quinta-feira, 30 de abril de 2009

I don't wanna grow up

Nunca tive pressa de crescer. Fui criança até quando pude. Estudei o primário no Suiço Brasileiro. De lá, guardo no coração alguns colegas que de vez em quando encontro nas ruas. A convivência era mais com meus irmãos. Cinco irmãos, cada um mais genioso que o outro, comandados por uma mãe maravilhosamente louca e um pai que no momento certo decidiu adolescer também, voltando a fazer música, convivendo com os filhos. No meu primeiro dia de aula no Colégio Nazaré, onde fiz ginásio, científico e vestibular, ouvi o palavrão "porra", sem saber do que se tratava. Era criança. Muito criança. Foi ótimo daí em diante, porque ao mesmo tempo em que o universo da molecada invadiu minha vida, a outra vida, dentro de casa, com meus irmãos, continuou intensa, forte e me protegendo de todas as maneiras, continuei criança. A vida interior, com os livros e as histórias do mundo. Era o "campeão do tranca", disputado em bicicletas, na Praça da República, nosso playground luxuoso. Ali jogava peteca com os motoristas de praça, que ficavam de plantão pela Osvaldo Cruz, próximo à esquina da Presidente Vargas. Ou brincava de cavaleiro medieval construindo espadas, escudos, pintados conforme os filmes e os livros de Ivanhoé, por exemplo. E no cinema passava Scaramouche, os Três Mosqueteiros. Meu avô me emprestou toda a coleção de Alexandre Dumas. O professor Berbary, de Português, passou trabalho a partir de livros que tínhamos de ler. Para mim, Menino de Engenho, de José Lins do Rêgo. Pedi ao meu avô, emprestado. Abro o livro e está uma dedicatória de Rêgo. Caraca. Me pegou. Nunca mais larguei os livros. Li os outros dois, Doidinho e Banguê. Uau. E os colegas trouxeram a adolescência para mim. Um irmão marista ensinou Educação Sexual. Lembro dele, explicando o saco escrotal e as risadas inocentes que dávamos. As tertúlias dançantes da Assembléia Paraense, ao som de Guilherme Coutinho e Walter Bandeira. Do início ao fim, dançando. Quer dizer, depende. Uma vez, estava animado, mas a garota pediu para parar. Suas companhias iam embora. Está bem. Eram as duas últimas músicas. Eu queria dançar até o fim. Olhei e vi a menina. Devia ter minha idade, mas como era bem bonita, era assediada pelos mais velhos, a eles também preferia dar atenção. E daí? É preciso terminar a noite. Vamos dançar? Não, estou cansada. Pau na testa. Morava quase ao lado do clube. Voltava à pé. Os amigos se reuniam e pegavam taxi. Começaram a me contar que iam dar voltas, antes. Iam à Condor, o bairro boêmio, prostitutas. Uma noite decidi ir, também. O carro cheio de guris. O motorista, ao saber o destino, começou a dizer que achava certo. Que meninos precisavam começar cedo na sacanagem. Nós, atrás, sem dar palavra, a não ser um, que ia respondendo, dando corda ao assunto. Chegamos à praça da Condor. Redonda. Em volta, uma multidão misturando homens e mulheres, à porta das boates. O motorista pergunta onde ficamos. Nosso amigo pede que ele dê a volta na praça. Vamos, lentamente, olhos grudados nas "mulheres da vida" que estão à vontade, indo e vindo em seu trottoir. Ao final da volta, o motorista olha como quem pergunta " e agora"? Volta para o centro, ele ordena. O motorista não diz nada. Nem ninguém. Calados, voltamos todos. Mas aconteceu, claro. Fomos outra noite até lá. Meu primo me chama. Tem duas ali que consegui para nós. Vamos atrás delas. Fomos. Sinceramente, não lembro do rosto, de nada. Era um quartinho com lugar apenas para a cama. Lembro do cheiro. Só. Rápido. Uma semana depois, gonorréia. Vou à farmácia. A enfermeira, com a seringa nas mãos, indica que deve aplicar a injeção nas nádegas. Claro que não, brado, feito Randolph Scott. Ela aplica no braço. No caminho de 100 metros até minha casa, choro de dor.
O amor chegou e se armazenou no meu peito com todo o romantismo dos livros que lia. Houve duas ou três palavras trocadas e nunca mais. Ficou algo platônico. Em uma viagem, a que seria a primeira namorada. Turma de adultos. Por exclusão, ficávamos juntos. Voltamos. Em julho, Mosqueiro, o mítico Mosqueiro de tantas recordações. Boate Ressaca, dançamos colados. Tenho de ir. Está bem. Tchau. Volto para casa e fico sem dormir. O que houve? Estava namorando? No dia seguinte, vou até sua casa e não acontece nada. As férias acabaram. Encontramos na boate da AP. Estamos indo para o Papa Jimi. Quer ir? O namorado da minha irmã paga. Tá. Dançamos. Ela pergunta, enfim, se estamos namorando. Sim. Ufa. Durou pouco tempo. As familias, amigas, torceram. Não deu. A adolescência durou muitos outros anos. Quem tem pressa de crescer? O mundo nos pressiona. Vestibular. Carreira. Trabalho. Aos 17 anos, não sabia se queria ser jornalista, radialista, talvez advogado. Escrevi minha primeira peça de teatro. No meu colégio, havia apenas turmas de Medicina e Engenharia. Fiz Engenharia, passei. Hoje sou formado em Jornalismo. Penso que manter a mesma curiosidade em relação ao mundo, a todas as coisas, é um dos meus segredos. Hoje, não sei bem o que sou. Criança, certamente, não. Um adolescente que se recusou a virar adulto? Um adulto que se recusou a envelhecer? Tenho avidez pela vida. É o título de meu livro de poemas inédito, a sair até o final do ano. Ávida a vida. Não quero crescer.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Algum filho da puta

Não é novidade que a Cultura e a Educação são os dois primeiros ítens a serem cortados em momento de crise. Tem sempre algum filho da puta desses economistas, que alegremente acha que está cortando a farra de alguns viados e sapatões que fazem música, teatro e outros. Trabalhei algum pouco tempo na Secretaria de Cultura. A cada vez que vinha o tal QDQT, o secretario La Penha tinha um ataque de raiva, botava o paletó e ia direto ao governador, de onde saía mais tranquilo. Agora, como se não bastasse a não existência de qualquer política para a área, e as intermináveis discussões de um tal Plano de Cultura que nunca chega; de um secretário cujo rosto ninguém conhece, quanto mais as opiniões, vem algum filho da puta e além do corte de 30% anunciado pela governadora, faz um corte de mais de 50% no orçamento da Fundação Tancredo Neves. A Cultura, esgarçada, dividida como butim, onde dirigentes de diferentes partidos sentam nas cadeiras mas não podem fazer nada, agora chegou ao fim. Não há como funcionar. O Centur virou um elefante branco, onde algumas pessoas chegam, sentam e aguardam o fim do expediente sem nada para fazer. Quanto a nós, que fazemos Cultura, ficamos pior. Alguém dirá que devíamos ir à luta para continuar nossos trabalhos, sem precisar de "ajuda" do governo. Cultura é diferente. É muito maior. Depois, foi a criação das leis culturais que arrebentou com o que havíamos construído, em termos de relacionamento com empresas, conscientes do poder da mídia cultural. Hoje, nem o governo tem qualquer dinheiro para Cultura, nem os empresários querem apoiar através da lei, com medo de fiscalizações, pior ainda se for com dinheiro próprio. Melhor parar? Dar o fora, deixar pra lá, que isso só traz desgaste e parecemos estar em pequeno número. Afinal, que torce para a Cultura? Se fazemos peça de teatro, dança, sei lá e mesmo os que gostam ou gostavam, dão apoio, manifestam-se a favor, mas não vão ao teatro? Quem está por nós? Ninguém. Estamos incomodando, irritando, meramente por nos negarmos a desistir. Está difícil. Estou no limite. E ainda vem algum filho da puta e corta o dinheiro da Cultura.

Que Literatura?

Foram duas notícias, na mesma coluna, de jornalista não confiável, é verdade, mas a demonstrar o momento que vivemos na área da Literatura no Pará, em Belém. A primeira dá conta do 2o. Jirau de Literatura Paraense, com inscrições abertas até 15 de maio e realização entre 28 e 30 do mesmo mês, com apoio da Fundação Cultural Tancredo Neves e Ufpa e realização da Associação de Escritores da Amazônia. Meu amigo Salomão Laredo me convidou para a primeira edição, mas não pude aceitar. De qualquer maneira, não aceitaria. Está tudo errado. Durante os doze anos tucanos, fui censurado, sobretudo nesta área. Não podia ser convidado para nada, nem meus livros utilizados para qualquer coisa. Mas é que agora, um gesto tão amador quanto o deste Jirau, soa como grave ofensa. Nem a Secretaria de Estado, nem a Fumbel têm qualquer política para Literatura. Nada. Simplesmente nada, a não ser a tal Feira, que é um belo momento para livreiros e alguns escritores do sul, que vêm para ser acarinhados, passear e comer bem. Para os autores locais, nada. E então, no momento em que existem várias ações no resto do Brasil, valorizando autores locais e que ao contrário, nada disso ocorre, realizar esse Jirau, onde as autoridades entram apenas com o local e os escritores levam seus livros, sua banquinha e ali ficam aguardando, certamente, seus familiares, não o público, me parece humilhante demais. Pior do que isso, somente ler, na mesma infame coluna, que a Secult, do secretário Edson recusou convite da famosa Feira de Livro de Porto Alegre, a mais antiga e maior do país, para que o Pará fosse o Estado convidado. Está bem que não tendo nada a oferecer, deveria ter dado vergonha, aí a razão da negativa. Infelizmente, não foi por isso. Temos o centenário de Dalcídio Jurandir, temos autores, que teimosos, recusam-se a sumir. E ainda temos de suportar isso.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Censura à Imprensa

Tenho acompanhado em meus blogs preferidos, o debate a respeito da atitude de uma juiza, proibindo nossos jornais de publicar em seus cadernos policiais, fotos de vítimas de agressão, que vinham se revelando procedimento sistemático, em uma porfia perigosa e sem limites. Jornalistas defendem o direito de publicar o que dizem ser "chocante realidade de uma cidade entregue à violência", e o perigo da censura que chega aos poucos e adiante, ninguém sabe. Os blogueiros, deflagradores de uma campanha que culminou com o ato da juíza, não se dão por satisfeitos. Consideram que a juíza fez o certo, tirando de cena fotos realmente absurdas. E acho absurdas, mesmo. Violentas, agressivas, nojentas. Agora, daí até a juíza proibir, vai grande distância. Até agora, os jornais têm usado de criatividade para publicar fotos. Imagino que ao longo dos dias, começará a haver uma série de tentativas para perceber o limite, já que não há limite definido, nem pode haver, pois subjetivo o que é violento para um e outro. Acho também que vivendo em uma democracia, compra o jornal quem quer, principalmente, lê o caderno policial quem quer, também. Acho que se há um consenso, entre várias parcelas da sociedade, que são absurdas as tais fotos, só há duas saídas: uma, deixar de comprar os jornais. Outra, agir de maneira conjunta, através dos blogs, cartas, abaixo assinados e outros instrumentos, para convencer os editores que há uma manifestaçao contrária, em número suficientemente preocupante, para a vendagem e leitura dos produtos, que vale a pena considerar. É assim que tem de ser e pronto. Um dia desses, o senador Christovam Buarque disse que o Congresso estava tão ruim, que pensava se não era melhor fechá-lo. Confesso que no primeiro momento, dei-lhe razão, mas em seguida, quase gritei comigo próprio, é uma democracia! Sem Congresso, estamos perdidos! Em nenhum momento podemos abrir mão do Congresso e pronto. Mas procurarei, no âmbito de minhas possibilidades, como cidadão, convencer outros a, no próximo pleito, não reeleger nenhum de seus integrantes pois lá, os poucos bons acabarão pagando pelos muitos maus.
Não, eu não acho que seja através de Censura que a grosseria idiota dos nossos jornais, com seus sanguinolentos cadernos policiais se resolverá. Particularmente, não vejo viabilidade financeira nesse sangue todo. Jornal hoje é um produto da elite, seja financeira ou cultural. Consomem jornal alguns viciados em informação, mais funcionários públicos, agências de propaganda e alguns empresários. Pobre não compra jornal. Assiste televisão. Ouve rádio. E vão me dizer que esse público citado adora matérias pingando sangue? Pobre (desculpem usar a palavra como a designar alguém inferior, mas é meramente uma questao mercadológica) pode até espichar o pescoço para ler os tais cadernos policiais, expostos em bancas ou na calçada, mas comprar, não. Qual a razão, então? Não sei. Alguém comentou, certa vez, que os gazeteiros exigiram isso, pois acham que é fator de venda. Será? Qualquer pesquisa simples tira isso de letra. Agora, desculpem os amigos que pensam diferente, mas censura, não.

A Arte do Macaco

Ainda não assisti a nenhum capítulo da novela das sete. Pensando bem, acho que não assistirei nenhum, como sempre. Mas é que li e assisti nas chamadas de lançamento, que um dos protagonistas é um grande artista plástico, na verdade um falsário, pois seus quadros são "pintados" por um chimpanzé, bicho de sua estimação. A princípio parece uma brincadeira tola, mero golpe para uma simples novela. Mas é que dado o momento que vivemos, creio ser algo bastante arriscado. Talvez esteja fazendo tempestade em copo d'água. Pode ser. Mas nunca a Cultura esteve em tão baixo nível de consideração por parte da sociedade brasileira, como neste instante. Nossa Cultura, nossos artistas, onde estão? Música, Teatro, sei lá. Li uma crônica de Nelson Motta, reclamando da atenção recebida, agora que procura por patrocínio para uma obra. Rodrigo Santoro também diz a mesma coisa. E olha que são grandes nomes, envolvidos com a mídia e tudo. Aí vem a novela e em horário nobre, apresenta a arte, aquilo que críticos de arte festejam e colocam alto preço, como sendo algo irracional, feita por um macaco. Ou seja, a Arte é qualquer coisa, uma bobagem meramente decorativa, que pode ser feita acidentalmente por um bicho. Quanto vale a Arte? Os bobalhões, esses que vibram porque enfim, a arte está nivelada, não lhes está distante através do conhecimento, da Cultura, vão festejar. Arte é um negócio que não dá pra entender e até um macaco faz e vem um crítico desses metido a entender e diz que é coisa de gênio.. Entendem? Horário nobre, Tv Globo.
E como nos sentimos, nós que fazemos Cultura no Pará? Agora mesmo foram abertas novas inscrições para a Lei Semear. Li também que a governadora mandou aumentar a desistência do governo em impostos, para a lei. Sinto-me devastado. Como agitador cultural, seja como autor teatral ou literário, compositor ou como produtor do Cuíra, não me considero acima de ninguém, nem de nada. Era o que faltava. Mas também não posso me considerar abaixo de qualquer coisa. Afinal, estando na briga há tantos anos, tendo publicado uma dezena de livros, encenado uma dezena de peças, composto algumas trilhas e produzido alguns espetáculos, já dá para achar que ao chegar ao departamento de marketing de uma das maiores empresas do Estado, não vá lidar com alguém bem jovem que me olhará com a curiosidade de um ET, perguntando de maneira desinteressada se faço teatro, literatura ou exatamente o quê. Mas é isso que ocorre. Erram-nos o nome. Nunca ouviram falar em nossas atividades, quanto mais nos nomes. Pior, uma vez dado o recado, começam a falar com orgulho de suas próprias iniciativas, tirando partido da lei. E chamam de "nosso projeto", apesar de entrar com um dinheiro que não é seu e sim do governo em forma de imposto, mas que do qual, mesmo assim, auferirão lucro em imagem e prestígio. Finalmente, perguntam se haverá uma volta financeira. Sim, a lei prevê que o empresário invista 20% do total do projeto em dinheiro próprio, para demonstrar estar perfeitamente de acordo com a iniciativa. Pois pedem o dinheiro de volta. Nem esse querem dar. E você, artista, que ao invés de estar trabalhando, está vendendo seu trabalho, que ouviu todo esse discurso contendo-se para não dar respostas tortas, ainda tem que sorrir e pensar se vai fazer aquilo mesmo, ou ficar sem fazer seu trabalho.
Ao entregar a decisão da realização de projetos culturais a departamentos de marketing das empresas, o governo lavou as mãos e deixou os artistas em pior situação. A última resposta que ouvi, de um dos maiores supermercados da cidade, e ouvi de uma mulher da área administrativa, à qual fui passado pela jovem e desinformada diretora de marketing, foi que o governo é muito chato, pois fiscaliza as empresas que querem patrocinar a cultura, com muita burocracia. Por isso, não iria apoiar nada.
Por minha conta, desisto. Meus próximos livros, vou dar meu jeito, ainda não sei como, mas não passo novamente por tudo isso. Tenho um cd com músicas inéditas de meu pai, projeto aprovado na Semear, que imagino que não sairá. Finalmente, o novo projeto do Cuíra, aos 47 do segundo tempo, parece que consegui. E é alguém desinteressado, tranquilo. O processo apenas começou, mas estou torcendo. Também imagino que sem dinheiro de Lei, o Cuíra vai desaparecer. A situação já está terrível o suficiente para isso. É como está a Cultura, hoje no Pará. O secretário Edson se esconde dos artistas. Quando é imperativa sua presença, vai direto para a mesa dos trabalhos de onde retira-se antes do final, estrategicamente. Deverá se tornar o secretário mais ausente, desconhecido e descompromissado da história do Pará. Li no jornal, mas não dá para garantir ser verdade ou apenas política, que o Centur passará a fechar às 14hs, por falta de dinheiro. Adeus Teatro, Cinema, shows de música. Adeus tudo. Ficam somente os funcionários ganhando seu dimdim. A atividade fim, tem seu fim.
No âmbito nacional os artistas se movimentam, peitam o atual Ministro, que é do time de Gil, que adora um lero lero. Levou oito anos com a Lei Rouanet no lero lero e agora propõe mais. O Secretário Edson, daqui, também adora. Tempo que passa, dinheiro no bolso e tudo adiado. Mas continuamos no bom combate. No próximo final de semana, Danilo Bracchi e sua Companhia Investigativa de Dança se apresentam no Cuíra. Estamos sobrevivendo. O pulso ainda pulsa.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Vendam o Flamengo

Leonardo, que foi um dos grandes jogadores do Flamengo, atuou na Seleção e no Milan, onde atualmente trabalha como manager, deu entrevista ao Globo de hoje, sensacional. A todo instante alguém do Flamengo liga contando das confusões e apelando para que se candidate a Presidente. Leonardo é enfático: nunca serei Presidente do Flamengo na estrutura atual. Realmente, é um escândalo sem precedentes, alguém conseguir quebrar uma marca como a do Flamengo. É preciso exemplar incompetência, burrice e má fé para conseguir o que conseguiram as últimas diretorias do clube. Leonardo disse o que se sabe: só vai mudar no dia em que venderem o Flamengo. Vender ou licenciar a marca para uma empresa de responsabilidade para que ela passe a gerir o clube e lentamente conseguir soergue-lo. Como está, impossível. Aí, pensei em Remo e Paysandu. Também só têm esse jeito.

A censura aos jornais

Também não concordo. Não é assim que se faz. Foi certamente a partir de posts em blogs famosos da cidade, chamando atenção para o fato que o TJE se pronunciou, proibindo nossos jornais de veicular fotos chocantes de pessoas assassinadas, feridas ou de alguma maneira vitimadas pela violência. Realmente, a coisa já havia passado dos limites há muito. O pior é que deve haver alguma pesquisa garantindo ser essa exposição "mundo cão", algo que resulte em aumento de vendas, algo assim. Porque ultrapassa o bom senso. Jornais, hoje, em Belém, vendem cada vez menos. E é curioso que as agências de publicidade se submetam aos preços cada vez mais altos que cobram, quanto menor sua leitura. Está certo, é um público seleto, dividido entre aposentados, funcionários públicos, jornalistas e alguns viciados. O resto não lê porque a falta de Cultura afasta, ou porque acha o preço caro e prefere assistir a televisão, ouvir o rádio. Não há nada que sustente que este público seleto, de poder aquisitivo, presumida Educação, adore contemplar, diariamente, o festival sangrento de fotografias no Caderno Policial. Parecia um campeonato tipo quanto pior, melhor.
Agora, por outro lado, quem vai garantir os limites dessa bobagem sangrenta? Não pode ser o TJE. Não há parâmetros. É censura e por isso, inaceitável. A sociedade devia continuar se mexendo, protestando, até se fazer ouvir pelos proprietários dos jornais. Assim é que devia ser. A campanha dos blogs, por exemplo, se fez ouvir. Mas não concordo com censura. É uma abertura perigosa. Mas convenhamos, também, que os donos dos jornais precisam de um pouco mais de sensibilidade, ou então vêm em suas folhas e demonstram, por pesquisa, que uma maioria de leitores gosta e exige as tais fotos. Hoje em dia, já não meto a mão no fogo por nada..

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O nome da morte

Estou muito impressionado com o livro O Nome da Morte, que acabo de ler, do jornalista Klester Cavalcanti, pela Editora Planeta. Trata-se do relato da história de Julio Santana, um assassino profissional, com confessadas 492 mortes em toda a carreira, já encerrada, de maneira tranquila. Em meus próprios livros, tenho delineado posturas e modo de pensar de alguns assassinos. Mas é ficção. Aqui, é absolutamente verdadeiro. Julio é iniciado na carreira por um tio. Boa parte do livro se prende a essa primeira vez. Em seguida, o segundo assassinato, dessa vez, sem querer, pois atuando a serviço dos militares a quem guiava na Guerrilha do Araguaia, atirou para ferir uma guerrilheira, mas acabou matando-a. Vêm então breves relatos sobre as outras mortes. Sem qualquer sentimento, ele mata homens, mulheres e até crianças, como uma de 13 anos, assassinada a mando de um fazendeiro, para vingar-se dos pais, que fugiram do trabalho escravo. Ou a outra vez em que matou a pessoa errada, parecida apenas e retornou para completar o serviço. Quase sempre tiro de revólver, à queima roupa, na cabeça. Uma vez foi preso. Justamente em um crime próximo à sua casa. O marido o contratou para matar a esposa, que havia matado o filhinho, de oito meses, afogado. Ele chega na casa. O marido o recebe. Avisa que vai sair um instante. Deixa-o na casa. A mulher se tranca no banheiro. O tempo passa. Ela não sai. Ele resolve arrombar. Enche um camburão de água. Começa a afoga-la. Assim havia sido o pedido. Ela grita. Ele perde a paciência. Envolve o revólver na toalha e atira. Quando sai, vizinhos perguntam o que havia acontecido. Nada. E o fulano? Saiu, mas já volta. Ele sai, eles entram. Gritam. A polícia o prende. Apanha uma noite inteira. No dia seguinte, ouve a esposa conversando com o delegado. O marido que o havia contratado, tinha ido avisar. Abrem a cela. Ele foge. O delegado havia aceitado receber uma motocicleta novinha em troca de sua liberdade. E é a esposa, uma piauiense que conheceu quando foi a Teresina matar uma pessoa, que o fez largar. Mulher e dois filhos. Eles, nunca souberam. Juntou dinheiro. Comprou um sítio em outra cidade. Jogou fora a arma. De madrugada, acordou todo mundo, pegaram um caminhão e partiram. Está aposentado. Aproximadamente 55 anos. Nunca fez outra coisa na vida.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Onde está o futebol bom de ver

Thanks God, voltou o campeonato inglês, mais quente do que nunca. Depois de assistir os jogos de Manchester e Liverpool, não há como zapear para os campeonatos do Rio e SP. Imagine daqui. No momento, me delicio em ver a atuação de dois jogadores. No Liverpool, Gerrard, um meio camisa 10 e 8, extremamente elegante, brilhante, como bom inglês, trabalhando exclusivamente para o time. Não tem espalhafato, nem chiquês, ou cabelos esvoaçantes. O passe é seu principal fundamento, como deve ser. O outro é o holandês Seedorf, atualmente no Milan. Assisto aos jogos italianos somente por ele. Sim, um tanto por Kaká e Pato. Mas Seedorf sabe tudo, todos os fundamentos, a elegância, combatividade, toque, tudo com uma simplicidade exuberante. A bola, nos seus pés tem endereço certo. Deve errar uns dois passes por jogo. E olha que os italianos são bastante violentos. E aí não dá para querer saber de Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense, com suas equipes vagabundas, misturando atletas em fim de carreira e outros sem nada a dizer. De vez em quando sai um bom lance, como sai também na minha pelada dos sábados. E daí? Mas os paulistas estão loucos. Tendo em vista o amadorismo, a incompetência e a malinagem dos cartolas cariocas, os paulistas vêm impondo seu futebol. Já falam, em seus programas, de seu Corinthians, como se todos achassem ser, realmente, a equipe mais querida do Brasil. Um futebol onde o pretenso melhor time do Brasil é o São Paulo, por quem tenho afeto, mas que joga um futebol horroroso, duro, feio, sem imaginação, com anti jogo e o catzo, imagine. Um futebol onde Ronaldo, farrista, fumante, gordo, pós operado sériamente ainda brilha, sendo evidente seu toque diferente em relação aos demais. E agora o Santos lança um garoto firuleiro, como todo garoto bom de bola, chamado Neymar, de 17 anos, e já correm a fazer entrevistas com o novo Pelé.. Os caras estão demais. E os nomes dos clubes do interior? Com toda a incompetência carioca, ainda vai demorar muito para Corinthians, Palmeiras e outros suplantarem, em nossos corações, simpatias antigas por Flamengo, Vasco e cia. Pra ser mais exato, acho que a garotada passa direto por cima disso e cai sobre Manchester, Chelsea, Liverpool e Arsenal.

Ben Hur e Let it Be, o passado bate à sua porta

Sábado passado, estava zapeando a Tv até dar com Ben Hur, o filme de tantos Oscars. Fiquei. Não consegui despregar os olhos. Não sei quantos anos tinha quando vi pela primeira vez, mas lembro até hoje a forte impressão que me causou a famosa cena em que Charlton Heston, como escravo, passa por um oásis e recebe água de Jesus Cristo. Depois de beber a água, ele levanta os olhos e o fita contra a luz, de tal forma que nós, não lhe vemos o rosto. Foi ali um dos momentos em que me convenci que religião é muito mais do que livros, missas, condenações e que tais. Mas, duas coisas: infelizmente, por alguns minutos, perdi o famoso avião que passa ao longe, nesta mesma cena. A outra diz respeito ao que recentemente se passou a comentar, ou melhor, tive conhecimento, pois não sei se à época já rolava isso. Ben Hur é um filme gay total! Está bem, Ben Hur e Messala são apenas amigos. Está bem, mesmo. Normal. Mas, daí em diante. Ben Hur está em uma galé. Entra um consul romano. A bicha, ao invés de ficar em seu aposento, prefere viajar no porão, sentado, assistindo uns duzentos homens remando, suados, fedendo, sobretudo fitando Ben Hur. Hummm.. Depois o chama até seu quarto. Quando Ben Hur entra, ele (ela) está dormindo... Humm.. Nada bobo, Ben Hur o salva quando há o naufrágio e por ele é adotado, recebendo tudo a que tinha direito... Humm.. O consul diz lembrar o filho, que morreu na idade de Charlton Heston. E adiante, o mercador árabe, dono dos cavalos com os quais Ben Hur vai vencer a corrida de bigas, vai até a sauna dos romanos apostar com Messala. Estão todos somente com uma toalhinha na cintura, molhados de suor e óleo.. Humm.. Muito gay.
Nada disso tira o brilho das cenas finais da corrida de bigas. Acho que nunca verei algo tão bem filmado, com as condições da época. Uma perfeição de cenário, montagem, som, tudo. Lembrei até de meu pai. Messala, o romano malino, é tão escroto que das rodas de sua biga saem dois esporões de aço, de tal forma que vai destruindo as rodas dos demais desafiantes. Meu pai, no trânsito de Belém, há vários anos, dizia querer ter, como Messala, em sua Variant, esses mesmos esporões, para ir arrebentando os carros dos barbeiros à sua frente!
E Let it Be? Meu irmão Edgar me deu de presente. O filme dos Beatles fazendo o disco. As relações entre eles, péssimas. Decidiram não mais excursionar. John Lennon levando até para o banheiro a japa girl Yoko Ono. Paul posando de dono da banda, sendo mais focalizado no filme do que os demais. Ainda assim, vê-los em seu trabalho de ourivesaria em clássicos do rock, é imperdível. A última cena, no telhado da Apple, é inesquecível por vários motivos. Por assisti-los tocando, ao vivo e principalmente, por momentos finais. Aí, não há nada pré determinado, apenas reações de seres humanos. Os policiais chegam ao teto. Conversam com Mal Evans. Com medo, temente à autoridade, George pára. John vai desligar o amplificador. Paul olha e decide continuar, ao que imediatamente os outros dois retomam. Ao final, John vai ao microfone, agradece, pede desculpas por ter atrapalhado o horário de almoço de todos enquanto Paul, feliz, grita que os Beatles voltaram à estrada, às raízes. And in the end, the love you take, it`s equal to the love you made..
Também sem querer assisti o final de Amargo Regresso, super filme com Jon Voight e Jane Fonda, contra a guerra do Vietnã. Jon está de volta, paralítico, namorando com Jane, linda, cujo marido está na guerra. Ele volta. Ela volta para ele. Como Jon Voight transformara-se em ativista contra Vietnã, foi espionado. Mostram tudo para o marido, extremamente perturbado. Depois de receber uma condecoração imerecida, ele vai à praia, tira as roupas e entra no mar, sem saber nadar. E tudo acaba com Out of Time, dos Rolling Stones. You`re out of time my baby, my poor old fashioned baby, I said baby, you`re out of time

Leis Culturais - Beco sem saída

Wlad Lima esteve em Salvador e presenciou o fim da Redemoinhos, uma organização a partir do Grupo Galpão, que reunia grupos de teatro brasileiros para trocar idéias. O problema está na questão das leis culturais, no caso, Lei Rouanet. Os grupos do Rio, SP, Minas e entorno, querem uma revisão urgente, porque a lei tem contemplado apenas grandes empresas como Itaú, Bradesco, bem como produtores de grandes iniciativas, que trazem ao Brasil espetáculos como Cirque du Soleil. A elas é permitido captar milhões, mesmo que cobrem altíssimo pelos ingressos. Os departamentos de marketing fazem fila para patrocinar iniciativas assim. Quanto a Itaú e Bradesco, usam o dinheiro do Estado para fortalecerem suas próprias marcas através de seus institutos culturais. Até aí, tudo bem. Queriam apoiar o atual ministro Juca qualquer coisa na idéia de constituir o Fundo Nacional de Cultura, onde um Conselho decidiria onde melhor botar o dinheiro dos patrocinadores. Como tudo tem dois lados, o perigo está no que dizem ser "dirigismo", ou seja, amigos ou abençoados políticamente, sendo agraciados com as verbas. Mas a confusão realmente começou quando o pessoal do que eles consideram "terreno baldio", como norte e nordeste, começou a gritar que ruim com a lei, pior sem ela. Se com a Lei é quase impossível convencer um marketeiro a botar o dinheiro em Belém do Pará e não no Rio de Janeiro, imagine com um Conselho de paulistas, mineiros, cariocas e etc. Em discussão, a Redemoinho acabou. Não sei se vai renascer ou até com outro nome, mas acabou.
Semana passada, o ministro Juca de tal esteve em São Paulo em grande bate boca com a participação de notáveis. Os mineiros, cariocas e paulistas continuam contra a participação da turma do norte, por exemplo. Por absoluta ignorancia, não conseguem compreender que somos todos iguais neste República, e que temos tanta competência quanto eles. Que nascer naquela região não os fez melhor do que ninguém.
Agora, se isso está acontecendo com a Rouanet, imagine descer à nossa realidade Estadual e Municipal. Tenho participado de diversas reuniões com diretores e chefes de marketing de grandes empresas locais, para obter patrocínio à próxima peça do Cuíra. Quando não se trata de jovem absolutamente desconhecedor de quem somos, o que fazemos e do que se trata, vem a choradeira de crise. Apesar de se tratar de dinheiro do Estado, na forma de imposto, tratam sempre a idéia de o "nosso projeto". Pior, dos 100% do patrocínio, exige-se que o empresário entre com 20% de dinheiro próprio a título de incentivo. Claro, o empresário pede esse dinheiro de volta. Como é possível aplicar somente 5% do total de imposto que se deve pagar, para atingir o valor de um patrocínio de peça de teatro, uns 60 mil reais, é preciso grandes patrocinadores, o que já diminui nossa história para uns dez, talvez, em Belém. Agora, imagine. De 100% dos que recebem a autorização para captar, talvez uns 15% consigam. Tem alguma coisa errada. A perversidade da Lei está no desestímulo ao empresário de patrocinar um evento cultural, desconhecendo todos os benefícios de tal iniciativa, comprovados em livros e pesquisas. E quando os procuramos para buscar o patrocínio, buscamos o patrocínio e não ajuda, apoio, esmola. É bom para ambos os lados. A situação quando chega à Lei Tó Teixeira ainda fica pior, como até foi publicado em jornal. Além de permitir projetos somente até 20 mil reais, apresenta resultados igualmente decepcionantes. E no meio disso tudo ficamos nós, fazedores de Cultura, como párias, sem porvir. Atores, diretores, tecnicos de iluminaçao, aderecistas, cenógrafos, enfim. Um beco sem saída. Dá para pensar em parar com tudo.