sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Replay 2

Tal como informei antes, estou republicando alguns posts que até hoje acho legal e atuais. Às vezes vem a vontade de escrever algo e lembro que já o fiz, antes. Assim, mais um Replay..


CARCAÇAS NOVÍSSIMAS

Quantas vezes você ouviu aquele cd que comprou, antes do novo, que acabou de comprar? Quanto tempo faz que aposentou seu iPod, porque comprou e agora circula por aí com seu nano iPod? Quanto tempo faz que deixou de lado seu computador pelo belíssimo notebook que acabou de chegar? Quanto tempo durou seu carro, até que, ensandecido por aquele comercial, você decidiu comprar o lançamento? Vivemos a era do consumo. Tudo muito tudo agora. De novo! Tudo muito tudo agora. De novo! De uma vez! O mercado tem fome. Você também. É o tempo da infelicidade. Sou infeliz porque não tenho as novas havaianas com desenhos dos cartunistas paulistas. Sou infeliz porque não tenho a nova camisa lançada há dois dias por Fause Haten. Qual a razão da minha infelicidade, hoje? Não há tempo para degustar. Somente para engolir e abrir a boca novamente, para engolir algo diferente. Aquele cachorro robô da Sony, está esgotado na cor branca. Agora saiu na cor preta. Imaginem. Nada de novo. Somente a cor.
Sei que é coisa do passado mas houve um tempo em que chegava o disco de um artista e o ouvíamos sem parar, por uns três meses, decorando as faixas, sabendo as letras, até que chegava o disco de outro artista favorito. Havia um tempo de degustação das coisas. Hoje, a obsolescência do material é tão alta que no Japão, aparelhos de tv são empilhados como lixo, por apresentarem defeitos cujo conserto sairia inviável em preço, sendo melhor comprar um novo. A internet e seus hightlights. A MTV com seus clips de três minutos, levando o jovem a dispersar a atenção com qualquer coisa além disso. Agora, com o vídeo iPod, teremos filmes, curta metragens, outra linguagem completamente diferente. É tela pequena, muda tudo. É como se quisessem comprimir tudo em menos tempo. Não há tempo a perder. Vêm aí os implantes de cultura, como naquele filme do Keanu Reeves? Toda a carreira de Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, sei lá, que maturei em longos anos, a garotada, hoje, faz download e já sai conhecendo tudo. Conhece, mas pôde maturar? Fez digestão? Sacou? Também não gosto dos prolixos, mas é verdade que email e msn, por um lado, estimularam as pessoas a voltar a escrever, mas por outro, também é tudo menor, curto, sem perda de tempo. Repare nas novelas. Cada take não leva mais que dez segundos. Informações subliminares. Torpedos, via celular, cada vez mais curtos, utilizando uma linguagem própria, que encurta as palavras, encantadora, sem dúvida, mas redutora, também. É como deixar de gostar de assistir partidas de futebol e se contentar com os “Melhores Momentos”. E, no entanto, nesse jogo, tudo é importante, porque há um contexto a perceber. E o que é feito com todo esse equipamento que fica velho, mesmo sendo, ainda, absolutamente novo? Vira decoração, fica jogado nas estantes, não tem serventia. Se é alta a obsolescência, também é o descarte. E é um material que não vai se consumir. Vai ficar. E ao mesmo tempo, o fosso entre os ricos e os pobres é cada vez mais profundo. Por que será que ninguém pensa neles? Informação é poder. Um computador, por exemplo, ainda novíssimo, mas obsoleto para você que já tem o novo notebook Vaio, da Sony, é essencial para quem precisa. Para quem não tem, é um tesouro. Um cd player substituído por um iPod. Máquinas fotográficas que ainda usam filme, substituídas por digitais. Para onde vai esse mundo de equipamentos descartados? Teríamos a humildade, juízo e generosidade em entregar em postos autorizados esse equipamento substituído, para que fosse entregue a quem não pode comprar? E seria entregue? Continuaremos feitos uns malucos, comprando e gastando cada vez mais e mais? Seduzidos pela propaganda? Iludidos pela fome do mercado? Devorando o que nos apresentem? Sem mastigar, sem sentir o gosto, sem fazer a digestão? Quando deixaremos de ser infelizes por não ter um celular último modelo, que faz tudo, só falta falar e que está sobre a mesa daquele restaurante, sendo propriedade de outra pessoa? É cobiça que nos move? É ascensão social? Psicólogos não gostam, mas há pessoas que quando estão deprimidas, correm para um shopping onde compram de tudo. Presenteiam a si próprias. Inflam o ego. Será que realmente queremos tudo isso? É novo, eu quero. Tudo muito tudo agora. De novo! Tudo muito tudo agora. De novo! Pense nisso. Liberte-se. Não precisa virar nenhum ermitão, ou guardião de carcaças novíssimas, mas é bom escolher bem suas guerras. Você realmente precisa deste ou daquele aparelho, que promete armazenar tantos dados que nem em três vidas você daria conta de preencher? Mas aprenda a degustar. Curtir. Qual é a sua?

2 comentários:

papistar_nunes disse...

Um caso sério a se pensar!!!
Os aparelhos diminuiram e armazenam mais informaçãoes,o nosso tempo diminuiu, e não temos nem tempo para ler o que armazenamos.
O tempo só aumentou, para os adolescentes ociosos que não gostam de ler e se pregam no telefone e no computador falando com a mesma pessoa ao mesmo tempo(porque será que eles fazem isso?) os amigos e namorados ociosos também.
Quem manda pai não ter tempo para ler?Quem manda avô e avó virar babá de seus netos e não ter tesão para contar histórias pois estão cansados e revoltados?E aí, onde ficam os exemplos para implantar nos jovens o belo e prazeiroso hábito da leitura?
Não adianta churumingar, isso só serve para nós como desabafo pois o consumo está aí na porta, como um dragão fumacento, desesperado, com a boca aberta, enorme pronta para engolir os desatentos espírituais.Olhe o Boulevard!!Ainda não entrei.É lindo? Para mim amedronta um pouco.Sei que lá tem a Tv que preciso e até a que não preciso por não caber na minha casa e que tiraria o meu imaginário de leitora por dispersar olhando a sua bela e enorme imagem.
Porisso,só me resta pedir aos meus amigos "desatentos":voce tem um Ipod, um celular, uma Tv mais ou menos?Se tiver me dá tá pois eu estou doida para entrar no Boulevard e ajudar na profecia Maya que se avizinha em 2012 ahahahahahaha. Beijos meu cuí de biscoito. Te amo!!!

Edyr Augusto Proença disse...

Obrigado, querida
Saudades
Bjs