segunda-feira, 20 de julho de 2009

Meus lançamentos

Não tenho facilidade em escrever sobre meus próprios feitos. Talvez o costume de jornalista em escrever sobre fatos relativos a outras pessoas. Talvez. Mas é que ando bem feliz com os últimos acontecimentos na área literária. Infelizmente, aqui em Belém, em função de diversos motivos, reina um silêncio completo. Não posso me queixar dos colegas jornalistas que noticiam meus lançamentos. Mas não há crítica literária e nem um retorno saudável de opiniões para que se abra debates. Não pertenço a nenhuma turma. Nem sequer do futebol. Quando acaba a pelada, estou sempre apressado para voltar, por conta de alguma peça de teatro passando no Cuíra. Quem sabe, pode ser isso. Mas permitam revelar minhas últimas alegrias. Houve o lançamento de Um Sol Para Cada Um, pela Boitempo, ano passado. Há dois meses, O Tempo do Cabelo Crescer, coletânea de poemas recolhidos dos meus quatro primeiros livros. Agora, sábado que vem, dia 25 de agosto, em Lima, Peru, o lançamento de 90-00 Cuentos Brasileños Contemporáneos, pelas Ediciones Copé - Petroperu, na Feria Internacional del Libro de Lima. Abre uma outra janela, para o mercado em língua espanhola, após o Hornet's Nest, em inglês. E no final do ano, pela Record, Antologia Panamericana. God, esqueci do Todas as Guerras, reunindo contos, onde participo escrevendo sobre palestinosxisraelenses, lançado pela Bertrand Brasil na Flip e já nas melhores livrarias. Desculpem, mas estou super orgulhoso. Gostaria de ser mais conhecido como escritor por aqui. Lá fora, Rio, São Paulo e redondezas, há mais reconhecimento. Tenho outro livro, de poesias, inéditas, para lançar até o final do ano. E outro de Crônicas, esperando o momento certo. Idéias para outro romance? Uma, maravilhosa, mas não posso contar. E tenho também dois capítulos escritos de uma série policial que se passa em Belém, lógico, tentando negociar, através de um produtor carioca, com os grandes canais de tv fechada. De repente, também lanço em livro. E também escrevo peças, dirijo Abraço, que estréia em 7 de agosto, começo a dirigir uma comédia Não me pega, não me toca, não me beija e enfim. Um escritor escreve. Por favor, não digam como dizem, às vezes, sem maldade alguma, "puxa, outro livro, já?"
Vem aí outra Feira do Livro, errada em todas as suas motivações. Talvez por isso eu seja absolutamente deixado de fora em todas as suas edições. Ou talvez porque nem saibam que eu escrevo alguma coisa. Vai ver escrevo mal, mesmo e pronto.

40 anos de Woodstock

Olhar para trás. Confesso dificuldade. Meu passado, como diz Gil, está guardado num velho baú de prata, dentro de mim. De vez em quando vou lá, abro e me delicio. Mas sou desses que gosta das novidades. E no entanto, são 40 anos de Woodstock. A primeira lembrança que tenho de Jimi Hendrix, e guardo até hoje, é uma radiofoto UPI, onde ele está tocando guitarra com a língua. Na época, era um doido. Para mim, uma revolução. Quando o filme passou em Belém, creio que já devia ter passado um ano, pelo menos. Foi no Olímpia. Assisti sete vezes. A montagem, a turma chegando, brincando na lama, o John Sebastian dedicando música aos nenéms que haviam nascido. Roger Daltrey e seu microfone voando cantando See me Feel me. Sly and Family Stone e I want to take you higher. Higher! Joan Baez e seu discurso pacifista, o marido preso, por conta da guerra no Vietnã. Alvin Lee do Ten Years After. Jimi Hendrix. Tudo. O disco triplo. Depois, outro duplo. Jimi e as bases da fusão de rock, jazz, soul, instrumental. Está tudo lá. Aos poucos, fui lendo e sabendo o resto. As dúvidas financeiras até momentos antes dos artistas chegarem. Problemas com drogas, alimentação. Foi decretado estado de emergência. As estradas engarrafadas, pararam. Só entravam e saíam por helicoptero. Joni Mitchell, não conseguiu. Mas compôs o hino. Jimi e uma banda de amigos, que nunca se concretizou. Apresentou-se com enorme atraso. Mais de 70 por cento da audiência já havia se retirado e perdeu o momento mágico. Outros grandes estiveram lá mas problemas com editoras evitaram a divulgação no filme e disco. Janis cantou e mal. Creedence Clearwater Revival. The Band. Muitos outros. E ao longo dos anos, a participação total de Hendrix e de outros. Foram três dias e tudo mudou. Foi como uma celebração e ao mesmo tempo, o final do flower power. Ainda houve outros pequenos eventos, até mesmo a Ilha de Wight, na Inglaterra, mas já era outra coisa. Jimi morreu algum tempo depois. Curioso porque na guerra das editoras, os artistas de outras gravadoras tiveram permitidas a divulgação em imagem e na trilha de, digamos, músicas menos populares de seus discos, tipo, a última do lado B. Foi assim com Santana, por exemplo. E no entanto, mudou a vida da banda. O Ten Years After, banda de blues, decidiu encerrar a apresentação com um rock and roll, tipo jam session. Isso mudou tanto a vida da banda que ela acabou. Onde iam, depois, os pedidos eram de rock and roll e a banda era de blues. Enfim, tanta coisa a dizer. Lembro, naquela época, de estar ouvindo Mahavishnu Orchestra, de John McLaughlin, mais King Crimson e etc. Chegar nas lojas e perguntar por eles parecia um esquete humorístico. Eu tinha 15, 16, 17 anos, sei lá e o mundo era um imenso parque de diversões. Parece que foi ontem.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Para o amigo Juvêncio

Deixa que o mar lamba pela última vez teus pés. Deixa que a lua te banhe prateado, deixa que o vento que ondula as folhas dessa árvore na porta da tua casa, sopre também e desarrume o teu cabelo. Deixa que um beijo sele em tua fronte essa passagem por aqui. O que foi belo e o que não foi. O que foi bom de viver e o que foi ruim. Os momentos de prazer, tristeza, ódio, esses que marcaram, que vincaram teu rosto. Todos os corpos que abraçaste com teus braços vigorosos. Todos os pensamentos que dominaste com tua cabeça fabulosa. Tudo isso te deixa aqui. Mas não perdes nada, porque a tua essência permanece em ti até apagar a chama e em seguida, quem sabe, para onde irá?. Não irá para descanso porque a essência não pede nenhum descanso. Ao contrário, ela precisa queimar e queimar incessantemente. Tu foste um homem bom. (trecho do espetáculo Abraço)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ser ator no Pará e no mundo

Escrever sobre o papel do ator em Belém e em qualquer lugar do mundo é um tema tão gigantesco e difícil que tenho vontade de desistir já ao enunciar o título. Um olhar de fora, talvez. Assim como posso dizer, com orgulho, que vi Bibi Ferreira e Rubens Correa em ação, posso dizer, mais orgulhosamente ainda, que não apenas vi, mas convivo e sou amigo de um gênio chamado Cacá Carvalho. E que o teatro, seu mundo, seu palco, é o começo e o fim de todo o mundo. Que não há melhor lugar, que os bastidores de um teatro, nos poucos minutos antes de abrir as portas à platéia, todos em seus lugares, o espetáculo vai começar. Meu avô foi diretor do Teatro da Paz. E foi lá que assisti meus primeiros espetáculos. Então vieram Geraldo Salles e José Maria Villar me pedindo Foi Bôto Sinhá. Tímido, nem fui aos ensaios. Na estréia, blackout, tambor de carimbó, arrepio e emoção. Agora estou na coxia, vendo Cleodom Gondim, no papel de Malcher, na peça Angelim, sobre a Cabanagem. Aquele homenzarrão, espada em riste, dá seu texto, enfrenta a platéia, e no entanto, noto que treme de emoção, nervosismo, pelo embate. Como uma folha, ao vento. Tão forte, potente, tão frágil, leve. Naquele instante, pode tudo. É Malcher, tomado, visceralmente. Antes, veio Cacá Carvalho com Antunes Filho e mudou tudo, revirou a minha cabeça. Por isso escrevi Angelim. As cenas de multidão, congelamento de cenas, papéis prateados flutuam, iluminados frenéticamente em um quadro lindo. Não precisa ser visceral. Ou isso pode vir de outro lugar. Vêm Gilda e Convite de Casamento. E vem Cacá, de Pontedera. Agora, os atores traçam percursos no palco. Zê e Cláudio. Cada um o seu. Depois ele vem e mistura. E somente três dias antes da estréia, põe o texto. Quando o ator diz e mostra com o corpo algo relativo ao texto, para a platéia entender, o artista está, na verdade, pessoa, contando, exprimindo com toda sua verdade, algo pelo que passou intensamente. Emotivamente. Deu pra entender? Não. Pois é. Não é de primeira.
Na primeira cena de Hamlet, um extrato de nós, onde era mostrado o velório do rei, havia, de verdade, uma mulher na Igreja de Lourdes, pedindo bênçãos à imagem; uma mulher pagando a conta no caixa do supermercado; um vigia noturno que é despertado por um ruído possivelmente feito por um rato; uma adolescente em um banco de ônibus olhando-se no espelho e retocando a maquiagem; um rapaz entre as poltronas do cinema Ópera. “Saiam e me tragam pessoas. Seus gestos, emoções, sua compreensão do mundo”. O que se está mostrando, não é o que se está sentindo, mas o que se está sentindo é verdadeiro o suficiente para conferir emoção e verdade genuínas ao que se mostra, entende? Ser ator é muito difícil, dependendo do ângulo. É riquíssimo. Um poço onde mergulham para discutir suas vidas, suas verdades, crenças, a partir e à procura de personagens, de tal forma que possam enriquecer outros, a platéia. É o detalhe do dedinho do pé, das mãos, olhar, postura, sob o comando de um diretor, preso a uma estrutura, mas com todo o poder que uma pessoa com sua auto determinação tem.
No espetáculo PRC5 A Voz que fala e canta para a Planície, estive no palco, em um papel que misturava meu avô e meu pai. Não eram personagens. Era também meu próprio personagem. Nada me foi pedido em termos dramáticos a não ser a postura de um locutor das antigas. Uma vez, no ensaio, esqueci o texto. Ficou aquele silêncio, quebrado por uma das diretoras, dando a dica. Deve ser terrível o tal branco, diante de multidão, revelando a fragilidade onde havia até uma invencibilidade. Nos bastidores, mais do que nunca, o convívio. Paulo Santana, nervoso, detalhista, no pé dos mais jovens, aparentemente até desligados, menos de 1 minuto antes de entrar em cena. A troca de roupa veloz. O suor. A eletricidade. Não há melhor lugar no mundo do que coxias, ou bastidores, minutos antes de abrir a porta à platéia. Tem ator que é lento. Outros, velocíssimos. Já sabiam antes de começar. Agora estou dirigindo pela primeira vez. É Abraço, meu melhor texto. A volta de Cláudio Barradas e Zê Charone. Estive com Cacá em São Paulo, para aprender. É muito difícil. Pensar em tudo. Mas quando se começa, é como desenrolar um fio. Técnico, disponível, entregue, Barradas é uma revelação. De Zê nem precisa falar. Ela foi preparada por Cacá Carvalho. Ser ator é conjugar técnica e emoção, observação e talento. É deixar passar pela mente todos os argumentos que vêm, inicialmente, com o texto, depois pelas idéias do diretor, somadas aos demais técnicos como Iluminação, Som, Figurino. Tudo isso vem e também passa pelo seu intelecto. Quando atua, é o instrumento de divulgação de uma mensagem coletiva. Muita responsabilidade. Dependendo da iluminação, curiosamente, eles assistem à platéia, enquanto atuam. Sabem quem dormiu, beijou, bocejou. Mas quando há apenas aquele foco direto, que cega a platéia, que vira apenas fundo escuro, é como estar em um interrogatório, luz no rosto, fale, confesse, diga tudo, sem haver interrogadores diretos. O que é aquela luz que desnuda o ator, embora esconda a pessoa? Quem é essa personagem que parece alimentar-se daquela luz? Ser ator, no Pará, é alimentar-se de luz mesmo no breu em que vivemos. No mundo, é expressar o sentimento de todos. É anunciar os novos tempos, bons ou ruins. É entregar-se a uma causa. Refrear toda a vaidade em nome da disciplina, da mensagem, e ainda assim ser vaidoso, bonito, brilhante, correto. Na medida. Estou com Cacá Carvalho nos bastidores de “O Homem com a Flor na Boca”. Haverá mais uma sessão, já com ingressos esgotados. Conversamos relaxados, bebemos refrigerantes. Nem de longe parece aquele personagem perturbado, emotivo, no limite. E, no entanto, em cena, quem duvida disso? Sim, somos atores na vida e isso não é meramente uma citação, ou lugar comum. Muitas vezes, não escolhemos texto, direção, personagem ou palco. Basta estar vivo. Mas a mensagem depende de nós. Faço o meu possível. Ou como no poema “passo os dias maquinando meu suicídio perfeito. Nisso, vou legando a vida”...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...

Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...

Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...

Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...

Após ler os jornais e também os blogs que visito diariamente; após ir e voltar do almoço, usando o carro, pensei na letra desta música de Renato Russo e a Legião Urbana, grupo do qual não chego a ser grande fã, mas que quando acerta é no alvo. Melhor ainda o término, quando sob um tapete de bateria, baixo e guitarras "quebrando" tudo, cacofonia, vem Renato cantando uma letra de esperança, que o futuro recomeça, que vem perfeição.
Estamos sitiados em nossa própria cidade, clamando no deserto, tudo aquilo que parece normal e natural em outros países. Estamos reclamando, os incomodados que se retirem, pois há uma nova civilização, uma reconstrução de uma massa de pessoas que sobrevivem reinventando, reaproveitando os restos que recebe, a não Educação, não Saúde, não Cultura, não Emprego, não Porvir. A cada minuto que passa, piora. E nada é feito. Pedir uma revolução? A quem? O Exército que também está aniquilado e sem opinião a respeito? À esquerda radical, desmoralizada pelos novos tempos? À direita ridicularizada? O caos virou normal. E vamos todos para Salinas, mostrar nossos barrigões em alegres fotos regadas a selo preto.