sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Falta de respeito

Está cada vez mais difícil assistir jogos de futebol realizados no Brasil. Com os canais fechados, há uma profusão de prélios disputados em outros países, sobretudo na Europa. Campos lindos, uniformes, torcida, grandes jogadores e acima de tudo, respeito profissional, ética. Aqui é ao contrário. Talvez seja o espelho do que ocorre em nossa sociedade, o desespero pelo dinheiro, as pressões de todos os lados, a falta de educação, ética profissional. É muito difícil. Nossos atletas disputam as jogadas com total ferocidade. Técnicos mandam cometer faltas para segurar o jogo, evitar contra ataques. Há quem mostre estatísticas com os mais faltosos sendo vencedores. É falta de respeito. Respeito profissional. Considero a falta uma confissão de menor qualidade técnica. é humilhante para quem a comete. Falta de educação para com o jogo, o colega e sim, a platéia que pagou para assistir a um espetáculo de futebol, não de MMA. E se não se respeitam, não respeitam os juízes, que por seu lado, atacados por todos os lados, pressionados e com um esporte onde a bola circula cada vez mais rápido, não se dão ao respeito. Há jogadores que desde o primeiro minuto estão reclamando aos gritos, gestos e palavrões. Não posso dizer que os jogos na Europa sejam o paraíso. Na Itália há também pancadaria. Mas na Inglaterra, por exemplo, há respeito. Há rispidez, lógico, há contato, mas com respeito, ética. Juízes e atletas estão ali para jogar e a platéia para assistir. Nos últimos dias, assisti Remo x Vilhena, horrível. Assisti Fluminense x Corinthians, horrível. Flamengo x Sport, horrível. Me senti desrespeitado.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Barata vem aí, o bicho vai pegar!

Agora contamos as horas para a estréia de Barata, pega na chinela e mata. Foram dois anos entre primeiros estudos, conversas, oficinas, criação, ensaios e montagem. Um orgulho conseguir o patrocínio da Petrobrás. Mais do que isso, poder manter o Cuíra em atividade, mesmo no deserto de idéias em que a área cultural vive no Pará. Aqueles quinze minutos antes de abrir as portas ao público são os melhores momentos de toda uma vida. Quem já viveu, sabe. Perguntamo-nos se "eles virão". Sempre. Olho para trás e vejo o quanto de trabalho foi feito. Já escrevi um bom número de textos teatrais. Acompanhei montagens e agora comemoro minha terceira direção, desta vez, com a parceria luxuosa de Leonel Ferreira. Como começo a escrever? Quando? Não sei. Cada texto tem sua vontade, seu motivo. Nunca sei como iniciar ou onde vai dar. Estudei a vida de Barata. O sensacional livro de Carlos Rocque. Reli Haroldo Maranhão. Raymundo Sobral e Salomão Laredo enviaram livros. Na Conversa Barata ouvi as histórias, conversei com Aurélio do Carmo. Como vieram as músicas? Na rua. Em minha casa, ligando o gravador, deixando fluir a melodia, a letra. Houve uma que fiz a caminho de uma pelada de futebol. Gravei no Iphone. Como um quebra cabeças. Ir e vir nas datas. Meu compromisso é com o espetáculo. As escolas que tratem de ensinar melhor a história do Pará. Não fiz um documentário e sim uma peça de teatro. Para rir, chorar, emocionar e até ficar com raiva. Qual vai ser o processo, desta vez? Não há fórmula, pelo menos eu não tenho. Qual a primeira cena a ser encenada? Os papéis sendo distribuídos. Mudei uma cena inteira na metade do processo. Você escreve, leva o papel para o ator e no dia seguinte o assiste. Legal. Meu irmão Edgar Augusto e os amigos Nilson Chaves e Lucinha Bastos gravaram as músicas belamente tocadas por Jacinto Kahwage. E aos poucos tudo vai encaixando.  E compomos o elenco. Gente do entorno do Cuíra. Prostitutas, michês, gente jovem que fez as oficinas e alguns atores experimentados. Imaginem como juntar elenco tão heterogêneo. Estamos falando de um musical. Canto, dança e teatro. Danilo Bracci e sua equipe deram força na coreografia. Adriana Malato, do elenco, aqueceu as vozes. Klau Menezes nos figurinos. Oriana Bitar na cenografia. A turma vai crescendo, todos estudando, dando seu melhor, opinando, enquanto os ensaios correm e vamos, eu e Leonel, ouvindo a todos, harmonizando, juntando, fazendo um todo. Acima de todos, Zê Charone, a comandante da produção, missão espinhosa, difícil, porque precisa dizer não, muitas vezes. Não pensem que é tudo cor de rosa, bonitinho. Brigamos muito, discutimos, argumentamos até encontrar a direção certa. Ficaram alguns pelo caminho. Houve um atraso. Compromissos. Tristes por quem não pôde continuar, mas o bonde continuou e agora contamos as horas para a estréia.
Pessoalmente não gosto de Magalhães Barata. Não gosto dessas pessoas que se impõe aos gritos, mandonas, fazendo o mundo do seu jeito, centralizadoras, enfim. Não são meu tipo. Mas são de muita gente. Barata, em toda sua longa atuação, ao longo de 60 anos de vida pública, influiu na vida de muitas famílias paraenses. A minha, por exemplo. Tive um tio, Raimundo Camarão, político, que foi embora e nunca mais voltou e outro, Líbero Luxardo, que foi seu braço direito. Na família de minha mãe, situação e oposição, convivendo. Nós, principalmente belemenses, não sabemos nada de nossa história. Fiquei emocionado ao ler Carlos Rocque. Tantas emoções! Belém era como uma Camelot, um mundo à parte, à meia distância de Londres, Paris, do Rio de Janeiro, na época, a capital. Sua gente, acontecimentos, dramas, política, cultural, um mundo maravilhoso que foi extinto com a chegada da Belém Brasília, da televisão e da revolução militar. O Cuíra falou disso tudo. Começamos contando um pouco da Zona do Meretrício em Laquê. Depois, a Rádio Clube em Prc5 - a voz que fala e canta para a planície. Agora vem o Barata.
Tomara que gostem. A equipe está muito esperançosa quanto ao público. Dentro de poucas horas, estaremos nos bastidores de mãos dadas, dizendo as últimas palavras, recomendações, ouvindo o burburinho e de repente, tocará a terceira campa. Um arrepio passará pelos corpos e a cortina abrirá. Nos Estados Unidos, dizem "break a leg". Aqui é o merda! Ao sucesso, Cuíra!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

18tola da Pan

Meu pai fez o possível para que não seguíssemos na carreira de radialistas ou jornalistas. Achava difícil,  mal remunerada. Bem, continuam sendo. Queria que fizéssemos concurso para o Basa, como ele. Não. Hoje, quando olho para trás, percebo que ele tinha razão mas não mudaria em nada. Após algum tempo entre Rádio Clube e fundação da Rádio Cultura, veio a Rádio Cidade Morena. Eu e meu irmão Janjo. Tempos difíceis. Terríveis. Contas para pagar. Pouca credibilidade. Éramos muito novos. Vencemos. Uma briga de família acabou com a Rádio Cidade e adiante, com o Jornal do Brasil que hoje, com novo dono, pode ser lido somente pela web. Mesmo assim, conhecendo as pedras para falar com jovens, continuamos. Os irmãos Carvalho, Tutinha e Marcelo, com a experiência da Jovem Pan AM e a própria FM, partiram para a Rede e nos convidaram. Desconfiado, peguei o avião, liguei no hotel e percebi que era tudo verdade. A Pan Belém iniciou em 22 de agosto. A rede cresceu, virou gigante. De dois em dois anos, work weeks, encontros de Pans de todo Brasil. Neles, somos considerados top de linha. E estamos em Belém do Pará. 
Fazer rádio é um aprendizado diário. Tem alguma coisa de talento, muito de estudo e perspicácia. Todo dia há uma novidade. Equipamentos, novos relacionamentos nas mídias sociais, leitura de estatísticas, números. É a melhor rede de rádios do Brasil, bastava ficar ligado no satélite, ficar sentado, pegando sol, curtindo e ganhando dinheiro. Não. Transformamos os breaks comerciais. Inventamos a relação direta com ouvintes. Fazemos programas locais com o mesmo nível dos nacionais. Bebemos direto da jugular dos jovens a linguagem, gírias, novidades. Tweeter, blogs, faces, twitcam, o que vier nós traçamos. Agora começamos a vender espaços nessas mídias sociais. É tudo tão moderno, veloz e a rádio sendo a base. As coisas nascem com e para ela e o todo é como um oráculo que não somente emite, mas sobretudo retransmite, alimenta e se realimenta. É preciso planejar, saber ler números, mas não esquecer de ousar, brincar, divertir-se. Mesmo com todo o estudo, profissionalismo, uma equipe jovem, multidisciplinar, cheia de gás e conhecimento, todos formados em marketing, jornalismo e administração, penso que o segredo sempre esteve na diversão, na mente aberta à novidade, à curiosidade que mantemos, eu e meu irmão Janjo, ele um excelente apresentador, uma esponja, sempre atento a tudo. O 18tola da Pan é uma jogada de marketing deliciosa, pois se é uma Jovem Pan, nada mais natural do que festejar seus 18 anos, mas é também a possibilidade de festejar um momento incrível em que juntamos competência e entusiasmo, preparo e audácia para ser os melhores. Sinto muito orgulho do que atingi, com meu irmão e a equipe e lembro de meu pai e seus medos. Sim, é uma vida de aventuras e riscos. Por isso mesmo, maravilhosa.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Feliz Dia dos Pais

Agora serei avô. Um menino, que pode ser ariano, como eu. Meu primeiro neto. A notícia veio agora, próximo ao Dia dos Pais. Tenho dois filhos. Se fosse uma neta, seria uma novidade. Mas um neto, um companheiro, puxa, acho que será maravilhoso. Será Flamengo, com certeza, mesmo com os esforços do outro avô, vascaíno. Meu avô Edgar, com quem convivi, não tinha mais essas preocupações. Remista (criou o apelido "Leão Azul"), também estava na fundação do Paysandu. Isso em uma outra época, sem o antagonismo de hoje. Lembro de estar em sua sala, na Rádio Clube, cheia de jornais. Baixinho, cabeçudo, orelhudo, dizia que eu era sua "miniatura". Andava pelas ruas cumprimentando à direita e à esquerda. Todos o conheciam! E quando o professor pediu para ler "Menino de Engenho", de José Lins do Rego (livro que me fez apaixonar pela Literatura), vovô me emprestou seu exemplar, com direito a dedicatória de próprio punho do escritor. No Rio de Janeiro, após o almoço, ouvíamos, alto, Beatles, Rolling Stones e lá vinha ele, dono do ap, de pijamas, chinelo arrastando, pedir com toda a educação, que diminuíssemos o volume para ele tirar sua sesta. Lembro dele, aos domingos, na casa do Lago Azul, paletó de linho, se abanando com uma das mãos e a outra segurando o radinho onde ouvia sua crônica ser lida. Meu avô querido, que já conheci velhinho, sem os poderes que lhe fizeram ser o grande homem que foi, mesmo com a baixa estatura. Seu humor inteligente, de poucas palavras e muita ironia, que penso ter herdado, com meus irmãos. Não me tratava como criança e sim como um colega, "seu" colega, me passando experiência, respeito, caráter. Estava sempre lendo alguma coisa. Os jornais que lhe eram enviados pela Lux. Naquela época, o cliente escolhia os assuntos de preferência e semanalmente a Lux enviava em pacotes, notícias daqueles assuntos, para leitura. Acho que vem daí meu vício pelos jornais. E agora serei avô, próximo ao Dia dos Pais. O meu, é como se não houvesse partido, tão cedo, abruptamente. Está sempre em meus pensamentos. Às vezes rio sozinho quando lembro de algum chiste. Conosco não era expansivo, cheio de gestos. Estava tudo nos olhos, na voz, no comportamento. Durante a infância, estava muito ocupado em uns cinco empregos, para segurar a onda de cinco filhos. Mas quando adolescemos, foi como se uma primavera também acontecesse a ele. Voltou ao violão que havia abandonado ao casar e assumir uma vida "séria". Voltou à leitura, à poesia. Futebol me ensinou a jogar e principalmente, "ver", como jornalista. Lembro do dia em que o comuniquei que iria desistir do curso de Engenharia Civil, na Ufpa e faria vestibular novamente, para Jornalismo. Foi contra. Termine primeiro seu curso, dizia. Não obedeci. Rara ocasião. Compreendia sua posição mas era uma decisão de vida. Que bom que fiz isso. Nos aproximamos ainda mais. Viramos amigos, de jogar conversa fora. Aposentado, estava diariamente em minha sala, botando o papo em dia. Mais tarde, herdei seus amigos, grandes amigos, que passavam para tomar um cafezinho, uma vez por semana, ao menos. Desculpem o lugar comum, mas todo dia é Dia dos Pais. Se ele está comigo em todos os momentos! Tinha um temperamento calmo, mas virava vulcão se provocado. Era tímido, isso, bem tímido, talvez para contrapor o pai, exuberante, amante dos grandes eventos. Então o Clube do Camelo resolveu fazer um show, no teatrinho do Museu Goeldi. Me convidou para dirigir. No palco, ouvindo instruções, rindo em obedecer. Ou então ao computador. Velocista ao teclar, tinha um vício de postura de um dedo das mãos que tocava em uma tecla e, de vez em quando, abria outro documento em branco. Ele não percebia. Me ligava. Esta pinóia apagou todo o meu trabalho! Então ouvia suas queixas e ia até seu escritório, reencontrar seu trabalho. Puxa, como somos amigos! Mas queria, neste Dia dos Pais, quando devo almoçar com meus filhos, queria que ele estivesse comigo, fisicamente. Queria lhe abraçar e ouvi-lo, brincando, "toma a benção, rapaz!". Era especial.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

70 Caetanos

Caetano Veloso é meu ídolo. Minhas primeiras lembranças são de vê-lo, na tv em p&b, fazendo um programa em que acertava canções a partir de pistas dadas. Competia, entre outros, com Chico Buarque. Sim, eu lembro dele no Festival da Record, cantando "Alegria, Alegria". Eu era muito novo mas ele já me despertava com sua agressividade criativa, a figura diferente, a música nova. Lembro de seu casamento, passando na tv e de sua ida ao Chacrinha. E então ele veio a Belém, se apresentar em um festival de música ou de grupos musicais, no Ginásio Serra Freire, do Clube do Remo. Os Baobás acompanhando, ele sentado em um tapete, toma uma flor e começa a comer. Vivendo em Belém, distante de tudo, atrasado nas informações, mas desesperadamente interessado em saber, achei aquilo muito estranho. Muito moderno.. Quando entrei na Rádio Clube do Pará, achei seus primeiros lps e compactos. E então veio o disco do "Alegria, Alegria" e pronto. Tudo o que ele fazia era moderno. Suas músicas, suas letras, atitudes, visual. Eu o entrevistei uma vez, após o lançamento de "Velô". Pareceu-me baixinho, pequeno, mas no palco, um gigante. Como disse no aceso da gravação de "É Proibido Proibir", "eu e Gil entramos e saímos de todas as estruturas". Caetano comentava filmes, livros, tudo. Respondia a insultos. Quando voltou de Londres, pintou a boca, usou saia e tamancos holandeses, imitando uma Carmen Miranda. É muito difícil dizer o que mais gosto nele, mas penso que aquela fase do "Muito", quando corria o Brasil com sua banda, foi maravilhosa. Ele não concorda. Paula Lavigne acabou com isso. Descobriu que aquela turma toda se divertia muito, mas Caetano, um grande astro, não ganhava dinheiro. E aí inicia uma fase em que ele ficou rico e a qualidade, por algum motivo, foi caindo. Seus discos deixaram de ser bons por inteiro. O compositor foi piorando. Desculpe, acostumou-nos tão exigentes! O cantor continuou excelente. Mas penso que nos últimos dez ou quinze anos, caiu muito. Desgosto brutalmente de seus últimos discos, mais roqueiros. Compro, no entanto, porque é meu ídolo e o admiro, mesmo assim. Mais do que de Gil, embora também seja meu ídolo. Mais do que Chico, do qual atualmente gosto mais. Eu achava Chico careta. Me enganei. Mas é que Caetano.. Há pouco ouvi sua discografia. Tem razão, às vezes ele parece apressado em terminar as canções. Há versos que sinto, um pouco mais de trabalho e ficariam melhores. Agora escreve aos domingos em O Globo. Às vezes, muito chato. Escreve muito. Demais. Palavras demais. Incomoda. Em outras, revelações e belezas. Meu ídolo faz 70 anos e me dou conta do tempo que passa, que também tenho cabelos brancos e agora serei avô.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Desafinando o côro dos contentes


DESAFINANDO O CÔRO DOS CONTENTES
Por favor, não me chamem de remista se critico o Paysandu. Nem de petista se falo contra o Psdb ou Pmdb. Acontece muito numa terra onde há muita bipolaridade. Ou é um ou outro. Mas é que sou contra o Terruá Pará. Não gosto do nome, detesto a idéia, gosto muito dos artistas, mas é tudo tão fora de lugar, tão deslocado, que é mais um tabefe na cara de quem faz Cultura por aqui. É como voltar a realizar aquele Festival de Ópera que consumia milhões, fazia a alegria de poucos, apenas por capricho, mas desta vez, usando nossos artistas, grandes artistas, mas precisados de dinheiro, fama, jogando em seus olhos a poeira de um projeto que não está amparado em nada. Mais um capricho. Desde que o Psdb tomou o Poder, para contentar apoiadores eleitorais, fatiou a área de Cultura, entregando-a a políticos ou amadores, cada qual não entendendo a razão de estar ali, mas dispostos a aparecer com farras e quermesses. Isso piorou com o Pt que conseguiu ser ainda pior e agora chega ao ápice. Cada um faz a sua Cultura, do jeito que entende, todos dão tiros e ninguém acerta o alvo, pelo contrário, é apenas gasto. Ao invés de projetos estruturantes de mercado, trabalho lento, para chegar a todo o Estado, inclusive Belém, já que a Prefeitura há muito mais tempo sumiu da Cultura, todos querem fazer gol, correr para o abraço, câmeras, fotos.
Se vem um empresário e resolve investir em uma atração, chamando-a de Terruá Pará, aluga teatro, serviços, geradores, paga cachês ótimos para cantores e músicos, escolhidos segundo sua consciência, grava tudo para ganhar na venda de dvds em embalagens luxuosas, leva para São Paulo certo que a bilheteria será ótima, parabéns. Mas quando é o Estado, com dinheiro público, é mais complicado. Quando é uma Secretaria de Comunicação e não de Cultura, mais ainda. Quando os artistas são escolhidos a bel prazer, ufa. E isso ocorre quando, passados um ano e meio do governo atual, nada, absolutamente nada foi feito para a Cultura paraense. Nada. No máximo, houve inscrições, análise e divulgação de projetos de artistas que receberam aval para a Lei Rouanet. Os teatros estão em obras, se é que estão, o Teatro da Paz cobra 3 mil reais por noite. Será que Dona Onete seguraria três noites seguidas? Como podem querer conquistar o País se ainda não conquistaram seu Estado? Sua aldeia, sua Belém. Realizam sonhos. Gastam alguns milhões.
PARÁ NA MÍDIA NACIONAL
É verdade. Nos últimos tempos, em função de várias razões, temos estado bem cotados no Rj e Sp. Fotógrafos como Luiz Braga, pintores como Emanuel Nassar, artes plásticas e nossa música. Gaby Amarantos foi vista bem antes do Terruá, por Herman Vianna (irmão de Herbert), Nelson Motta e recomendada a uma galera que precisava vender uma novidade ao mercado. Bancada pela Som Livre (Globo), teve a sorte e o talento de estar em todos os programas da tv, jornais e revistas, arrebentando com música tema de novela. Lia Sophia teve a sorte de botar, também, sua “Ai Menina”, que é uma delícia. Tomara que a Gang do Eletro se dê bem. Felipe Cordeiro também havia sido visto. Mas pergunto se, fora Gaby, alguém segura Teatro da Paz, quase mil lugares, três dias seguidos. Será que todos do Terruá aguentariam? Afinal, os ingressos foram de graça. Assim é que é bom! De graça, até injeção na testa. O jornalista Leonardo, de O Globo, a convite do Terruá, esteve em Belém e corretamente, além de presenciar o espetáculo, aproveitou para entrevistar com outros artistas locais. Muito bom.
A REALIDADE
É verdade que declarei que a realidade da Cultura, aqui, não é a do Terruá. Quando acaba a festa e voltam para casa, vem a segunda feira e os artistas se perguntam o que farão em seguida. A nossa realidade é o excelente cantor Arthur Nogueira se mudando para o Rio, onde tentará a carreira. É a ótima Jeanne Darwich, que acaba de voltar do sul onde foi entrevistada em rádios, apresentou-se na Fnac e outros lugares, anunciar que estará cantando no “palco móvel” da Estação das Docas, local mais que humilhante para um artista com obra, com discos gravados, ali funcionando como fundo musical, cantando Djavan e “parabéns pra você” para algum frequentador dos restaurantes, ou na Praça de alimentação do Shopping Castanheira. Essa é a realidade. Todo o dinheiro e energia envolvido no Terruá, toda a alegria das esfuziantes estagiárias, cruzando daqui pra lá com suas pranchetas, toda a certeza de estar fazendo a coisa certa, tudo isso deveria ser dirigido à estruturação de um mercado, aí sim, com a Secretaria de Comunicação agindo através da Funtelpa e adiante, reunindo os mais destacados, de alguma maneira correta escolhidos, para sair em busca de outras áreas, levando cada vez mais longe o nome do Pará. Mas isso demanda tempo, trabalho, conhecimento e a ansiedade de fazer o gol, correr para o abraço, com a certeza de realizar um grande momento, não pode esperar.
A querida colega Márcia Carvalho disse que os que não gostaram do Terruá deviam ser ruins da cabeça ou doentes do pé. Sou um desses. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O Brasil e as Olimpíadas

Muito engraçada a legenda de uma foto postada no Instagram, tirada da televisão, onde o ministro Joaquim Barbosa falava durante o julgamento do mensalão: melhor que as olimpíadas.. Os jogos, que se realizam em Londres, estão sendo transmitidos pela Record, que afrontou a Globo comprando os direitos. As imagens são excelentes, mas as locuções, não. Nossos profissionais se acostumaram a narrar com dose alta de torcida, porque na grande maioria das vezes, trabalham em jogos de vôlei e futebol. Então, induzem o espectador a torcer, acreditar na possibilidade de vitória, que poucas vezes vem. Então damo-nos conta da abissal distância de nosso nível esportivo para as grandes nações do planeta. A entrevista da moça que ganhou a medalha no judô, emocionada, saiu do Piauí, acho, chegou com pouco peso ao centro de treinamento, lutou duramente até a conquista. Os caras do halterofilismo, corrida, tênis de mesa e muitos outros esportes, que não recebem nenhuma atenção, nenhum investimento, que trabalham oito horas seguidas e só depois, usando tênis usados, impróprios, carregando barras de ferro com pesos de cimento, improvisados, de repente vêem-se ali, no ginásio ultra moderno, lotado e com jornalistas brasileiros cobrando resultados. Lutam, dão a vida, não conseguem e nós, aqui, após torcer, resmungamos que eles não são de nada. Passo pelo faxineiro do prédio que olha os últimos momentos da vitória japonesa sobre as meninas brasileiras no futebol. Está revoltado pela derrota, justamente para o Japão! Não interessa se as moças nem tem onde jogar e quando jogam é em campos esburacados, sem nenhuma atenção, à exceção de Marta que foi fazer sua vida na Europa.
E fico pensando nas Olimpíadas no Brasil. Em quatro anos não faremos nenhuma revolução aqui. A geração que chegaria a disputar as medalhas e assim justificar os investimentos feitos, já deveria estar trabalhando há pelo menos quatro anos e isso não foi feito. Pior, estaremos submetendo esses atletas a uma pressão terrível, feita pela família, vizinhos, todo mundo, a tentar vitórias impossíveis. E serão xingados, vaiados, pois temos a mania de achar que vamos vencer tudo, que brasileiro não desiste nunca. Sinceramente, acho até perigoso realizar os jogos no Brasil. Não temos culpa de nada. Ou temos, toda a culpa, por votar em quem não devemos votar.