sexta-feira, 23 de maio de 2014

A FEIRA DO LIVRO DE SALOMÃO LAREDO




Grande idéia do escritor Salomão Laredo. Enquanto o governo faz sua Pantética Feira do Livro, ele faz a sua, na Livraria Fox, reunindo todos os seus livros à disposição do público e com sua presença, para autógrafos, a partir do dia 30. Gostei tanto que já pleiteei junto aos proprietários da Fox, a realização de uma Feira com vários outros escritores, com seus livros e presença. Vai ser ótimo para a livraria e para nós. Em outra direção seguem colegas como Alfredo Garcia que, para protestar contra as “não condições” dadas aos autores locais na tal Feira Pantética do Livro, alugou um stand, com seus confrades, para expor e vender suas obras. Quer dizer que o governo não exerce sua obrigação, pisa seguidamente sobre escritores, relega-os a posições humilhantes, stands sujos, mal iluminados e a forma de protestar é pagando por um melhor lugar? Não. Discordo, querido Alfredo. Salomão fará melhor. Sei que em função de reclamações feitas, algumas promoções têm sido feitas em cidades selecionadas, mas que adianta levar escova de dentes mas não levar a pasta? A Feira Pantética é perversa e incompetente. Se um empresário decidir realizar uma Feira do Livro, alugar espaço, sub locar para editoras e livrarias os stands, convidar famosos autores brasileiros que virão com bons cachês, dar palestras e ao final de tudo, lucrar com alugueis ou percentuais, mais bilhetes de entrada, tudo bem. Parabéns. Mas quando é o Governo, está tudo errado. Uma Feira de Livro somente pode existir como um ápice, o resultado de um programa que durante o ano irá promover concursos e editar livros de jovens autores, seguindo depois com eles pelo Estado, apresentando-os e recebendo autores de cada cidade. Se relançar livros importantes, já esgotados. Se popularizar os autores que atualmente produzem trabalhos. E espalhar pelo Estado. E então, ao final do ano, apresentar os resultados em uma Feira onde o autor paraense é a estrela, juntamente com alguns famosos nacionais que virão trocar idéias. E aí, escolherá um patrono, como Bruno Menezes, por exemplo, mas reeditará suas obras, distribuirá pelo Pará, fará rodas de discussão, concursos de redação e o festejará na Feira. Nada disso é feito. E não é paternalismo. É fomento, estímulo à criação de um mercado. É assim que se faz. Mesmo o IAP com suas publicações, não chega a lugar algum. Os resultados ficam nas mãos dos premiados e algumas bibliotecas, penso, no Estado. Nenhum trabalho posterior é feito. Famosos autores nacionais saem maravilhados. Ganham cachê, encontram plateias lotadas, mesmo que poucos adquiram seus livros, são levados a passear, comidas exóticas, bom hotel e no retorno, gabam seus cicerones, para gáudio das figuras. Eu também gostaria e nem me lembraria de perguntar por autores locais. Ora, autores locais! E são stands horrorosos, feito camelôs, com livros velhos a preço de promoção para desencalhar. A idéia de realizar a Pantética Feira ao final do primeiro semestre é pavorosa. A desculpa de distribuir melhor o dinheiro para não prejudicar o festival de ópera é ridícula. Por isso tudo, não posso concordar com Alfredo Garcia e outros colegas que respeito muito. Precisamos reagir. Dar de frente. Não somente torcer para esses caras irem embora após a eleição. Prefiro festejar Salomão Laredo, que fará sua Feira do Livro e também tem grande atuação junto às escolas que precisa de todos os elogios. Viva Salomão Laredo e sua Feira de Livro na Fox Livraria.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

VIDAS NAS PONTAS DOS DEDOS

DENTRO DA CASA
É o título, no Brasil, do filme de François Ozon, com alguns bons atores como Kristin Scott Thomas, Emmanuelle Seigner e Fabrice Luchini em destaque. Filme europeu, francês. Fala-se muito. Pouca ação, mas funciona.

O professor de alunos entre 14 e 16 anos é casado com uma galerista, sempre em dificuldades de vender obras de arte moderna. Ele, entediado, corrige redações, reclamando que escrevem umas três linhas e só. De repente, algo bem maior, interessante. O garoto vive com o pai que é deficiente e estuda com bolsa. Mas escreve bem. Observa a família de um colega, classe média. Sabendo de sua dificuldade em matemática, oferece-se para dar aulas. No texto, descreve o que viu e o que ouviu. Ao final, arremata com, “continua”. Mas como? O professor se interessa, escritor frustrado que é. Dá apoio, sugere, corrige, cita famosos escritores como Flaubert. O garoto, agora, é amigo da família. Enquanto o colega faz exercícios, perambula pela casa e depois escreve. Ih, o colega vai se sair muito mal na prova e provavelmente contratarão um professor e acabou a escrita. Como assim? Sem a observação, acabou. Nesse ínterim, o professor e a esposa lêem, comentam e acompanham. O mestre rouba a prova, copia e a passa para o rapaz que tira o máximo em nota. Um crime. Como pôde? Agora, mercê de sua boa conversa e vocabulário, ao contrário do filho, o rapaz é o melhor companheiro do pai, um homem de vendas em crise e da mãe, a bela Emmanuelle Seigner, uma dona de casa entediada e decepcionada com a vida, mas linda. A corda é esticada ao máximo e há, evidentemente, uma explosão. O que é delicioso de acompanhar é o surgimento de uma narrativa e suas possibilidades. Uma sensação maravilhosa que todo autor sente, ao escrever. Os filhos, a namorada, amigos que por algum motivo lêem originais, começam a opinar, torcer, sugerir, identificar-se e o autor, senhor daquelas vidas, ou atende aos reclamos ou segue direto, naquilo que entende ser o melhor e correto, ao que se propôs. Isso, faço muito. Não gosto muito de finais felizes. O mundo está acostumado com happy endings. Não o contrario por charme, boutade, mas obedecendo ao que foi escrito, aquilo que inexoravelmente vai acontecer, claro, se você não for um Dan Brown, por exemplo, que a cada capítulo precisa submeter as idéias ao editor, por conta de uma venda de milhões de cópias do livro/produto. O filme de Ozon propõe discussões interessantes, faz pensar e é muito bom para quem escreve.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Barbárie imitada

Meu amigo tem 13 anos e estuda em um colégio particular de bom nível. Mas hoje, definitivamente, fiquei chocado. Ele sempre me conta que todos ficam manipulando celulares em zapzaps, faces e games, enquanto a professora, no melhor estilo dinossauro, tem uma lousa e giz para enfrentar. Há bullying severo. Agora me contou de um garoto tímido e calado. Chamam de viado. Perseguem. Simularam vôlei com bola de papel. Ele rebateu errado a bola lançada de maneira a forçar o erro. Foram dar um "samba". Alguns com mão fechada. Ele caiu. Chutaram sua cabeça. Vamos dar queixa na Diretoria. Disse que não. Nada vai acontecer e eles vão ficar com mais raiva de mim. Imagino a tensão, a violência, o medo, sensação de impunidade e insegurança na cabeça do garoto. A barbárie vai se espalhando. Linchamentos a toda hora. Todos querem dar um chutinho, um murro, descontar nem sabem o quê. Estamos de peito cheio, no talo. O Brasil tem ódio de si mesmo, diz Jabor. Educação e Cultura não existem. "A bomba Z é essa massa atônita", cantava Ednardo. Nas mídias sociais, cenas de gente sendo decapitada, linchada, surrada. A garotada ligada nas telas, quer repetir na sua realidade. Que perigo! Que absurdo!

sábado, 3 de maio de 2014

Literatura Paraense

O Helder Bentes fez uma postagem muito interessante, provocando os escritores que moram no Pará a uma reflexão a respeito da falta de interesse de patrocinadores, falta de iniciativa, falta de mídia, falta de tudo com relação à Literatura produzida aqui. Paulo Nunes e Alfredo Garcia já contra argumentaram, mas gostaria de também expor minha opinião.
Helder acha que devemos reagir contra essa passividade que aguarda uma movimentação do Governo para que possamos publicar alguma coisa, mas acho que precisa saber que há uma crise em todo o País, com graves problemas de Cultura e Educação. Há poucos leitores, principalmente para literatura nacional. Isso, uma coisa. Trazendo a situação aqui para o nosso Estado, para facilitar e diminuir a discussão, gostaria de dizer que diante da ignorância de nosso povo, da falta de investimento na Educação e Cultura, falta de interesse de uma grande cadeia como a Saraiva, deixando apenas a Fox cuidar disso, já se faz muito. Mas Cultura não se faz somente com iniciativa, vontade de brigar. É preciso profissionalismo, o contrário de política de balcão. Está na Constituição a obrigação do governo em investir na Cultura, dando toda a condição aos artistas de leva-la ao povo e dando ao povo todas as condições para usufruir desta. Secretarias de Cultura precisam funcionar de maneira profissional. Em um Pará deste tamanho, precisa ter sub sedes. Precisa conhecer quais são seus escritores, neste primeiro instante, sem pensar se este é melhor do que aquele. Precisa tornar estes escritores, com obras publicadas, se tanto, conhecidos na região. Precisa publicar editais para o lançamento de livros de novos escritores. Precisa republicar livros importantes, fora de catálogo. Precisa fomentar a criação e funcionamento de um mercado literário. Leva tempo? Sim. O estrago que vem sendo feito há vinte anos é enorme. Mas é preciso fazer. Além das sub sedes, há Belém, onde o processo se repetirá. Só então, promover uma Feira do Livro, onde a festa do livro é a festa do autor local, a essa altura, ao menos, com um frágil mas existente mercado local. Podem vir esses autores nacionalmente famosos, para chamar público, mas também para dividir atenção com os locais, que terão seus livros mostrados em grande stand e também farão noites de autógrafo, palestras, enfim. Assim, Helder, em alguns anos, poderemos considerar a existência de escritores paraenses, claro, os que moram aqui, produzem aqui. A essa altura, uma cadeia como a Saraiva, que trabalha para ganhar dinheiro, atenderá a pressão, vamos chamar assim, à procura por livros de autores locais. O mercado existirá. Isso é Política Cultural, feita por profissionais, técnicos, em prol dos escritores.

Tenho doze livros lançados, a maior parte às minhas expensas, trocando a impressão por propaganda na minha rádio e somente há alguns anos, tive a sorte de ser lançado nacionalmente. Hoje, inicio uma carreira na França, já com dois livros lançados, outros comprados, e também publiquei na Inglaterra, Peru e Mexico. Em diversas outras situações, expus meu raciocínio, minhas idéias. Por isso não concordo com o amigo Alfredo quando este participa, por exemplo, desta vergonhosa Feira Amazônica, onde somente livreiros e autores convidados ganham, estes, grandes plateias, afagos, almoços e jantares, indo embora felizes, enquanto nós, escritores, no máximo, temos um stand deslocado, mal iluminado, triste. A isso, me desculpem, me recuso.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A Cultura do Churrasquinho



A partir do convite do amigo baionense Gerson Nogueira, estarei de agora em diante por aqui, sempre às sextas, as festejadas sextas! Circule pela cidade e perceba, no ar, uma fumaça proveniente de um sem número de estabelecimentos dedicados a vender churrasquinhos, espetos e que tais. Todos os lugares estão lotados, ocupando as calçadas. Seria uma saudade dos tempos que “méleB” era chamada de “Petite Paris”? Os boulevares com calçadas enormes ocupadas por mesas, cafés, com as pessoas transitando e mostrando todo seu charme? Quem dera. Como uma demonstração do caos, da babel em que vivemos, as mesas ficam muitas vezes direto, no asfalto. Carros, motos, bikes e vendedores circulam. Monitores de tv mostram gladiadores modernos a se arrebentar eternamente no que chamam de MMA. Artistas, pensando que fazem show e esquecendo que seu trabalho é somente fornecer alguma música de background, aumentam ao máximo a potencia de seus amplificadores e berram por atenção. O cheiro de churrasco contagia, anestesia. A cerveja completa a festa, com calabresas e outros. A Cultura do Churrasquinho. É assim que estamos, nesta ausência de Cultura em nossas vidas. Na Cultura do Churrasquinho, ninguém pensa em nada. Não há refinamento, pensamento crítico, discussão. Qualquer pedaço de carne serve. Esquenta, joga um molho, misturado com o suor do churrasqueiro e estamos feitos. Assim a nossa Cultura. Desaparecemos. A total ausência de Cultura, que já dura vinte anos, nos levou a um buraco profundo. Para sair de lá, necessitará um bom tempo e trabalho profissional. No mundo inteiro a Cultura se profissionalizou. Gera empregos, impostos e mais do que tudo, gera inteligência, sabedoria. Hoje ninguém vai ao teatro que se faz aqui. Exceção de algum global que se apresenta no Teatro da Paz com direito a sessão extra. Antigamente, ir ao teatro significava assistir e depois sair para conversar, discutir o que havia sido visto. Aos shows, também. Hoje, nos shows, enchemos a cara, pulamos e saímos carregados. Nossos escritores lançam livros para seu círculo de amizade que acorre no lançamento. Somente a Fox Vídeo destina espaço para a literatura paraense. E nem me falem nessa Feira da Secult, vergonhosa, homenageando o Catar. Catar? Não há reflexão, interesse em discutir. Henrique da Paz me conta que vinha com sua turma de Icoaraci às sextas para assistir filmes no Cine Palácio, sessões inesquecíveis onde conhecemos Buñuel, Fellini, Antonioni e outros. Depois, iam discutir o que havia sido visto. Minha estréia no Teatro, com “Foi Boto, Sinhá”, em parceria com José Maria Vilar, foi em um Teatro da Paz lotado. Hoje, temos um público que varia, talvez entre 500 a 800 pessoas. Quando há um espetáculo, sinto-me como aqueles cristãos em Roma, reunidos nas catacumbas, às escondidas. Edwaldo Martins apoiava e as vernissages eram lotadas, chic ter um quadro de Dina Oliveira em casa.

Temos talento. Atores, escritores, músicos, cantores, pintores. Quando será que nossos governantes darão à Cultura a importância que ela tem? Colocarão nos postos de comando, executivos com experiência em fomento, ocupação de espaços, criação de espaços, neste Estado que, perdoem, tem o tamanho de um país? Como querem conquistar o Brasil, como aquela turma que levou alguns artistas a São Paulo, se não conquistam nem seu Estado, áraP, nem sua cidade, méleB?