sexta-feira, 27 de março de 2009

Como estou dirigindo?

É a primeira vez que encaro a tarefa de dirigir uma peça de teatro. Ano passado, subi pela primeira vez em um palco, fazendo a abertura e encerramento de "Prc5 A Voz que Fala e Canta para a Planície". Não tenho nenhuma aspiração, nem a à carreira de ator, muito menos, diretor, mas já fiz sonoplastia e trilhas sonoras, algumas premiadas nacionalmente. Quero apenas escrever, mas no Teatro, sobretudo no momento que vivemos no mundo, no Brasil, Pará, em Belém, fazemos qualquer coisa para manter viva a bandeira, a luta, se realmente acreditamos em alguma coisa. O espetáculo em questão chama-se "Abraço", de minha autoria, que reputo ser um dos meus melhores textos. Por diversos motivos, a peça já passou por dois diretores e não chegou à encenação. Talvez por isso, mas principalmente pelo amor ao texto, decidi aceitar a tarefa. Já assisti muitos diretores em ação, sobretudo Cacá Carvalho e não vale usa-lo como exemplo, pelo fato de ser um gênio. Impossível querer copiar, sei lá. Quem dirige pensa em tudo. Quem dirige sabe que a posição do pé do ator, a iluminação, o cenário, tudo tem de dizer alguma coisa, informar ao público. Considero uma atividade sensacional e não me sinto em condições de segui-la. Prefiro escrever. Mas é que o "Abraço" reúne em cena duas grandes figuras do nosso teatro, de um lado Zê Charone, a presidente do Cuíra, melhor atriz de sua geração, se me permitem, e do outro, uma figura exponencial para nós, Cláudio Barradas, pai, avô, irmão de todos nós que fazemos teatro no Pará. Cláudio foi tudo. Fez tudo. Então parou e foi ser padre, o que ainda agora é, na muito bem frequentada igreja da Marambaia.
Os ensaios já começaram. Uma delícia ouvi-los dizendo. Creio que em mais uma semana, iremos para o palco. Como diretor, tenho pouquissimos toques, aqui e ali, pois interessa-me ouvi-los, a dicção, a melodia perfeitas, para o perfeito entendimento da platéia. Não estou tão nervoso porque me sinto confortável com eles e penso que nos deliciamos juntos. Talvez, quando subirmos ao palco, venha a preocupação em estar à altura deles. Vamos ver. Mas é uma nova experiência, acreditem.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Os poderosos diretores de marketing

As leis culturais criaram cargos de grande poder: diretores de marketing. Agora, os artistas, escritores, atores, cantores, cineastas, todos têm de fazer fila, mesura, aguardar horas para serem atendidos. E quando o são, enfrentam jovens que não conhecem a cultura de sua própria terra, ou chegaram anteontem de outra praça. Ouvem e dizem que seus recursos já estão comprometidos com isso e aquilo, normalmente projetos sem noção. Só o Grupo Cuíra tem mais idade do que quase todos eles e no entanto eles, ali, ainda perguntam se há o retorno do dim dim investido. Explico. A lei prevê que 20% ou menos, não estou lembrado, saia de dinheiro do patrocinador e não do que seria pago em imposto. Pois não somente falam em "nosso dinheiro, o dinheiro que vamos investir", embora seja dinheiro do governo, a ser auferido em impostos, como pedem esse percentual citado, de volta, ou seja, 100% vira o que era de impostos e só. Não são todos, claro, mas acontece. Está tudo errado e a Cultura está bem ruim.

O patrão manda

Com o objetivo completamente mudado, as leis culturais fizeram com que os artistas, desesperados agora em meramente exercer sua atividade, deixassem de lado suas pesquisas, descobertas, caminhos ditados meramente pelo compromisso com a arte, para valorizar apenas o que é comercial. Nos pegamos a pensar projetos que possam "agradar a eles" e não mais somente o que o talento manda, obedecendo ao que sempre foi, no mundo, o papel de artista, que é servir de lanterna à frente, na escuridão da ignorância, desconhecimento, para o brilho do ser humano. Paulo Santana estaria errado ao contar a história de Teodoro Braga? Não seria natural a curiosidade de todos nós em conhecer notável figura? De escolas, universidades, em oferecer seus préstimos à iniciativa? Nada tenho e tudo tenho contra globais que montam bobagens e vêm faturar na cabeça dos silvícolas envernizados. É lei de mercado, paciência. O humor de Zorra Total tem cada cheia e o teatro paraense de Paulo, tão competitivo quanto, está vazio. O problema está em que podemos cansar. Podemos, um dia, perder o tesão. A vontade. Por isso conclamos os bons. Os que lêem os blogs, concordam com tudo, mas não vão. Sem ocupar esse espaço, os hunos tomarão conta de tudo.

As leis culturais

O que era para ajudar, acabou por destruir. As leis culturais. Hoje o governo federal apresenta uma nova versão da Lei Rouanet, que utiliza dinheiro que seria pago de imposto, investido em Cultura. Ou seja, a partir de um dinheiro que já seria pago, tecnicamente, não seria mais daquele que obrigatoriamente pagaria, faz-se Cultura e este um, com dinheiro que nem é mais seu, ainda tem lucro na forma de propaganda institucional, prestígio e outros. Não funcionou.
Antes de todas essas leis, hoje também estaduais e municipais, havia um trabalho fecundo de produtores que, amparados em pesquisas e resultados, publicou livros, realizou conferências, provando a efetividade do que se chama de Mídia Cultural. Ou seja, ficou provado que todo esse público que assiste teatro, cinema, compra livros, assiste exposições, naquele momento de relax, de desguarnecimento de defesas, está pronto para receber as mensagens publicitárias. Veio a Lei Sarney e logo depois a Rouanet. Na época, a desconfiança de patrocinadores em serem fiscalizados pela Receita. Dois problemas saltaram logo, o primeiro na dificuldade em obter os patrocínios, pelo tal medo da fiscalização. O segundo foi o entendimento de grandes patrocinadores, em tirar proveito próprio da lei, criando institutos que passaram a ter, também, sua própria programação cultural, dando mais e mais prestígio institucional às marcas. Pior, grandes produtores, aliados a grandes patrocinadores, trazendo grandes estrelas internacionais, raspando o cofre, portanto, e cobrando, ainda assim, ingressos a preços altíssimos, deixando de lado quem mínimamente precisa fazer seu trabalho, nem para ficar rico, meramente para viver dignamente de sua arte. Tem pior? Tem. O governo lavou as mãos da condução da Cultura e entregou tudo aos Departamentos de Marketing das grandes empresas. Entre Egberto Gismonti e Ivete Sangalo, quem será o escolhido? Entre o Zorra Total e o Clube da Piada, quem ficará? Gilberto Gil passou seis anos em intermináveis debates e agora, seu substituto, pressionado pelos artistas, apresenta hoje uma nova versão, anunciando em seguida, novos debates.
Quanto à Lei Semear, após um início em que figura esquecida era Secretária de Cultura e amealhava todos os patrocínios altos para seus próprios delírios, entrou em melhor fase. No entanto, o maior problema perdura, que é a falta de patrocinadores. Dos mais de cem projetos aprovados por ano, apenas uns doze, no máximo, são realizados. Há falta de produtores e principalmente, quando o governo permite que o patrocinador desconte do ICMS apenas 5% do seu total, já diminui, expressivamente, o número de candidatos, ficando apenas as grandes empresas de telefonia móvel, uns dois magazines, mais super mercados e deve ser só. Pior, na tentativa de espalhar sua marca pelo maior número de projetos, eles oferecem a metade e o produtor, desesperado, aceita. Estou ligando diariamente para a diretora de marketing daquele super mercado. Um dos donos enviou-me a cópia de email para ela, dizendo expressamente que desejava patrocinar aquilo. A moça enviou um email dando conta do início dos trâmites. Oba. Não. Já passaram vários dias. Eu ligo e ela está em reunião...
E a Lei Tó Teixeira? Permite, no máximo, 20 mil reais, de IPTU ou ISS. Acontece a mesma coisa. Dificuldade em conseguir patrocinador.
O ruim é que todos repetem o governo federal. Com a lei, afastaram-se da Cultura. Sei que a Secult tem realizado algumas ações, mas desconheço o processo. A Fumbel, não. Culpamos a Secult durante trinta anos e para ser exato, a Secretaria de Estado tem outros mais de cem municípios para cuidar, enquanto a Prefeitura está ausente desde que o poeta Paes Loureiro lá esteve, nos anos 70, creio.

Próximos capítulos

Paulo Santana e seu Grupo Palha estão em cartaz no Teatro Cuíra. No próximo mês, o Palha apresenta Julio irá voar, também de Carlos Correia Santos, contando a história do paraense Júlio César. A qualquer momento teremos espetáculo da Companhia de Investigação Cênica, residente no Cuíra, dirigida por Danilo Bracchi, especializada em dança.
Hoje, começamos os ensaios para Abraço, texto de minha autoria, com Cláudio Barradas e Z Charone. Imaginem, para mim, dirigir Barradas, um herói de infância, um gigante do nosso teatro. Mas é que a peça já teve dois inícios com diretores diferentes e por diversos motivos, parou. Agora, não. Também corremos a praça atrás de patrocínio para Sem dizer adeus, sobre livro publicado por Dalila Ohana, intitulado Eu e as últimas 72 horas de Magalhães Barata. Temos selo da Semear e nem por isso. Na sexta passada, estivemos com o diretor de marketing da Big Ben. Muito jovem, com apenas dois meses de Belém, sem saber quem é quem, ele disse que já estava com tudo preenchido para o ano todo, inclusive um projeto que ele ainda nem sabe qual é, mas que já tem dinheiro separado. Paciência. Devo lançar nos próximos dois meses, a coletânea de poemas O Tempo do Cabelo Crescer, reunindo highlights da minha obra. Fiz isso porque tenho poemas inéditos suficientes para um livro novo, mas há muito não fazia nada na área. Certamente, ninguém lembra mais. Com a coletânea, há uma rememoração e depois lanço o novo. O livro tem o selo da Lei Tó Teixeira, patrocínio do Hotel Regente. Também devemos lançar, eu e meu irmão Janjo, com ajuda do filho Arthur, o livro de poemas inéditos de minha mãe, Celeste Proença. A capa está linda. Para este, embora com aprovação da Lei Semear, nada será possível. Não conseguimos patrocínio. A grande loja Visão, dos amigos Pio, através de seu diretor de marketing, disse que me poderia oferecer somente um coquetel e a consignação de livros...

Aos bons

A barbárie chegou e se instalou. É chegada a hora da convocação dos bons. De todos aqueles que por nojo, preferência, ameaça, até preguiça se afastaram e permitiram que os hunos chegassem. Escrevo aqui em meu blog, na esperança de ser lido e conseguir mover alguém. Um bom, pelo menos. Alguém que mais do que concordar que a barbárie chegou, de postar, comentar, conversar, disponha-se a sair de casa e unir-se aos que estão nas barricadas, defendendo um mundo mínimamente melhor. Nessa direção, o assunto é Cultura. A maioria sabe que trabalho no teatro com o Grupo Cuíra, que administra um espaço na esquina da Riachuelo com 1o. de Março. Felizmente, a cada livro ou peça de teatro de minha autoria, ou de meu grupo, os amigos da imprensa ajudam e publicam matérias convidando a presença ou a leitura, no caso. Leio também em blogs que frequento diariamente, posts ótimos sobre música, teatro, literatura, artes plásticas, cinema, enfim. Maravilhoso. Mas ao menos quanto ao teatro, posso dizer que apesar de todo esse aparente comprometimento, quase nenhum frequenta o Teatro Cuíra, por exemplo. Assim, temos hoje como que seguidores do teatro. E sou de uma época em que lotar Teatro da Paz ou Schiwazappa, era natural. As pessoas não estão saindo de casa para assistir teatro paraense. E eu não consigo achar programa melhor do que assistir a uma peça e depois sair para jantar ou papear em algum bar, para comentar o que foi visto. Debater, digerir, comparar argumentos e assim, enriquecer meu cérebro e divertir minha alma. Os bons, estão ficando em casa. Os motivos podem ser de origem financeira ou até de segurança, ou possivelmente por terem livros para ler, DVDs para assistir. Não vão. E sem público, o teatro vai ficando cada vez mais parecido com aqueles grupos de cristãos que se reuniam às escondidas, nas catacumbas, escondidos dos soldados romanos. E sem Teatro e com ele todos os outros tão importantes, como Cinema, Música etc.., mergulhamos na barbárie. Permitimos a barbárie.
O Grupo Palha está em cartaz no Cuíra, com a peça Teodoro, de Carlos Correia Santos, sobre o pintor paraense que dá nome a uma de nossas galerias, Teodoro Braga. A direção é de Paulo Santana e tem bom elenco, figurino, trilha sonora, cores, figurinos, enfim, vale a pena assistir. Como de hábitos os jornais divulgaram, blogs falaram, mas o público não está aparecendo. Vamos insistir. A peça tem temporada de 1 mês e foi apenas o primeiro final de semana. Mas eu apelo aos bons. Aos que gostam de Cultura. De ler, ouvir, assistir. Que se embebedam, se alimentam de Cultura. É chegada a hora da reação ou pode ser tarde demais. Nós continuamos no bom combate.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Pedofilia virou manchete

Ao menos discutimos o assunto em todo o país. Jornais abriram matérias. Emissoras de rádio e tv fizeram reportagens. É preciso não esquecer. Ir até o fim. Os criminosos nas cadeias. Mas será que irá? Leio reportagens que em cidades do interior, acusados processados usam de todos os meios para adiar decisões e vão levando sua vida, tranquilamente, ao contrário das vítimas, com as vidas destroçadas, apavoradas, ameaçadas, trancadas em casa. Crianças que tiveram identidade revelada sendo tratadas em sala de aula com aquela crueldade infantil terrível, sem saber nem como reagir. O pior é que em Caxambu, MG, o promotor Bergson Guimarães avisa que a pedofilia não está tipificada no Código Penal que data de 1940. Os réus são enquadrados em "atentado violento ao pudor" e em "estupro com presunção de violência", cada crime com prisão de 6 a 10 anos. Agora imaginem que são geralmente primários e saem rápidamente para suas vidas tranquilas, isto é, aqueles que chegarem a ser condenados. E o sofrimento das vítimas? Pro resto da vida.

sexta-feira, 6 de março de 2009

A Pedofilia Midiática

A Pedofilia está nas manchetes. O deputado, o irmão da Governadora, o ex-funcionário da Sudam, enfim. Vem um senador, com cara de debochado, e posa de inquisidor, espezinhando, jogando para a platéia com o deputado, que é claro, já entrou condenado no recinto. Talvez tudo isso seja necessário. Tenhamos de engolir todos os artistas desse circo, engolidores de espada, mulher barbada, para que essa doença, esse crime, realmente passe a ser discutido na sociedade, de maneira aberta, já que atinge a todas as classes. Crime/doença nojento, cruel, cometido nas entranhas da noite, dissolvendo a inocência e a moral de crianças, para a vida inteira. Crime/doença que é do mundo, e no entanto, ainda não está clara sua punição. Ainda não temos evidente se o culpado deve simplesmente mofar em uma cela pelo resto da vida, ou se fazendo terapia, fique bom, ou controlado. Yúdice de Andrade disse, com razão, que apesar de doença, desvio de comportamento, o criminoso está o tempo todo na sua mais perfeita razão, sabedor de tudo o que está acontecendo. Imperdoável. Mas então, temos de aturar a vinda do circo a Belém. Uma multidão indo aguardar o Inquisidor, que chega, ouve manifestos, passa a mão na cabeça de crianças e no dia seguinte, joga para a torcida. Não o conheço, nem mesmo sua performance no Senado, embora, tudo o que esteja em Brasília, hoje, cause nojo a todos os brasileiros. Julgo apenas o que vi e ouvi. Não basta que o deputado, que mantém sua empáfia, seja cassado e depois condenado. Nem ele, nem os demais que serão "garroteados" publicamente. É preciso discutir o assunto em todas as mídias, já que nossa sociedade é do espetáculo, da mídia.