Eu
havia entrado na Ufpa e o cartaz anunciava show de Milton Nascimento no Ginásio
do campus Guamá. Era um tempo nervoso, com a revolução, política estudantil,
essas coisas. Imaginem Milton no auge, acompanhado por Wagner Tiso, Robertinho
Silva, Toninho Horta, o Som Imaginário completo. Lotado. Blackout. Há um
crescendo instrumental. Ao final, Milton, no escuro, canta “Chegou no porto um
canhão”. Arrepiei, tremi, chorei de emoção. Era tudo muito bonito. E depois
veio “porque vocês não sabem do lixo ocidental”. Pqp. Inesquecível.
Veio
Gal Costa com o show “Índia”. Dominguinhos mostrando sua genialidade e levando
o som da sanfona, até então pertencente, digamos, somente ao forró, para os
grandes arranjos. Vem a cantora, no ápice de beleza e potencia vocal, senta em
um banquinho, toma o violão e fazendo movimentos sensuais, abrindo e fechando
as pernas, no ritmo malemolente de “Falsa Baiana”, enlouquece a todos. Usava
apenas uma saia estilo indígena. Dezenove, vinte anos, anos 70, aquilo foi
demais.
Permitam-me
incluir o momento em que Antonio Carlos Maranhão cantou a sua “Nêga”, em um
festival de música, dançando com uma boneca de pano. Genial.
Aí
vieram os Pixinguinhas no Teatro da Paz. Alceu Valença, que ia na discoteca da Rádio
Clube ouvir Ary Lobo. Gonzaguinha também passou alguns dias, tornando-se figura
do Bar do Parque. Lembro Alceu cantando, sozinho, voz e violão, com longas
botas e roupas rock and roll, seus repentes geniais. Sobre um praticável, batia
com os pés e fazia percussão. Foi ele ou Gonzaguinha? Faltou energia. Alguém
acendeu uma vela e o show continuou. Havia também Egberto Gismonti. Várias
vezes. Sozinho e com banda. Misturava tradições brasileiras com jazz e rock.
Uma figura ímpar, mas de difícil acesso.
A
primeira vez em que percebi a poeira no ar foi no Recife, áureos tempos da
indústria fonográfica, lançamento de um dos discos de Elba Ramalho, ao ar
livre. Emocionante. A poeira sobre a multidão, dançando. Isso se repetiu, para
mim, em um Preamar, no estacionamento da Mangueirão. Show da Warilou e a
plateia ensandecida. A glória. E assistir Roger Water e o famoso solo de
guitarra em “Confortably Numb” no Morumbi? Arrepios, tremor, choro. E atrás de
mim, tiozinhos queimando fumo e rindo. E chorar, também, quando Paul McCartney deu os acordes de “All
my Loving”, lembrando toda minha infância. E marejar mais uma vez com “and in
the end, the love you take, is equal to the love you made”. Os Rolling Stones em seu show eterno. Eu e
meu sobrinho Caio, dançando, dividindo emoções, gritando os versos da música.
Tiozinhos e garotada em transe coletivo. Amigos, eu vi.