segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O que é a Augusto Montenegro?

A exata dimensão da selvageria em que vivemos está nos fabulosos anuncios de empreendimentos nas áreas que margeiam a avenida ou rodovia Augusto Montenegro, que liga Belém a Icoaraci. O último, no final de semana, apresenta oito, vinte torres, sei lá, cada uma com muitos andares, mais instalaçoes como as de clubes recreativos. Se a situação hoje já é absolutamente caótica, imagine com o acréscimo de mais carros e pessoas utilizando-a como caminho para escolas, supermercados, trabalho, enfim. Nossos governantes, em todas as áreas, escrotos, desculpem o termo, nunca se preocuparam. E nós somos os culpados porque votamos e os colocamos lá. A cidade sangra aos borbotões e cravamos mais fundo o punhal do desespero. Um verdadeiro caminho de onça é o que é a Augusto Montenegro e em nossa descida à selva, melhor ainda a denominação. Esburacada, sem sinalização, sem calçadas, sem distanciamento das margens, um inferno.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O que desejam que acreditemos

Ainda a respeito da entrevista de Andrew Jennings, fica a discussão bisonha a respeito de obras e mais obras para sua realização. Além da Copa do Mundo, haverá Olimpíadas. Muito dinheiro público bombando o bolso de espertalhões. Então vamos todos investir em obras, mas quem investe nos atletas brasileiros? Já viram em que situação eles treinam? Já assistiram reportagens sobre a formação básica de atletas, com idade olímpica? É um absurdo.
Também fico reticente a respeito da seleção de Mano Menezes. Assisti a entrevista que Ricardo Teixeira deu a Galvão Bueno (notem os personagens) enterrando a "era Dunga". Ricardo sabe que precisa da opinião pública a favor da seleção brasileira, seja agora, quando os grandes negócios vão sendo fechados, seja na época da competição. Imaginem uma Copa aqui e todos contra a seleção! Portanto, agora, tudo o que Mano disser, será abençoado, ainda que os jovens atletas que vão sendo convocados, também, imediatamente galguem posições no ranking de empresários.
Gosto do time atual e da maneira que jogou seu primeiro jogo. Mano está fazendo o que todos diziam que devia ser feito. Tomara que continue assim. Mas é certo que Ricardo Teixeira está por trás, faturando a nova fase enquanto faz altos negócios. Serei acusado de crime lesa pátria por ser contra a Copa em nosso país?

Ouçam

Estou em uma fase ótima de cds de música instrumental brasileira. Ouvi e recomendo "Brasileiro", do pianista italiano Dario Galante, radicado no Rio de Janeiro e podendo ser encontrado, aos finais de semana, na Modern Sound, jammeando com os colegas. Seu cd tem o que há de melhor em samba jazz e bossa nova, tocados por uma banda que inclui Robertinho Silva, Yuri Popoff, Pascoal Meirelles, Lena Horta, Paulo Russo e Adriano Giffoni.
Recomendo também o cd do baixista Andre Vasconcelos, "2", que trabalha mais a área do jazz fusion e jazz Brasil, acompanhado por músicos paulistas da melhor qualidade, mais uma brecha para o guitarrista Torcuato Mariano. Muuuito bom.
Também ótimo é "Mauro Senise tocando músicas de Dolores Duran e Sueli Costa. Senise é um dos saxofonistas mais famosos do Brasil, com uma profícua produção. Músico sério, junta-se a outros estelares como Gilson Peranzetta, Paulo Russo, Ivan Conti, Itamar Assiere e vocais de Olivia Hime, mais orquestra e em "Sonho", inédita especialmente composta por Sueli, a própria ao piano. São clássicos como "A noite do meu bem" ou "Alma", por exemplo, tocadas lindamente. Procurem que vale.

Quem vai assistir? Quem vai ler?

Assisti a um trecho de entrevista concedida pelo escritor Marçal Aquino e o diretor Marco Ricca ao canal fechado Globonews, sobre o filme feito a partir do livro "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios". Primeiro, Ricca disse do tormento de também ser o produtor e não poder dizer ao público "vá assistir meu filme porque está nos melhores cinemas do Brasil". Não há dinheiro para um grande número de cópias e nem telas à disposição, uma vez que estas estão sempre reservadas para os filmes de Hollywood. Mas pior, mesmo, só mesmo a Literatura. Aquino acrescenta que apesar do livro ser um objeto que o autor pode dizer que tem em mãos, custa caro, em torno de 35 reais e tem tiragem ridícula de três mil exemplares, claro, deixando de fora obras de auto ajuda e paulos coelhos. Pensem em um universo de quase 200 milhões de pessoas e depois em uma tiragem de 3 mil exemplares. Pensem, depois, na feira calhorda do livro em Belém.

A volta da feira calhorda

Vai começar mais uma edição da Feira calhorda, a tal Pan Amazônica de Livros. Trará famosos escritores que darão palestras, autógrafos, serão bem ciceroneados e voltarão para casa encantados com o Pará. O relatório dirá que teve a visita de um público recorde, até porque também um bom número de artistas da música foi contratado para se apresentar gratuitamente. Enfim, um sucesso retumbante. Então porque será que sou do contra? Porque desejo desafinar o côro dos contentes? Sim, sou suspeito. Durante o governo tucano, nada que tivesse meu nome, seja em livro ou peça de teatro, poderia ser contratado. O mesmo procedimento continuou no governo petista, talvez porque a equipe da feira, imagino, tenha sido mantida. Mas leiam meus argumentos e tirem conclusões.
Nada tenho contra Feiras de Livro, Bienais, nada mesmo. São iniciativas que visam concentrar, durante uma semana, quase sempre, escritores, editores, livrarias e público em clima festivo que chama atenção para o Livro, força o contato com o público e todos saem ganhando. A tal feira calhorda, por exemplo, aluga um espaço, cobra em reais por espaços a serem ocupados por livrarias e editoras, contrata espetáculos de teatro, músicos de fora, atrações infantis. Mas qual a razão do insulto "calhorda"? Porque é feita pelo Estado e por isso, tudo muda de figura. Se o Estado realiza uma Feira, ela não é uma reunião anual onde livrarias, editoras e escritores convidados ganham dinheiro. Ela é, primordialmente, um momento de balanço da política cultural da Secretaria de Cultura para com a área da Literatura. O momento de mostrar quais os novos escritores paraenses, do relançamento de obras importantes, do trabalho realizado na popularização dos escritores de agora, das novas bibliotecas montadas nos municípios, concursos de redação e literatura, enfim. Junto com isso, a presença de livrarias, livreiros, editores e why not, escritores famosos que viriam juntar-se aos locais, dividindo espaços com a mesma atenção. Isso não acontece. Não existe nenhuma política cultural voltada para a Literatura. Não existe nenhuma política cultural. O secretário de Cultura foi lá colocado para que pudesse passar quatro anos mostrando-se em todos os municípios e no momento certo, como ocorreu, sair e candidatar-se à Assembleia Legislativa. Os escritores locais, como sempre, terão, certamente, um pequeno espaço, mal colocado, quem sabe, junto aos banheiros, para ficar. Aos escritores de fora, todos os rapapés e aplausos. Nas prateleiras das livrarias, procure achar um exemplar de escritor local. Procurem pela coleção completa das obras do autor que neste ano é homenageado pela feira. Procurem. Não sei o que meus colegas acham. Penso por mim e escrevo neste blog. Também nem sou convidado e nem irei para qualquer evento, tendo em vista o caráter calhorda da feira. Claro, uma noite, se tiver vontade, posso passar por lá como é direito de qualquer cidadão. Mas é uma feira calhorda. Até quando?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A entrevista de Andrew Jennings

Fiquei embasbacado ao assistir uma entrevista feita na ESPN Brasil com o jornalista inglês Andrew Jennings, talvez o maior inimigo da poderosa Fifa. O susto foi pela torrente de denúncias feitas sem nenhum disfarce ou jogo de palavras. Andrew é uma espécie de Lucio Flavio Pinto, sendo que o nosso querido jornalista é perseguido pelo que escreve em seu Jornal Pessoal e Andrew, no caso específico do Brasil, desfilou suas denúncias por um canal que mesmo fechado, tem enorme audiência nacional.
O principal alvo de Jennings é João Havelange que, pessoalmente, reputo como um dos canalhas mais competentes do mundo. Venerado, amado, invejado, considerado impoluto, políticamente vencedor, tornando a Fifa mais que a própria Onu, parece um crime acusá-lo de alguma coisa. E Havelange, cuja família já era dona da Viação Cometa, atleta de waterpolo, desde que assumiu a CBF, foi como um "cometa", desculpem, percebendo, longe, as chances de uma Fifa. E embora o Brasil seja um país campeão do mundo, admirado pelo talento no esporte, não é possível que apenas por méritos, almejasse a presidência, entre tantos europeus. Pois o brasileiro se elegeu e fez o que fez, mudando a sede para a Suiça, claro. Milhões e milhões e milhões. Um imperador. Saiu e deixou para Blatter. As razões para a Copa na África do Sul? Assistam ao programa. Para a Copa ser no Brasil? E Ricardo Teixeira, um aventureiro apostador de cavalos que casou com a filha de Havelange, foi feito presidente da CBF, separou-se e agora vai ficar ainda mais rico? E todos os outros, agora que vem também a Olimpíada?
Andrew conta tudo com muita tranquilidade, talvez por vir de centros desenvolvidos, onde se pode falar de tudo, sem o medo de ser assassinado, ou dobrar-se ao peso de milhares de ações na Justiça. Assistir Jennings foi um "eu já sabia". Fuçando atrás de informações, sempre me deparei com detalhes sombrios nas negociações do futebol mundial. Nem é surpresa ler que o destacamento precursor da Fifa já esteve na Rússia e gostou muito dos planos de uma próxima Copa. Meu pai ficaria aborrecido. Ele respeitava muito o imperador. Lembrei dele quando recebi, certa vez, a Bola de Ouro, em Cabo Frio, RJ, das mãos de Havelange. Sempre constrangendo ou impressionando com suas maneiras delicadas mas firmes, roupas finas e discretas, postura de rei, o cara é o canalha perfeito. Agora, teremos uma festa no Brasil, trazendo a Copa, fazendo o povo achar que ela é um acelerador de desenvolvimento local. Não é. Enfim, procurem na internet e assistam.

Olhar

É porque fiquei curioso quando li a notícia dando conta das primeiras sensações do rapaz, na Espanha, que teve um novo rosto implantado e deu entrevistas. É que também comentava sobre o momento em que se olhou pela primeira vez no espelho, com um novo rosto. O tempo que seu cérebro levou para reconhecer-se. Nós, homens, enfrentamos diariamente o espelho do banheiro para o barbear. Naquele instante, não estamos preocupados com rugas, expressões, cicatrizes, nada. Nosso cérebro avisa que o rosto está lá e iniciamos o barbear. Mas façamos diferente. Encaremos o espelho, procurando reconhecer aquele rosto. Mais adiante, olhos nos olhos, quem habita esse corpo, essa nave, essa embalagem? Qual é nossa embalagem? Ela vende que produto? O tempo em que o cérebro levou para reconhecer, ali, seu novo rosto. Achei isso incrível para uma conversa sobre, como nos vemos. É um assunto que vez por outra me interessa. Há longos anos, tinha uma página inteira em A Província do Pará, aos domingos. Um de meus temas foi "Como você se vê". Você assiste a um filme, por exemplo e está lá, na tela, em ângulos absolutamente diferentes. Você percebe o andar, a movimentação, o volume daquele corpo. É você, ocupando espaços, sorrindo, fazendo gestos. Você se aprova?
Aproveitando, um outro tipo de olhar que me tem feito pensar é aquele que passa por uma mídia. Com a profusão de aparelhos de fotografia e vídeo que temos, não há nada que passe despercebido no mundo de hoje. Alguém sempre estava passando e filmando. Mas pior, mesmo, é aquela pessoa que está diante de algum fato inusitado e ao invés de presencia-lo, prefere sacar o celular e filmar, certamente para depois enviar aos amigos, dizendo, "eu estava lá", ou seja, mais importante que presenciar com seus próprios e maravilhosos olhos, vê através de uma mídia, claro, com menos qualidade, mas tem em seu poder, como se não fosse suficiente guardar na memória. Já foram, por exemplo, a um desses chatos recitais anuais de academias de balé? Uma multidão de familiares se posta à frente do palco, filmando tudo. Os caras perdem um grande momento em suas vidas, assistir a filha ou filho dançar, para gravar.. Uma questão de olhar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Teatro de Graça?

O Festival Territórios de Teatro, realizado por Esther Sá e Nando Lima já está em sua terceira edição, reunindo em uma semana espetáculos da produção local. O ingresso é 1 kg de alimento não perecível. Nesta segunda, nove da noite, apresentamos no Cuíra a peça "Abraço", com Cláudio Barradas e Zê Charone, com casa completamente lotada. Como lotada? Teatro paraense, lotado, noite de segunda feira? E assim tem sido em todos os outros dias. O que isso quer dizer? Quem é essa platéia que lotou e está lotando os espaços? Jovens, muito jovens, gente que começou a fazer ou estudar teatro. Gente da "crasse" em geral? Quer dizer que esperam o ano inteiro para poder assistir sem pagar? Não podem pagar? Acho que podem. Podem e vão aos bares, cinemas e shows. Não querem pagar para assistir teatro, mesmo que, também, façam teatro. Difícil explicar. Então o Festival está servindo meramente como informativo à tchurma? Claro que ele não foi feito para isso e sim, permitir que pessoas que não puderam assistir, o façam, pelo preço de 1 kg de alimento não perecível. Mas efetivamente o que está acontecendo é outra coisa. Quanto à classe média, prefere assistir Passione, saindo de casa apenas para ver globais em qualquer coisa, um afastamento que precisa ser estudado e combatido. Digo isso porque amigos, até blogueiros que respeito, que gostam de Cultura, que fazem Cultura, também não vão, na base do "vamos ao Teatro, mas não me chame". O que fazer a respeito?

A Modern Sound

Acabei de ouvir um cd sensacional, "Impressions", gravado por Cláudio Roditi, em 2006 e somente agora lançado pela Biscoito Fino. O brasileiro, que mora nos EUA, veio para férias e claro, passou na Modern Sound, onde os bambas cariocas se reúnem. Sabe o que é reunir Roditi com Idriss Boudrioua, Dario Galante, Sergio Barroso e Pascoal Meirelles para tocar samba jazz e bossa nova instrumental? Gravaram em um dia ou dois. Sensacional.
A Modern Sound pode ser a melhor loja de discos do Brasil. Eu a descobri ainda criança e lembro de ter achado "Cirkus", do King Crimson e escondido em uma prateleira qualquer, de tal forma que regressasse à casa de minha avó para suplicar-lhe pelo montante necessário para adquirir o disco. Ao longo do tempo, mesmo com alguma empáfia no atendimento, foi crescendo e crescendo, vendendo discos importados e muita mpb. Comprou um cinema que ficava colado à sua parede e havia fechado. Virou lojão e criou também uma espécie de café bar, onde permanentemente havia um pianista ou grupo, tocando mpb e jazz. Adiante, o espaço foi descoberto e passou a ser utilizado para o lançamento de discos de apelo específico. Há pouco, veio a crise e a Modern está balançando. O lojão está lá, mas há poucos compradores e uma certa tristeza no ar. O café bar continua funcionando e lançando. Ouvir "Impressions" é um pouco como estar lá, ou seja, ótima sensação, delícia de ouvir. Tomara que sobreviva, senão, será mais uma saudade.

Sem carro

Meu carro deu problema, sábado à noite. Somente na segunda, o guincho levou para a concessionária. Fui buscá-lo agora, quatro da tarde, terça feira. A falta que ele me fez! Pode ser delírio pequeno burguês, o que quiserem. Acho inclusive que a única saída para esta pobre cidade de Belém está no metrô por superfície, que garantiria o ir e vir da população, de maneira adequada. Mas não é disso que quero falar. Nem da falta que o carro me fez, causando-me desconforto, ansiedade, um sentimento de falta de alguma coisa. Afinal, com o carro, somos absolutamente independentes para ir a qualquer lugar, quando quisermos. Enfim, chega de lero lero. Tomei um taxi na Presidente Vargas. Às quatro da tarde, é impressionante o número de táxis estacionados, nos dois lados da avenida. Impressionante. Mais impressionante é o número de carros e caminhões que estacionam em fila dupla, em qualquer situação, ou seja, em frente a colégios, em qualquer lugar, próximo a parada de ônibus, faixa de segurança. O grau de agressividade dessas pessoas, seu desprezo pelo coletivo é imenso. Passo muito na Duque e lá acontece isso, demais. Pior, estacionam, mesmo, em rua de razoável velocidade. Próximo ao sinal da Igreja de NS de Lourdes, uma distribuidora permite grandes caminhões bem na curva. Ou são caminhões que distribuem refrigerantes. Na maioria das ruas de Belém, importantes ou não, largas ou não, é permitido o estacionamento de ambos os lados, o que é um absurdo, pois afunila o espaço para os carros em movimento. Adicione a isso a fila dupla. Quem, a não ser os "flanelinhas", autorizou, na Boaventura da Silva, entre 14 e Alcindo Cacela, o estacionamento em diagonal, causando um engarrafamento constante e estressante? Quem, a não ser flanelinhas autorizou o estacionamento, em diagonal, na Osvaldo Cruz, ao lado da Praça da República? E no quarteirão seguinte, Riachuelo, entre Presidente Vargas e Primeiro de Março? Quem? As pessoas assim procedem porque estamos todos descendo, ladeira abaixo, nossos mínimos comportamentos civis, na direção da selva. E nem falo dos vendedores ambulantes, das cozinhas ao ar livre, da ferocidade dessas pessoas, prontas a declarar, entre ingênuos, entre ameaçadores, que poderiam estar assaltando, que não têm onde ganhar dinheiro para sustentar a família. Enfim, tudo isso porque ao ser passageiro de um taxi, observei mais e pude pensar, sem os pontos de referência dos motoristas e suas preocupações.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Lendo e assistindo

Aproveitei os últimos dias das férias para seguir minha atualização em leitura, cinema e cds, mesmo que esteja vivendo um vendaval, pois dirijo "Abraço", com Cláudio Barradas e Zê Charone, que será apresentada no Festival Territórios de Teatro, na próxima segunda feira; "As Gatosas", com estréia em 1 de setembro e "Sem dizer adeus", que estréia em outubro. Nada mal para quem nunca sonhou em dirigir teatro. Espero parar por aqui. Prefiro escrever. Dirigir é muito sedutor, mas para poucos. Há que se entender muito da cena teatral. Tirar partido do texto, do corpo, da melodia, da situação, de mínimos detalhes. Prefiro escrever, que me seduz mais ainda.
Mas andei assistindo "500 dias para ficar com ela", com Joseph Gordon e Zooey Deschanel, filme para jovens, mas bem feito e com uma trilha sonora soberba, anos 80, Smiths and Co. Vi também "Coco & Igor", sobre o romance entre Coco Chanel e Igor Stravinsky, início dos anos 30, com Mads Mikkelsen e Anna Mouglaus, música de Gabriel Yared. Filme chiquérrimo, claro, um momento tão maravilhoso, que juntava Stravinsky compondo "A Sagração da Primavera", Chanel criando "Chanel no.5", Diaghilev autor da coreografia e Nijinsky ensinando aos bailarinos. Belo filme. E lembro que conheci Stravinsky através da banda de rock progressivo Yes. Em "Yessongs", álbum triplo, gravado ao vivo, ouvimos, antes dos primeiros acordes de guitarra, "A Sagração da Primavera". Dessa maneira, conheci também Mussorgsky e "Quadros de uma Exposição", por conta do Emerson, Lake & Palmer e até Liszt, por conta de Rick Wakeman. E por tocar em música, recomendo, vivamente, o novo disco dos Eels, "End Times", o segundo disco da banda em menos de um ano. Bem, Eels é sómente um cara. Conheci através do fotógrafo e amigo Luiz Braga, que me passou seu primeiro trabalho, com "Novocaine for the soul". Apesar de não mais repetir tanto brilho, o que o Eels apresenta, é simplesmente ótimo. O som é sujo propositalmente, criando cenas, como teatro, sentimentos devastadores e lindos de melodia, letra e voz. E li também "Sarah", de JT Leroy, escritor que teve sua farsa revelada após vir ao Brasil para a Flip, creio. JT vendeu a idéia que escrevia sobre sua vida, cheia de dificuldades. Sua mãe era uma prostituta e o prostituía, vestido de menina, à beira das rodovias americanas. Não era bem assim e a figura que se intitulava JT, não era ele, tampouco e sim uma amiga. Quanto ao livro, é o que disse antes. Mas bem legal.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Bela homenagem

Jô Soares prestou bela homenagem, ontem, em seu programa, ao falecido cenógrafo Ciro del Nero, declamando um poema da americana Mary Elizabeth Fry, a quem não conhecia:
Não chore à beira do meu túmulo. Eu não estou lá.
Eu estou nos ventos que sopram.
Nos diamantes que cintilam na neve e na luz do sol nos grãos dourados
Eu estou nas chuvas de outono.
No vôo suave das aves e nas estrelas que iluminam a noite
Não chore à beira do meu túmulo
Eu não estou lá