É
uma pena que o rock brasileiro não esteja mais na preferencia dos jovens. O
rádio agora só tem espaço para “dim dim dim” e “atirei o pau no gato”. Digo
isso porque estava no carro e o pen drive começou a tocar “Nheengatu”, um dos
últimos discos dos Titãs. Não era exatamente o disco de estúdio e sim o “ao
vivo”, muito mais vibrante. O mais recente trabalho da banda, um musical,
apesar da qualidade instrumental, parece ser outro grupo, outra coisa. Não
gostei. Uma ou duas músicas, talvez. Mas esse “Nheengatu”, se fosse em outros
tempos, seria equiparado ao antológico “Cabeça Dinossauro”. Nenhum outro grupo
de rock mergulhou em assuntos polêmicos com tanta competência. Rock não é
situação. Rock é oposição, rebeldia. Hoje, são os pais que dão guitarras a seus
filhos. Assim não dá. Uma atrás da outra, o repertório vai direto aos assuntos
do cotidiano. O “Cabeça Dinossauro” também, absolutamente atual. Mas estamos
anestesiados. A geração de hoje vem da má qualidade de Educação e falta de
Cultura. Não quer pensar, analisar, questionar. Quer encher a cara, beijar
muito, pular e cair na cama.
Estava
viajando, com tempo a perder aguardando um compromisso. Entrei no maravilhoso
Roxy, o cinema de Copacabana. Qual é o filme, pergunta a moça? O que vai
começar agora. Tá bom. “Missão Impossível”, com Tom Cruise. Me pego olhando o
personagem. Está bem, ganha milhões e alguém me disse depois que ele é muito
focado no trabalho. Imagine. Quando faz a cara de mau, quando diz textos
idiotas, manter a compostura é difícil, mesmo. Uma sucessão de explosões
maravilhosas e aquele baixinho escapando e batendo em todo mundo. Ih, olhei o
relógio, caí fora do cinema. Perda de tempo. Faria melhor se fosse até o
calçadão da Atlântica olhar o mar. Mas é que estava chuviscando e a temperatura
baixa, o vento e tal. Paciência.
Também
li com muito prazer “Amastor”, livro novo de Marcos Quinam, esse artista
multitalentoso, goiano com alma tropeira, que desta vez vai à Guerra do
Paraguai, através do personagem título, saído de Belém, onde aprontava todas e
partindo, junto a outros em um navio, chegando ao Rio de Janeiro com vários
mortos por doença. Marcos vai, como se diz, “arrodeando” a Guerra, terrível,
malvada, desastrada, contra um pequeno país por razões desqualificadas. Amastor
junta-se a outros que por causas diversas, como ferimento, deserção, ou
bandidagem, caminham ao largo, abicorados, assistindo aos combates, se
apropriando de despojos. Recomendo. O texto é enxuto, forte e conquista desde a
primeira página. À venda na Fox.
Ah,
ponte aérea Rio São Paulo. Avião lotado. Entro, cheio de livros e mochila, não
percebo. Um senhor começa a gritar “esse vai ser o presidente do Brasil”. Não
entendi. Na primeira cadeira, com fila para fazer selfies, o Sr. Bolsonaro. Não
contente, o senhorzinho vai também pedir a foto e volta feliz. Então, tá. Me
distraí lendo, de Silvio Barsetti, o livro “A Farra dos Guardanapos”, uma bela
reportagem sobre Sergio Cabral, condenado a 100 anos e ainda aguardando novas
condenações e seus companheiros, nos melhores e mais caros salões de Paris. Em
dado momento, trêbados, alguns põem guardanapos nas cabeças. Alguém fotografa.
Algum tempo depois, esse alguém posta na internet. Deu no que deu. Recomendo
também “A Guerra no Vietnã”, documentário em 10 capítulos, sério, bem feito,
sobre o evento desastroso para os EUA e para muitos mais. É só.