Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...
Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...
Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...
Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...
Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...
Após ler os jornais e também os blogs que visito diariamente; após ir e voltar do almoço, usando o carro, pensei na letra desta música de Renato Russo e a Legião Urbana, grupo do qual não chego a ser grande fã, mas que quando acerta é no alvo. Melhor ainda o término, quando sob um tapete de bateria, baixo e guitarras "quebrando" tudo, cacofonia, vem Renato cantando uma letra de esperança, que o futuro recomeça, que vem perfeição.
Estamos sitiados em nossa própria cidade, clamando no deserto, tudo aquilo que parece normal e natural em outros países. Estamos reclamando, os incomodados que se retirem, pois há uma nova civilização, uma reconstrução de uma massa de pessoas que sobrevivem reinventando, reaproveitando os restos que recebe, a não Educação, não Saúde, não Cultura, não Emprego, não Porvir. A cada minuto que passa, piora. E nada é feito. Pedir uma revolução? A quem? O Exército que também está aniquilado e sem opinião a respeito? À esquerda radical, desmoralizada pelos novos tempos? À direita ridicularizada? O caos virou normal. E vamos todos para Salinas, mostrar nossos barrigões em alegres fotos regadas a selo preto.
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