sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um rei morreu. Viva o rei!

Fiquei muito triste com a morte de Michael Jackson. Junto com Madonna, o considero ícone da música pop, sobretudo nos anos 90. Michael revolucionou o mundo da música, dos discos. Trabalhou com remixes, vídeo clips autorais, dirigidos por profissionais de Hollywood. Quebrou a barreira entre música negra e música branca. Colocou Eddie Van Halen tocando sua guitarra em Thriller. Paul McCartney em The Girl is Mine. Soul Makossa em Wanna be starting something. Inovou nos shows, em tudo. Penso que o fenomenal êxito também quebrou sua frágil personalidade. Alcançou público infantil e a partir daí, a preocupação em atingir mais e mais pessoas, com restrições de temas o prejudicou. Um mártir da mídia. Desnudou sua vida. Ousou, enfrentou, iluminou a escuridão e sofreu as consequências. Preto que quer virar branco. Gay. Pedófilo. O mundo é cruel. Ele não teve forças. Desde criança, cantando para ganhar dinheiro. Pais que o surravam e ao que parece, também abusaram sexualmente. É o outro lado do popstar idolatrado.
Eu o encontrei. Sim, estive ao seu lado e fui cumprimentado. Estava em Londres, zanzando na Oxfort Street. Atravesso uma ruela junto ao prédio da então portentosa HMV Records, loja de discos. Passa por mim uma limousine. Por curiosidade, olho. Ela pára adiante na ruela. Sai alguém que, uau, é Michael Jackson, mesmo? Ele chega junto a mim, andando rápido. Me cumprimenta, porque imagino, estava abobalhado olhando sua chegada. Sinto cheiro de perfume forte e roupa suada, sei lá. Não gostei. Ele passa por mim e imediatamente ouço gritos das pessoas que o descobrem. Já estão a seu lado seguranças e ele entra na HMV onde rapidamente é acolhido em um elevador. Deixa pra lá. Alguns minutos mais tarde eu o vejo novamente, no terceiro andar da loja. Brevemente. Foi só.
Um rei morreu. Viva o rei.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O breve instante entre o silvo do machado que se ergue e outro silvo, quando ele baixa sobre nosso pescoço

Leio no Jornal Pessoal de Lúcio Flávio números aterradores a respeito da brutal decadência de Belém, do Pará. Ao mesmo tempo, leio na coluna de Mauro Bonna, sobre a rapidez com que foram vendidas os apartamentos de luxo ao longo da Dom Romualdo, prédios construídos por várias empresas. Uma noite dessas, da porta do Bistrô de Denis Cavalcanti, tentando encontrar a lua, percebi o número de edifícios em construção. Quem compra? Com que dinheiro? Não estamos falidos? Não. Apenas não amam o Pará. E são tão burros, tão egoístas, que querem o dinheiro somente para si. Morar em hollywoods aéreas, enquanto embaixo, está a podridão, a lama, a violência. Como em Salinas, onde milionários não pagam Iptu e fora de suas mansões, basta botar o pé para fora, pisam no lamaçal. Onde vamos parar? Na separação? Como tirar a razão dos paraenses que vivem distantes de Belém, sem receber qualquer ajuda, apoio, nada? Como? É claro que separando, viveremos, todos, pior, quer dizer, bem pior ainda, nós, que ficaremos apenas com Belém, hoje já degradada, afundada na lama fétida da imoralidade, roubo, desamor. Vêm eleições aí e não há, rigorosamente em quem votar. O tal casamento do ano foi mais uma prova de violência explícita, contra a moral, comportamento. Uma prova evidente do tipo de pessoa que o noivo é, ao usar sua vida pessoal, momento íntimo, a merecer comemoração, mas com o casamento permanecendo como fato principal, como festa política, onde a noiva se transformou em peça ridícula, deixada de lado. Ridículo. Imoral. Violento.

Insistência

Estive, na sexta passada, na cerimônia de inauguração do Teatro Cláudio Barradas, na Escola de Teatro e Dança da Ufpa. Inaugurar um teatro nos dias de hoje é ato de extrema ousadia. Um teatro para estudantes, maleável, para nele caber qualquer formato, mas com todos os equipamentos estalando de novos. Parabéns a todos os professores, estudantes, e principalmente ao reitor Alex Fiuza de Melo. Meu Deus, uma autoridade pensando em Teatro!
E todos nem se importaram com o fato do homenageado, Cláudio Barradas, estar aí, vivíssimo, celebrando missas e ensaiando "Abraço", ao contrário que a lei permite. É Cláudio, mesmo, a nossa grande figura teatral. O ator, diretor, escritor, agitador, polemista. Imagino seu orgulho. Admiro sua figura. E insistimos. Sofremos nocautes, mas levantamos novamente, porque ninguém vai nos jogar no chão. Pura insistência.


Este é o convite para o lançamento, dia 4 de julho, na Off Flip, em Paraty, da coletânea de contos "Entre Guerras", lançada pela Bertrand Brasil, organizada por meu amigo Nelson Oliveira. Entre vários autores nacionais, estou incluído com um conto que me foi encomendado. Houve um sorteio de "guerras" e tive a grande sorte de ser sorteado com o conflito entre israelenses e palestinos. Mais ainda, próximo ao meu deadline, recrudesceram as questões entre as partes, facilitando, para mim, o drama a ser relatado. Claro que fiz muita pesquisa, inclusive com amigos que moram em Israel. Claro que tudo começa em Belém. Um judeu e um palestino saem daqui para se encontrar em Jerusalém. Tomara que gostem. Espero que chegue por aqui.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Abraço

Vão de vento em pôpa os ensaios para Abraço, com Cláudio Barradas e Zê Charone, que deve estrear em agosto, no Teatro Cuíra. Estamos tão bem que estrearíamos agora em julho, não fosse o mês das férias. Se no resto do ano já não pensam em Cultura, imagine nas férias.. Ensaiamos quase todos os dias e já estamos direto, do começo ao fim, com marcações e tudo. Uma honra ensaiar com Barradas. Como é correto, doce, pró ativo e talentoso. Percebe as sutilezas da melodia do texto. As marcações. Ao seu lado, Zê Charone, que considero a melhor atriz de sua geração. Uma dupla e tanto. Quanto a mim, tento cuidar para que fiquem à vontade. Não me vejo assim, nem sou diretor. Estou diretor, por circunstâncias. Estive em São Paulo e após umas cinco horas de aula/conversa, com Cacá Carvalho, pude sentir mais segurança. Ir assistir Cláudio Barradas, prestes a completar 80 anos, cheio de saúde e talento é uma obrigação. Por enquanto, a alegria é minha de estar com eles.

Quatro vezes cadáver

Não tenho intimidade com Saulo Sisnando. Sou tímido, ele também. Mas me pediu, há uns tres meses atrás, para escrever um texto com 20 minutos, que se juntaria a outros, para a peça Quatro vezes cadáver. Há um morto em uma biblioteca de uma casa em San Francisco, anos 40 e alguns poucos personagens. Fiz uma brincadeira com o Falcão Maltês, auge do policial noir, inventando o crime do Muiraquitã Verde. Carlos Santos, Rodrigo Barata e o próprio Saulo escreveram os demais textos. Sábado passado foi a estréia. Super divertido. Saulo tem um tom leve, juvenil, despretencioso, não confundir com amadorismo, ainda que seja, mas no sentido de mal feito. A platéia, principalmente formada por jovens, adora. Adelaide Teixeira e Luiza Braga, minhas princesas, arrebentam. Os outros também estão bem, com bom timing de comédia. Já estamos embalando, para agosto, um texto meu, comédia, chamado Não me pega, não me toca, não me beija, nessa linha leve. Será que vai rolar?

Roxy 25 anos

São 25 anos de uma grande idéia. Meu irmão Janjo e seu sócio, o amigo João Carlos Braga, merecem todos os louvores da cidade. Quando o Roxy iniciou, aquela esquina era deserta, sombria, ninguém passava por lá. Hoje, mesmo enfrentando concorrência desagradável desses bares onde se compra um chopp e fica a noite inteira azarando e ouvindo pagode, permanece majestoso, lotado. Pais e filhos. Amigos. Gente que vai para encontrar quem aparecer por lá. O cardápio, o padrão de excelencia. O telão, a decoração. As peças de publicidade. Isso requer trabalho diário. Preocupação, criação e mais do que tudo, prazer de fazer. Não de querer ser milionário, mas de fazer bem feito, pelo bem da cidade, das pessoas. É essa filosofia que mais festejo em meu irmão e JC. Fazer pelo bem de fazer. Sim, tenho orgulho de ter feito o famoso jingle do Roxy, "existe um lugar".. E também redigido o cardápio e as peças publicitárias. Tudo isso a partir de sugestões estéticas de meu irmão Janjo. Estive lá na noite de domingo, para conferir. Sim, o prazer continua lá, 25 anos depois.

Poesia

Agradeço a todos os que compareceram ao lançamento da coletânea de poemas O Tempo do Cabelo Crescer, com patrocínio do Hotel Regente, através da Lei Tó Teixeira. Aconteceu no Cuíra, em uma sexta feira de muita chuva. Por isso, compreendo que muitos não tenham ido. Sexta feira, chuva e poesia, é pedir demais. Contudo, perderam belas performances de Joaquim, Adelaide e Luiza, tão jovens, lindos e talentosos, deixando boquiabertas as pessoas que os assistiram. É sonho antigo, meu, dirigir um espetáculo somente com esses poemas, com muita alegria, juvenilidade e rapidez. Acho que para bares, espaços menores. Acredito na difusão da poesia dessa maneira.
Aproveito também para convidar a todos para o lançamento do livro É Tempo de Saudade, de minha mãe, Celeste Proença, no próximo dia 23, terça feira, no Roxy Bar. É também o dia de seu aniversário e não informaria sua idade, por evidente educação, não fosse ela tão gloriosa, completamento 87 anos! Poesias!

Notícias do Front

A quem ainda acessa este blog, à procura de algo interessante para ler, minhas desculpas. Tenho estado muito ocupado e quando penso em postar algo, há sempre outra atividade a requerer atenção. E olha que aconteceu muita coisa.
Eles se foram
Muito chatos os últimos dias, com as partidas de gente amiga e da área artística. Walter Bandeira iniciou. Todos escreveram tanto. Parece que Walter tinha muitos amigos. E no entanto, era muito reservado. Aquelas brincadeiras agressivas, sempre com a homossexualidade envolvida, eram uma barreira de fumaça, para esconder sua timidez, proteger-se. Quando aquilo passava, transformava-se em pessoa doce, inteligente, culta e disposta a ouvir. Ele embalou minha adolescência, quando cantava nas tertúlias da Assembléia Paraense, uma música, em parceria com Luiz Otávio Barata, que dizia "eu e eu, e esse amor que só vive em mim, que nem mesmo sabe morrer, sendo eterno na dor". Eu precisei, liguei, pedi e ele veio correndo, com sua alegria quase juvenil, cantar com Marco Monteiro e Nilson Chaves, os temas de Quando a sorte te solta um cisne na noite, que foi mostrada no Cuíra. Não, ele não foi assistir.
Ronald Bergmann foi agora no final de semana. Era um grande bailarino e ator. Fez o Boto Sinhá, Angelim e adiante, já em São Paulo, dirigiu um grupo de lá, remontando o Bôto. Muito legal. Estávamos no ensaio. Li para o elenco de Quando a sorte te solta um cisne na noite, um texto difícil, pesado, sério, até agressivo, sobre os gays. Ele levantou o dedo. Esse eu quero dizer. Era vaidoso, como todo artista, bonito e cheio de talento. Que chato. E ontem, o pai de Ronaldo Fayal, que veio correndo do RJ, deixando a novela da Índia por alguns dias, ele que é um dos principais maquiadores da Globo. Está bom?

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A explosão anunciada de uma bomba

Belém está fora da Copa. Após adiamentos, a Fifa anunciou as cidades que receberão jogos em 2014. Alguma surpresa? Fiz o que pude para não emitir opinião. Quando se é contra, nesta terra, confundem-nos com inimigos. Mas é que não merecemos. Claro que, para um povo tão sofrido, próximo à barbárie, miserável, faminto, desempregado, uma Copa do Mundo seria um alento e produziria alguns trocados na economia informal. Mais de 99%, no entanto, se perderia no meio do caminho. Não merece a Copa nossa elite empresarial, de mentalidade tacanha, recusando-se ao novo, a contribuir para o bem comum, tão egoísta de seus milhões que curte em coberturas, carrões e viagens sem fim, de onde não trazem nada de bom para os outros. Não merece nossa classe política, permanentemente mobilizada para briguinhas de esquina, solapando como pode o progresso do Estado, da cidade, em troca de objetivos mesquinhos. A manchete, editorial e artigos de O Liberal de hoje não são apenas ridículas, mas dignas de um Casseta e Planeta, sem nenhum constrangimento. Não merece a Copa nossa classe de dirigentes esportivos, incompetentes, despreparados, amadores, bobos, pensando ser espertos. Acontecer em Belém jogos da Copa, seria encher essa turma de dinheiro, não realizar de maneira mínimamente decente as obras e nos envergonhar ainda mais.
Copa do Mundo não é futebol e sim, turismo. Manaus é turismo. É sinônimo de Amazônia. Nós, em Belém, não temos turismo, a não ser de negócios, gente que vem trabalhar, doida para voltar. O teto está caindo e ainda há quem esteja levantando um brinde à merda em que estamos atolados. Sinto-me triste. Melancólico. Ando pelas ruas imundas, lotadas de mendigos, camelôs, gente pobre, maltrapilha, em transportes pútridos, e não sei de onde tiro esse amor todo que tenho por Belém, pelo Pará. Ao longo de todos os tempos, lutamos contra nós próprios. Será índole? Não somos empreendedores. Pelo contrário, egoístas, queremos tudo somente para nós. Nada de dividir e imaginar que cresceremos juntos. A culpa é toda nossa. Nós votamos nessas pessoas. Ao invés de votar naquele que pretende fazer o melhor, se é que entre os candidatos há essa possibilidade - não há - votamos naquele que prometeu nos arrumar alguma coisa, algum percentual, contrato, negócio, trocado, emprego, qualquer coisa. Ou meramente porque odiamos o outro, o grupo do outro. Nada tem de ideológico. Nós e os outros. Eles. Nós ganhamos, eles perderam. Nós estamos nos matando. Hoje, somos uma minoria de minoria a pensar no melhor. A grande maioria está abaixo da linha da pobreza. A outra, conta seus tesouros.
Os programas de rádio hoje vão discutir tudo isso exaustivamente. Vão todos chamar Ricardo Teixeira de fedepê, que ele realmente é, listar suas falcatruas, corretamente, se aborrecer, mais uma vez, com o presidente da Federação, que alegremente vai chefiar uma delegação de seleção, cagando e andando para nossa "desgraça", afinal, é seu prêmio por votar em mais uma reeleição, enfim, esperneios. Perdemos. Não merecíamos. Meu choro é por um futuro melhor, uma cidade mínimamente digna, um Estado a altura de seu potencial. Meu choro é porque não vejo solução. Não há futuro. O choque de agora, provocou apenas esses resmungos imbecis. Adiante, quando as obras se espalharem, pode ser que o estrondo da bomba chegue até nós. Quem sabe, depois desse desastre monumental que nos rebaixa em todos os sentidos, passemos a reconstruir algo melhor, justo, honesto, moderno, empreendedor. Nossos bisnetos merecem...