quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Teatrinho

Foi muito desagradável ler, pela segunda vez, em menos de três meses, o Comendador Mário Sobral escrever em sua coluna diária em O Diário do Pará, que o Teatro Cuíra é um teatrinho, indigno de receber o grande Cláudio Barradas, que em companhia de Zê Charone, acaba de completar dois meses em cartaz na primeira temporada da peça "Abraço". Sobral sempre faz elogios a Barradas, de quem foi colega em rádio novelas e novelas de televisão para o grupo Marajoara. E sempre deplora que, ao invés de estar em um Teatro da Paz, por exemplo, e como merecia, está num "teatrinho" como o Cuíra, em plena zona do meretrício. Barradas pode dizer porque está no Cuíra. Mas posso, também, dizer aqui o que ele acha, porque me disse e é meu amigo. Barradas sabe a barra pesada de fazer teatro em Belém e não é de hoje. Também acha que o tipo de texto da peça em questão, é melhor para teatros com menor capacidade de público, de maneira a travar-se um encontro mais íntimo, cara a cara, ator e platéia. Isso é uma coisa. A outra é o preconceito de Sobral, que insistindo em chamar de "teatrinho" para o Cuíra, favorece apenas a prosperidade para o preconceito que só faz crescer, entre os belemenses, contra o teatro local. O Teatro da Paz, o Schivazapa e o Maria Nunes, estão todos lotados, aos finais de semana, com peças caça níqueis vindas do Rio de Janeiro, com artistas globais, atuando em novelas ou até em humorísticos de qualidade duvidosa como Zorra Total. Sei perfeitamente que ele não faz isso para nos agredir, por nos desprezar, por má vontade. É por ignorancia, uma vez que sua coluna, hoje não tão muito lida como antes, pela repetição das piadas e pouca graça, sempre defendeu a Cultura local. Sobral não vai a teatro, não sei se nesses espetáculos "globais", mas não tem idéia da complicação em montar um espetáculo em uma terra sem nenhuma ação cultural por parte do Governo do Estado ou Prefeitura, reunir dinheiro, ensaiar, figurinos, enfim, tanta coisa e depois de três meses de ensaio para mostrar um bom produto, ter apenas um final de semana disponível nos teatros da terra. Três meses em três dias. Não sabe que foi por isso que o pessoal do Cuíra teve o peito de alugar o Teatro, bem na zona do meretrício. Não sabe dos trabalhos sociais e culturais que são desenvolvidos. Que agora será um Ponto de Cultura. Não lembra mais que antigamente, atores e prostituras tinham a mesma carteira de identificação para a Polícia e assim, nada de estranho em estar ali, na Primeiro de Março com Riachuelo. Não sabe que o Cuíra, ou os diversos grupos que já ocuparam seu ótimo palco, precisam ficar, no mínimo, 30 dias em cartaz! Não sabe que há cem confortáveis poltronas. Não sabe que não temos ar condicionado, mas vários ventiladores garantindo um mínimo de conforto para todos. Não sabe. Ele acha que Cláudio Barradas se diminui indo para o "teatrinho" Cuíra, mas não vê que ele, Sobral, se diminui e ajuda a aumentar o fosso existente entre os artistas locais e o público. Fosso para ele, também, como se ler colunas compradas no sul do país, fosse melhor que a dele, no mesmo jornal. Puxa, que mancada, que decepção, caro Sobral! Teatrinho!

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