sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Complexo de Vira Lata?
Isso me ocorreu de repente e divido com vocês meus pensamentos. O paraense sempre foi tomado como hospitaleiro. Pessoas de outros Estados passam por aqui e fazem muitos elogios. Dizem que "os paraenses, nem bem te conhecem e já vão te levando para casa, fazer refeição, passear". Isso é verdade. Às vezes, está uma visita na cidade e de repente, não nos contentamos em levá-la para passear, não deixá-la pagar nada. Chega a segunda feira e deixamos de trabalhar para levá-la até Mosqueiro, Salinas, sei lá. Antigamente, Belém era uma cidade portuária. Havia muitos estrangeiros nas ruas. Li que mais de 30 consulados. Mais tarde, até a Segunda Guerra, fomos uma cidade onde os aviões faziam escala e muitos ficavam. Normal, então, essa facilidade do povo em lidar com visitas, com estrangeiros, inclusive. Mas o tempo passou e hoje, tenho a impressão que temos complexo de vira latas, como dizia Nelson Rodrigues do Brasil. Creio que desejamos, ardentemente, ser aceitos. Queremos, ardentemente que a visita diga que somos pessoas bacanas. Que nossa cidade é linda. Que não vêem a hora de retornar. Que nunca esquecerão os passeios, a hospitalidade. Creio que depois de ouvir isso, respiramos fundo e nos aliviamos. Ufa. Tudo isso porque sabemos que somos esquecidos. Com o tempo, o Sul ficou forte e se segura. Minas, São Paulo e Rio. Há Salvador e Pernambuco. Recentemente, o turismo em Fortaleza. Manaus arrebentou e levou a Copa. Ficamos para trás. Nas pesquisas nacionais, não somos citados. Os aviões que vêm aqui, chegam de noite ou madrugada. Vôos internacionais? E espera lá, quem vem a Belém fazer turismo? Talvez turismo de negócios, os números provam. E o que mais? Para ver santos barrocos, há 365 igrejas na Bahia. Sabemos disso, mas adoramos nossa terra. Assim, ficamos nos arrastando, pirangando um elogio, largamos tudo, paparicamos a visita até vir o tal elogio. E isso me leva a outra pergunta: realmente amamos nossa cidade? Se a resposta é sim, eu digo que é mentira. Um sentimento antigo, que não resiste a uma atualização. Porque se amamos, qual a razão de não fazer nada para a destruição que assistimos, sem querer nos meter, ou não podendo, ou na base do deixa pra lá. Nós votamos nessas autoridades, ou trabalhamos de maneira ao nosso opositor não se eleger também, preferindo o caos, que é o caso atual. Realmente amamos a cidade? Não. E então, qual a razão de ficar nessa "hospitalidade", que na verdade é complexo de vira latas? Por favor, goste de mim.. Gostar pelo quê?
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