terça-feira, 30 de novembro de 2010

A limpeza no Rio de Janeiro

Ainda estava em São Paulo quando começaram a incendiar carros no RJ. Estava na rua e percebi todos de olho na tv. Invasão na Vila Cruzeiro e tudo o mais. Havia uma euforia por parte dos jornalistas, também. Uma raiva incontida pela marra dos traficantes, o medo que todos temos de andar à noite, de dia, cruzamento no trânsito. É curioso como o fenômeno "Tropa de Elite" motivou no povo essa idéia de reagir. De que há Polícia boa. E eu escrevi aqui que "Tropa" é apenas um filme. Ali, na tv, era de verdade. As reportagens muito boas. A voz nervosa da repórter. A câmera, nervosa, também, pegando detalhes, querendo duplicar o "Tropa". Onde está o capitão Nascimento? Houve um momento importante, de mostrar que a Polícia também é exemplo de ética, voluntarismo. Mas depois fiquei pensando, e lendo em diversos jornais. Imagine o preço da droga, hoje, no Rio. Porque os viciados não podem parar. O que dá uma trégua é aquele pessoal que dá sua fumada ou cheirada no final de semana. Posso falar porque não faço isso. Haverá uma substituição? Virão as milícias? As UPPs? Foi importante retomar território mas o que vem a seguir? Outra coisa que me deixa desconfiado é a razão pela qual, bandidos que já têm seu território definido, tudo certo, funcionando, propinas pagas a políticos, autoridades e de repente, a título de intimidação, começam a tocar fogo em carros, agredindo seus consumidores e fazendo com que todos fiquem contra. Só sendo muito imbecil, não é? E justamente quando o Rio é pressionado a fazer uma limpeza, por conta da Copa do Mundo, das Olimpíadas. E muito convenientemente, após a reeleição do governador Sergio Cabral. Não é? Será que desta vez é pra valer? Houve outras invasões antes. Queremos que todos morram? Onde estão as autoridades? Onde estão seus deveres para com o povo? Dotar as comunidades de escolas, hospitais, serviços, oferecer emprego. Várias vezes a pergunta "porque não fez antes" foi feita e sempre com drible na resposta. Os traficantes fugindo morro acima e todos querendo que os helicopteros liquidassem a todos, como se fosse uma guerra e não uma ação policial. Como deixaram as coisas chegarem a esse ponto? Conivência de muita gente. Muita gente. Será que essa gente vai ficar sem a propina que vinha limpa, sem rastro? E o negócio das drogas? E a venda de armas? Há muitas respostas a serem dadas mas, principalmente, não entendo a aparente burrice dos traficantes em "provocar" essa guerra onde somente eles saem perdendo. Saem? No dia em que voltei, passei ao lado do Complexo do Alemão, pela Linha Vermelha e tudo estava tranquilo. Aparentemente. No final da manhã, começou a invasão. Mas eu já estava em casa.

O novo Hair

Eu não assisti a montagem de Hair, seja em NY ou no RJ. Mas eu era moleque e ganhei o disco com a trilha sonora e capa linda, um contraluz de uma cabeleira afro. Era uma época efervescente. A informação que chegava até aqui em Belém era rala. Não entendia a razão de músicas tão curtas, outras maiores. Não entendia que era um musical rock. Aí veio o 5th Dimension com "Aquarius/Let the sunshine in". Claro, assisti à montagem de Milos Forman, para o cinema. "Hair" tocava em diversos assuntos que revolucionavam costumes. Cabelo, roupas, desapego, sexo livre, hippies, recusa em ir para o Vietnã, musica, amor. E isso foi chocante. Quanto desse choque fica para uma montagem no século 21, Rio de Janeiro, cidade hedonista, mas que vive momentos perturbadores? Na noite em que fui assistir, as polícias do Rio de Janeiro estavam na Vila Cruzeiro, disparando. Era Tropa de Elite ao vivo. Chovia. Mas o teatro estava lotado. Não há cenário nem projeções. Andaimes e luz. Elenco grande, moças e rapazes bem jovens e bonitos. Cantam bem. Mas querem saber? Não funciona. Uma das causas talvez seja a falta de carisma do líder dos hippes, Berger. O ator é bonito, canta bem, mas não tem carisma. Fala como um dublador de filmes americanos que passam nas tardes de sábado. E sem isso, desaba tudo. Berger é lindo, simpático, alto astral, todos querem namorar com ele, meninas e meninos. Também não sei onde foi parar o desejo de romper com tudo. Sim, há a tal cena de nu coletivo, mas os rapazes à frente e as meninas, bem escondidas. Andamos para trás? E justamente no Rio onde um ou dois centimetros de pano escondem vaginas e bicos de seios? Errado também que levaram uma banda para o palco, mas não lhe aplicaram nenhum figurino. O maestro é careta, os músicos também, com exceção do guitarrista que dá show. Mas não cativa, não conquista. E acaba por ficar um tanto longo. Uma boa tesoura tirava uma meia hora e ficava bem. E quando, ao final, cantam "Let the sunshine in", fica bem bonito, só isso. É preciso encerrar, botar a banda para tocar forte e repetir para a casa levantar e aplaudir. Esperava mais. Tenho assistido a alguns musicais no Rio e gostado. Talvez tenha esperado demais.

Eu assisti Paul McCartney em São Paulo

Cheguei em São Paulo no domingo. Assisti, no Fantástico, highlights do show. Às quatro da tarde daquela segunda, olho para o tempo e vejo a chuva. Ah, vai passar logo. É verão aqui no sudeste. Até a hora do show está limpo. Foi a primeira vez em que pensei se tinha idade e disposição para encarar aquela chuva. A idéia de assistir ao show de Paul McCartney no Morumbi veio em uma empolgação, a partir de uma lembrança maravilhosa, quando assisti, no mesmo estádio, ao show de Roger Waters, tocando "Dark side of Moon". Lembrei de estar ali, à altura da intermediária de um dos gols, ouvindo aquele som alto, muito alto e a emoção que senti. Emoção acumulada por todos os anos, a diferença de informação, a pesquisa, curiosidade, que vive um cara que mora no extremo norte do Brasil. Comprei o ingresso. Peguei o taxi, preventivamente, às seis da tarde. O esporte preferido dos motoristas paulistas é analisar quais as melhores rotas para chegar ao seu destino. O rapaz bem que tentou. Esgotou. Enfim, com a chuva engrossando, cheguei às proximidades do Morumbi depois das oito da noite. No caminho, compro por 10 reais (depois soube que antes era 5 e mais tarde, virou em 20 reais) uma capa de chuva, uma espécie de saco plástico que nos envolve. Entro sem dificuldade. Compro camisas comemorativas. Faz parte. E entro no campo, com um piso especial, de borracha. Tocam clássicos do rock, tipo "Born on the Bayou". E rapidamente percebo algo errado. Não consigo ver o palco, a não ser por frestas ou quem sabe, saltando. Praguejo contra a natureza que me fez tão baixinho. Há como que uma parede de seres humanos mais altos à minha frente. Vou bordejando, procurando uma boa posição. Um tiozinho com camisa da primeira vinda de Paul ao Brasil grita: vamos fazer uma hola! Porra, ninguém quer fazer uma hola comigo? Adiante, um casal jovem. Ele, estupefato, diz à moça: quer dizer que você só está aqui para me fazer a vontade? Se dependesse de você, não vinha? Ela confirma. Não sei o resto. Uma moça uniformizada vende batatas chips, gritando "Olha a batata do Paul! O tempo vai passando, a chuva continua, mas não estou molhado. As pernas doem e me pergunto se tenho idade para estar ali. Há muitos tiozinhos. Muitos fumam maconha. O cheiro no ar é bem forte. Vem uma série de projeções nos telões, hits de Paul e pronto, vai começar o show. Ao contrário de muitos, não vi ninguém. Procurei e não achei. Será que eu era o único representante do distante Pará por aqui? Claro que não. Mas não vi ninguém. Sabe de uma coisa? Fui postar-me por trás dessas casas onde ficam os técnicos de luz e de som, gigantescas, absurdas, incompreensíveis, incomodando estéticamente e em termos de visibilidade, todo mundo. Será que ninguém consegue uma alternativa. Pois bem, atrás da casa, estava bem legal. Tiozinhos e tiazinhas com filhos, dançando e cantando. E ele abre com "Magical Mystery Tour". E vem "All my loving". Não deu pra segurar. Chorei. Macca é muito profissional. Sabe conduzir o espetáculo. Não é um showman de grandes movimentos e gestos. Está sempre tocando baixo ou piano. Os coroas da banda são irrepreensíveis. Tudo bem ensaiado e até natural. Vibram, dançam, solam, têm seu espaço. O baterista Abe Laboriel um show à parte. "Blackbird singing in the dead of night".. Ligo para a garota. Ouve aí. Ciao. Homenageia George Harrison, John Lennon na bela e tocante "Here Today", levemente estragada pelo público, que acompanhou batendo palmas. Quebrou o clima. E vem "Live and let die", com seus fogos de artifício. Vai embora e pedem bis. "Helter Skelter". Perto de mim, um tiozinho toca uma guitarra imaginária. Ao lado, seu filho resmunga "Ê pai, pára com isso, pô..". "Yesterday" ao violão, linda. Mas eu queria o final. Eu sabia o final. Primeiro o encerramento de "Sgt Pepper", "we're sorry but it's time to go". E quebrando para "The End". Gosto de acreditar que foi a última música gravada pelos Beatles. Desde sempre, basta ouvi-la, fico tocado. Há acordes de guitarra, riffs, vem o solo de bateria de Ringo Starr e finalmente "and in the end, the love you take, is equal to the love you make". Se no disco é bonito, imaginem em um show para 65 mil pessoas! E o cara inteirão, gostando de estar ali, de receber aplausos, de "when you got a job you gotta do it well", voz inteira, sem rouquidão, feliz da vida, super profissional. Saio e pelos corredores do estádio a multidão canta "Hey Jude". Que sensação deve ser essa? Ando, subindo uma ladeira, dois quilometros até conseguir um taxi que me cobra 80 reais para levar para casa. Tiro a capa de chuva e percebo que estou ensopado de suor. Chego ao hotel ainda excitado, feliz. Depois do jantar e do banho, deito e repasso o que vi. Grande show, mas querem saber se iria novamente? Não.

Aconteceu em 67

Eu tinha 13 anos de idade, o que em termos de um garoto de hoje, equivale a ter uns nove anos apenas. Não lembro bem, deveria perguntar ao Edgar, se acompanhamos tudo isso aqui em Belém, pela Marajoara, que recebia os tapes ou quando estivemos passando uma temporada no Rio de Janeiro, na casa de nossos avós. A verdade é que, para mim, é absolutamente inesquecível e formador cultural. Os elepês, ouvíamos contritos, emocionados. Sei a maioria das músicas. Quando as ouço, lembro de tudo, cenas, acontecimentos, enfim, como era bom. Os Festivais da Record. Naquela época, ao invés de novelas, o horário nobre era ocupado por programas musicais. O cast da Record tinha o melhor da mpb e também o programa Jovem Guarda. E por muita sorte, reuniu mais de uma vez, todos muito jovens, cheios de sonhos, artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Roberto Carlos, Chico Buarque, Edu Lobo, precisa continuar? Quando, em outro tempo, tanta gente boa se reuniu? Os mais jovens podem dizer que houve outro grande momento, nos anos 80, com o rock nacional. Ponto de vista. A televisão era em p&b. Imaginem a distância de São Paulo para Belém. A platéia, não sei quantas pessoas, participava vaiando, cantando, aplaudindo, interferindo nas apresentações. Quem eram essas pessoas, essa fatia de público, formada por jovens universitários, gente classe média, que passava para o resto do Brasil sua preferência por um tipo de música, letra, arranjos? Renato Terra e Ricardo Calil fizeram o documentário excelente, reproduzindo os melhores momentos e entrevistando protagonistas. Chega a chocar a fumaça em todos os ambientes. Como se fumava! Reali Jr e Cidinha Campos faziam entrevistas nos bastidores, sem nenhum problema em ter entre os dedos, cigarros. A pergunta era feita com a fumaça saindo da boca e o entrevistado devolvia, também com fumaça. O cenário era ridículo, com plantas no palco. Blota Jr e uma locutora que não lembro o nome, caprichando nos "erres". Edu Lobo, emocionado, com Marília Medalha e o Momento Quatro, grupo vocal onde vemos Zé Rodrix e Maurício Maestro. Tão jovens em "Ponteio". Na entrevista, Edu e sua absurda antipatia e imbecilidade. Chico Buarque também nunca está à vontade nas entrevistas. Não lembra das letras, não considera importante. E lá está ele com o Mpb4 em "Roda Viva", que até hoje cantamos. Caetano Veloso fala muito. Solano Ribeiro, organizador, conta que o baiano ia cantar apenas com gola rolê o que ele achou errado. Mandou comprar um paletó. "Alegria Alegria" é uma marcha lusitana, com guitarras, refrão forte e letra irresistível. Edu e Chico dizem que ficaram desconfortáveis depois que os baianos vieram com todo aquele som e cores. Tornaram-se aos 23 anos, artistas superados, antigos. Outro que comparece com seu mau humor e boçalidade, embora seja um gênio é Dori Caymmi, que surge novinho, já de bigode, tocando violão para Elis Regina, a maior cantora do Brasil, já naquela época. Dori odeia o arranjo do maestro Gaya para seu "Cantador". Ao contrário, seu parceiro Nelson Motta, conta que ao ouvir Caetano em "Alegria Alegria", tentou torcer contra, por ser um oponente, mas acabou cantando junto. E Gil que entrou em pânico e decidiu não ir cantar seu "Domingo no Parque"? Arranjo de Rogério Duprat. Mutantes. Demais. Uma letra cinematográfica, genial, com abertura orquestral irresistível. E Nana Caymmi, que era casada com Gil, cantando "Bom Dia", linda e forte, magrinha, cheia de atitude. E Roberto Carlos, contratado da emissora, cantando um samba de Luiz Carlos Paraná, apenas razoável. E Sérgio Ricardo quebrando o violão. Solano Ribeiro esculhambando o ótimo Sidney Miller, já falecido, que cantou a beleza que é "A Estrada e o Violeiro", com Nara Leão. Que elenco! Eles não tinham idéia, mas faziam história, influenciavam um país inteiro, moldavam destinos. E era tão bom! A língua portuguesa no seu melhor, a música em diferentes gêneros, arranjos e vêm Caetano e Gil com seu liquidificador sonoro. E ganha "Ponteio", de letra política. Aconteceu em 67, mas mexeu com toda a minha vida, eu, ali, com 13 anos de idade, um garotinho magro, cabeçudo, feio, mas que apreendia tudo o que era mostrado.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Heliópolis

Me decepcionei com a leitura de "Heliópolis", romance escrito pelo americano James Scudamore, que viveu algum tempo no Brasil e também em várias outras cidades do mundo. Logo que saiu, estranhei não ser originalmente brasileiro, até descobrir o autor. Mais curiosidade ainda. Um americano escrevendo sobre a maior favela de São Paulo e sendo elogiado, deve ser algo bom. Saiu no Brasil. Li e me decepcionei. Scudamore conta a história de um garoto que, juntamente com a mãe, foi adotado por um homem muito rico. Cresceu na fazenda de seu benfeitor, convivendo também com a filha do cara, de sua idade. Em dado momento, é levado para voltar a morar em SP, desta vez, em um super apartamento, vida de rico. Estudou e tal. O pai adotivo há anos não pisa na terra da cidade. Seu transporte é o helicóptero. Heliópolis vem somente ao final do livro. Insuficiente. O romance poderia se passar em qualquer outra cidade do mundo. As referências são frágeis. No que tange à convivência do garoto, seus pensamentos, seu choque entre pobreza e riqueza, valores e amor, a escrita é bem interessante. Mas talvez eu esperasse muito mais.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ai que vontade de estar lá

Assistirei ao show de Paul McCartney na próxima segunda feira, mas já estarei em São Paulo no domingo. O pessoal do Sem Dizer Adeus me liberou por um dia. Aproveito para comparecer ao último evento de mais uma Balada Literária, promovida por meu amigo Marcelino Freire, jovem e premiado autor pernambucano que chegou à grande cidade há alguns anos e ao mesmo tempo que escrevia suas obras, também inventava eventos, coletâneas, incendiando os ambientes. Essa Balada Literária é ótima, a partir da Mercearia São Pedro, emblemático bar em Vila Madalena, onde já tive o privilégio de lançar um de meus livros. Mistura autores de diversas procedências, passando por cima das grandes e poderosas editoras, além de prêmios a Chico Buarque. Ai que vontade de estar lá. Quando entro nos blogs de colegas escritores atuando em Sp, dou conta da atividade frenética de todos, seja em mesas redondas, discussões, seminários, reuniões, exposições, entrevistas, onde se colocam na mídia, no noticiário, chamam a atenção para seus trabalhos. Obtive algum pouco êxito no Rio de Janeiro e São Paulo com meus trabalhos. O último, "Um sol para cada um", parecia fadado ao sucesso, mas nada aconteceu, paciência. O problema é a distância. Moro longe, muito longe. Distante demais para comparecer aos eventos, circular, conversar, aparecer e principalmente, ser lembrado. E assim, rápido, sou esquecido. Quando leio sobre essa movimentação toda, me dá uma cuíra por estar lá, com a galera. Um escritor quer ser lido, consumido, debatido. Isso não acontece aqui no Pará, onde sequer há uma cena literária, mas eu tinha chances, sei lá, posso volta a ter, com o próximo livro que lançarei, ainda não sei a data. Por isso, quando sei da Balada Literária, ai que vontade de estar lá!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Filho do Hamas

Acabei de ler o livro com a história de Mosab Hassan Yousef. O assunto está todos os dias nos jornais. Me interessa. Já escrevi um conto para uma coletânea de edição nacional, chamada "Entre Guerras". Para minha sorte, houve sorteio de temas e me caiu, justamente, o conflito entre árabes e judeus. Minha amiga Silvana, que mora em Londres, foi tocada por alguns desses levantes que ocorrem quase sempre entre as partes. Foi a manifestações, reuniões, tudo em Londres, e ficou do lado dos palestinos. Não vejo muito assim. Todos sabem que quando todos têm razão, acontece uma tragédia. O livro de Mosab vem mostrar que pelo menos do lado do Hamas e outros como Arafat, a guerra não pode parar. Sem ela, eles não existem. Não recebem dinheiro, armas, nada. Não têm interesse em seu povo, mas somente em liquidar Israel. Do lado dos judeus, claro, há muitos erros, também. Mas eles, pressionados pela comunidade mundial, principalmente EUA, já fizeram boas propostas de conciliação, recusadas pelos radicais, pelos motivos citados. Enfim. O livro. Muito redondo. Bate tudinho. Achei isso demais. Será verdade? O pai de Mosab é um islâmico ferrenho, que segue o Alcorão, e por isso prega a palavra de Alá. Mas aí vêm os israelenses, vistos como inimigos. Ele joga pedras. Adolescente, vai preso. O pai, também. Mas não desiste da palavra, ao invés das armas. Dentro da prisão, Mosab conhece os métodos do Hamas. Alguém do serviço secreto de Israel o convida para ser agente duplo. Ele concorda. Primeiro acha que liquidará israelenses dessa maneira. Mas os judeus parecem certos, ele concorda com suas idéias. Começa a frequentar um grupo que estuda a Bíblia. Vira cristão. Agora começam as intifadas, reuniões de cúpula, Prêmio Nobel para Arafat e Peres, creio. Mosab protege o pai que é sheik, mas vai delatando todos os criminosos que planejavam ataques suicidas. Salva muitos israelenses, mata muitos palestinos. Escapa e vai morar nos Estados Unidos. Será mesmo verdade? Acho que vou dar uma espiada no Google e tentar achar o nome do pai e tal.

A morte de um amigo

Li com surpresa, hoje, sobre a morte de Rui Pinto, ontem, após jogar futebol na Assembléia Paraense. Não era exatamente um amigo, mas um companheiro de futebol, essas figuras que encontramos aos sábados, conversamos amistosamente e depois do motivo comum que nos levou ali, nos separamos e seguimos nossas vidas. Português, ia de vez em quando ao Velho Mundo, como dizia. Gostava de conversar com ele sobre a Europa. Engenheiro, tinha uma firma de fundações, creio. Foi figura de uma de minhas crônicas, exatamente aquela que mostrava como nossas mentes ainda raciocinam como se tivéssemos 15 anos, durante um jogo de futebol. A bola veio, ele decidiu dar uma "bicicleta". Estatelou-se no chão, com dores. O corpo não aceitou a proposta. Artilheiro, pedia a bola o tempo todo. Separou-se e foi para a vida de solteiro. Protagonizou umas duas paradas engraçadas, daquela moça bonita, no Boêmios, que fazia sinal que ele pensava ser "paz e amor". Quando chegou perto, ela disse que era 200 reais. Pode ser piada antiga, nem ter sido com ele, mas contaram assim. Ou então quando foi vítima de "Boa noite Cinderela". Seu apelido, na pelada, passou a ser Ruipinol. Coisas de colegas. Era uma pessoa alegre, comunicativa, inteligente, sobre qualquer assunto. Mas fumava. Bastante. Dei corda, fez uma tentativa, reduzindo o número de cigarros. Não deu. Ao que parece, após jogar no Campeonato de Super Máster, sofreu um infarto fulminante. Estou chocado com a perda do amigo, colega. Mas também fico pensando na rapidez da morte. Esse rompimento da vida, sem avisar. Fica tudo pelo meio, sem despedida, sem preparação. E os compromissos que hoje ia cumprir? Tinha marcado para sair com alguma garota? Interrompido. E claro, tinha apenas 47 anos. Bem mais velho, também reflito sobre isso, apesar de malhar semanalmente e ter no frequencímetro, meu batimento cardíaco. E não fumar mais há uns cinco anos. Mesmo assim. Jogamos nas tardes de sábado, sob um calor terrível. Mal podemos esperar pelo horário e já estamos, feito crianças, a correr e chutar a bola. Há umas duas semanas, tive o que chamam de "fugiu-me o sangue". Ou "tela branca". Tonto, sem forças, pernas bambas, o jeito foi parar e molhar a cabeça. Fiquei mais uns dois dias com dores no corpo, cansado. Agora, tudo bem. Mas querem saber, acho que vou fazer um exame de esforço. Nunca é tarde. Saudades do meu amigo, colega, Rui.

O Super Dal

Adalberto Gomes, desde criança, gostou de ler gibis, principalmente com aventuras de super heróis. A facilidade veio por conta do pai, proprietário de banca de revistas em esquina de grande movimento. O pai envelheceu, o filho assumiu suas funções e freguesia. Entre uma venda e outra, Adalberto ou “Dal”, como era chamado, tinha muito tempo para conversar, seja com aqueles habitués que cercam toda banca, seja com clientes das mais variadas faixas de idade e finanças. Jovens hipnotizados pelas capas de revistas pornográficas, senhores que comentavam as notícias políticas, econômicas e policiais. Dal tinha uma predileção, depois dos gibis de super heróis, por páginas policiais. Ficava revoltado com os casos. Com a lentidão da Justiça. A falta de equipamento da Polícia. Jovem de corpo atlético, além do futebol de fim de semana, também malhava em Academia, variando entre corrida, boxe e jiu jitsu, chegando a conquistar alguns troféus. Havia uma motivação secreta, algo que lentamente foi ganhando corpo em sua mente, mas que tinha receio de externar por acreditar que podia ser mal compreendido. Algo que o convenceu a partir do momento em que alguns dos super heróis dos quais era fã nos gibis, tiveram aventuras transformadas em filmes de grande sucesso mundial. De todos, com seus super poderes, seu preferido foi justamente aquele que usava apenas poderes absolutamente humanos para resolver os casos: Batman. Dal sonhava em ser um super herói em Belém. Sim, uma coisa era o que estava nos gibis e telas e outra a vida real. Nem ele era o milionário Bruce Wayne, nem tinha mordomo. Dinheiro, bem contado, trabalho duro na banca. A vontade de defender a sociedade foi maior. Dal intensificou seus exercícios. Era importante estar absolutamente em forma. Também não podia usar armas. Seria complicado e suspeito tentar porte. Instalaria na banca um radio na frequencia da Polícia, que ouviria em fone de ouvido, para não chamar a atenção de ninguém. Também sabia que a maioria dos delitos realmente importantes acontecia à noite. Havia um auxiliar na banca, para as ocorrências diurnas. Bastaria inventar uma desculpa e sairia, voltando rápido. Mas como deslocar-se rapidamente, na direção dos acontecimentos? Tinha apenas um Palio, com mais de três anos de uso. Não era um batmóvel, mas quebrava um galho. Levou para um amigo ali na Marquês dar um grau. Gastaria mais combustível, mas seria rápido. Precisava pensar em outra possibilidade, um veículo mais ágil, uma motocicleta por exemplo. Suas finanças não permitiam altos vôos. Então comprou, para pagar a perder de vista, uma moto Dafra 6200 CG. Alugou, próximo à banca, uma kitnet e vaga de garagem. Já em plenos preparativos, terminou o namoro com Glaucirene. Foi duro, mas não podia deixar pistas, tampouco permitir que alguém sofresse qualquer consequencia de seus atos. Seu velho pai agora pouco ia à banca. A mãe morreu alguns anos atrás. Estava pronto para entrar em ação. E a roupa? Não, seria muito ridículo inventar essas fantasias de um Homem Aranha, Batman, Capitão America. Muito louco. Pena, porque tinha admiração pelos trajes. No fundo, talvez se imaginasse vestido daquela maneira, sendo recebido por autoridades, como Batman e o Comissário Gordon. Acorda, Dal, isso é Belém e sua tarefa, de grande importância e seriedade.
Madrugada de terça para quarta. Estava de vigília, ouvindo o radio da Polícia. Somente coisas de pouca monta. Não. Marginais assaltaram casal na Doca e estão fugindo na direção do Telégrafo. Num instante estava ao volante do Palio, cruzando ruas em velocidade, obedecendo as instruções que ouvia no radio. Estava quase chegando a uma distância de poder encontrá-los, passou pela Ferreira Pena feito bala e de repente, freios fortes. Uma blitz. Documentos do carro e do motorista. Seu guarda, tenho muita pressa. Aqui não tem pressa. Documentos. Dal aguardou enquanto o guarda analisava seus documentos. Por favor, encoste e saia do carro. O que foi? Ipva atrasado. O carro vai ficar retido. Olha o guincho aqui, por favor! Mas seu guarda. O senhor por favor desce do carro. Dal desceu. Todos ficaram surpresos com suas roupas. Gorro, camisa gola rolê escura, calça de couro colada e botas. É alguma fantasia? Não, senhor. O senhor vai desculpar, mas isso não é roupa de dia a dia. Dal pensou em dar uma ponta para o guarda. Não, não podia fazer isso. Era um heroi, um defensor da sociedade. Não podia começar subornando a autoridade. Então eles ouviram o radio da Polícia. Acho que o senhor vai ficar aqui e prestar esclarecimentos. Porra, mas vai logo esquecer de pagar o Ipva!
Aquela noite o deixou deprimido. Teve prejuízo em retirar o carro do curral, pagar o imposto e ainda se explicar com a Polícia, por conta do radio na frequencia. Felizmente tinha ficha limpa, endereço, local de trabalho e um delegado que naquela madrugada não estava muito interessado em encher o saco de ninguém. Mas a vontade de ajudar a sociedade não passou. Um dia ainda vão todos me agradecer.
Estava na banca, de bóba, chateado, quando veio o Femq, vendedor de filmes piratas se queixar do Birosca, que vivia pela Primeiro de Março traficando pasta de cocaína para pés de chinelo. O Birosca meteu a mão no Femq. Quebrou nariz, maxilar, fez o serviço. Dal achou que estava na hora de parar com as aventuras de Birosca. Seria um bom retorno às aventuras. À noite, fechou a banca, foi pro kitnet, vestiu sua roupa de combate e tirou a moto. No centro da cidade, ruas estreitas, melhor a moto. Estacionou próximo ao buraco da Palmeira. Sorrateiro, jogou-se atrás de um carro, quase por baixo e ficou olhando. O Birosca ali, naquele não faz nada, aguardando os clientes, arengando com as prostitutas. Birosca, vem cá. Eu te conheço? Não interessa. Acabou pra ti. Não quero ver mais a tua cara nessa rua, vendendo crack. Estás me ouvindo? E quem és tu? Puxa, ainda não havia pensado nisso. Como se chamaria? Super Dal? Não interessa o meu nome. Cara, tu sabes com quem estás falando? Birosca pôs à disposição do meio ambiente todo seu repertório de palavrões e insultos. Mas quando levantou a mão, Dal agiu, com um single leg, que aprendeu no wrestling. Surpreso, Birosca foi ao chão, imobilizado. Mermão, só saio daqui morto! Conseguiu um murro em Dal, que reagiu com outro, bem colocado. Perdeu, perdeu, outra voz dizia. Dal olhou. Um cara de moto. Aê Birosca, qual é, pegando porrada de qualquer um? Larga ele, vai, senão leva bala. Revolver em punho. Dal largou. Birosca aproveitou e lhe deu um tapão. Ardeu. Passa a grana. O cara era arrecadador apenas. E tu mermão, dá o fora. O Birosca é nosso, ninguém encosta. Um tiro. Dal sentiu próximo ao joelho. O cara errou por muito pouco. A moto saiu. Birosca ficou rindo. Levou um socão e dormiu. Mancando, Dal pegou a Dafra e foi atrás. O cara estacionou na 28, pouco depois do Importadora. Subiu. Esperou e foi atrás. O porteiro parou. Vou atrás desse cara. Ele me deve uma grana. Qual andar? Primeiro, cento e dois. Valeu. A calça empapada de sangue. Foi pela escada, suportando a dor. Ouviu a porta bater. Bateu discretamente na porta ao lado. Abriu uma senhora. É caso de vida ou morte, me deixe entrar. O senhor é ladrão? Tarado? E esse sangue. Melhor chamar a Polícia. Qualquer um sobe nesse prédio. Não tem condomínio mesmo! Quem mora aí do lado? Não sei, mas é um entra e sai danado. Cada cara de bandido terrível. Já me queixei, mas o senhor sabe, velho quando fala ninguém escuta. Eu posso ir até aquela sacada? Pode. Dava pra ouvir a conversa. Coisa grande. Drogas. Um grande primeiro caso. Tinha a bala na perna, mas afinal, era parte do risco. Era possível passar de uma sacada à outra. Não uma pessoa comum, mas ele, com seu preparo e agilidade. A velha dizia que não ia dar. Não vai dar. Ih, não disse? Não deu. Dal caiu. O pé da perna baleada não aguentou o peso. Acordou no Hospital da Ordem Terceira. À sua frente, o Birosca e o cara da moto. Na porta, um guarda. O que aconteceu? Doido, tu caíste do terceiro andar. Tua sorte foi que tua queda foi amortecida pela barraca do vendedor de cachorro quente. Só quebrou a perna direita. A esquerda, já estava baleada, mesmo. E o que é que vocês estão fazendo aqui? Tu não é o Dal, lá da banca? Não. Eu sou o Super Dal.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quanto vales, Cultura

Continuam os debates sobre as novas direções da Lei Rouanet. Com isso, as pesquisas. A mais recente, dá conta que 96% das pessoas não frequentam museus. Que 93% nunca foi a uma exposição. Que 78% jamais viu um show de dança. Que 86% não vai ao cinema. e que 90% das cidades brasileiras não contam com teatro. Essa é uma situação que não pode ser combatida a partir das cidades, dos Estados. Creio que precisa vir e Brasília. Imaginem que o sudeste ficou com 70% do dinheiro arrecadado através da Rouanet, apesar de contar com apenas 42% da população. Claro, é uma região melhor dotada financeiramente, onde estão os grandes anunciantes, os atores da Globo e os departamentos de marketing que decidem. O pior é que se trata de dinheiro público. Os recursos são de impostos que deixam de ser pagos, revertendo para a Cultura. Muito difícil. Hoje, quem quiser fazer televisão, por exemplo, que se mude para o Rio de Janeiro e dê um jeito de ser notado. Rio e SP são as cidades geradoras de tudo. As emissoras de televisão geram material próprio, quase todo. Quem se formar em jornalismo, roteirista, sei lá, ator, e quiser ter uma empresa que produza material, não tem para quem vender, a não ser que seduza as grandes, ou alguns canais à cabo. Parece simples, deve ser muito difícil, mas penso que Brasília devia setorizar o Brasil, de tal maneira que aos poucos, em vários anos, fosse criando o mercado de Cultura. Primeiro, investir, não apenas nos artistas, mas também em espaços. Na medida do crescimento, a troca entre setores. Parece utopia. Nosso país tem tantos contrastes. Enfim, é difícil. Em termos de Estado, tenho bem medida a idéia de uma solução, mas isso já é outra coisa.

Laerte de saias

Li a entrevista em que Laerte, o ótimo cartunista da Folha de São Paulo tenta explicar as razões pelas quais, a partir de agora, passará a se vestir com roupas de mulher, além de maquiagem. Acompanhado de sua namorada, Laerte garantiu sua bissexualidade e que não vê nada demais em preferir andar vestido assim. Também já vi fotos feitas em lugares públicos onde ele transita para a aparente normalidade de todos. Não é. Há milhões de explicações e também vou direto para os travestis das esquinas, que sob a desculpa da necessidade de dinheiro para viver, prostituem-se. Uma coisa é ser gay, corpo de homem, mente de mulher, sentir-se mulher, vestir-se assim. Outra é a prostituição. Claro, pode haver casos específicos de prostituição por dinheiro. As mulheres, principalmente, optam por isso por questões financeiras. E olha que tenho histórias ótimas, colhidas ali nos arredores do Cuíra. Mas os travestis, sei lá. Conheço um rapaz, das mais altas aptidões na área universitária, que na estréia da peça "Quando a sorte te solta um cisne na noite", apareceu travestido. Ponto. Mas o Laerte, hein..

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Enfarruscado

Quando chega novembro, dezembro, não interessa se ainda é verão, começo de inverno, vêm dias enfarruscados. Ouvia minha mãe chamar assim os dias cinzentos, gris, nublados. A temperatura às vezes cai um pouco, o suficiente para aliviar. Mas eu lembro mesmo é da minha infância e adolescência. As férias. A lembrança mais antiga é de estar reunido com meus irmãos na ampla sala do apartamento em que vivíamos, na Presidente Vargas, mesmo prédio em que moro, embora em outro andar. Parecia uma sala imensa. Hoje ainda é bem grande. Ficávamos jogados, largados, naquela doce falta do que fazer. E vinha o Edgar Augusto e botava para tocar um vinil dos Beatles. Ouvíamos contritos. Às vezes, na frente do espelho, fazendo mímica, inventando guitarras. Edgar, mais velho, claro, era sempre Paul ou John. Eu podia ser George. Janjo, às vezes, podia ser Ringo. Minha irmã Celina olhava. Ana Carolina talvez fosse muito pequena. E olhava para o céu e estava nublado. Férias de final de ano. Adiante, estou subindo a então São Jerônimo. Ia à casa de meu grande amigo Abílio Cruz, de quem sinto tanta falta. De repente, nem lembro a razão, puxo do bolso a caderneta e confiro as notas. Me dou conta que, apesar de ter média para passar sem fazer prova final, por qualquer regulamento exdrúxulo, precisa fazer a prova, mesmo que tirasse zero, imagino. Uma correria. Minha mãe no Nazaré. Que bobagem. Mas eram dias enfarruscados. Ia à pé ou de bicicleta para a casa de Abílio. O que fazer? Andar de bicicleta, jogar peteca ou jogar futebol? Ou jogar botão? Ou montar aquelas miniaturas Revell de aviões de guerra americanos? Era novembro, dezembro, férias! Nada para fazer. Tudo para fazer. O mundo era nosso. E o tempo era enfarruscado.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A Piscina

Eu tinha 14 anos e entre a infância e adolescência, entrei no cinema e assisti "A Piscina", filme de Jacques Deray com música de Michel Legrand. Saí apaixonado. Já havia revisto por conta de uma amiga que me trouxe de Paris. O problema é que meu francês não chega a ser recomendável e muito perdi dos diálogos. Agora assisto com legendas. Não é grande coisa. Há muitos problemas de roteiro. Juntou o casal 20 do cinema francês, Alain Delon e Romy Schneider, que na época também namoravam, ocupando o noticiário fait divers. Junte a eles Maurice Ronet e Jane Birkin.
Alain é um escritor em crise. Vai passar o verão em uma casa maravilhosa, na Côte D'Azur. Passam o dia na piscina, namorando. Maurice Ronet é um produtor de discos. Grande amigo de Alain, já namorou Romy. Telefona e vai passar uns dias. Chega na companhia de Jane Birkin, filha de um de seus casamentos. Vem a tensão. Maurice corteja Romy, que aceita. Para vingar-se, Alain vai atrás de Jane. Há um crime.
Alain Delon é péssimo ator. Maurice Ronet é muito bom. Jane Birkin muito jovem, estreando, mal. Romy, linda, boa atriz. Saí apaixonado por Romy e Jane. Posso dizer que até hoje, minha admiração pelas mulheres corre pelos dois modelos. Romy, corpo anos 60, bronzeada, seios, quadris, rosto, olhos azuis, deep blue. Jane magrinha, branquinha, seios pequenos, pernas arqueadas, charme puro.
É apenas isso. Um filme que marcou minha vida e que tive prazer em assistir, como, noite dessas, rever alguém especial, de longe, claro, que também conheci com 13, 14 anos e nunca esqueci.

Disparando para todos os lados

Li a entrevista de Walmir Bispo, superintendente da Fundação Curro Velho, publicada no Diário do Pará, creio. Walmir foi uma das boas figuras do governo Ana Júlia. Agradeço a ele a contribuição para algumas realizações feitas em parceria com o Cuíra. Contudo, creio que é o momento do Curro Velho ter seu trabalho realmente planejado. Para que serve? Quando foi criado, parece que a idéia era trabalhar com o público do bairro ao lado, extremamente pobre. Se montaram um Curro Velho em Belém, deveria haver outros em todo o Estado. Ou então deveria ter sido iniciativa municipal. Trabalhar com a comunidade, realizar oficinas para jovens. Ao longo do tempo, embora sempre haja crianças chegando, houve uma estagnação. E veio o Iap, que também realiza oficinas, mais direcionadas a artistas que visam um crescimento profissional. O erro que Jatene cometeu ao fatiar a Cultura, erro seguido pelo PT, foi que os órgãos passaram a disparar para todos os lados, sem acertar o alvo. O Curro, segundo Walmir, teve diversas ações no interior. Para quem? Ligadas ao quê? Assim, são tiros n'água. Ouvi certa vez o diretor do Waldemar Henrique anunciando iniciativas no interior. Mas o "Waldemar" é apenas um teatro.
Cultura hoje é algo sério, profissional, não só cumprindo o que está na Constituição, mas também dando empregos e trazendo impostos. Precisa funcionar como um sistema, uma idéia articulada.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Jatene e a Cultura

O que esperar do governo de Jatene na área cultural? Da primeira vez em que foi eleito, já sofreu uma imposição de seu padrinho, o ex governador Almir Gabriel, que forçou a presença daquela figura na Secretaria de Cultura. Jatene permitiu, mas também tirou grande parte de seu poder, retalhando todo o setor, entregue, como sempre, a pessoas sem perfil nem técnica, que passaram quatro anos atirando para todos os lados, sem acertar o alvo. No governo de Ana Júlia foi pior, porque a Cultura foi entregue a um vereador que se aproveitou do cargo para circular, candidatar-se e eleger-se deputado, enquanto que nos demais cargos, pessoas de partidos diferentes, aquinhoadas com cargos, mas nenhuma verba, nada puderam fazer. E agora?
A Cultura precisa funcionar de maneira profissional. Com uma gestão técnica. O falecido La Penha dizia que era importante ser Secretário e Presidente da Fundaçao Tancredo Neves, porque tinha a importância do cargo e a agilidade do outro. Pode ser. O importante é que o Secretário presida a Secretaria chefiando um sistema que tenha no Iap um auxiliar na formação de técnicos e na Secretaria programas de formação de um mercado regional. Que tenha na Funtelpa um instrumento de divulgação disso, tudo funcionando perfeitamente. Será muito difícil, pelo tamanho do Estado. Coisa para alguns governos, mas se as bases forem sólidas, nem governantes de oposição poderão destruir algo que estiver bem feito.
Ao contrário de tudo o que foi dito na campanha, a situação cultural é péssima. Perdemos público, não temos espaços, programas, a Lei Cultural do Estado não funciona porque os patrocinadores desapareceram. Voltamos para uns 30 anos atrás, enquanto que no resto do mundo a Cultura se tornou algo extremamente rentável, seja para artistas, produtores, público, seja para os governos, na forma de impostos e de prestígio. Fico aguardando os acontecimentos.