Aos
que passam por aqui, de vez em quando, perdão pela ausência. Preguiça e
cansaço. O ano passado foi intenso na área da escrita e fui deixando, deixando.
Se volto é por que não consigo evitar escrever e, talvez, argumentar comigo
próprio, usando a escrita, algo com que não me conformo. Meu pai dizia que o
Pará é terra onde se cansa cedo. Pode ser. Há momentos em que o cansaço invade
brutalmente e quase desistimos. Dura um tempo, mas passa. Há medo de atingir
amigos, aqui e ali, de algum jeito, envolvidos, mas decidi escrever. Creio
haver muito pouca oposição às atitudes tomadas pelo Governo do Estado e
Prefeitura, na área da Cultura. E no entanto, sou totalmente contra. Por favor,
ponham de lado essas coisas de “má vontade, inveja, ciúme, oposição política”,
enfim. Não é por aí. E se publico o texto é porque se trata da coisa pública e
pronto. Eliana Jatene chega ao quarto mês à frente da Fumbel e nada sabemos
sobre qualquer política cultural a ser desenvolvida. A Prefeitura tem estado
ausente da área por uns 30 anos. Zenaldo avisou que a Cultura ia esperar. Que
tivesse paciência. Essa é boa. Não vê que toda a situação de violência, tensões
sociais, são reflexo exatamente da falta de Cultura e Educação. Quem sabe ache
Cultura, o mesmo que Lazer. Talvez a Fumbel esteja ocupada preparando o
concurso de quadrilhas juninas. E tanta coisa poderia ser feita, gastando o
mínimo de verba!
Quanto
ao Estado, consegue piorar a cada ano que passa. Não sei onde vamos parar. Em
Saturno, Marte, talvez. Conseguem ir de encontro a todas as possibilidades
sensatas. Um dos casos é o Terruá Pará. Primeiro, deveria haver, por parte da
Secretaria de Cultura, uma política cultural em relação à Música, que aos
poucos, constituísse um mercado. Aí, então, viria a Secretaria de Comunicações
e escolheria, sabe lá como, artistas para levar a outros Estados, nossa arte. Sem
conquistar sua aldeia, como querer conquistar o mundo? O Secretário de Cultura
parece estar no cargo apenas para construir o Parque da Pirelli e outros
berloques. Nada existe. Mas não cessa a vontade de fazer acontecer. Nada de um,
dois, três e quatro. É preciso fazer cinco, de imediato, correr para o abraço.
Então escolhem músicos segundo um critério qualquer e os embarcam em grande,
caríssima e luxuosa empreitada, que resulta até em filme, quem sabe, Buena
Vista Social Club. Para aplacar algumas críticas, o novo Terroir agora abre
edital para shows locais e uma nova excursão. Quais serão os critérios para a
nova turma se apresentar? Mas, um momento, nada disso é feito pela Secretaria
de Cultura? Edital? Shows locais? O pior é a certeza que todos parecem ter em
estar realizando a grande ação, injetando vida na música paraense, finalmente
realizando todas as suas possibilidades. Chegam a ter semblantes messiânicos.
Tenho amigos, pessoas a quem admiro o trabalho, envolvidas. Nada contra.
Profissionalmente, tudo certo. Mas talvez tenha sido o clima ideal, tudo à mão,
na hora, custe quanto custar, a fraternidade entre as pessoas, que parece
também conquistar todos. Sinceramente, cheguei a refletir se seria “má vontade,
ciúme, inveja”, de minha parte. Não é. Enquanto não houver uma política
cultural que garanta a construção de um mercado, seja de shows, por todo o
Estado, seja de programas e programação em Rádio e Televisão, de maneira
profissional, a realidade dos nossos músicos é a gaiola da Estação das Docas,
tocando parabéns pra você para quem pedir. Quem dera que todo o dinheiro que
está sendo empregado, seja em viagens, produção, equipamento, material de
divulgação, ótimos profissionais, fosse gasto na direção certa. Uma coisa é
certa: enquanto não conquistar sua aldeia, como querer conquistar o mundo?
Tirando Gaby, Felipe, Eletro e poucos mais, quem lotaria o Hangar para um show?
Lotaria uma praça pública em Marabá, Santarém? Apostar nessa música pop
paraense é maravilhoso. Estou do lado, aplaudindo. Adoro todos eles. Mas bota
pra rodar aqui, vamos trabalhar profissionalmente e não querer correr pro
abraço, para as fotos, realizar sonhos pessoais, com algo tão grandioso, tão sério,
mais ainda, com a vida e a carreira de pessoas.
É
pouco? E a tal Feira Pan Amazônica do Livro, que agora é realizada no primeiro
semestre? E tudo isso, para não incomodar financeiramente o Festival de Ópera!
Tira os tubos! Nada contra se um empresário aluga o Hangar e depois subloca
espaços para editoras e livrarias. Contrata alguns escritores, cobra ingresso,
faz a Feira e ganha o seu. Parabéns. Mas quando é o Governo do Estado, não. Aí,
fazer uma Feira seria o coroamento, o ápice de toda uma atuação anual, lançando
novos escritores, relançando livros importantes, fora do catálogo e tornando
mais conhecidos os escritores da atualidade, fazendo com que circulem pelo
Estado, enfim, não vou ensinar. Nada disso. Os autores locais têm um pequeno
espaço onde ficam pirangando atenção, que somente recebem Luís Veríssimo,
Zuenir Ventura e outros grandes nomes da Literatura Nacional que ganham cachê,
fazem palestra, vendem livro, são levados para passear e saem daqui felizes da
vida. Aos escritores locais, nada. Que Feira é essa? As últimas parecem um
camelódromo, com stands horríveis, livros empilhados, duas ou três editoras
fazendo boa figura e só. E qual a razão para Pan Amazônica? Onde estão as
delegações dos Estados, dos Países Amazônicos? E homenageiam, desta vez, Ruy
Barata e Raimundo Jinkings. Mas não relançaram seus livros, não realizaram, ao
longo do ano, colóquios no Estado, debatendo suas obras. Não fizeram nada. Sei
que há umas duas ou três Feiras sendo realizadas no interior, mas se tomam por
base a “Pan”, não posso considerar. Pior, deveria ser no final do ano, como
ápice do trabalho realizado. Não. O segundo semestre é do Festival de Ópera.
Desliguem os tubos! Nada contra a ópera, naturalmente, mas se você tivesse um
dinheiro contado para usar na área da música, iria destinar ao fomento de um
mercado popular, no mínimo para conquistar seu povo, ou iria jogar tudo na
Ópera, mesmo ela, por diversos motivos, sendo absolutamente impopular? E você
tem cinco, seis apresentações, de graça, com mil pessoas por sessão. Será esse
número competitivo ou um delírio pessoal que todos bancam, alegremente, com
seus dinheiros bem pagos? Com o orçamento da ópera, todos os nossos artistas
teriam feito suas carreiras, inteiras, ao longo de suas vidas.
Meu
pai tinha razão, aqui a gente cansa cedo. Há momentos em que me sinto sozinho
em Abbey Road. Me sinto apartado da realidade, como se meus pensamentos,
conexos, fossem exatamente ao contrário. Penso em nada dizer, porque há até
amigos envolvidos, artistas respeitados, a caravana está alegre, feliz,
ensaiando, recebendo uma atenção anormal, todos os profissionais envolvidos. E
no entanto, está tudo errado! O Côro dos Contentes passa fazendo barulho e eu
não digo sim. Então vim até aqui e escrevi este texto. Na boa. Por acreditar no
Bem. Querendo o melhor para o Pará. Sem ganhar PN com isso. Enfim, escrevo para
mim. Para pensar escrevendo. O que acham?