sexta-feira, 27 de abril de 2012

O fim da beleza, novamente?

Barcelona e Real Madri perderam. O técnico catalão, Pep Guardiola, abandona o clube. Os defensores da vitória a qualquer preço. Os imbecis que não sabem que o leva o torcedor ao campo, à tela de tv é o jogo bonito, acham que provaram mais uma vez que beleza não ganha jogo. Esquecem por um instante dos anos todos em que os espanhóis redefiniram a beleza no futebol. Mas será que agora, voltarão aquelas caras carrancudas, à beira do campo, como aqueles juízes de comportamento, no colégio, prontos a brecar qualquer iniciativa de brincadeira? Não brinquem! Nada de tentar dribles, passes de curva, chutes bonitos, troca de passes. É preciso defender, bater, destruir a construção da beleza. Será? Isso aconteceu após a derrota da seleção brasileira em 82. Quanto tempo passou? Vieram os cabeças de área e hoje os camisas 10 são raça em extinção. O Barcelona repôs tudo. O Real também, à sua maneira, com o marrento Mourinho. O Barça reinventou diminuindo o espaço do campo, trocando passes por longos minutos, acuando o adversário, empurrando-o ao interior de sua própria área, levando-o ao desespero. O que aconteceu com ambos é uma mistura de cansaço físico e mental. O Barcelona ainda seguiu acuando o Chelsea, mas dessa vez, ninguém chegava na frente para dar o toque final, havia sempre um pé salvador inglês. E o Chelsea, diminuído, afogado, fragilizado, tinha uma razão para lugar até o fim. O Real parou. Estático. Mêdo, cansaço. Em um momento do jogo, parecia um jogo de pebolim. Todos em suas posições, trocando bolas, mas sem penetrar, ousar, arriscar. Digo a meu filho que é preciso cobrar de Messi, Kaká e Cristiano Ronaldo. Não interessa se são seres humanos, submetidos a muita pressão física e emocional, em fim de temporada, extenuados. São os que recebem maiores salários. Salários de quem é mais que o normal. A cobrança é sobre eles que estão ali para desequilibrar. Para, no momento crucial, provarem seu valor. Não o fizeram.
O Bayern joga com muito pragmatismo e pouca beleza. Muito menos o Chelsea. Imaginem esses alemães, jogando a final em seu estádio! Vão quebrar uns três bolas ao menos. Mas não pode ser o fim da beleza, viu seu Joel Santana, seu Muricy, Leão, Mano Menezes..

O país da dublagem

Talvez seja herança da cultura humanista que tínhamos até metade do século passado, quando os americanos impuseram suas vontades sobre todos. Até hoje, filmes europeus contém longos diálogos, silêncios, enquanto os americanos trazem quase monossílabos e ação, muita ação. Mas nos acostumamos, minha geração, a assistir filmes dublados. A conhecer as vozes dos atores. A detestar, na televisão, as dublagens e seus vícios. Agora, dizem que por conta da tal Classe C, a tv por assinatura chega às dublagens. Vou assistir ao Game of Thrones e me deparo com a dublagem e ao mesmo tempo, as legendas. Louco. Não há como optar. As dublagens tiram todo o clima, a intensidade das cenas. É terrível. Uma confissão de nossa ignorância. Da incapacidade de provermos de mínimo estudo nossos habitantes, que não conseguem ler as legendas com velocidade suficiente. Então, as dublagens. Se antes, o refúgio estava na tv por assinatura, o que faremos então? Em pouco tempo, por conta de despesas, nem a opção por legendas haverá, nos filmes. O fim.

São Jorge dos Livros

Passou mais um Dia de São Jorge e aniversário de meu irmão Janjo. É também Dia do Livro, embora ninguém pareça lembrar disso. Janjo estava em Barcelona. Deu-se de presente a viagem. Nas ramblas, praças, shoppings, livrarias, livros para vender, dar, trocar, revender, enfim. Dia do Livro. Uma festa em toda a cidade. Gente de todas as idades passando, feliz, com livros. Isso podia ser assim, por aqui. Não riam. Bem que podia. Uma cidade do nosso porte, apenas com aquela livraria no Pátio, Saraiva no Boulevard e Fox. As duas últimas, sempre com movimento. Podem comprar livros de auto ajuda, tudo bem. Aos domingos, vou louco à uma página da Troppo, dedicada a pessoas de destaque e suas leituras. Acho que nunca, até hoje, nem uma disse estar lendo um romance, muito menos, muuuuito menos, um autor local. Muuuuito menos um livro meu. Bem, em Belém, é como se nunca houvesse lançado nenhum dos meus doze livros. Mas podem ler auto ajuda. Começar a gostar de ler. De repente, rola um romance. Pode ser um desses de vampiros, Paulo Coelho. Pode ser. Melhor que nada. Bem, melhor que nada é uma merda, desculpem. Mas, quem sabe, um dia, pegam um romance bacana e se entregam à leitura. Ah, meu São Jorge, nos ajuda com isso. Esse dragão da burrice, intolerância, cretinice, está vencendo por pontos!

Meu Olímpia

Meu cinema preferido sempre foi o extinto Palácio. Mas claro que o Olímpia está em meu coração. Quantos de nós não passaram por grandes momentos assistindo a filmes inesquecíveis por ali? Quando garoto, o problema era conseguir entrar com carteira de estudante falsificada. Pronto, estou confessando um delito grave! Na época, não parecia. O negócio era conseguir ultrapassar o porteiro e entrar naquele útero, deixando para trás o mundo real, com seus carros e buzinas, para chegar ao sonho. Alguém escreveu que foi lá que passou "Romeu e Julieta", com Olívia de Havilland. Será que escrevi corretamente? Pensei que havia assistido no Palácio. Um filme marcante em minha vida. A descoberta do amor. A cena em que cantam "What is a youth, impetuous fire", é inesquecível. Aquela roda formada em torno do cantor enquanto Romeu e Julieta espiam e se olham por entre cabeças. E eu já estava apaixonado. Minha primeira namorada oficial tinha os cabelos como os de Olívia/Julieta.
Houve também, "A noite do espantalho", de Sérgio Ricardo, que nunca mais passou em nenhum lugar e trazia Alceu Valença. Não lembro bem do roteiro, mas era algo desafiador, misturando cordel com modernidade, cavalos com motos e a presença excelente de Alceu. Ganhou um festival de cinema, promovido por Eduardo Silva, trazendo a Belém famosos atores.
E houve "Woodstock". Vejam que aos 15, 16 anos, eu tinha, além da Tropicália no Brasil, Beatles, Stones, Janis, Jimi, King Crimson e agora Woodstock, o famoso festival. Assisti sete vezes, todos os dias da semana, no Olímpia. Mudou minha vida. Me proporcionou, em um momento chave, o contato com a beleza, a emoção, o talento, a genialidade e a paixão artística. Sei muito bem que cada um vive seu tempo, mas convenhamos, era muito legal naquela época.
Uma vez ou outra fui ao banheiro, para fazer um número 1. Talvez confunda com o Nazaré, mas havia pastilhas negras e brancas, em belo efeito. E sim, já fui ao Olímpia não para assistir ao filme, mas para namorar.
É preciso respeito pela casa. Se não fosse por tudo o que ele proporcionou, seria por nossas próprias emoções, nossa vida, diante da tela, hipnotizados pela beleza da atriz, de uma cena, o impacto dos diálogos, da vida jorrando em luz para nosso deleite.
Eu o homenageio com Pato Fu e "tempo amigo, seja legal, conto contigo, só me derrube no final"..

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Wish you were there

Estou em um avião retornando de quatro dias em férias na cidade de São Paulo. Não há quem possa achar ruim estar na grande metrópole. O número de pessoas nas ruas, lotando restaurantes na segunda feira, lojas e teatros. Livrarias cheias de gente interessada em Cultura. Assisti a dois espetáculos fantásticos, realmente inesquecíveis. O primeiro foi “The Wall”, com Roger Waters, do Pink Floyd e sua banda, tocando o repertório de um dos álbuns mais vendidos e reverenciados de todos os tempos. Quando fiz 50 anos, dei-me de presente assistir ao mesmo Roger Waters, no gramado do estádio do Morumbi, tocando músicas de “Dark side of the moon”. Agora que chego próximo aos 60, vim revê-lo. Curioso notar a maciça presença dos “tiozinhos”, pais e filhos, curtindo, sem nenhuma confusão ou alteração em tão grande plateia. Tive a sorte de estar a poucos metros do gigantesco palco, com uma parede (wall) de 134 metros onde sensacionais projeções mostraram trabalhos de Banksy e outros grandes artistas em uma sincronia perfeita. Na fileira de trás, dois tiozinhos grisalhos, barrigudos, fumam um imenso tarugo de maconha e estão deliciados, um mostrando ao outro o braço arrepiado.
The Wall, curiosamente, é o resultado de um tempo de muita discussão e sofrimento. O começo do Pink não me afetou. Estava mais ligado no rock progressivo e a banda fazia algo mais cósmico, viajante, como em “Ummagumma”. Foi com “Dark side” que o sucesso começou a chegar. Depois, na maior dúvida, quando tentaram gravar a partir de instrumentos domésticos como escovas de dente e liquidificadores, inclusive a visita perturbadora, ao estúdio, de Syd Barret, veio “Wish you were here”, misturando a história de Syd e problemas conjugais de Waters. E assim veio “The Wall”. A banda discutia. Roger Waters, o baixista, disputava com David Gilmour, guitarrista, a liderança. Roger fazia as músicas. Gilmour acrescentava seu instrumento de maneira tão brilhante que o resultado era como Lennon e McCartney. “The Wall” mistura a dor de Waters pela perda do pai durante a Segunda Guerra Mundial; as agruras dos grandes artistas, que atuam diante de grandes multidões como ditadores, sendo inteiramente obedecidos, mas quando voltam para casa, estão solitários, mal amados; a pressão e as drogas que fazem artistas de boa índole virarem feras, quebrando quartos de hotel e precisando cuidados médicos para subir ao palco; o protesto contra as grandes corporações e os professores contra crianças indefesas. Waters se aborrecia com os companheiros, acusando-os de má vontade e incompetência. Gravava com músicos de estúdio. Ninguém sabia no que ia dar. O produtor Bob Ezrin botou as fitas de debaixo do braço e foi para seu estúdio particular de onde retornou com a idéia do álbum. Até para excursionar foi difícil. Tudo custava muito caro. Waters parecia querer que os companheiros fossem meramente acompanhantes. Gilmour revoltou-se. Mesmo assim, compareceu com solos que se tornaram clássicos. Saiu um filme, genial, dirigido por Alan Parker e desenhos de Gerald Scarf. É o que assistimos em São Paulo, seja em projeções, com gigantescos marionetes, uma banda sensacional, três guitarristas, mais os teclados do filho de Waters. E sim, Roger não canta todas, em algumas há lipsync. Quando em “Comfortably Numb, surge, sozinho, do alto da parede, o guitarrista para fazer o solo de Gilmour, é impossível deter as lágrimas. Muita emoção. Fico pensando naquele músico, vivendo seu grande momento, todas as noites, sozinho, no alto de uma parede, encarando estádios lotados e emocionados, tocando o solo que é o sonho de todo guitarrista, o som no mais alto volume. O grande segredo é, como no filme, mas agora ali, ao vivo, teatro puro, ópera popular, a circunstância, compreender a sequência e vibrar junto. E ainda compramos os gadjets, claro.
Fantástico também foi assistir “Vale Tudo”, o musical escrito por Nelson Motta, a partir da biografia de sua autoria, sobre Tim Maia, estrelada por Thiago Abravanel, em tudo cativante. Na incerteza do sucesso, já que contava com elenco competente, mas pouco conhecido, o produtor Chaim negociou com todos na base da percentagem. Estão todos ricos. Atuam de terça a domingo com casa lotada. É tudo muito simples, nada de riqueza em recursos técnicos. É a louca história de Tim e principalmente, a força de sua música. Impressionante. As letras, como as de Roberto e Erasmo em início de carreira, com palavras e imagens fáceis, mas certeiras. As melodias ricas, fortes, o arranjo pensado, metais, groove, irresistíveis. O elenco está adorável e o garoto que até ano passado era figurante em musicais, é um grande show, cantando divinamente. Vamos assistir ao espetáculo como a um show de Tim, de volta, vivo novamente. Claro, irreprimível o choro de emoção, juntando memórias nossas, vividas com aqueles clássicos, mais a força do que assistimos. E a circunstância, mostrando o que há por trás de cada música, como amor e brigas com suas mulheres. Era uma quarta feira e a casa estava lotada. Que beleza. Valeu a pena. Valeu tudo. Wish you were there.

domingo, 1 de abril de 2012

Eu fui George Harrison

Mal cabíamos no reflexo do espelho do armário que havia em nosso quarto. À frente meu irmão Edgar, que alternava entre ser John Lennon e Paul Mccartney, abusando de sua condição de mais velho e dono dos discos dos Beatles. Mais atrás, às vezes estava minha irmã Celina, não lembro bem fazendo o quê e então eu surgia, como George Harrison. O som rolava na pick up e nós fazíamos mímica, tocando guitarras imaginárias. Assim, eu fui George Harrison várias vezes. Escrevo isso porque acabei de assistir a primeira parte do documentário feito por Martin Scorcese sobre a vida do Beatle guitarrista. Ainda falta a segunda parte.
Naquele tempo, as notícias eram escassas. Às vezes chegavam em radiofotos nos jornais, nas revistas semanais. E aí, líamos que os Beatles flertavam com a cultura indiana, através de um guru, que se revelou, mais tarde, um charlatão. Que George praticava a cítara com Ravi Shankar. Quem? Uma gravadora lançou seu disco. Fomos ouvir. Muito estranho. Interessante. Ouvíamos sem graça de dizer que não entendíamos nada. Interessante.. Aí veio a primeira música no “Revolver”, acho. Hum. E “Within without you”, no “Pepper”, um primor de junção de duas culturas. George Martin diz no documentário que George apareceu com algo bem fraco. Ele avisou que precisava melhorar. Os outros estavam jogando pesado. E George voltou com isso.
As cítaras dialogando com as cordas. Palmas para Martin, também. E George? Ele sentia muito o peso de Lennon e McCartney. Desde o início. Era o mais novo, de gênio calmo, discreto, mas fervendo por dentro. “Era como se eu e Ringo fôssemos acompanhantes dos dois. A banda era deles, para muitos”. Realmente, parecia. George sofria para incluir suas músicas no repertório. Isso o irritava muito, mas agora, vendo o conjunto de sua obra, penso que ele teve o que merecia, pouco mais, pouco menos. Ao contrário do que se pensa, não aceitou com fleugma britânica a ida de sua esposa Pattie para os braços de seu amigo Eric Clapton. Quando foi comunicado, reagiu fortemente para, no fim, perguntar que ela queria mesmo ir com ele. Assim, de fora, acho que Pattie (quem sou eu?) foi uma idiota. Eric, naquela época e por muito tempo, foi um imbecil drogado, que embora tenha feito grandes músicas e solos, na maior parte do tempo nem sabia onde estava, segundo declarações em sua biografia. Mas George estava em outra. Abandonou as drogas. Levaram-no para passear em San Francisco, o mítico lar do flower power. Quando chegou lá, foi cercado por drogados, imbecis, vagabundos e se deu conta que uma coisa é experimentar, outra é mergulhar e estragar a vida. E a filosofia que encontrou na cultura hindu o interessou. Os deuses, a meditação, coisa que o acompanhou pelo resto da vida. Não seguiu adiante com a idéia de aprender a tocar cítara. “Quando percebi que por mais que praticasse, não chegaria aos pés de um razoável músico indiano, voltei para a guitarra.
Eu era ainda muito jovem e trabalhava na programação da Rádio Clube quando recebi o compacto, disquinho de vinil com apenas uma faixa de cada lado, com My Sweet Lord de um lado e Isn’t it a pity do outro. Lembro de chegar em casa e mostrar ao Edgar, triunfante. Ele ainda não recebera por estar agora devotado ao departamento de Esportes. Eu embarcaria naquele dia ou depois para o Rio de Janeiro em férias, o que aumentou sua revolta. Deixa comigo, pedia. Eu o torturava, como somente os irmãos fazem uns com os outros. No fim dei a ele. No lado B, George lamentava a separação de Pattie. “Não é uma pena? Não é uma vergonha, o jeito com que partimos nossos corações, um do outro”. Do outro, o maravilhoso hit maker pega o cântico dos hare krishna e o coloca no mundo. Há alguém, hoje, que não saiba cantar? Tempos depois, foi condenado por plágio de um hit dos obscuros The Chiffons, mas acho que foi coincidência musical. Ele não fazia a linha. E veio também o maravilhoso e triplo All things must pass, com vários hits que ele haviam sido negados pelos Beatles. E muitos outros. Penso que foi um grande guitarrista de rock and roll, o que pode ser notado nas gravações da banda e mesmo em seus discos solo. Um grande melodicista e letrista. Seu estilo com a slide guitar projetou a maneira de tocar, mas fixou o seu jeito. Seus solos foram incorporados de tal forma que se tornaram parte indissolúvel das canções. Cantamos as letras e assoviamos ou cantamos os solos. Isso é que é ser bom. Hoje não sei quem foi melhor. Houve um tempo em que o considerei mais equilibrado, talvez para discordar do Edgar. Ou Ringo, que foi gravar seu trabalho definitivo no primeiro solo de Lennon, aquele que tem “Mother”. É difícil vencer a massa musical de Lennon e McCartney. Se ainda assim, aqui e ali ele furou o bloqueio, como em “Something”, gravada até por Frank Sinatra, o cara era mesmo muito bom.
Bacana ver no documentário, seus pais e irmãos, que ele sempre manteve fora dos cliques. E Eric Clapton dizendo que muitas vezes, ao lado de George, completamente ignorado, teve que se valer do famoso “eu sou amigo de George”, para entrar aqui e ali. O cara era o tal, vivendo no mundo material. E olha, foi um prazer ser você, George Harrison.

Eu e o prefeito Dudu no avião

Estou em um avião com destino a São Paulo. Acaba de entrar o prefeito Duciomar Costa, o desprezado, odiado e detestado mandatário de Belém, que pode encher o peito e dizer que foi eleito e reeleito, fruto de nossas briguinhas paroquiais, nossa insuperável força de auto destruição, que nos mantém com os piores índices de todos os índices que inventam no Brasil. Ele parece tranquilo, feliz com sua obra. A cada cobrança, lista várias obras ou anuncia que vai fazer. Tudo mentira. Que estranho político. Outros entrariam sorridentes, cumprimentando aqui e ali, acenando, até seu assento. Ele baixa a cabeça, procura passar despercebido. Imagino se sentasse ao meu lado, feito aqueles passageiros que chegam por último e acabam com nossa pretensão de não ter ninguém ao lado e abrir um pouco mais os braços. O espaço entre cadeiras nos aviões é também um absurdo dentro os milhares que os brasileiros enfrentam a cada instante. Dudu ao meu lado. Não saberia por onde começar. Ele me olharia com ar de enfado, ou fecharia os olhos, mergulharia em um livro. Não, livro, não. Perguntar sobre Cultura seria um desastre. A Fumbel serve apenas para organizar e mal, quadrilhas de São João. Nem carnaval temos. Mas cobraria o tal do BRT. Tudo bem, somos auto destrutivos, queremos nos matar, acabar com a cidade, desmerece-la ao máximo, mas essa do BRT contra o plano dos japas foi demais. Demais por muitas coisas. Sou um reles cidadão que paga seu Iptu com ódio porque não vê retorno. Não entendo nada de urbanismo e trânsito, mas nas cidades onde passei, o trânsito foi melhorado e muito, pelo metrô. Hoje não há mais sentido em gastar combustível, pneus e esses monstros velhos que são nossos ônibus. Não há mais espaço nas ruas, outro absurdo. Sem nada entender, ouso dizer que nem BRT nem japas. O estudo da tal Jica envelheceu. Passou do tempo. Vamos ao metrô por superfície, pelo alto é o nosso futuro. Uma linha que saísse do Ver o Peso e se dividisse entre Augusto Montenegro e Br 316. Deixa para os ônibus pequenos trajetos nos bairros. Por todos os motivos, parece o melhor do que usar ônibus. Talvez seja verdade que no dia seguinte ao da posse do prefeito, é feita uma visita dos donos de linhas de ônibus levando módicos presentes na forma de pacotes de dinheiro, sem trilha, da féria diária, de tal forma que nada seja feito, todos os ônibus continuem passando nas mesmas ruas, enfim, tudo como dantes. E talvez os donos de vans e até de mototaxis, tudo o que os prejudica, o caos total que somente favorece a alguns. Dudu, espera lá! Manaus parece que vai fazer. Nossa sociedade, seus expoentes, entre empresários e políticos, esses que viajam tanto, já devem ter visto e andado, como eu, no metrô por superfície. Duvido que não achem melhor. O que falta? Mas Dudu não está nem aí e sai correndo a quebrar as ruas, perto do final do seu governo, só para sacanear, achincalhar, tudo para continuar recebendo todas as esculhambações do povo. Qual é, Dudu. Deve ser uma estranha tática de popularidade. Não a entendo. Ainda teria muito a reclamar, mas acho que a viagem chega ao fim e ele, serelepe, tranquilo, com ar de dever cumprido, já até saiu do aeroporto. Deixa-nos uma cidade caos. Nem deu tempo de, quem sabe, passar-lhe o pé para se estabacar no chão, em nome de toda uma cidade. Seria que eu faria isso?