quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Belém é o túmulo do carnaval?
A maior festa do mundo é um programa de tv
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Cultura em Belém
Assisti à reestréia do programa Cultura Pai d'Égua, na Cultura, que antes era belamente apresentado por Alberto Silva, e agora vem como Roger Paes. Lá, o secretário Edilson Moura, certamente o secretário de Cultura mais incógnito que já tivemos. Vejam, antes de qualquer crítica ao desempenho à frente da pasta, é bom dizer que, há muitos anos a Secult responde, também pela Cultura em Belém, como se não tivesse de atender mais de cem outros municípios, tudo por conta da ausência da Prefeitura. Assim, ao invés de reclamar da Prefeitura, Fumbel, por isso, lembramos logo da Secult. Depois, é preciso dizer que tivemos doze anos de devastação a partir de um maluco, causando-nos um mal enorme, muito difícil de reparar. Mas, quando o secretário fala, parece que estamos em outro mundo. Ele explica que nesses dois anos de governo, vem debatendo o Plano Estadual de Cultura, que agora começa a tomar forma, embora ainda tenhamos mais conversa, mais debate, mais tempo passando. De um lado, era necessário um mapeamento. De outro, Gilberto Gil também conseguiu isso no Ministério. Vamos discutir o assunto e passamos um governo inteiro em discussão, ganhando dinheiro e sem necessáriamente gastar nada, uma vez que nossa dotação chega a ser ridícula, vergonhosa, senão me engano, 0,06 % do orçamento Estadual. É bom porque ele, político, viaja por todos os municípios, trabalhando para seu Partido. Sim, porque um dos maiores, talvez o capital erro da atual administração governamental, é dividir a Cultura, loteando os cargos pelos Partidos aliados. Assim, em cada órgão há alguém pouco interessado em trabalhar pela Cultura e mais, quando pode, quando tem verba, trabalhar por si e seu Partido. E como sempre são amadores, os chutes são estratosféricos, as tentativas em clima de quermesse, sem ver aquilo que está à sua frente. O secretário vive em outro mundo. As ações que ele realizou em regiões do Estado, não tiveram, pelo menos, uma boa divulgação. E pode-se fazer o Plano, mas é preciso considerar a realidade e a atual, tem Belém como o centro que recebe quem vem do interior e irradia para o resto do Estado. O que queremos é, trabalho profissional em todas as regiões, de base, ao mesmo tempo em que se alimenta os que estão à míngua e que precisam continuar, para evitar um fosso. Como o finado compositor Antonio Carlos Maranhão, ao responder a uma pergunta de repórter "sem noção", se já estava maduro.. Eu já estou é podre... Até agora, a política cultural é não cobrar a taxa dos teatros. Isso é anunciado como grande coisa. Dá vontade de chorar. O secretário não percebe nem o que ocorre à sua frente: o Teatro São Cristóvão está desmoronando. O Teatro funciona nos fundos da Associação de Chaufferes, um grupo que na primeira metade do século passado, veio de Barbados e virou motorista de taxi. Atrás, em um teatro onde cheguei a assistir Toquinho e Vinícius, apresentavam-se, principalmente, os Pássaros Juninos. Doze anos, depois, mais dois anos depois.. Houve um momento, cinco, seis anos atrás, que nós, do Cuíra, fomos até lá e reunimos com os proprietários remanescentes, que já estavam negando propostas de construtoras e até igrejas, pelo terreno. Fotografamos, medimos, fizemos uma planta e fomos ao
Rio de Janeiro, onde propusemos à Vale do Rio Doce, a compra e transformação de centro cultural e o teatro. Não deu certo. A Vale comprou outra casa para servir de bibelô e foi só. Mas, naquela época, um dos nossos integrantes, solicitou o tombamento, não sei se ao Estado do Município. Agora, os prédios, casa dos chaufferes e teatro, estão ruindo. Vai-se a Cultura, novamente. Em frente ao prédio onde o Secretário despacha diariamente. Os atores, ou seus remanescentes, reuniram e decidiram fazer uma manifestação na quarta feira de cinzas, meio dia, em frente aos dois imóveis, Teatro e Secretário, cobrando a desapropriação urgente do local, ou tombamento, ou qualquer coisa, uma ação, mais do que blábláblá. Sei que a galera enviou email para o programa Paid''egua, informando o Secretário e convidando para, na quarta, participar da ação e responder alguma coisa. O email não foi lido. E a Cultura, em Belém..
Você jurou que eu ia ser feliz
Dolce far niente
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
É doença ou crime?
Mas, afinal de contas, pedofilia é crime ou doença? O dicionário diz ser um distúrbio. Então, é doença, desvio mental, de conduta, sei lá. Tem cura? O que faz cidadãos respeitáveis, com mulher e filhos, se entregarem a esse tipo de ação contra seres indefesos e inocentes, estragando suas vidas, talvez, pior do que se as matassem, pois permanecendo vivas, conviverão com o trauma para sempre. É claro que parentes, conhecidos, gente comum como nós, ao ler, ao saber de algum ato de pedofilia, se vê tomado por ódio, desprezo, raiva. Natural. Mas então, prender e condenar essas pessoas, a maioria sem nenhum outro deslize social à cadeia, onde certamente não sobreviverão? Condená-las à morte? Ou interná-las, para sempre, em casas de saúde mental, onde possam viver sob vigilância, de maneira a não exercer nunca mais a hedidonda atividade? Se for crime, que realmente sejam humilhadas com julgamentos públicos e condenadas a penas altas, sem direito a progressão. Se é doença, que paremos com essas humilhações, julgamento, prisão, porque é outra direção. Na direção da Medicina. E há cura? Através de terapia? Quanto tempo? Como saber se houve cura? Não há cura? Do jeito que está, não pode continuar, pois nada de objetivo é feito. Pelo contrário, parece haver um palanque propício a algumas figuras para "aparecer". Agora, que é um assunto seríssimo, e que deve ser discutido em voz alta, com certeza. A Pedofilia é o grande segredo das famílias, o grande e vexatório crime cometido entre quatro paredes e sendo crime ou doença, condena crianças a uma existência cruel, na convivência com o que sofreu. Gostaria que o grande Yúdice se pronunciasse, com sua serenidade judicial a respeito.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Velório
Há os familiares mais próximos, que ficam junto ao morto. A maioria, mulheres. Os homens estão sempre lá fora, em rodas de conversa, fumando, enfim, fugindo do flagra, da companhia da morte. As mulheres ficam sentadas, conversando. O velório é o grande momento da rememoração. Mesmo nós, homens, entre piadas e comentários esportivos, fazemos essa rememoração. É quando é feito um balanço da vida do morto. E vem alguém e conta algo que ninguém sabia. O cadáver, ali, em julgamento de corpo presente, com prós e contras. Cada um que chega, vai até ele, depois consola os parentes e procura sua turma. Às vezes, as conversas são tão altas, risadas, xistes, que esperamos o morto levantar e pedir um pouco mais de comedimento, talvez. A definição do velório, como espaço para rememoração, é de Wlad Lima. Fiquei pensando muito a respeito. Não sei se quero ser velado.
O presentinho
Arraial de Nazaré
No caso do Arraial, também vivi o suficiente para ter visto ele, na então Praça Justo Chermont, com barracas de madeira, shows de cantores bregas, brinquedos de madeira, bem toscos, lindos, como a Ôla, por exemplo. Mas a cidade foi crescendo, os prédios invadindo, moradores de alto padrão cercando e primeiro, veio alguém e aproveitou o terreno ao lado da Basílica para fazer o arraial. Hoje, tudo está confuso. Na época do Círio, todos os paraenses vão visitá-la, a Santa, claro, ou seja, saem de suas casas, famílias inteiras, e vão até lá para rezar, agradecer e também, se divertir. Sentam em bares, bancas, as crianças vão em brinquedos, e lá pelas nove da noite, cansados, carregando balão e crianças dormindo, querem pegar o ônibus de volta. O problema é que são estranhos ao bairro, principalmente à noite. Os ônibus fecham as ruas, as pessoas atravessam fora do sinal, aglomeram-se, enfim, causam transtornos aos moradores. O que fazer? Sob o ponto de vista de respeito a esses moradores atuais, fazer algo mais light, com poucos brinquedos, lanchonetes e bares mais limpos e tranquilos, parece interessante. Mas o que fazer com o povo, que vive além do imenso fôsso, a parede da Cultura, Educação, Saúde, que vive uma outra realidade? É romantico e interessante pensar que o arraial antigo pudesse voltar, com as imagens bonitas e selecionadas de meu passado, de minha infância. Será que cabe, ainda? É um problema urbano, sem dúvida, que vale a pena discutir. Digo porque li opinião contrária, reclamando justamente dessa classe média alta que reclama de tudo, se apossa dos lugares e não quer barulho, a menos que com ele concorde.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Amadores
Pedofilia
Abuso de Crianças
A respeito da CPI da Pedofilia, fui buscar algo antigo que escrevi após assistir uma peça de teatro de Wlad Lima, no Teatro Puta Merda.Estou há muito tempo para escrever algo a respeito do estupro de crianças. Gosto muito delas. Gosto de brincar, sobretudo com o ser que lhes habita o corpo em jogos de inteligência, alegria, bom humor. Tenho, em função do mundo atual, o costume de pedir licença aos pais, de maneira a desarmá-los de qualquer suspeita. Quando leio, diariamente, notícias referentes a esses abusos, fico impressionado. Diariamente, fico impressionado. Hoje li que metade das crianças na Índia pode já ter sido estuprada. Aqui em Belém, basta folhear o caderno policial dos jornais e está aquela cara assustada de gente comum, com a pecha de tarado, pois foi flagrado. Quase todos não têm explicação. Alguns, mais idiotas, ainda dizem que a culpa foi da criança, ao ficar passando à sua frente com roupas sensuais. Mesmo que isso seja verdade e é outro lado da questão, não há uma só desculpa para esse ato vergonhoso, que até já mereceu filme internacional, pois a maioria dos casos se verifica no âmbito doméstico, com pais, padrastos, irmãos, amigos, se aproveitando das crianças. E se isso é realmente diário, no mundo inteiro, porque não dedicamos mais tempo para tentar diminuir, alertar, fazer com que possíveis estupradores reflitam sobre o que ocorre?
Seremos nós, homens, esse animal sexual? Quantos são apenas doentes, pedófilos, que mesmo cometendo ato hediondo, merecem apenas tratamento, até, quem sabe, em regime fechado? No filme Volver, de Almodóvar, o padrasto passa pelo quarto da enteada e a porta está entreaberta. A menina, de uns treze anos, troca de roupa e vemos seu perfil, com os seios ainda recentes. Ele olha cobiçando e mais tarde, a ataca. Quase todos dizem que estavam bêbados, se descontrolaram. Qual a razão? Onde está o sexualmente atrativo nas crianças? A menina do Almodóvar era uma pré adolescente, mas a maioria dos estupros é na faixa dos sete, oito anos, alguns pegam bebês, meu Deus. Será a vontade de tomar aquela carne tenra, indefesa, por isso mesmo à disposição, sem maiores argumentos? Quer tomar aquilo que já é seu, por ser filho? Considera seu, por ser filho e por isso mesmo, talvez, se vingue da mãe, que por algum motivo não o satisfaz? Ou também foi abusado quando criança e quer repetir, mas agora ao contrário, sendo o possuidor? Vê a si próprio na criança e quer devolver a agressão? Vê na criança a figura da mãe, mas indefesa, e se vinga? A velha falta de Cultura que faz com que as relações da sociedade regridam, tragicamente, ao mesmo tempo em que a televisão grita costumes do século 21, para pessoas que vivem no século 19. Os programas infantis com as crianças vestidas como prostitutas, shorts cavados, danças lascivas, aumentando a tensão sexual, quem nem assim pode ser perdoada. Em Carne e Osso, espetáculo que o Cuíra estréia no Teatro Porão Puta Merda, com Wlad Lima, Olinda Charone, Cláudio Barros, Patrícia Gondim e Oriana Bitar, também fala disso. A criança sofrendo, calada. Se contar, vai apanhar. Se contar, não vão acreditar. Se contar e acreditar, a mãe se separa do pai ou padrasto e a tranqüilidade do lar vai ser quebrada, o homem vai embora e todos ficam sem o mantenedor da casa. É muita tensão na cabeça dessa criança que então, sofre calada, meu Deus, sofrendo diariamente o abuso. Ou a mãe sabe e faz que não sabe, seja por amor ao homem, seja por medo dele ir embora. A criança conta e ainda apanha. Perde toda a dignidade. Todos os valores éticos. Não acredita no mundo, em ninguém. Se considera um lixo, sem importância no mundo. Que cidadão é esse que está em formação? Agora mesmo, uma das mulheres profissionais do sexo, que trabalha com o Cuíra em Laquê, precisou se mudar. O filho havia sido estuprado quando a mãe saiu para trabalhar. É um assunto tão sério, tão absurdo, tão violento, tão importante, e ninguém do Governo trata dele. É algo latente, uma luz vermelha a piscar sem parar em todos os lares. Como pode alguém, que não seja pedófilo, ou seja, doente, precisando de tratamento, sentir tesão em uma criança de sete anos, meninas ainda sem seios ou quadris arredondados, meninos sem nada disso?
Arilene Rodrigues, a menina que trabalhou no segundo filme da série Tainá, de vez em quando passa uns dias aqui em Belém. Nós a levamos para comprar roupas. Nada do que traz é aproveitado, não só pelo desgaste, mas principalmente pelos modelos, absurdamente sensuais. E quando chegamos às lojas infantis, todos os modelos são na mesma tecla. Shorts cavados, mini saias, calcinhas biquíni, enfim, terrível. Basta ligar a tv, que no caso, fica ligada o dia inteiro e não é na Globo, mas sobretudo em outros canais, com a estética inteiramente comprometida.
A ausência de Cultura levou todos a acreditar que Cultura é a mesma coisa que Lazer. Não é. Assim, quando digo que a falta de Cultura é muito mais dramática do que a falta de Educação e Saúde, sei que muitos não levarão a sério. Enfim. Estamos regredindo em tudo. Estava no McDonald’s. Ao meu lado, mãe e filhinha, classe média. Ela diz à filha “fica do meu lado pra ti pedir teu lanche”. Começa desde cedo. O império da burrice, da cretinice, violência, agressividade. Que coisa
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Com seus olhinhos infantis
Brasil, o novo alvo
O Forum
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Crítica do Flanar - Francisco Rocha Junior
Um sol para cada leitor
Li de um tapa, neste final de semana, o último livro do escritor e teatrólogo Edyr Augusto Proença, “Um sol para cada um” (SP, 2008, Ed. Boitempo).
A edição da Boitempo, da publisher paraense Ivana Jinkings, é bem cuidada, com orelha da atriz e professora Wlad Lima e prefácio do escritor paulista Nelson de Oliveira. O livro apresenta 36 contos curtos, quase todos ambientados em Belém. Na única exceção, o conto Putz, os personagens estão em São Paulo, mas são do interior do Pará.
Edyr Augusto desfila temas violentos e cruéis, em uma linguagem crua e muito, muito urbana. Seu texto lembra o Rubem Fonseca de "Histórias de Amor" (Companhia das Letras, 1997): frases curtas, texto veloz, sem metáforas ou volteios. Edyr Augusto não esconde nada, não deixa de dizer nada, não subterfugia nada. O conto Um cara legal é o maior exemplo disso: da aproximação à prisão, passando por tudo o que há de mais hediondo, a história de um pedófilo é narrada de modo direto, em detalhes. Há que se ter estômago forte.
O livro não é, pois, de modo algum, um mar de rosas. Há momento, porém, delicados, exatamente como na vida. Pedofilia, suicídio, traição, luxúria e mortes, muitas mortes – motes inevitáveis para romances que se passam em meio urbano e focam sempre nos personagens (não há descrições de cenas em “Um sol para cada um”) – transitam entre uma e outra história de desejo, de amor adolescente e de reencontro. Na mescla entre delicadeza e degradação moral, no entanto, ganha a última, por escore dilatado.
A escrita de Edyr chama a atenção, ademais, por dois aspectos, inusitados e muito bem-vindos entre nossos escritores.
Primeiramente, apesar do cenário regional, não há regionalismos, nem odes à terra natal. As histórias poderiam se passar em qualquer outra metrópole. Porém, como têm Belém como pano de fundo, é respeitado o linguajar mundano paraense. Não há xingamentos apaulistados ou acariocados; as personagens falam como falamos nós, nossos vizinhos e conhecidos, no dia-a-dia, diante de situações extremas. Afinal, não há nada mais violentamente paraense que “eu me abro pra ti, sabia? Só me abrindo. ‘Bora, porra, levanta (...) Hei! Tô falando! Porra, fala comigo. Fala! Deixa de graça! Te dou umas porradas, hein?”, ou agoniadamente paraoara que “ih, seu Tatá, eu hoje não estou boa, o senhor já me conhece, quando eu chego assim, meio escabreada, quando eu não respondo logo Bom dia pro senhor, hoje é daqueles dias...”.
Além disso, Edyr mostra-se mestre nos discursos, diretos e indiretos, de seus personagens. O ator desenha as cenas, as mudanças de local, de humor e de circunstâncias quando põe os protagonistas para falar ou para responder aos secundários que com eles contracenam. É neste momento que seu texto se movimenta, rápido, sem parar, sem tempo para descrever ou contemplar qualquer coisa.
Bom livro. Recomendo. Vou à cata de “Casa de Caba” e “Moscow”, livros de Edyr Augusto ainda editados, que já vi por aí, em livrarias da cidade. Quando os achar, darei meu pitaco por aqui
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
A Copa no Pará
Claro, gostaria que a Copa fosse em Belém, pelo coração, mas pela razão, nem pensar. Prefiro Manaus, que ao longo do tempo, posicionou-se como símbolo da cidade da Amazônia, especializando-se na recepção turística com seus hotéis de selva. Aqui, ao contrário, oferecemos a coleção que era de meu tio Abelardo Santos, de santos antigos, talvez para brigar com as 365 igrejas da Bahia.. Nossos clubes estão em processo acelerado de amadorismo. Nossos torcedores, a cada diz, torcem mais pelo Liverpool e Chelsea, ou Barcelona e Real Madri. Sim, mesmo que em nível inferior, há São Paulo, Flamengo, Corinthians, enfim. E quando Remo e Paysandu jogam, passa na televisão. Porquê ir ao estádio, ser assaltado duplamente, nos ingressos e pelo bandido, correr todos os riscos e assistir jogos amadores, se até beber, posso fazê-lo em casa, ou no bar da esquina, com amigos?
E remodelar o Mangueirão, desculpem, Estádio Edgar Proença, para receber dois ou três jogos da Copa e depois? Servir de praia aos domingos? A galera pegando sol, empinando papagaio, enfim, porque nossas equipes viraram amadoras e mesmo quando jogam suas peladas, elas são transmitidas. Não há milhões de prioridades? Milhões!
E os nossos clubes têm eleições, novas pessoas assumem e já anunciam a continuação de todo o processo amador, ridículo, criminoso que matou a maior diversão do povo. O Baenão é hoje uma ruína. A Curuzu, tem novos lugares, que acabaram de ser construídos, vetados. Como?
Alguém, no jornal, escreveu hoje sobre o que ficou na cidade depois do Forum, a não ser a duplicação de uma via, a Perimetral e a reforma de um terminal de ônibus.
O absurdo é que pessoas inteligentes, probas, quando o assunto é futebol, portam-se como se fosse um time de botão, ou seja, diversão, pode tudo. Como os que dizem que o Governo deve dar, mesmo, dinheiro para Remo e Paysandu. É a alegria do povo, dizem. Que beleza, dizem os dirigentes que continuam queimando dinheiro sem rastros, e descendo a ladeira, felizes da vida. Se os clubes de futebol, associações particulares, com um campeonato gerido por um entidade particular, com um presidente eleito por representantes dos times, merece o dinheiro que o Estado investiu há poucos dias, qualquer um de nós também tem esse direito. O pessoal do Teatro, da Música, os Filósofos, os Garis, sei lá, qualquer um tem o direito. Pior, os antas não leram o contrato. Os jogos passam para o interior e para Belém. Quem ainda vai a campo? Assisti um tanto do jogo do Remo contra Aguia. O estádio é desses de várzea, de pelada, inclusive pelo público que compareceu. Está tudo errado. Tudo amador. Tudo ridículo. É um absurdo, é totalmente inaceitável a maneira pela qual os nossos times são geridos, a Federação é gerida, a decisão de dar esse dinheiro é tomada. E agora, querem os milhões da Copa.
Li, neste final de semana, um inglês escrevendo sobre uma equipe londrina pela qual torcia, Wembley, que entre idas e vindas da quarta até a primeira divisão, foi comprado, trocou de cidade e até de nome, mostrando como o negócio futebol é atraente. A Premier League, da Inglaterra, é hoje a mais rica do planeta. Planejam jogos inclusive na Arábia, por conta de transmissões, o que antecipa equipes planetárias, que Arsenal, Manchester e Chelsea já são. Eu mesmo, gostei mais de Liverpool x Chelsea do que Flamengo x Volta Redonda, ou Remo x Águia. Eu, hein! Pois o inglês escreveu lá da americanização do futebol inglês, imitando o que ocorre na NBA, onde, muitas vezes, clubes são comprados e trocam de cidade, região e isso é encarado naturalmente. O inglês acha fundamental o apoio da torcida, o calor da cidade. Também acho que sim, mas temo que estejamos batidos, nesta questão de transformar os clubes em planetários. Aqui em Belém já temos uma garotada que nem sabe os nomes dos jogadores do Paysandu, mas tem camisa e acompanha os jogos ingleses.
Ter um clube, hoje, ainda é ter o coração de pessoas, uma camisa, algo intangível, que veste onze jogadores em campo. E fazer o clube atravessar fronteiras, conquistas, vendendo jogos, camisas, souvenires. Comprar e vender jogadores. No mundo inteiro isso funciona, menos aqui, que vamos céleres ao fundo do fundo do fundo do fundo do poço. Já imaginaram se o Remo ou o Paysandu se arrumam, começam a conquistar títulos, torcedores e se estabelecem ou um ou outro, claro, como o representante da Amazônia, nos campeonatos mundiais, planetários? Quá quá quá, tem que rir, não é mesmo? E o Paysandu ainda inscreveu um genérico Time Negra no campeonato de pelada, não foi? É demais.
Quem lê tanta notícia
Quando vamos aos jornais, a situação fica pior. Lúcio Flávio, um dia desses, revelou alguns números relativos à tiragem dos nossos jornais. Em uma cidade com quase 2 milhões de habitantes, tirar 25 mil exemplares diários é algo sem tamanho. Pior é que se criou um ambiente viciado, pois lêem os jornais, certamente, os viciados como eu, pessoas mais velhas, por assinatura, concorrentes, agências de propaganda e órgãos federais, estaduais e municipais. Ainda há encalhe! Ficam as perguntas a respeito do preço que cobram por suas páginas, esses jornais. Supondo 3 leitores por jornal, são 75 mil pessoas, em um universo de quase 2 milhões! Permitam-me pugnar pelo meu rádio, que atinge o triplo, pelo menos, a cada cinco minutos. Mas é o rádio e "não deu no jornal", enfim. Uma das minhas alegrias atuais é chegar no Rio de Janeiro e comprar O Globo e Jornal do Brasil. Atualmente, leio ambos pela internet. Mas as experiências mostram que até agora, aquilo que é obtido em comercialização, via web, não chega a 30% das despesas dos jornais com suas redações. Vários jornais, nos Estados Unidos e Europa estão desesperados. Li em algum lugar que o próprio Sarkozy, presidente da França nas horas vagas em que não está (argh!) namorando Carla Bruni, pretendia oferecer dinheiro aos jornais, corte nas tarifas postais e assinatura grátis a leitores jovens, para se engajar na luta pela imprensa, pela leitura. Isso será, se verdade, um tremendo erro, pois deixará a imprensa de mãos atadas para cumprir seu principal dever de fiscalizadora da sociedade. Jornais patrocinados? Bem, digamos que já temos isso por aqui. Blogs? Com o fim dos jornais, será a vez dos blogs? Patrocinados? Com que credibilidade?
Leio com desespero uma coluna da revista Troppo, que focaliza uma pessoa e suas leituras. Não há jeito, é sempre um livro de auto ajuda. Será que ninguém mais gosta de romance? Autor paraense, nem pensar..