terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Bookends

É porque eu estava no carro e tocou "Bookends", com Simon & Garfunkel, uma canção que me leva para a adolescência, a alegria, esperança e melancolia pela timidez que me caracterizava. Eu gosto do Natal. Não me interessa se é uma data consumista. Também sou consumista. Me policio quando meu consumo se aproxima de uma atitude contra a ansiedade que tenho, muita. Mas minha família me acostumou ao Natal. Família grande. Quando éramos crianças, a entrega de presentes acontecia na manhã do dia 25. Então ganhei um "papafilas", que havia pedido. Um ônibus, puxado por um "cavalo de aço". E depois fui desfilar com ele no Lago Azul. Meu pai estranhou, quando voltei. Ao invés do "papafilas", eu puxava pelo fio um caminhão artesanal, feito com latas de óleo de cozinha, rodas com tampas de refrigerante. Eu trocara meu "papafilas" com Cícero, um dos filhos do caseiro. Paciência.
Também na minha infância, lembro do primeiro contato com Papai Noel. No térreo do Edifício Renascença ficava a loja Salevy, de Samuca Levy, a quem chamava de tio. Na época do Natal, a loja, que era uma espécie de shopping da cidade, invadia a calçada com barraquinhas e em um determinado dia, fazia a "chegada do Papai Noel". Durante a semana, corriam boatos que Noel chegaria de helicóptero ao teto do prédio. Quanta imaginação. Era um senhor apelidado de "Buraco", que ganhava a vida fazendo propaganda volante, pelas ruas do comércio, aproveitando para cumprimentar os amigos que passavam. Pai da família dona da Rauland. Ele era Noel. Chegava mais cedo e ficava escondido, aguardando o momento. Para passar o tempo, tomava umas e outras. Lá fora, uma multidão vibrava, enquanto Noel descia e em cada andar ia até o pátio para jogar bombons. E quanto mais ele se aproximava do quinto andar, maior era meu sofrimento. Noel em pessoa? Quando enfim ele entrou, me joguei embaixo de um sofá e o deixei entrar e sair livremente. Depois, Edgar veio me contar, curioso: Papai Noel conhece o papai. Chegou, falou com ele e olha, Papai Noel bebe! Papai deu a ele um copo de whisky. Mas como meu pai o conhecia? Será que poderíamos abusar daquela amizade e escolher alguns presentes?
Algum tempo depois quebrei a inocência de meu irmão Janjo ao leva-lo a esconder-se comigo atrás de uma poltrona e assistir nossos pais arrumarem os presentes. Foi mal.
O Natal começava nos primeiros dias de dezembro, na montagem da árvore. Claro que ficávamos distantes e ameaçados, já que certamente quebraríamos as bolas, na época, de vidro. Havia miniaturas, presépios e toda a cerimônia e estórias contadas por minha mãe. Estávamos de férias e aproveitávamos tudo. Hoje penso como ela dominava nossas mentes, povoando-as de imaginação.
Mas houve, mais tarde, um Noel bem interessante. Era Acelino Campos, a quem chamávamos de tio. Já velhinho, aposentado, vestia a roupa vermelha e ia de apartamento em apartamento fazendo carinho nas crianças. O problema é que o Tio Campos também gostava de beber umas e outras e quando chegava no quinto andar, já estava bem "encharcado", dizendo palavrões, xingando todo mundo, até que sua esposa, cuidadosamente o retirava do ambiente.
Eu gosto do Natal. Eu e meus irmãos sempre fomos calorosos e irônicos em nossas brincadeiras. Meus pais. O velho vinha com um envelope e entregava um cheque de presente. Coisa pouca, uma lembrança, claro. Como sinto falta dele!
Um dia me dei conta que era um perfeito adulto. Agora, eu recebia cartinhas de meus filhos. Dava dinheiro para as listas de natal. Mandava preparar bolos, doces, a ceia. É uma sensação diferente, mas confesso que acho um grande barato sair e comprar presentes. Gosto de presentear. Faço isso com amor. Quero presentear meus próximos. Fico feliz, assim. Não me queixo nem fico insuportável por conta do exagerado consumo, como gritam. Neste Natal dois irmãos estarão fora, bem como suas famílias. Eu mesmo estarei sem um de meus filhos que está longe, viajando. Eu e os irmãos somos todos de meia idade para cima mais cônjugues, namoradas, filhos e suas esposas. Um grupo mais heterogêneo. Mas quando chega a meia noite, rezamos e distribuindo presentes, os nomes cantados em voz alta, descubro-me a mesma criança que pediu o "papafilas" de Natal e o trocou por um caminhão artesanal, feito com latas de óleo. Sinto uma melancolia gostosa que nada mais é do que nostalgia pelos Bookends e a emoção de poder estar aqui, com as pessoas que amo, principalmente minha mãezinha querida.

Surpresa?

Quem tem tv a cabo ou é meramente mais curioso além dos jogos de futebol que passam nos canais abertos, sabe perfeitamente o tipo de futebol que vem sendo jogado na Europa, principalmente na Espanha, precisamente pelo Barcelona. Hoje, muitos jovens já torcem abertamente por Barça ou Real, Arsenal ou Manchester, atraídos pelo bom e moderno jogo, os gramados perfeitos e a ética posta em prática. Tudo ao contrário que acontece no Brasil. Durante a semana que antecedeu ao jogo entre Santos e Barcelona, não me preocupei com as manchetes enchendo a bola de Neymar & Cia. Tudo era promoção do jogo. Mas parece ter sido necessário os brasileiros levarem o previsível baile para que todos se dessem conta do abismo em que nos encontramos. O que melhor tem saído é que a derrota fez o futebol brasileiro ir para o divã. Agora, todos querem mudanças. O técnico do Santos, com a estupidez usual, fez de conta que não levou uma lição atordoante. Pepe Guardiola ainda deu a última bofetada, dizendo que o Barcelona tenta jogar como os brasileiros jogavam. Na América do Sul, recentemente, o tipo da Universidade Católica do Chile tornou-se campeão da Copa Sulamericana de maneira invicta. Deu surras no Flamengo e Vasco desmoralizantes. Seu técnico, desconhecido, argentino, copia o modelo catalão de jogar. Quanto menor a distância entre o último defensor e o último atacante, mais compacto estará a equipe. Toque de bola. Toque de primeira. Toque rasteiro. Não desperdice a bola. Controle da bola pelo maior tempo possível. Circulação da bola, como no basquete ou futsal, aguardando uma infiltração, geralmente na diagonal, para driblar o impedimento. E gente que sabe jogar bola. Todos. Um zagueiro como o esforçado Durval, não poderia estar ali, naquele jogo. Não sabe jogar. Está nervoso. Neymar é melhor que Messi? Não brinquem. O brasileiro até pode chegar a ser como o argentino, mas vai precisar jogar competições importantes, suportar pressão, jogar para o time, ter toda ética do mundo, disputar Copa do Mundo e ser um gênio. Ainda falta muito. Fiquei com pena de Ganso. Não conseguiu jogar. Ainda assim, foi autor dos poucos passes, dois ou três, que representaram perigo para Baldez. E Mano Rodrigues, o que diz? Até agora sua seleção serviu apenas para vender o passe de corinthianos ruins de bola. Não tem seleção, não tem esquema, não tem nada. Será que há porvir para nós?

Sem noção

Não é querer ser saudosista. Achar que o passado é melhor, mas creio que a juventude de agora, em Belém do Pará é simplesmente sem noção. Não posso acreditar quando jovens que estudam nas melhores instituições (se é que elas existem por aqui), viajam para os melhores lugares no exterior (se é que realmente vão aos melhores lugares), vestem as roupas de griffe e trafegam em pequenos caminhões brancos, reluzentes, importados, pois bem, não posso acreditar quando lotam lugares tidos como os mais badalados para ouvir música sertaneja! É demais. Mas acontece. Há comerciais na tv dos discos desses ninguéns (para mim). Ouvi alguém chamar de "sertanejo universitário", o que é muito pior. Seria o "agrobrega". Até o final dos anos 80, para não ir muito longe, a juventude optava pelo rock, mesmo o de bermudas dos Paralamas ou o político dos Titãs. O rock continua sendo exaustivamente usado por toda a propaganda jovem, por sugerir uma rebeldia que já não existe. O tal "rebelde sem causa" do Ultraje a Rigor. Mas o jovem brasileiro, com tantas causas a abraçar, prefere uma cerveja e um abadá para pular e beijar até cansar. Mas sertanejo, please, é demais. Estéticamente não consigo achar o ponto. Sei que depois do rock anos 80, veio a mistura de brega e balada. Que os sertanejos entraram na onda. Então houve uma queda, talvez por excesso de exposição de Chitãozinho (que apelido!!!!) e que tais. De repente, duplas de jovens bem apessoados, mas extremamente cafonas toma conta do Brasil e em Belém, muito mais. Sertanejo universitário!!! É o fim do mundo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Ávida Vida que segue

1. Como foi pensado e produzido o livro. Quanto tempo levou para ser concluído?
Há um ou dois anos atrás, lancei “O Tempo do Cabelo Crescer”, uma seleção feita entre os poemas dos livros “Navio dos Cabeludos”, “Rei do Congo”, “Surfando na Multidão” e “Incêndio nos Cabelos”. É porque fazia muito tempo que não lançava nada em poesia, acabei me dedicando a outros gêneros e com o livro, quis me reapresentar. Já o “Ávida Vida” reúne poemas que escrevi ao longo de uns cinco anos, muitos deles por provocação de meu irmão Janjo, a quem o trabalho é dedicado, autor de todas as capas dos meus livros. Ele me provoca com imagens feitas para toalhinhas do Roxy Bar e eu escrevo. Achei que era o momento de reunir essas obras e pensei em uma frase de Pirandello, que ouvi na peça “O Homem com a Flor na Boca”, encenada pelo Cacá Carvalho: a vida é tão ávida de si mesma que não se deixa saborear”. Então virou “Ávida Vida”, que tem tudo a ver comigo. Sou curioso e ávido por informação. Faço várias coisas ao mesmo tempo. Estou sempre cheio de projetos. E a vida é tão veloz, há tanta informação pipocando aqui e ali que fazem acelerar mais ainda minhas sinapses.
A capa do livro é autoria de meu irmão Janjo, mas a foto é do amigo Luiz Braga. Fiquei feliz em perceber que ele usou a mesma técnica de seus últimos trabalhos, a partir de night shot. Foi feita na Praça da República, lugar importante para mim, em um obelisco feito para homenagear Magalhães Barata em sua Interventoria, creio, em 1930. É um lugar bonito, muito abandonado, mas que nos últimos dias vem recebendo uma maquiagem da Prefeitura. E é foto de Luiz Braga, não é?

2. Faça uma breve descrição do livro.
A poesia é tão rica, tão vária, que me permite escrever. Li um escritor francês, jovem, dizendo algo maravilhoso: escrever é muito fácil. Por isso é tão difícil. Respeito muito os poetas que maturam anos e anos seus poemas, como ourives. Eles estudam, sabem as regras, e eu não sei nenhuma. Me tornei escritor por pura ousadia. Não sei bem se escrevo poemas. Quem sabe pequenas cenas teatrais com um vies poético? Como disse, é tão vária? O golpe poético nos atinge sem mais nem menos e emociona. Como abrir uma gaveta e encontrar pistolas adrianino, fazer a faísca e iluminar a noite de uma cidade cinza. Se são autobiográficos? Não sei, quem sabe? Às vezes. Um escritor escreve sobre o que vê, sobre o que quer dizer. Usa mascaras, personagens, mas às vezes usa mascara de seu próprio rosto. As palavras são navalhas.

3. Ele é distribuido por qual editora? Onde pode ser adquirido?
Não, este livro não é distribuído por ninguém. A poesia tem tido pouco mercado, pouco interesse. Acham chato, respeitável demais, difícil de entender. Queria que o poeta voltasse a ser como um cantor pop, identificado com o público. Queria excitar as pessoas, acertá-las com o golpe poético. Às vezes, um sorriso de canto de boca já me sacia. Como Haroldo Maranhão, sou como um cão hidrófobo que sai pelas ruas à procura de uma vítima, um leitor. Nesta terça, no Teatro Cuíra, onde será o lançamento, haverá no palco um microfone. Quem for até lá e ler um dos poemas do livro, o receberá gratuitamente. Quero que circule. Quero ser lido. Quero a poesia lida. O que sobrar, ainda vou pensar onde colocar à venda.

4. Fale sobre sua carreira como escritor.
Comecei escrevendo uma peça de teatro, “Foi Boto Sinhá”, com a ajuda do grande poeta José Maria Vilar Ferreira. Acho que venci a timidez de apresentar algo de minha autoria. Estava lendo os poetas marginais nos anos 70 e percebi que vinha escrevendo algo semelhante. Paes Loureiro, que fez a apresentação do meu primeiro livro, disse que eu trazia comigo a informação da música pop. Correto. Escrevi outros livros com poemas, duas fitas cassete, reuní meus textos de teatro, depois vieram romances, crônicas, contos e agora retomo a poesia. Com os romances, fui lançado nacionalmente. Um deles, “Casa de Caba”, foi traduzido e lançado na Inglaterra, com o título “Hornets’Nest”. Também participei de coletâneas nacionais e internacionais, estas, lançadas no Peru e no México. Tudo o que escrevo se passa em Belém, meu cenário, minha casa. Pretendo no ano que vem lançar mais um livro nacionalmente, “Selva Concreta, com short stories, episódios de uma fictícia série policial de televisão, claro, passada em Belém.

4. Quantos livros publicados (nome + ano)?
Não sou muito bom em datas.
Navio dos Cabeludos, poemas
Rei do Congo, poemas
Surfando na Multidão, poemas
Incêndio nos Cabelos, poemas
Os Éguas, romance, Boitempo Editora
O Teatro de Edyr Augusto, textos teatrais
Moscow, romance, Boitempo Editora
Crônicas da Cidade Morena 1, crônicas
Casa de Caba, romance, Boitempo Editora
Crônicas da Cidade Morena 2, crônicas
Um sol para cada um, contos, Boitempo Editora
O Tempo do cabelo crescer, coletânea de poemas
Ávida Vida, poemas