar com eles.

Quatro vezes cadáver

Não tenho intimidade com Saulo Sisnando. Sou tímido, ele também. Mas me pediu, há uns tres meses atrás, para escrever um texto com 20 minutos, que se juntaria a outros, para a peça Quatro vezes cadáver. Há um morto em uma biblioteca de uma casa em San Francisco, anos 40 e alguns poucos personagens. Fiz uma brincadeira com o Falcão Maltês, auge do policial noir, inventando o crime do Muiraquitã Verde. Carlos Santos, Rodrigo Barata e o próprio Saulo escreveram os demais textos. Sábado passado foi a estréia. Super divertido. Saulo tem um tom leve, juvenil, despretencioso, não confundir com amadorismo, ainda que seja, mas no sentido de mal feito. A platéia, principalmente formada por jovens, adora. Adelaide Teixeira e Luiza Braga, minhas princesas, arrebentam. Os outros também estão bem, com bom timing de comédia. Já estamos embalando, para agosto, um texto meu, comédia, chamado Não me pega, não me toca, não me beija, nessa linha leve. Será que vai rolar?

Roxy 25 anos

São 25 anos de uma grande idéia. Meu irmão Janjo e seu sócio, o amigo João Carlos Braga, merecem todos os louvores da cidade. Quando o Roxy iniciou, aquela esquina era deserta, sombria, ninguém passava por lá. Hoje, mesmo enfrentando concorrência desagradável desses bares onde se compra um chopp e fica a noite inteira azarando e ouvindo pagode, permanece majestoso, lotado. Pais e filhos. Amigos. Gente que vai para encontrar quem aparecer por lá. O cardápio, o padrão de excelencia. O telão, a decoração. As peças de publicidade. Isso requer trabalho diário. Preocupação, criação e mais do que tudo, prazer de fazer. Não de querer ser milionário, mas de fazer bem feito, pelo bem da cidade, das pessoas. É essa filosofia que mais festejo em meu irmão e JC. Fazer pelo bem de fazer. Sim, tenho orgulho de ter feito o famoso jingle do Roxy, "existe um lugar".. E também redigido o cardápio e as peças publicitárias. Tudo isso a partir de sugestões estéticas de meu irmão Janjo. Estive lá na noite de domingo, para conferir. Sim, o prazer continua lá, 25 anos depois.

Poesia

Agradeço a todos os que compareceram ao lançamento da coletânea de poemas O Tempo do Cabelo Crescer, com patrocínio do Hotel Regente, através da Lei Tó Teixeira. Aconteceu no Cuíra, em uma sexta feira de muita chuva. Por isso, compreendo que muitos não tenham ido. Sexta feira, chuva e poesia, é pedir demais. Contudo, perderam belas performances de Joaquim, Adelaide e Luiza, tão jovens, lindos e talentosos, deixando boquiabertas as pessoas que os assistiram. É sonho antigo, meu, dirigir um espetáculo somente com esses poemas, com muita alegria, juvenilidade e rapidez. Acho que para bares, espaços menores. Acredito na difusão da poesia dessa maneira.
Aproveito também para convidar a todos para o lançamento do livro É Tempo de Saudade, de minha mãe, Celeste Proença, no próximo dia 23, terça feira, no Roxy Bar. É também o dia de seu aniversário e não informaria sua idade, por evidente educação, não fosse ela tão gloriosa, completamento 87 anos! Poesias!