quarta-feira, 24 de março de 2010

A Cidade do Circo

Gostaria de convidar a todos os leitores deste blog fuleiro, a assistir no domingo, onze da manhã, no Teatro Cuíra, a peça infantil A Cidade do Circo, com Sueli Brito e Bárbara Gibson, dirigidas por Zê Charone. A peça já havia sido montada há pouco mais de quatro anos atrás. Naquela montagem, contava com músicas de Nilson Chaves e algumas imagens projetadas em tela. Agora, na estréia de Zê Charone na direção, o palco está limpo e o trabalho é de texto dos atores.
Confesso ter muita dificuldade em escrever para crianças. Tenho mêdo, sinto o peso da responsabilidade. Levo muito a sério. Enfim, está lá e é bem divertido.
No entanto, o que mais tem me deixado contente, feliz, pra lá de feliz, é perceber a reação da platéia. As crianças sempre reagiram e interagiram com as peças infantis. No entanto, creio que em uma época na qual elas interagem direto nos video games, a idéia de travar relação, quebrar a chamada "quarta parede", é muito mais ampla, diria. Elas conversam, dão opinião, informam, sobem ao palco, querem participar da trama, chegar ao resultado final, o que faz com que as atrizes se desdobrem em improviso e inteligência para, no momento certo, voltar ao texto para conduzir o espetáculo, evitando o caos. Um exercício maravilhoso. Fica o convite.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Shananá para o Brasil

Também não sou chegado a Faustão. Detesto sua maneira de apresentar, a estética, enfim, não vem ao caso. Mas é que, por coincidência, assisti, também, às duas apresentações do Mike do Mosqueiro, um rapaz levado até lá por conta de alguns milhões de pageviews no You Tube, por conta dessas atrações bizarras que grassam na rede. A equipe da Tv Liberal levou esculhambação do apresentador por conta da ausência de qualquer documentário a respeito de Mike. Esfomeado, olhar esgazeado, pele curtida, olhos machucados, humilhados, dois dentes na boca, ele pegou o violão e danou-se a gritar Shananá, por conta de um brega local e arriscou uma versão tipo edmotês de Love Hurts. Passou. Ontem, domingo, mais uma vez zapeando, ele surge, de volta, agora com o devido documentário à bordo, para faturar 20 mil reais, dados, é bom dizer, por, talvez, absoluto remorso por mostrar algo tão bizarro, explorar a miséria alheia, no melhor estilo Luciano Hulk e Regina Casé. Em seguida, vem Viviane Batidão, paraense, dona da tal Shananá, que defendeu com muita propriedade, dando a perceber ali, naquela estética, ser tão boa e competitiva quanto qualquer Cláudia Leite ou Ivete Sangalo. Mais incrível, a chama, o talento do artista inato, Mike do Mosqueiro, fazendo contracantos, scats, violão em punho, feliz da vida. Onde irá parar a quantia que recebeu, não se sabe. No documentário, Mike aparece esquentando um miojo em um forno de chão. Fiquei entre o envergonhado e constrangido, que é como me sinto quanto assisto a shows desse tipo, na televisão, e também empolgado em perceber a imensa possibilidade de Viviane, no mundo pop de hoje.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Mark Linkous morreu

Eu próprio, não sabia muita coisa dele, nem sua aparência. Gostava de usar botas de vaqueiro. Não sei se ouviram falar de uma banda chamada Sparklehorse. Bom, não era uma banda e sim, Mark Linkous. Pouca gente sabe quem foi. Era consumido por poucos, mas ávidos. Gente como eu, que por força do ofício está ligada ao que acontece no mundo da música pop. Tenho todos os três ou quatro discos do Sparklehorse. Obras primas. É rock and roll da melhor qualidade, embora suas country waltzes sejam lindas. As letras, devastadoras, tristes, bem como as melodias. Tenho um fraco por artistas assim, que se rasgam em suas obras. Ouço e fico bem deprê, mas não posso evitar. Aconteceu o mesmo com o primeiro cd dos Eels, também uma banda de uma pessoa. A sonoridade é bem teatral, usando ruídos do cotidiano, como vozes gravadas em telefone, secretárias eletrônicas, agulhas riscando o vinil. Uma das faixas, linda, longa, triste, trabalha sobre um telefone que toca (pum, pum, pum) interminavelmente. Seu último disco foi duplo, por coincidência, acabei de ouvir. The Dreamt for light years in the belly of a mountain. Minha tendência à deprê, à melancolia, buzina trezentas vezes ao ouvir Sparklehorse. E no entanto, repito, é inevitavelmente lindo. Pena, por sua partida.

terça-feira, 9 de março de 2010

Biscoitos Finos

Acabei de ouvir Orchestrion, o disco novo de Pat Metheny, mais uma vez, muito bom. Pat tem muitos fãs no Brasil. Ele próprio, além de ter namorado com Sonia Braga, morou algum tempo no Rio de Janeiro, o suficiente para dar uma chupada bacana no estilo do mineiro Toninho Horta. Seus primeiros discos por aqui eram da norueguesa ECM, propondo um novo som, algo entre o erudito e o jazz, por mais distantes que pareçam os gêneros. Ele já era ótimo, tendo ao lado o pianista Lyle Mays. Então acompanhou Joni Mitchell no show Shadows and Light, junto com Mays, Jaco Pastorius e outros gênios. Formou uma banda sensacional. Os discos em seguida, misturando jazz, rock, erudito, música brasileira, alcançaram níveis altíssimos. Chegou no ápice. Assisti a um show, onde conseguiu juntar todos os seus músicos (cada um tendo sua carreira solo e compromissos, incluindo o brasileiro Armando Marçal), que considero uma das melhores apresentações que vi na vida. Incrível sua técnica e virtuosismo. Não erra uma nota sequer. Claro, rolou uma super exposição e ele vem, desde então, soltando discos aqui e ali, sempre brilhantes, mas nunca mais chegando ao nível anterior. Gravou com Ornette Coleman e seu freejazz. Agora, Orchestrion. Levou muito tempo programando cada um dos instrumentos, de tal forma que ao iniciar a performance, não há chance para erro. O resultado é, sem dúvida, impressionante, mas não arrebatador. Ele repete, inevitavelmente, compassos, passagens e soluções anteriormente já mostradas, de melhor maneira. Ainda assim, comprem correndo. Estamos colocando defeito em biscoitos finos.
Como o Manhattan Transfer, que surgiu recriando clássicos do jazz, colocando palavras, letras, onde antes havia apenas solos. Com vocais excelentes, obteve grandes resultados. Depois, passou a passear pelos clássicos, chegando até ao nosso Djavan. Houve cansaço e eles se retiraram. Fizeram carreiras solo, competentes, mas nenhuma chegando aos pés do grupo. Agora, um retorno triunfal. O songbook de Chick Corea, um dos grandes músicos do jazz latino. Repetem a experiência de início de carreira, inserindo letras onde antes estava a melodia e o piano de Corea. Muito bom. Genial.
Como também Madeleine Peyroux, a cantora americana, que morou na França, tem o timbre igual ao de Billie Holiday e é a grande estrela do jazz atual. Seu disco mais recente, Bare Bones, talvez repita um tanto a fórmula dos anteriores, mas e daí? É uma delícia ouvi-la cantar, como se estivéssemos nos anos 30, ou dar um toque de chanson a algumas faixas, utilizando até acordeom. Ela é ótima.
Também escutei uma seleção que fiz de Santana, outra delícia. Eu começava a trabalhar em rádio quando Evil Ways bombou nas rádios e inclusive nas aparelhagens sonoras dos subúrbios. Era o tempo, também do Creedence Clearwater Revival, ou Credênce, para alguns. O Santana emplacou, mais tarde, outras como Samba pa Ti e Guajira, por exemplo. E já o vi, chapadíssimo, tocando em Woodstock e arrebentando em Soul Sacrifice, vindo em seguida o disco de Black Magic Woman e Oye como va. Muito bom. Durou quanto durou. Já assisti vídeos de grandes shows de Santana. Há alguns anos ele teve um revival, emplacou outras, mas agora está descansando, merecidamente. A guitarra, o desenho do som, com as congas, realmente, viva Carlos Santana.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Escondendo-se em público

Ladrões e delinquentes, em um país normal, escondem-se do público, por óbvias razões, preferindo surgir de surpresa em seus ataques. À frente de todos, seriam perseguidos, vaiados, reconhecidos. Teriam vergonha, então. Menos no Brasil. O que escreverei em seguida, não é novidade. Mas é que acabei de ler em O Estado de São Paulo, que aquele Agaciel Qualquercoisa, que assaltava o Congresso Nacional onde ocupava cargo de destaque, está em desabrida campanha eleitoral, devidamente alistado em uma sigla mínima, visando tornar-se deputado e assim, gozar de foro privilegiado. Como ele, muitos. Somente no Brasil, o sujeito comete um crime e ao invés de fugir, esconder-se, vai para a política, "esconder-se em público". Absolutamente livre, gozando do privilégio.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Abaixo as duas rodas

Em um mundo normal, civilizado, uma sociedade que conviva razoavelmente, ciclistas circulam em faixas especiais e mesmo assim, com roupas convenientes, capacetes, luzes que se acendem à noite e ainda fazem sinais com os braços, anunciando manobras. Neste mesmo cenário, motociclistas usam capacetes e roupas convenientes e obedecem rigorosamente as instruções de cada via. Mais importante, circulam em ruas bem pavimentadas e sinalizadas, utilizadas, também, por outros veículos que obedecem as leis. Pois ainda assim, sou contra a utilização de bicicletas e motocicletas em ruas, por seres humanos. Quando criança, andei muito de bike e posso dizer que era um bom piloto. De moto, já fui na garupa de um amigo venezuelano, que tinha uma Kawasaki 1000 e sei o que é estar a mais de 100 km por hora. Pois penso que a mais de 15 km/h, não há corpo humano que resista à fricção no asfalto, ao choque, derrapagem, nada disso. Se estivere convenientemente vestido, machuca-se menos, claro. Mas há dor. Perigo. Agora, imaginem as bicicletas e motocicletas utilizadas em um cenário diametralmente contrário ao apresentado anteriormente. Ciclistas circulam preferencialmente na contramão, ou subindo nas calçadas, sem qualquer proteção e em alta velocidade. Motociclistas, pior, agora se chamam de "Mototaxistas" e sem qualquer proteção, para ele ou o passageiro, circulam em alta velocidade, em qualquer direção, para qualquer lugar, em vias sem qualquer característica para se chamar de tal, pois sem pavimentação, sinalização, nada, em uma sociedade onde pedestres, veículos pequenos, médios, grandes, todos se enfrentam em guerra sem quartel. Enfim, em um ambiente sem lei. Pode ser nas ruas do centro em Belém, em Icoaraci, Cidade Nova, Ananindeua. Em Mosqueiro, como vi. Sem lei. Tornaram-se os cavalos de antigamente. E não é que estamos retornando à Idade Média? Retornando à floresta? Sou contra. Mas, imaginem se alguma autoridade tivesse o topete de anunciar alguma coisa na direção da proibição de bikes e motos! "Que imundo é esse"...

A quem interessar

O título é porque faço pequenos comentários a respeito do que ando ouvindo ou assistindo e às vezes penso se realmente alguém está interessado em saber. Mas então, vem outro pensamento tipo "o blog é exatamente pra botar o que você bem quiser". Bom.
U2 - No line on the horizon
No "caótico método" que criei para escutar todos os discos que me interessam, somente agora ouvi o último disco do U2, uma banda que aprendi a gostar depois de adulto e venho acompanhando a carreira, completamente. A frase é correta: a pior coisa que pode acontecer a uma banda de rock é envelhecer". Há exceções, claro. Ainda estou matutando sobre o caso do U2. É evidente que aquela urgência, agressividade juvenil, já foi há muito. Eles estão ricos e Bono tornou-se um ativista político de grandes causas mundiais. Poderiam parar e ficar em casa, desfrutando o que amealhara, esses roqueiros que quase sempre foram muito pobres e trabalharam muito para chegar ao tôpo e riqueza. Uma amiga, que conhece alguns superstars do rock, me contou que o problema, exatamente, é esse, não saber ficar sem fazer nada. É uma situação difícil, porque ao mesmo tempo em que sentem saudade da vida na estrada, os flashes, entrevistas, os palcos, eles também "secam" como artistas, já disseram tudo, e acabam se repetindo, tornando-se "covers" de si próprios, inevitavelmente. E as platéias, nessa nossa fome consumista, pedem mais e mais, de quem não tem mais nada de relevante a dar. Fiz esse "nariz de cera" todo e aparentemente vou esculhambar o U2, mas não é nada disso. Os caras são muito competentes. Adicionaram teclados, berloques, disfarçam. A primeira música é vibrante, bem tocada, convincente. Há mais duas ou três. Rock and roll de verdade. Umas baladas, outras que são a cara do grupo. Mas não sei. Ouvi uma, duas vezes. Na segunda, melhorou, mas acho que "deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre e tchau".
Celso Fonseca - Voz e violão
A turma se virando para descolar algum. Celso, violonista, compositor, cantor de voz delicada, veio se firmando lentamente. Emplacou, internacionalmente, Slow Motion Bossa Nova, muito boa, realmente. Fez algumas tentativas populares, tocou em emissoras de mpb e tem seu público. Agora, fez esse na base do "banquinho e violão", talvez "barzinho e violão", onde faz passar por seu estilo "chic", um repertório muito bem escolhido, que começa com "Tempo Rei", de Gil, cava "Mais um na multidão", de Erasmo Carlos e Marisa Monte, "Caso Sério", de Rita Lee, atola em "Beleza Rara", um axé, mas recupera-se na versão de "'til there was you", "Fool on the hill", "Olha" de Roberto e Erasmo, "Tudo Bem", de Lulu Santos, "Ela é carioca", de Tom e Vinícius, "The more I see you", "Adeus Batucada", de Synval Silva e até "Conquista", de Bochecha, incrívelmente razoável. Não tem compromisso com nada. Celso toca e canta como um amigo que está na sala de sua casa, todos em volta e ele atendendo a pedidos. Há discretíssima intervenção eletrônica. Gostei.
Crimson Jazz Trio
Eu não conhecia. Comprei o mais recente (ainda não ouvi) e baixei umas coisas pela internet. Fiz um cd com "Cat Food", "Starless and Bible Black", "Ladies of the Road", "I talk to the wind" e "Red". Piano, baixo e bateria. Os caras arrebentam com os temas do King Crimson. Para iniciados, claro.
Ed Motta - Piquenique
Chega a ser constrangedor o que Ed Motta faz com sua carreira. Começou em uma linha funk excelente. Tinha charme inclusive o que se chamou de "Edmotês", os scats e palavras de sonoridade inglesa, dessas que fazemos quando não sabemos as letras em inglês de algumas músicas, mas cantamos algo parecido. Mas aí veio a loucura por discos antigos e as músicas imitando e ele foi ficando com pose de grande músico, o que não é. Paralelamente, adotou a mesma postura de Rita Lee, que mistura marchinha carnavalesca com disco music, para fazer sucesso nas paradas. Hoje, não sabe mais quem é. Se aborrece porque seu disco anterior, fraquíssimo, não foi bem acolhido aqui, dizendo que foi lançado em Londres. Pois este, "Piquenique" chega a ser constrangedor. Ele precisava reoxigenar as finanças. As letras sao da esposa Edna Lopes. As melodias são fracas, as letras ridículas. Nada funciona. Maria Rita está em uma faixa. Há uma exceção. "Nefertiti" tem letra tola de Rita Lee. Ruim demais.
Para ver, assisti "Salve Geral", de Sergio Rezende, com Andréia Beltrão. Colocaram uma estorinha no meio daquela confusão que os "comandos" de presidiários arrumaram em São Paulo há pouco tempo atrás, paralisando a cidade. O filme é bom. Tem ritmo, boas cenas e atuações.