“You
may say I’m a dreamer”, cantou Lennon. Talvez devesse escrever um balanço do
ano que passou e o que deveria acontecer em 2018. Quais os melhores livros,
cds, peças de teatro, filmes, essas coisas todas. Mas é que ao ler a Folha de
São Paulo, do sábado passado, encontrei uma reportagem, feita por Diogo Benito,
a respeito de um projeto que vem sendo executado na Islândia, por mais de dez
anos e que agora apresenta resultados maravilhosos, no que diz respeito à
redução de índices que para nós, aqui em Belém e no resto do país, são
terríveis. Jovens envolvidos em crimes, drogas e outros delitos. Nossas
estatísticas são péssimas e desalentadoras. Vivemos o caos. O projeto
“Juventude Islandesa”, criado por Inga Dória em 1997, já está sendo
implementado em 35 cidades européias e chegando à Africa, a partir de ações em
Reykjavick. Em dez anos, os índices de jovens com idade entre 15 e 16 anos, em
relação ao fumo de cigarros normais, caiu de 23% a 3%. O índice de jovens
fumantes de maconha, caiu de 17% para 7%. Jovens com problemas alcoólicos, caiu
de 42% para 5%. Não foi milagre e sim uma saída óbvia, poucas vezes tentada e
onde começava a dar frutos, em função da troca de governantes, abandonada. A
aposta em Esportes e Cultura. Grandes centros foram construídos. Áreas para
futebol, pista de corrida, academia, piscina, ginásio de artes marciais de um
lado. De outro, área para teatro, música, literatura, cinema, pintura e outros.
São mais de 600 atividades que podem ser acessadas através da internet. Mais
ainda, a ação tem participação direta dos pais que também se comprometem, entre
outras coisas, a não permitir que jovens abaixo de 17 anos estejam nas ruas a
partir da meia noite. Imaginem isso aqui, em Belém, onde as festas começam a
animar depois de 1 da manhã.. A ONG Compassiva está tentando implementar o
projeto, agora com o nome “Planeta Juventude”, para São Paulo. Tendo em vista
cidades muito maiores que a capital islandesa, começará bairro a bairro.
Fiquei
pensando em nós. Na área cultural, somos um deserto. Desde que João de Jesus
Paes Loureiro ocupou cargo nessa área ainda no que se chamava Semec, nada mais
houve no setor. A cidade sequer tem um teatro. Com o tempo, ficamos cobrando
mais ainda da Secretaria de Estado de Cultura, que, convenhamos tem (ou teria)
que lidar com os mais de cento e tantos municípios do Pará. Mas esta, há mais
de vinte e cinco anos, dedica-se a destruir qualquer manifestação local,
tentando impor uma cultura de visão estritamente pessoal e desprovida de qualquer
objetivo inteligente. Será que é tarde? O atual prefeito, em sua campanha,
anunciou a construção de um teatro com 4 mil lugares na orla do Dudu. Só se for
para Anitta se apresentar. Que tal vinte teatros com 200 lugares, nos vários
bairros da cidade? Seria loucura conseguir a cessão de toda essa madeira
apreendida para a construção desses centros? Bairro por bairro. Sim,
diferentemente da juventude islandesa, outros fatores encaminham nossos jovens
para o tráfico, por exemplo. Miséria, fome, lares desfeitos, necessidade de
ganhar dinheiro fácil. Emprego para professores, monitores, sociólogos,
psicólogos. Constituição de melhores cidadãos. Penso se esses milhões queimados
nesse BRT infame não ficariam melhor investidos. Mas nossos politicos acham que
Esportes e Cultura não dão votos. Construíram um belo ginásio ao lado do
Estádio “Edgar Proença” e esqueceram de promover o esporte. O resultado é que
agora é palco de festas e shows esporádicos. E a Cultura? Agora, da Fumbel,
saiu a advogada que disse, ao assumer o cargo, que precisava se inteirar do
assunto, porque não era sua área e agora entrou, bem, entrou quem? Enfim, posso
ser um sonhador, mas me sinto melhor assim. Quem dera, não é? Feliz 2018.