segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Em pó todos nos tornaremos um dia

Como todos, estou chocado com a queda do edifício Real Class, na 3 de maio. Estava em um clube, antes de jogar futebol e os amigos também chocados, ligados na web e na tv para detalhes. É um absurdo sem tamanho a ocorrência, não bastasse a do Marques Farias, onde, por lentidão de nossa Justiça, todos escaparam impunes. E olha que um dos construtores é meu amigo. Outro amigo, também engenheiro, não permite que façamos logo especulações sobre fundações ou traço de concreto. Sim, é cedo, claro. É preciso um laudo. Cursei quatro anos de Engenharia Civil para saber meros detalhes. Não há terreno enlameado, ou encharcado que não permita fundação. Há fundações mais caras e mais baratas, no tanto que se deve cavar até alcançar a "nega", parte dura do solo e há tambem diferentes tipos de estacas, conforme o tipo de terreno. Quanto ao traço do concreto, onde poderíamos especular que tivessem levado o coeficiente de segurança à insegurança, há exames de corpos de prova que acompanham tudo. Nada disso irá salvar as vidas que lá ficaram ou a empresa de engenharia construtora que tem seu nome desabado em um mercado que vive momento de selvagem concorrência. Pior o rapaz, filho do dono, um ano de formado, responsável pela obra. Não há nada de errado. O problema é que caiu e aí? Quanto custará? Vai fechar a firma e abrir outra, outro nome, outro tudo? Haverá punidos? Como fica o nome da Engenharia no Pará? Há realmente fiscalização? Eu, que sou um leigo, quando passo ali pelo Umarizal, cercado por prédios em construção, cada um acima de trinta andares, não posso deixar de me perguntar para onde vai todo o cocô dessas famílias inteiras que ali vão morar. Há estrutura de esgotos, galerias pluviais? Não, acho que não. E o solo, revolto, as ruas estourando em buracos enormes, interditadas. Ali na Pedro Álvares Cabral, monumentos de concreto, gigantescos, bloqueando o vento. E vem a combinação de chuva e maré para invadir a loja, tão cara, cheia de carros preciosos, estragando os móveis, as vendas. O preço nas alturas. E quem está comprando esses apartamentos de 500 mil reais? Prédios novos, vendidos ainda na planta e depois de inaugurados, às escuras. Quem comprou foi para investir ou para lavar? E desaba esse gigante de trinta e poucos andares em um, dois segundos, transformando anos e anos de credibilidade da empresa e da Engenharia local em poeira. Em pó todos os tornaremos um dia.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Uma guerra perdida?

Todo ano passa parte das férias conosco uma menina que fez um dos filmes da série Tainá, como coadjuvante. Na época, devia ter seus cinco, seis anos, acho, mas agora já está com quatorze. Aconteceu com ela quase o mesmo que com Eunice, a Tainá. Foi encontrada na roça, passou por diversos testes e fez o filme. Como não eram atrizes, passaram por um treinamento específico para cada cena. Cinema é filmado aos pedaços. Não atores fazem muitos filmes. A produção, muito digna, além de cachê e outros cuidados, cuida de toda sua Educação até a Universidade. A sorte de Eunice é que encontrou em uma das produtoras, uma segunda mãe. Com todas as autorizações, claro, mora há vários anos em SP e está linda, inteligente e feliz. A outra menina, não encontrou uma alma salvadora. Voltou para sua casa, com melhorias feitas e como Eunice, custos com Educação totalmente pagos. Mas não foi suficiente, o que me leva a pensar até que ponto foi bom fazer o filme. Se não tivesse, continuaria no século 19 e viveria em sua comunidade. A menina tem problemas. Aos quatorze anos, vai passando de ano, mas não tem nem nenhum amadurecimento. É como se recusasse crescer. Em sua cabeça, penso, ela acha que ao deixar de ser a menininha índia que todos queriam afagar e mimar, será esquecida. Pior é perceber seu nível cultural, certamente devido aonde vive a família. Não sabe de nada, não tem respostas, não responde a nenhuma pergunta. Fala esse dialeto usado por um número cada vez maior de pessoas, até mesmo em Belém. Mas Justin Bibier, sabe quem é. A banda Calypso, também.
Por coincidência, estavam juntas a menina, de 14 anos e outra, de 7 anos, muito viva, vindo de uma dos municípios mais distantes do Pará, mas filha de pai prefeito e de mãe professora. Foi humilhante, ou seja, a escola, de Abaetetuba, que parece ser péssima e o habitat, cercada inclusive por ameaças claras de pedofilia, a deixam em absoluta desvantagem. A outra, morando distante, mas em uma boa escola (parece), mãe e pai de relativa Cultura, está pronta para seguir adiante. E se a menina do filme está em uma posição tão humilhante, mesmo tendo sua Educação paga no melhor colégio de sua cidade, imagine na Jamaica.. Quando leio que as estatísticas demonstram ser o Brasil um dos países em franco desenvolvimento, classes baixas ingressando na classe média, me pergunto se é verdade. O que vejo é o contrário. Um país, um estado em que Educação e Cultura não valem absolutamente nada, gerando cidadãos idiotas, burros, sem opinião, vivendo no século 19 e falando um dialeto absurdo. É uma guerra perdida? Garanto a vocês que é desestimulante corrigir a linguagem a cada duas palavras faladas, gerando inclusive um desconforto na criança, que já nem quer falar, pois não consegue se expressar em nossa Língua Portuguesa. E a ignorancia? E a burrice? Meu Deus.

Hendrix sensacional

Há muito tempo um disco não me deixava tão satisfeito quanto "Up from the skies", gravado pelo duo brasileiro Sambulus, com a obra de James Marshall Hendrix, um dos maiores músicos de todos os tempos. Luana Mariano canta divinamente e toca piano melhor ainda. Caesar Barbosa é um ótimo guitarrista, executando todos os solos difíceis de Hendrix de maneira quase didática, limpa, linda. O encontro de piano e guitarra é sensacional porque possibilita uma observação ainda melhor dos caminhos harmônicos de Hendrix, um gênio a unir diversas correntes musicais como rock, jazz, country, blues, soul, e o que mais aparecer. A melhor não sei dizer, mas a faixa título. mais "The wind cries Mary", "Castles made of sand"e "Are you experienced", são maravilhosas. Como duvido que o cd chegue por aqui, anotem o site do selo que é www.discobertas.com.br

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Cafonice na Cultura

Também sou daqueles que acham que deve haver irregularidades na gestão do Hangar. Mas enquanto não tiver provas reveladas, nada é possível afirmar. É absolutamente cafona a atitude do atual Secretário de Cultura, em mandar peritos, polícia, mequetrefes para vistoriar e receber o Centro de Convenções. Coisa de gente cafona, doida por um escândalo, no qual é especialista e sempre encontra um repórter disposto a dar guarida a esse barulho. Acho que ele pensou em entrar com grande pompa e a diretora de lá, ao depositar a chave em Cartório, o enganou. Com que cara essa figura acorda e vai até o Hangar, entra com policiais e peritos, distribui panfletos, dá declarações. Parece coisa de quintal. O Hangar que tenha suas contas fiscalizadas por quem de direito. E o cara, aborrecidinho, enciumado de terem tomado conta de um brinquedo que ele julga ser seu, mas que é do povo e será administrado por ele transitoriamente, faz essa cafonice.

As autoridades mentem

Não deveria ser anormal ou encarado como uma insolência, cobrar das autoridades o serviço do qual são encarregadas. No entanto, o que vemos no Brasil é "artoridade" aborrecida, insultada quando as perguntas desagradáveis são feitas ou pior, uma técnica que vem sendo usada principalmente pelas autoridades municipais. Após o assalto e esfaqueamento de um casal no final de uma tarde, na Praça da República, o coronel ou cargo que o valha da Guarda Municipal, respondia, tranquilo, que há policiamento suficiente, rondas constantes e absoluta normalidade. Quem frequenta o logradouro sabe que é mentira. Os guardas ficam em altos papos no abrigo. Eles também estão ali, não para policiar nada, ou se arriscar, mas apenas para bater ponto e receber seu pagamento. Quando há algum assalto, ouvem gritos das pessoas e tardiamente, gordos, dão passos largos para não pegar ninguém. Não sou contra os gays que lá têm território livre para namorar, mas tudo tem limites e o consumo de drogas é absolutamente liberado a qualquer hora e sem medo. Depois veio o Prefeito, que usa uma técnica melhor. A tudo que é reclamado, diz que vai começar um grande projeto de forma a transformar aquilo tudo, no valor de xis milhões, e que deve começar dentro de pouco tempo. Bem, já ultrapassamos a metade do seu segundo mandato e nada. Então é entrevistada a diretora de Economia, qualquer coisa assim, a respeito da fiscalização da feira da Barão, ali no Guamá, que é simplesmente um escandalo. Ela também, obedecendo o chefe, declara que vai iniciar um grande projeto ali, no valor de xis milhões e que deve começar logo. Ocupa o espaço da declaração em televisão e não havendo tempo para uma devida contestação, vida que segue. Que merda.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Cabanagem

O dia de hoje devia ser mais comemorado. Sete de janeiro de 1835 foi a data da explosão da revolta conhecida como Cabanagem, única, no Brasil, onde o povo realmente teve o poder nas mãos. Ao contrário, nome de rua é a 13 de maio, ali no Comércio, data de sua rendição. A data é importante para mim. Em 1985, 150 anos a revolta, o governo de Jáder Barbalho resolveu fazer uma comemoração digna. Alguns meses antes li a respeito e resolvi escrever uma peça. Já havia alguns anos desde Foi Boto, Sinhá, meu primeiro trabalho. Cacá Carvalho havia passado por aqui com Antunes e seu Macunaíma. Assisti várias vezes aquelas cenas lindas, com muita gente no palco. Também havia assistido Danton, o elogio da revolução, de um cineasta polonês Andrei Vajda, acho, com Gerard Depardieu. Havia lido muitas coisas sobre a Revolução Francesa. Estava, vamos dizer, empolgado com o assunto. Obtive com o Professor Clóvis Moraes Rego todo o material necessário para a pesquisa. Conversei muito com o poeta Rui Barata, que me visitava no escritório da Rádio Clube e adiante, na Rádio Cidade Morena. Ele me dizia para não tomar partido. Toda revolução dita sua própria moral, dizia. Meu amigo Rohan Lima resolveu produzir. Geraldo Sales e o Experiência. Têka Sallé para dança. Antonio Carlos Maranhão compôs uma valsa, linda, gravada no Rio de Janeiro por Fafá de Belém, especialmente. Conseguimos a boa vontade do Governador, através de Acyr Castro, então Secretário de Cultura e daí em diante, um empréstimo do Banpará, não lembro ao certo, talvez, de 80 mil cruzeiros, assinado pelo Dr. Hamilton Guedes. Ensaiamos por alguns meses no último andar de ensaios do Teatro da Paz. No penúltimo, Teka Sallé e seus bailarinos, incluindo Ronald Bergman. Estreamos no dia 7 de janeiro. Na manhã, o Governador inaugurou o monumento de Niemeyer homenageando os cabanos. O que não esperávamos, aconteceu na véspera. Domingo, praça da República lotada de foliões e blocos carnavalescos (sim, brincava-se carnaval desde o primeiro domingo de janeiro, nas praças, naquela época), recebo uma ligação. Nosso ator mais importante, que permeava todas as cenas fazendo comentários, Sidnei Pinon, havia se retirado do elenco, insatisfeito por não ter seu nome em destaque no cartaz da peça, onde preferimos colocar autores, diretores e patrocinadores. Havia uma solução. Edgar Castro, jovem ator, em outro papel, quase figuração, sabia o texto decorado. Alberto Silva, na época um garotinho, sempre presente, também sabia, mas ainda não era ator. Ensaiamos por muitas horas e estreamos. Banda de música na porta, autoridades, teatro lotado, espetáculo lento. Foi tudo bem. Após, Pascoale di Paolo, que estava prestes a lançar seu livro sobre o assunto, me entregou uma prova que guardo até hoje. Ficamos em cartaz por três meses no Teatro da Paz. Uma façanha. Não consigo lembrar o nome de todos. Grandes nomes. Henrique da Paz, Andréa Rezende, Sonhão, Paulo Fonseca, Rui Cabocão, Cleodom Gondim, o rapaz que fez Angelim que agora não lembro o nome. Tanta gente linda. Gosto do texto até hoje. Quando Edmilson foi prefeito, ouvi alguns comentários querendo remontar, mas foi apenas papo de mesa de bar. Hoje, 7 de janeiro, lembrei dos Cabanos. Ah, mais importante, para verem como estávamos engatinhando no que diz respeito a patrocínio cultural: ao final de três meses, devolvemos 80 mil cruzeiros que o Banpará nos havia emprestado. Isso mesmo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Fundo do poço

Depois de ver uma fotografia feita ontem, no Suriname, onde Remo e Paysandu disputam um torneio "internacional", fiquei entre o riso e a pena por perceber quão fundo é o poço em que está nosso futebol. O centro avante tem mais de 50 anos e é simplesmente o presidente do país. Pior, com uma pança gigantesca. Seu filho é o artilheiro do time. E lá estavam Remo e Paysandu. Péra lá....

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Carlos, o Chacal

Acabo de assistir, cinco horas, direto, uma série de grande sucesso na Europa, produção francesa, sobre vinte anos da vida de Illych Ramirez Valdez, que se tornou conhecido mundialmente como Carlos, um dos terroristas mais procurados de todos os tempos. Tudo é bem antes de Bin Laden, da queda das torres, mas já estava lá, crescendo, lentamente, essa revolta islâmica e sua interpretação absurda do Alcorão. Estava a disputa sangrenta entre israelenses e palestinos. Iraque, Síria, Iêmen, Sudão, Arábia Saudita, todos contra os europeus. Muito bem feita, às vezes mescla ficção com imagens de telejornais da época. O mais incrível é perceber que Carlos é mais um Che Guevara, alguém que dedica a vida a "fabricar guerras e se divertir. Goza a vida assim". É interessante como se torna um mercenário, um terrorista de aluguel. a quem devota ódio, afinal? Ou franceses, americanos, ingleses, são todos um inimigo comum, criado para se ele se habilite a realizar tarefas lucrativas? Carlos esquece completamente, seja a Venezuela, seja a América do Sul, por pura conveniência. Um professor de espanhol em Londres. Venezuelano que estudou em Moscou. Fazem oposição, como tantos sulamericanos exilados ou estudando ricamente em Londres ou Paris. Ms aí vai ficando mais sério e ele percebe que gosta daquilo ao contrário de alguns companheiros. Em uma espiral ascendente os golpes vão crescendo de importância e ele escolhe o apelido "Carlos", para homenagear o então presidente venezuelano Carlos Perez, creio. Forma um grupo, trabalha para árabes, sequestra, explode, mata com facilidade e crueldade. Fica famoso. Entre os golpes, foge até para a Hungria. Vai se tornando desagradável por conta das pressões dos países. Vai para a Síria, Iraque, Sudão. Bebidas, mulheres, de vez em quando um atentado. Mas o mundo muda. Cai o muro. Cai a Rússia. Ele agora incomoda. Os sudaneses o entregam à França, onde cumpre prisão perpétua. Carlos, o Chacal. Gostei muito.