Grande
idéia do escritor Salomão Laredo. Enquanto o governo faz sua Pantética Feira do
Livro, ele faz a sua, na Livraria Fox, reunindo todos os seus livros à
disposição do público e com sua presença, para autógrafos, a partir do dia 30.
Gostei tanto que já pleiteei junto aos proprietários da Fox, a realização de
uma Feira com vários outros escritores, com seus livros e presença. Vai ser
ótimo para a livraria e para nós. Em outra direção seguem colegas como Alfredo
Garcia que, para protestar contra as “não condições” dadas aos autores locais
na tal Feira Pantética do Livro, alugou um stand, com seus confrades, para
expor e vender suas obras. Quer dizer que o governo não exerce sua obrigação,
pisa seguidamente sobre escritores, relega-os a posições humilhantes, stands
sujos, mal iluminados e a forma de protestar é pagando por um melhor lugar?
Não. Discordo, querido Alfredo. Salomão fará melhor. Sei que em função de
reclamações feitas, algumas promoções têm sido feitas em cidades selecionadas,
mas que adianta levar escova de dentes mas não levar a pasta? A Feira Pantética
é perversa e incompetente. Se um empresário decidir realizar uma Feira do
Livro, alugar espaço, sub locar para editoras e livrarias os stands, convidar
famosos autores brasileiros que virão com bons cachês, dar palestras e ao final
de tudo, lucrar com alugueis ou percentuais, mais bilhetes de entrada, tudo
bem. Parabéns. Mas quando é o Governo, está tudo errado. Uma Feira de Livro
somente pode existir como um ápice, o resultado de um programa que durante o
ano irá promover concursos e editar livros de jovens autores, seguindo depois
com eles pelo Estado, apresentando-os e recebendo autores de cada cidade. Se
relançar livros importantes, já esgotados. Se popularizar os autores que
atualmente produzem trabalhos. E espalhar pelo Estado. E então, ao final do
ano, apresentar os resultados em uma Feira onde o autor paraense é a estrela,
juntamente com alguns famosos nacionais que virão trocar idéias. E aí,
escolherá um patrono, como Bruno Menezes, por exemplo, mas reeditará suas
obras, distribuirá pelo Pará, fará rodas de discussão, concursos de redação e o
festejará na Feira. Nada disso é feito. E não é paternalismo. É fomento,
estímulo à criação de um mercado. É assim que se faz. Mesmo o IAP com suas
publicações, não chega a lugar algum. Os resultados ficam nas mãos dos premiados
e algumas bibliotecas, penso, no Estado. Nenhum trabalho posterior é feito.
Famosos autores nacionais saem maravilhados. Ganham cachê, encontram plateias
lotadas, mesmo que poucos adquiram seus livros, são levados a passear, comidas
exóticas, bom hotel e no retorno, gabam seus cicerones, para gáudio das
figuras. Eu também gostaria e nem me lembraria de perguntar por autores locais.
Ora, autores locais! E são stands horrorosos, feito camelôs, com livros velhos
a preço de promoção para desencalhar. A idéia de realizar a Pantética Feira ao
final do primeiro semestre é pavorosa. A desculpa de distribuir melhor o
dinheiro para não prejudicar o festival de ópera é ridícula. Por isso tudo, não
posso concordar com Alfredo Garcia e outros colegas que respeito muito.
Precisamos reagir. Dar de frente. Não somente torcer para esses caras irem
embora após a eleição. Prefiro festejar Salomão Laredo, que fará sua Feira do
Livro e também tem grande atuação junto às escolas que precisa de todos os
elogios. Viva Salomão Laredo e sua Feira de Livro na Fox Livraria.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
sexta-feira, 16 de maio de 2014
VIDAS NAS PONTAS DOS DEDOS
DENTRO
DA CASA
É o
título, no Brasil, do filme de François Ozon, com alguns bons atores como
Kristin Scott Thomas, Emmanuelle Seigner e Fabrice Luchini em destaque. Filme
europeu, francês. Fala-se muito. Pouca ação, mas funciona.
O
professor de alunos entre 14 e 16 anos é casado com uma galerista, sempre em
dificuldades de vender obras de arte moderna. Ele, entediado, corrige redações,
reclamando que escrevem umas três linhas e só. De repente, algo bem maior,
interessante. O garoto vive com o pai que é deficiente e estuda com bolsa. Mas
escreve bem. Observa a família de um colega, classe média. Sabendo de sua
dificuldade em matemática, oferece-se para dar aulas. No texto, descreve o que
viu e o que ouviu. Ao final, arremata com, “continua”. Mas como? O professor se
interessa, escritor frustrado que é. Dá apoio, sugere, corrige, cita famosos
escritores como Flaubert. O garoto, agora, é amigo da família. Enquanto o
colega faz exercícios, perambula pela casa e depois escreve. Ih, o colega vai
se sair muito mal na prova e provavelmente contratarão um professor e acabou a
escrita. Como assim? Sem a observação, acabou. Nesse ínterim, o professor e a
esposa lêem, comentam e acompanham. O mestre rouba a prova, copia e a passa
para o rapaz que tira o máximo em nota. Um crime. Como pôde? Agora, mercê de
sua boa conversa e vocabulário, ao contrário do filho, o rapaz é o melhor
companheiro do pai, um homem de vendas em crise e da mãe, a bela Emmanuelle
Seigner, uma dona de casa entediada e decepcionada com a vida, mas linda. A
corda é esticada ao máximo e há, evidentemente, uma explosão. O que é delicioso
de acompanhar é o surgimento de uma narrativa e suas possibilidades. Uma
sensação maravilhosa que todo autor sente, ao escrever. Os filhos, a namorada,
amigos que por algum motivo lêem originais, começam a opinar, torcer, sugerir,
identificar-se e o autor, senhor daquelas vidas, ou atende aos reclamos ou
segue direto, naquilo que entende ser o melhor e correto, ao que se propôs.
Isso, faço muito. Não gosto muito de finais felizes. O mundo está acostumado
com happy endings. Não o contrario por charme, boutade, mas obedecendo ao que
foi escrito, aquilo que inexoravelmente vai acontecer, claro, se você não for
um Dan Brown, por exemplo, que a cada capítulo precisa submeter as idéias ao
editor, por conta de uma venda de milhões de cópias do livro/produto. O filme
de Ozon propõe discussões interessantes, faz pensar e é muito bom para quem
escreve.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Barbárie imitada
Meu amigo tem 13 anos e estuda em um colégio particular de bom nível. Mas hoje, definitivamente, fiquei chocado. Ele sempre me conta que todos ficam manipulando celulares em zapzaps, faces e games, enquanto a professora, no melhor estilo dinossauro, tem uma lousa e giz para enfrentar. Há bullying severo. Agora me contou de um garoto tímido e calado. Chamam de viado. Perseguem. Simularam vôlei com bola de papel. Ele rebateu errado a bola lançada de maneira a forçar o erro. Foram dar um "samba". Alguns com mão fechada. Ele caiu. Chutaram sua cabeça. Vamos dar queixa na Diretoria. Disse que não. Nada vai acontecer e eles vão ficar com mais raiva de mim. Imagino a tensão, a violência, o medo, sensação de impunidade e insegurança na cabeça do garoto. A barbárie vai se espalhando. Linchamentos a toda hora. Todos querem dar um chutinho, um murro, descontar nem sabem o quê. Estamos de peito cheio, no talo. O Brasil tem ódio de si mesmo, diz Jabor. Educação e Cultura não existem. "A bomba Z é essa massa atônita", cantava Ednardo. Nas mídias sociais, cenas de gente sendo decapitada, linchada, surrada. A garotada ligada nas telas, quer repetir na sua realidade. Que perigo! Que absurdo!
sábado, 3 de maio de 2014
Literatura Paraense
O
Helder Bentes fez uma postagem muito interessante, provocando os escritores que
moram no Pará a uma reflexão a respeito da falta de interesse de
patrocinadores, falta de iniciativa, falta de mídia, falta de tudo com relação
à Literatura produzida aqui. Paulo Nunes e Alfredo Garcia já contra
argumentaram, mas gostaria de também expor minha opinião.
Helder
acha que devemos reagir contra essa passividade que aguarda uma movimentação do
Governo para que possamos publicar alguma coisa, mas acho que precisa saber que
há uma crise em todo o País, com graves problemas de Cultura e Educação. Há
poucos leitores, principalmente para literatura nacional. Isso, uma coisa.
Trazendo a situação aqui para o nosso Estado, para facilitar e diminuir a
discussão, gostaria de dizer que diante da ignorância de nosso povo, da falta
de investimento na Educação e Cultura, falta de interesse de uma grande cadeia
como a Saraiva, deixando apenas a Fox cuidar disso, já se faz muito. Mas
Cultura não se faz somente com iniciativa, vontade de brigar. É preciso
profissionalismo, o contrário de política de balcão. Está na Constituição a
obrigação do governo em investir na Cultura, dando toda a condição aos artistas
de leva-la ao povo e dando ao povo todas as condições para usufruir desta. Secretarias
de Cultura precisam funcionar de maneira profissional. Em um Pará deste
tamanho, precisa ter sub sedes. Precisa conhecer quais são seus escritores,
neste primeiro instante, sem pensar se este é melhor do que aquele. Precisa
tornar estes escritores, com obras publicadas, se tanto, conhecidos na região.
Precisa publicar editais para o lançamento de livros de novos escritores.
Precisa republicar livros importantes, fora de catálogo. Precisa fomentar a
criação e funcionamento de um mercado literário. Leva tempo? Sim. O estrago que
vem sendo feito há vinte anos é enorme. Mas é preciso fazer. Além das sub
sedes, há Belém, onde o processo se repetirá. Só então, promover uma Feira do
Livro, onde a festa do livro é a festa do autor local, a essa altura, ao menos,
com um frágil mas existente mercado local. Podem vir esses autores
nacionalmente famosos, para chamar público, mas também para dividir atenção com
os locais, que terão seus livros mostrados em grande stand e também farão
noites de autógrafo, palestras, enfim. Assim, Helder, em alguns anos, poderemos
considerar a existência de escritores paraenses, claro, os que moram aqui,
produzem aqui. A essa altura, uma cadeia como a Saraiva, que trabalha para
ganhar dinheiro, atenderá a pressão, vamos chamar assim, à procura por livros
de autores locais. O mercado existirá. Isso é Política Cultural, feita por
profissionais, técnicos, em prol dos escritores.
Tenho
doze livros lançados, a maior parte às minhas expensas, trocando a impressão
por propaganda na minha rádio e somente há alguns anos, tive a sorte de ser
lançado nacionalmente. Hoje, inicio uma carreira na França, já com dois livros
lançados, outros comprados, e também publiquei na Inglaterra, Peru e Mexico. Em
diversas outras situações, expus meu raciocínio, minhas idéias. Por isso não
concordo com o amigo Alfredo quando este participa, por exemplo, desta
vergonhosa Feira Amazônica, onde somente livreiros e autores convidados ganham,
estes, grandes plateias, afagos, almoços e jantares, indo embora felizes, enquanto
nós, escritores, no máximo, temos um stand deslocado, mal iluminado, triste. A
isso, me desculpem, me recuso.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
A Cultura do Churrasquinho
A
partir do convite do amigo baionense Gerson Nogueira, estarei de agora em
diante por aqui, sempre às sextas, as festejadas sextas! Circule pela cidade e
perceba, no ar, uma fumaça proveniente de um sem número de estabelecimentos
dedicados a vender churrasquinhos, espetos e que tais. Todos os lugares estão
lotados, ocupando as calçadas. Seria uma saudade dos tempos que “méleB” era
chamada de “Petite Paris”? Os boulevares com calçadas enormes ocupadas por
mesas, cafés, com as pessoas transitando e mostrando todo seu charme? Quem
dera. Como uma demonstração do caos, da babel em que vivemos, as mesas ficam
muitas vezes direto, no asfalto. Carros, motos, bikes e vendedores circulam. Monitores
de tv mostram gladiadores modernos a se arrebentar eternamente no que chamam de
MMA. Artistas, pensando que fazem show e esquecendo que seu trabalho é somente
fornecer alguma música de background, aumentam ao máximo a potencia de seus
amplificadores e berram por atenção. O cheiro de churrasco contagia, anestesia.
A cerveja completa a festa, com calabresas e outros. A Cultura do
Churrasquinho. É assim que estamos, nesta ausência de Cultura em nossas vidas.
Na Cultura do Churrasquinho, ninguém pensa em nada. Não há refinamento,
pensamento crítico, discussão. Qualquer pedaço de carne serve. Esquenta, joga
um molho, misturado com o suor do churrasqueiro e estamos feitos. Assim a nossa
Cultura. Desaparecemos. A total ausência de Cultura, que já dura vinte anos,
nos levou a um buraco profundo. Para sair de lá, necessitará um bom tempo e
trabalho profissional. No mundo inteiro a Cultura se profissionalizou. Gera
empregos, impostos e mais do que tudo, gera inteligência, sabedoria. Hoje
ninguém vai ao teatro que se faz aqui. Exceção de algum global que se apresenta
no Teatro da Paz com direito a sessão extra. Antigamente, ir ao teatro
significava assistir e depois sair para conversar, discutir o que havia sido
visto. Aos shows, também. Hoje, nos shows, enchemos a cara, pulamos e saímos
carregados. Nossos escritores lançam livros para seu círculo de amizade que
acorre no lançamento. Somente a Fox Vídeo destina espaço para a literatura
paraense. E nem me falem nessa Feira da Secult, vergonhosa, homenageando o
Catar. Catar? Não há reflexão, interesse em discutir. Henrique da Paz me conta
que vinha com sua turma de Icoaraci às sextas para assistir filmes no Cine
Palácio, sessões inesquecíveis onde conhecemos Buñuel, Fellini, Antonioni e
outros. Depois, iam discutir o que havia sido visto. Minha estréia no Teatro,
com “Foi Boto, Sinhá”, em parceria com José Maria Vilar, foi em um Teatro da
Paz lotado. Hoje, temos um público que varia, talvez entre 500 a 800 pessoas.
Quando há um espetáculo, sinto-me como aqueles cristãos em Roma, reunidos nas
catacumbas, às escondidas. Edwaldo Martins apoiava e as vernissages eram
lotadas, chic ter um quadro de Dina Oliveira em casa.
Temos
talento. Atores, escritores, músicos, cantores, pintores. Quando será que
nossos governantes darão à Cultura a importância que ela tem? Colocarão nos
postos de comando, executivos com experiência em fomento, ocupação de espaços,
criação de espaços, neste Estado que, perdoem, tem o tamanho de um país? Como
querem conquistar o Brasil, como aquela turma que levou alguns artistas a São
Paulo, se não conquistam nem seu Estado, áraP, nem sua cidade, méleB?
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