quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Vamos ao Teatro, mas não me chame

Não sou inocente. Sei perfeitamente o que estou fazendo. Também não quero ir para o céu. Faço o que faço, simplesmente porque desejo fazer. Acredito nisso. Também sei que vivemos um momento terrível, especialmente em Belém. É um assunto complexo. Mas a cada dia, o que me faz pular da cama é a vontade de fazer, realizar, passar do discurso à ação. E olha que nesses três anos de Cuíra, vi muita gente cair fora, confrontada entre o discurso que norteava uma vida e a possibilidade da ação.
Estamos no último final de semana da segunda temporada de “Abraço”, texto de minha autoria, minha primeira direção, e também música de minha lavra. Em cena, dois dos maiores atores paraenses, Cláudio Barradas e Zê Charone. Não posso me queixar de meus colegas jornalistas. Saíram matérias nos jornais, nas televisões, chamadas em rádio e até anúncio, pela amizade de Camilo Centeno. Sim, temos problemas de público. Quem vai, após o espetáculo, não cabe em si de alegria pelo que viu. Mas são poucos, para o tamanho dos dois atores. Será que ainda é porque o Cuíra fica na Riachuelo com Primeiro de Março? Como se as demais ruas da cidade fossem tranqüilas e seguras? Será porque acham que há prostitutas constrangendo as pessoas? Será porque o Cuíra não tem ar condicionado, embora os ventiladores instalados garantam uma temperatura absolutamente civilizada?
Vou apenas citar os doze anos tucanos, mais os quatro petistas, em que andamos para trás. É bom dizer que já de antes dos tucanos havia uma queda nas platéias. E eu posso encher o peito de orgulho e dizer que lotava Teatro da Paz, Schivazappa, até com sessões extras.
O problema é complexo, envolve o completo descrédito da Cultura, hoje confundida com lazer. Como disse um conhecido, dia desses, “a gente sai de casa para desopilar o fígado e não para ver o sofrimento dos outros”.
Quanto à sobrevivência, deixando de lado as leis de incentivo à Cultura, municipal e estadual, já que hoje ninguém mais quer patrocinar desse jeito, com medo de fiscalização, optamos pela Rouanet, com algumas possibilidades. Mais do que isso, concorremos e ganhamos alguns prêmios do Ministério da Cultura, Funarte e até mesmo da Secult, na forma de dinheiro, além de nos tornarmos Ponto de Cultura. Depois de três anos de luta extrema, as coisas parecem tomar rumo. O problema é o público. E eu me queixo. Como disse, no começo, não sou inocente e sei o que estou fazendo. O que não compreendo é o afastamento de uma parte do público que era essencial: os formadores de opinião. Eles escrevem blogs, são articulistas, jornalistas, artistas, profissionais liberais que no entanto, percorrem rodas disseminando conceitos dos livros, filmes, peças de teatro, exposições em que estiveram. Onde estão eles? Dão todo o seu apoio. Abrem espaço nos blogs, nos jornais, televisão, recomendam, mas não vão. Então, não estão assistindo nenhuma peça de teatro local ou é somente no Cuíra? Não consigo entender. São pessoas que sabemos, gostam de teatro, de Cultura. Gente importante. Gente com as quais gostaríamos de debater o que foi visto. Não para receber elogios, mas para o debate, para ouvir outros pontos de vista. Para ajudar a compreender. Para dar uma força. Para nos proteger. Para que sintamos alento, pois a guerra é terrível, como se uma montanha estivesse em nossas costas, nos empurrando para a desistência, deixar para lá, ir cuidar da vida. Agora mesmo, parece que estamos perdendo o apoio da Leal Moreira, tão frágil, tão importante para nós, onde ela construiria um mezanino e abaixo, banheiro para o público. Em contrapartida, eu escreveria crônicas para sua bela revista Living. A gente respira fundo, olha em volta e retoma a luta. Depois percebe que isso dá ainda mais força para continuar. Mas há momentos em que desejamos nos queixar, como agora. Onde estão vocês, amigos, gente inteligente, que gosta de Cultura, que vai assistir aos espetáculos. Onde estão vocês? É nosso último final de semana. Barradas faz 80 anos em janeiro. O cara vale qualquer coisa para ser assistido. E Zê Charone dá um show de técnica interpretativa. E agora temos até pano de boca, doado pelo amigo Gerson Araújo, do Centur. Senão é como a frase que está como título, que vi em uma tshirt há algum tempo atrás. Vamos ao teatro, mas não me chame. Isso não pode continuar assim.

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