terça-feira, 16 de abril de 2013

Sozinho em Abbey Road


Aos que passam por aqui, de vez em quando, perdão pela ausência. Preguiça e cansaço. O ano passado foi intenso na área da escrita e fui deixando, deixando. Se volto é por que não consigo evitar escrever e, talvez, argumentar comigo próprio, usando a escrita, algo com que não me conformo. Meu pai dizia que o Pará é terra onde se cansa cedo. Pode ser. Há momentos em que o cansaço invade brutalmente e quase desistimos. Dura um tempo, mas passa. Há medo de atingir amigos, aqui e ali, de algum jeito, envolvidos, mas decidi escrever. Creio haver muito pouca oposição às atitudes tomadas pelo Governo do Estado e Prefeitura, na área da Cultura. E no entanto, sou totalmente contra. Por favor, ponham de lado essas coisas de “má vontade, inveja, ciúme, oposição política”, enfim. Não é por aí. E se publico o texto é porque se trata da coisa pública e pronto. Eliana Jatene chega ao quarto mês à frente da Fumbel e nada sabemos sobre qualquer política cultural a ser desenvolvida. A Prefeitura tem estado ausente da área por uns 30 anos. Zenaldo avisou que a Cultura ia esperar. Que tivesse paciência. Essa é boa. Não vê que toda a situação de violência, tensões sociais, são reflexo exatamente da falta de Cultura e Educação. Quem sabe ache Cultura, o mesmo que Lazer. Talvez a Fumbel esteja ocupada preparando o concurso de quadrilhas juninas. E tanta coisa poderia ser feita, gastando o mínimo de verba!
Quanto ao Estado, consegue piorar a cada ano que passa. Não sei onde vamos parar. Em Saturno, Marte, talvez. Conseguem ir de encontro a todas as possibilidades sensatas. Um dos casos é o Terruá Pará. Primeiro, deveria haver, por parte da Secretaria de Cultura, uma política cultural em relação à Música, que aos poucos, constituísse um mercado. Aí, então, viria a Secretaria de Comunicações e escolheria, sabe lá como, artistas para levar a outros Estados, nossa arte. Sem conquistar sua aldeia, como querer conquistar o mundo? O Secretário de Cultura parece estar no cargo apenas para construir o Parque da Pirelli e outros berloques. Nada existe. Mas não cessa a vontade de fazer acontecer. Nada de um, dois, três e quatro. É preciso fazer cinco, de imediato, correr para o abraço. Então escolhem músicos segundo um critério qualquer e os embarcam em grande, caríssima e luxuosa empreitada, que resulta até em filme, quem sabe, Buena Vista Social Club. Para aplacar algumas críticas, o novo Terroir agora abre edital para shows locais e uma nova excursão. Quais serão os critérios para a nova turma se apresentar? Mas, um momento, nada disso é feito pela Secretaria de Cultura? Edital? Shows locais? O pior é a certeza que todos parecem ter em estar realizando a grande ação, injetando vida na música paraense, finalmente realizando todas as suas possibilidades. Chegam a ter semblantes messiânicos. Tenho amigos, pessoas a quem admiro o trabalho, envolvidas. Nada contra. Profissionalmente, tudo certo. Mas talvez tenha sido o clima ideal, tudo à mão, na hora, custe quanto custar, a fraternidade entre as pessoas, que parece também conquistar todos. Sinceramente, cheguei a refletir se seria “má vontade, ciúme, inveja”, de minha parte. Não é. Enquanto não houver uma política cultural que garanta a construção de um mercado, seja de shows, por todo o Estado, seja de programas e programação em Rádio e Televisão, de maneira profissional, a realidade dos nossos músicos é a gaiola da Estação das Docas, tocando parabéns pra você para quem pedir. Quem dera que todo o dinheiro que está sendo empregado, seja em viagens, produção, equipamento, material de divulgação, ótimos profissionais, fosse gasto na direção certa. Uma coisa é certa: enquanto não conquistar sua aldeia, como querer conquistar o mundo? Tirando Gaby, Felipe, Eletro e poucos mais, quem lotaria o Hangar para um show? Lotaria uma praça pública em Marabá, Santarém? Apostar nessa música pop paraense é maravilhoso. Estou do lado, aplaudindo. Adoro todos eles. Mas bota pra rodar aqui, vamos trabalhar profissionalmente e não querer correr pro abraço, para as fotos, realizar sonhos pessoais, com algo tão grandioso, tão sério, mais ainda, com a vida e a carreira de pessoas.
É pouco? E a tal Feira Pan Amazônica do Livro, que agora é realizada no primeiro semestre? E tudo isso, para não incomodar financeiramente o Festival de Ópera! Tira os tubos! Nada contra se um empresário aluga o Hangar e depois subloca espaços para editoras e livrarias. Contrata alguns escritores, cobra ingresso, faz a Feira e ganha o seu. Parabéns. Mas quando é o Governo do Estado, não. Aí, fazer uma Feira seria o coroamento, o ápice de toda uma atuação anual, lançando novos escritores, relançando livros importantes, fora do catálogo e tornando mais conhecidos os escritores da atualidade, fazendo com que circulem pelo Estado, enfim, não vou ensinar. Nada disso. Os autores locais têm um pequeno espaço onde ficam pirangando atenção, que somente recebem Luís Veríssimo, Zuenir Ventura e outros grandes nomes da Literatura Nacional que ganham cachê, fazem palestra, vendem livro, são levados para passear e saem daqui felizes da vida. Aos escritores locais, nada. Que Feira é essa? As últimas parecem um camelódromo, com stands horríveis, livros empilhados, duas ou três editoras fazendo boa figura e só. E qual a razão para Pan Amazônica? Onde estão as delegações dos Estados, dos Países Amazônicos? E homenageiam, desta vez, Ruy Barata e Raimundo Jinkings. Mas não relançaram seus livros, não realizaram, ao longo do ano, colóquios no Estado, debatendo suas obras. Não fizeram nada. Sei que há umas duas ou três Feiras sendo realizadas no interior, mas se tomam por base a “Pan”, não posso considerar. Pior, deveria ser no final do ano, como ápice do trabalho realizado. Não. O segundo semestre é do Festival de Ópera. Desliguem os tubos! Nada contra a ópera, naturalmente, mas se você tivesse um dinheiro contado para usar na área da música, iria destinar ao fomento de um mercado popular, no mínimo para conquistar seu povo, ou iria jogar tudo na Ópera, mesmo ela, por diversos motivos, sendo absolutamente impopular? E você tem cinco, seis apresentações, de graça, com mil pessoas por sessão. Será esse número competitivo ou um delírio pessoal que todos bancam, alegremente, com seus dinheiros bem pagos? Com o orçamento da ópera, todos os nossos artistas teriam feito suas carreiras, inteiras, ao longo de suas vidas.
Meu pai tinha razão, aqui a gente cansa cedo. Há momentos em que me sinto sozinho em Abbey Road. Me sinto apartado da realidade, como se meus pensamentos, conexos, fossem exatamente ao contrário. Penso em nada dizer, porque há até amigos envolvidos, artistas respeitados, a caravana está alegre, feliz, ensaiando, recebendo uma atenção anormal, todos os profissionais envolvidos. E no entanto, está tudo errado! O Côro dos Contentes passa fazendo barulho e eu não digo sim. Então vim até aqui e escrevi este texto. Na boa. Por acreditar no Bem. Querendo o melhor para o Pará. Sem ganhar PN com isso. Enfim, escrevo para mim. Para pensar escrevendo. O que acham?