quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Maguenhéfico

O MAGUENHÉFICO
Quando conheci meu avô, ele já estava bem velhinho. Passava pouco tempo em sua escrivaninha, no segundo andar do Palácio do Rádio, sobre a qual havia sempre muitos recortes de jornal e papéis escritos à mão em uma caligrafia nervosa e difícil de entender. Baixinho, magro e cabeçudo, seus amigos diziam que eu era uma miniatura dele. Nas ruas, andava lentamente, atendendo conhecidos e pedindo-lhes para escrever seus nomes em uma caderneta amassada, dizendo que era para mencioná-los em sua crônica. Na verdade, não lembrava seus nomes.. Às vezes, no imenso pátio da casa em Mosqueiro, antes de sentar e ficar acenando para os amigos, danava a lembrar acontecimentos. Eu bebia o que contava. Uma época maravilhosa, romântica, como uma Paris em plena Amazônia, com homens de paletó de linho, chapéus de palha, cafés lotados.
Uma vez, estádio da Curuzu, Remo e Paysandu jogando, Amoroso escondeu-se dos zagueiros alviazuis na saída de uma bola pela linha de fundo.
Quando o goleiro Omar repôs a bola para o zagueiro Abel, o atacante azulino veio, roubou a bola e fez o gol. Ele, que foi um dos fundadores do Paysandu, precisou ser contido em sua emoção, com tantas vibrações. Meu avô querido.
Nascido em fevereiro de 1892, cedo perdeu o pai, largou os estudos e foi trabalhar para sustentar mãe e três irmãs. Aos sábados, um padrinho reunia amigos em sua casa para almoçar. Ele levava o jornal “O Pau”, que passava de mão em mão entre os convivas que pagavam para ler. O dinheiro servia para comprar livros e cadernos. Foi despachante representando várias empresas, entre elas, a Fábrica Palmeira. Jornalista, escreveu em A Província do Pará, A Tribuna, Folha do Norte e O Estado do Pará, tornando-se um dos grandes nomes do setor, recebendo o título “Príncipe dos Cronistas Esportivos do Norte”. Criou o apelido “Leão Azul”, para o Clube do Remo. Foi um dos fundadores da Aclep, Associação dos Cronistas Esportivos do Pará. Nada disso era suficiente. Edgar Proença também foi redator de revistas como A Semana e Pará Ilustrado, sendo um dos primeiros colunistas sociais, sob o pseudônimo Miracy, crônicas depois reunidas no livro “Gravetos”. Ou ainda “Crônica da Cidade Morena”, o apelido que deu a Belém.
Juntamente com Eriberto Pio dos Santos e Roberto Camelier, fundou em 1928 a querida Rádio Clube do Pará, na qual foi homem de todos os instrumentos, como primeiro locutor esportivo, apresentador de programas, rádio ator e redator. Nas praças esportivas, me contaram, deixava de narrar o jogo em andamento para saudar a chegada de alguma senhorita de grande beleza. Naquela época, eram acontecimentos sociais os jogos de futebol. Imagine se fosse hoje..
Tendo a chance, já adulto, voltou a estudar e formou-se em Direito em 1936, chegando às funções de Juiz Substituto da capital.
Além de “Gravetos”, publicou os livros “Colcha de Retalhos” e “Melodias do Coração”, o que lhe deu lugar na Academia Paraense de Letras. Também atuou no Teatro, sendo autor de peças como “Taça Vazia”, “Blusa de Chita”, “A Mulher que Passa” e “Vestido de Noiva”, apresentadas no Teatro da Paz, casa que dirigiu anos mais tarde.
Quando a Rádio Clube completou 80 anos, escrevi a peça “A Voz que Fala e Canta para a Planície”, encenada pelo Grupo Cuíra, com grande êxito. Foi uma ocasião única para mergulhar na história desse homem esplêndido, realizador, ousado, que a tudo vencia com trabalho, inteligência, talento e verve. Casado com Celina Proença, teve dois filhos, Edyr e Célia. E os netos, todos mexendo em Comunicação, de uma maneira ou outra, caminho, também de alguns bisnetos.
Quando morreu, eu já era adolescente e tinha perfeita idéia da trajetória e dos feitos daquele meu avozinho baixinho e cabeçudo, que andava de pijamas e chinelos arrastando, lendo seus jornais. Um gigante o meu avô. O maguenhéfico!

Iracundo, o romance de Damaso

Acabei de ler os originais do primeiro romance do jornalista Marcelo Damaso, mais um jovem escritor à procura de uma Editora, de um canal para divulgar seu trabalho. Gostei muito. Primeiros romances costumam ter tons autobiográficos. Tal não se aplica a mim, mas é uma realidade. O personagem é jovem, depois de 25 anos, formado em jornalismo, trabalhando na assessoria de imprensa de um órgão federal em Belém. Não é preciso dizer que ele sofre dessa depressão que atinge qualquer jovem nesta cidade, que ligado na internet ou tv, tem acesso à a torrente de novidades e possibilidades que correm no mundo, em situação diametralmente oposta ao que acontece nesta cidade. Cultura, Educação, Trabalho, nada temos a oferecer que satisfaça um garoto ávido, curioso, com muito talento e desejando participar dessa vida. O personagem quer escrever um romance on the road. Sai pela estrada e após várias peripécias, vai dar no Uruguai. A leitura vai rápida, fácil, cada frase puxando outra, bom ritmo e de repente, terminamos querendo mais. Tomara que Iracundo seja lançado. Marcelo é um escritor que tem coragem de usar Belém como ponto de partida. Belém urbana, seus jovens e problemas. Gostei.

Os Frenemies

Nenhuma amizade é perfeita. Meus amigos me decepcionaram muitas vezes. Me faltaram. Tenho apenas três ou quatro amigos de verdade. Não incluo familiares na lista, claro. É outra categoria. Minha mãe, irmãos, meus filhos. Mas também não sei onde colocar aqueles que estão sempre por perto, que não chegam a ser apenas colegas, mas também não são amigos. Mas é certamente nesse bloco maior que estão os que hoje são chamados de Frenemies, uma junção de friend e enemy, amigo e inimigo. Sabe aquele cara que está sempre por perto, participa da conversa, é até chamado pra festinha de aniversário, faz parte da turma, mas que não deixa de jogar farpas em tudo o que você faz? Ele até diz "sabe, eu só quero ajudar, mas.." e esculhamba conosco. Esse é o frenemy, um inimigo disfarçado de amigo ou alguém que é ao mesmo tempo, amigo e inimigo. Mas vamos combinar, somos todos tão vários, que realmente, nenhuma amizade é perfeita. Um amigo ficou bem chateado comigo por ter escrito um conto a partir de algo que lhe aconteceu. Eu não imaginei isso. Achei que o efeito seria contrário. Escritores são vampiros de histórias. Pulam no pescoço e roubam, mesmo. Nunca é exatamente o que foi dito, mas está lá. E veio a queixa. Devia ter pedido permissão. Sensação estranha, sua história, sua vida, aquele momento, agora, ali, no papel. Mas acho que tergiversei. Esse desentendimento foi outra coisa. E o Frenemy? Você conhece algum?

Pato Fu para crianças grandes

Grande idéia a do Pato Fu, uma banda que de indie passou a ser estrela da música pop, até dar uma parada. Fernanda e John tiveram filho, deram um tempo e na primeira tentativa de retorno, fracassaram. Mudou o mundo, o mercado, mudou tudo. Num mundo de novidades o tempo todo, ninguém quer gravar nada novo, com medo de rejeição. Então veio a idéia de gravar um cd com músicas que gostam, música pop, tipo Tim Maia, Rita Lee, Paul McCartney, mas com instrumentos de criança. O resultado é brilhante, nada de infantil no que pode significar algo menos importante, mas totalmente infantil em questão lúdica, a transformação de instrumentos simples, ou sua adequação a um som adulto, mas também festivo, naquilo que a música tem de natural, alegre, infantil. Será que me expliquei ou virou lero? É muito bom. Tomara que receba prêmios tipo Grammy, premiando a inventividade, mas melhor que isso, tomara que muita gente escute.

Baarìa

É o filme a ser assistido. Como um retorno aos anos 70, quando formei minha consciência cinematográfica, assistindo no Cinema Palácio e também no Catalina, da Base Aérea, obras de Visconti, Fellini e Buñuel, entre outros. Baarìa parece autobiográfico de Giuseppe Tornatore, contando a história do garoto Giuseppe, ou Peppino, morando na Sicília, Palermo, antes da Segunda Guerra Mundial, que também assiste, com a chegada dos fascistas do Duce Mussolini. Cresce, casa com a menina mais linda, tem filhos, torna-se político, Partido Comunista, é candidato em belíssimas e poéticas cenas de uma Itália que sofre com a fome, falta de Educação, Cultura, Saneamento, mas que em um dado momento, começa a encontrar seu caminho. E ao final, retornamos à mesma rua, mesma casa, agora com tudo asfaltado, prédios e a casa, sim, a casa, sendo totalmente reformada, muito lindo. E lembro de mim, criança, passeando de bicicleta sobre o asfalto da Presidente Vargas, a mesma por onde, hoje, vou e volto de casa para o trabalho. A vida é um piscar d'olhos.

Dennis Hopper morreu

Uma pena. Um super ator. Morreu aos 74 anos, câncer de próstata. Deu algumas entrevistas bem esclarecedoras sobre sua vida, coisas que não sabia e quero dividir com vocês. Estreou no cinema em Gant, de 1956, mas fez Rebel without a case, o clássico, um ano depois, ao lado de James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo e Nicholas Ray. Tá pra vocês? Ele também achava que Dean era um milagre, alguém que iria reinar como melhor ator e diretor de cinema. E então ele queria fazer um filme com Peter Fonda e não conseguia dinheiro. Alguém veio e quis filmar Easy Rider. Ele dirigiu e atuou. Foi o que foi. Retrato de época. Jimi Hendrix na trilha sonora. On the road. Motos, fumo, psicodelia. E lá em frente ele está em Apocalypse Now, de Coppola. Tá pra vocês? Um ator intenso, de gênio terrível, o que lhe valeu problemas e como direi, uma marca, um tipo de atuação. Virou um grande colecionador de arte moderna. Filmou com Babenco Ironweed, muito bom. Pouco visto. Pouco americano, quem sabe, o filme. Ressurgiu em Blue Velvet, fazendo aquele gangster viciado, fazendo o público nervoso, desconfortável. Creio que Nicholas Cage, recentemente, será em Vício Frenético? um policial também viciado, conseguiu o mesmo efeito. Que grande figura nós perdemos. Nas mesmas Rolling Stone e Interview, via iPad, li uma entrevista com Bret Easton Ellis, um cara que escreveu alguns romances bem chocantes e modernos. Muitos não gostam, sei lá, mas eu gosto, me inspirou muito na escrita. Começou com Less than zero, romance sobre garotos angelenos, filhos de pais da indústria cinematográfica, ricos e malucos. Teve O Psicopata Americano, que também virou filme, mas nem perto do livro, tão chocante em violência, seja em atos, seja em marcas de roupas e artigos de luxo. Muitos outros, como Glamurama e Os Informantes. Seu livro novo é Imperial Bedroom e trata como uma volta ao primeiro livro, reencontrando alguns personagens e o momento que vivem, hoje. Espero ansiosamente.

Andando pelas ruínas da cidade

Por motivos diferentes, dei boas caminhadas pelo centro da cidade. Na primeira vez, ao sair da Estação das Docas, resolvi tomar a direção da João Alfredo, passando pela frente da Igreja das Mercês, tão bonita, históricamente tão importante e ali cercada pelos apaches. Pior ainda a Praça em frente, com belas estátuas, absolutamente ignoradas pelos camelôs que lhe ofendem com a presença, sujam e denigrem a história. Olho em volta. Olho para cima. Belas e antigas casas, tantas coisas a contar. E embaixo, essa chusma que grita, mija, caga e fode com a ordem. Nenhum deles desejará ter um emprego no qual use uniforme, tenha relógio de ponto e obrigações. Como "marreteiros", passam o dia jogados, conversando, rindo, arengando, sem horário, sem pagar impostos, vendendo produtos piratas. A inversão de toda a Ordem que chamamos de Civilização, maneiras que encontramos para conviver, um respeitando o direito do outro. Olho o tabuleiro dos cds e dvds piratas. Dos artistas, nunca ouvi falar. Dos filmes, apenas de terror, violência, monstros, um grito de socorro que dão, pedindo, mesmo que não saibam, Educação, Cultura, Saúde e Saneamento. Ali, estamos descendo muitos degraus retornando à selva.
Da segunda vez, voltando do Pátio Belém, da Padre Eutíquio para a Presidente Vargas. Hora de almoço. De um lado, o shopping e sua praça de alimentação. Fora, inúmeras barraquinhas, lotadas, vendendo algo que não se posso chamar comida, tamanha a falta de higiene e qualidade. O fosso, mais uma vez presente. Será que há quem vá passear no shopping e saia para comer onde pode pagar? Será que são funcionários do shopping? Lá dentro, vendem artigos de qualidade, mas têm de sair e comer o que há de pior? E as casas? Há casas lindas ali, em uma delas, meu pai nasceu, quando a rua ainda era São Mateus. Passo na Praça Barão de Rio Branco, bem cuidada, felizmente. Nas paradas de ônibus, uma miríade de camelôs oferece de tudo e joga os restos no chão. As casas são imundas, depredadas, com outdoor na frente, machucadas, ofendidas, agredidas. A beleza esmurrada. e todos no meio da rua, ou expulsos pelos camelôs, ou porque estamos voltando à selva e lá, não há calçadas. Onde está Belém, tão linda, que sobrevive em nosso coração?

Luli Radfahrer

Não estive presente ao lançamento do Diário On Line, novo site do Diário do Pará, adaptando-se aos novos tempos, mas meu irmão voltou encantado com um dos palestrantes, Luli Radfahrer, embora nem tudo tenha escutado, uma vez que a balbúrdia do ambiente não permitia. Realmente, não era o melhor lugar. De qualquer maneira, acessamos seu blog. O cara é muito bom. Uma de suas preocupações no momento é com a possibilidade de termos a escolha única sobre o que desejamos saber. Luli diz que quem tem o controle sobre o que vai ver, acaba conscientemente evitando idéias, sons e imagens com as quais não concorda ou não gosta, e assim não exercita seu espírito crítico e imaginação para conhecer aquilo que é novo. Penso no jovem na frente da tela, evitando assuntos que lhe pareçam chatos, desagradáveis, mas que acabam sem a riqueza da informação, virando cdfs bitolados em apenas um assunto. Luli quer que a rede some simplicidade, acessibilidade, gente se exprimindo, se comunicando e se encontrando, mais idéias diferentes se misturando na tal ansiedade de inovação. E somente com Cultura se pode fazer frente aos tempos modernos, tão esquisitos, as coisas acontecendo tão rápido que nos fazem ficar paralisados e sem reação diante da novidade. O choque entre aquele que maneja seu iPad e o outro que é camelô. Um é interessado nos próximos lançamentos, sabe como tudo funciona. Outro, passa o dia na barraca, batendo papo, arengando com os outros, vendendo seus produtos, de repente vem um iPad e ele inventa um nome, aprende que arrastando o dedo na tela acontece isso e apertando o botão aquilo. Esse fosso é absurdo e está liquidando nosso Estado. É outro assunto? Então escrevo em outro post. Procurem conhecer o Luli.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Partido da Cultura

Recebi por email convite para participar do PC, Partido da Cultura, um grupo de pessoas interessadas em discutir e valorizar a Cultura do Pará. Li os nomes, alguns não conheço, mas estão realmente envolvidos no assunto. Depois, percebi que havia a idéia de ir em comitiva ao encontro de alguém, creio, do Governo, para ouvir suas propostas para o setor. Havia também uma entrevista com a governadora Ana Júlia. Prontamente neguei veementemente minha presença. Nunca mais participarei de qualquer iniciativa dessas, por ter sido enganado em todas as outras vezes por esses mentirosos faceiros em tempo de eleições.
Quero participar do PC e até me disponho frequentar reuniões e discutir melhores caminhos, mas sem a presença de candidatos de qualquer lado.
Estamos no fundo do poço. Trabalhei como técnico na Secretaria da Cultura, por dois anos, no Governo de Jáder Barbalho. Por isso, sobre o que foi feito, não me manifesto publicamente, mas na qualidade de cidadão, tenho o direito de me manifestar sobre os secretários que vieram nos governos seguintes. Nos primeiros oito anos do PSDB, atos absurdos e loucos foram cometidos, destruindo o pouco que havia de alicerces. Quando veio Jatene, forçado a manter uma pessoa no cargo, optou por retalhar a área Cultural, colaborando para implodir definitivamente o que já estava no chão. O governo do PT ainda fez pior. Colocou no cargo um vereador para que, nos quatro anos de Governo, estivesse em todos os municípios, de tal forma que se elegesse deputado nas próximas eleições. Quer dizer, Cultura, nem te ligo, só te uso.
Hoje, não temos nada. Cada órgão é comandado por um Partido, sem dotação orçamentária, com administrações quase sempre amadoras, cada um disparando para um lado e ninguém acertando o alvo. O discurso do PSDB ao assumir era acabar com o "paternalismo cultural". Quá qua qua. O PT diz querer "democratizar o acesso". Quá quá. Perdi, com o projeto de um cd com músicas inéditas do meu pai, uma Lei Semear. Perdi, com o Cuíra, outra Lei Semear. A razão? Falta de interessados. E olha que conheço muita gente e com elas estive. O empresário não acredita. Cultura sumiu do radar dele. Tem medo de ser fiscalizado e não faz, ainda que não vá gastar 1 centavo pessoal. E vem Ana Júlia a falar de PAC, PEC, francamente. E vem dizer que em quatro anos reuniu sei lá quantos gestores do Estado, para um Plano e tal, parecendo Gilberto Gil e seu Juca, oito anos e até agora a Rouanet ainda não é algo pronto.
Lá no Cuíra temos feito tudo a partir de prêmios aos quais nos habilitamos, como qualquer outro projeto. Acabamos de assinar o contrato com a Petrobrás e graças a Deus temos o que fazer em 2011 e 2012. Mas é muita lenha. Ganhamos seis máquinas de ar condicionado e agora a batalha é por dinheiro para pagar sua instalação. E depois? O cara da Celpa me disse que eu teria de pagar a conta como qualquer um, pois se desse isenção para cada projeto cultural que aparecesse, seria um inferno. O que vai ser depois? Não sei. Imagine quem não conseguiu patrocínio. Alguém dirá que isso é paternalismo, que o Teatro precisa viver de sua bilheteria e eu não discordo. Já cansei de lotar Teatro da Paz, com mil lugares, com direito a sessão extra, mas após tanto gol contra, a Cultura local está por baixo. Depois, é uma conversa longa, na direção da constituição de um mercado de Cultura. Outro dia eu escrevo isso.

Nem Remo, nem Paysandu

Acabo de ler que Marise Morbach vai dar um tempo até depois das eleições em suas postagens no blog /Norte. Entre outros motivos, o bombardeio agressivo que sofreu por declinar seus candidatos às próximas eleições. Pena. Se há algo que ainda não conseguimos em relação as pessoas que respondem aos nossos posts, é uma postura educada, de todos. Assim como chegam manifestações até contrárias, mas de alto nível, vêm insultos imperdoáveis. Em nosso declínio civilizatório rumo à selva, estamos em uma situação que, se criticamos o Remo, é porque somos torcedores do Paysandu e vice versa. Ninguém quer discutir argumentos. É tudo raso e estúpido.
Se é feita alguma crítica ao PT, a resposta é logo contundente, integrando o crítico a "Eles", os inimigos. A situação inversa também é verdadeira. Mas o certo, mesmo, é que a expressiva maioria de brasileiros não tem nenhuma inclinação ideológica. Nem os partidos têm. Eu não tenho. Já votei em candidatos do PMDB, PSDB e PT. Sim, votei em Lula, na primeira eleição. Fui mais um dos enganados por aquela campanha de Lulinha paz e amor. Serra me pareceu pouco simpático, um tanto raivoso, como esses pais mal humorados e eu achava que o Brasil precisava de alegria, Lula estava há anos na fila, enfim, que decepção. Para mim, total. Acabo de ler Jânio de Freitas, na Folha, comentando sobre o desânimo que se vê em relação ao assunto eleições. Não há nada que seja espontâneo. Nenhuma manifestação. Estava na Banca do Alvino, uma manhã dessas e o carro som se descabelava e nos agredia sonoramente com o jingle de Ana Julia. Todos os que passavam, riam e comentavam "acelera, imagina".. Nunca houve tamanha distância entre a sociedade e os políticos como nesta eleição.
Pois não votarei em Lula. Nunca mais. Ele me enganou. Dentro daquilo que acredito que deva ser um político, homem público, mais ainda, Presidente da República, Lula está completamente errado. Mas tenho medo de José Dirceu. Sem querer dar uma de Regina Duarte", o cara é perigoso. Lembro, uma vez, manhã bem cedo, na Tv Liberal, estávamos na mesma sala, aguardando para dar entrevista. Ele em mil telefonemas, articulando, sempre. Sua história, declarações, como essas que acabam de ser reveladas em O Globo, para uma platéia de sindicalistas. Ele, que o mensalão tirou do lado de Lula, proporcionando que este se tornasse o que é, agora quer voltar por cima. Dilma é um poste eleito por Lula, mas no Poder, significará a volta do PT à Presidência. Lula não é PT. Lula é Lula. Será que darão o golpe no cara, devolvendo o ato? Afinal, Lula, no projeto inicial, reinaria, mas quem governaria seria José Dirceu. É um homem fixado em seu projeto de poder. Que recebe derrotas com um sorriso, cai e se levanta novamente, com mais periculosidade ainda. Sem amor, paixão, emoção, fechado naquilo que deseja. E quando confrontados com fatos, todos se defendem atacando, não sentindo um pingo de constrangimento. Agora, Erenice Guerra, que descobriram ser fábrica de dossiês, é imprensada, vítima de seu próprio produto e demitida, vergonhosamente. Dilma, de quem sempre foi o braço direito, nem tchongas. "Apenas uma ex-assessora". São fatos. Tenho medo. Não gosto de Dilma. De seu olhar, seu jeito de falar e andar. Pode ser coisa de romancista, mas parece ser uma mulher com um oceano de vingança na alma, que às vezes aparece em gotas no seu olhar.
Antes que alguém pergunte sobre Serra, digo que hoje continuo achando a mesma coisa e não duvido das mesmas maracutaias, que nos são tão vergonhosas. Quanto ao que temos no Pará, pior ainda. Já escrevi em outro post. Todos os que nos governaram nos últimos 50 anos não têm o direito de nos pedir votos, uma vez que em todas as pesquisas referentes a Educação, Saneamento, Saúde, várias outras, estamos ou na última ou últimas colocações. Insuportável. Enfim, não sou Remo nem Paysandu em Política, apenas um brasileiro comum, querendo o melhor para todos. Sim, sou capitalista, acredito no lucro, mas não acredito em selvageria, em injustiça para todos. Em quem votar?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Meu filho casa hoje

Meu filho mais velho casa hoje. Felipe Augusto casa com Ana Paula, logo mais em cerimônia no Crowne Plaza. Espero que sejam felizes. Muito felizes. Creio que somente os pais sabem ou nem conseguem mensurar o tamanho do amor que têm pelos filhos. Basta falar neles para ficar emocionado. Tenho dois. Foram criados na base do diálogo, do argumento, como fizeram outros pais da mesma geração, talvez como uma resposta à Educação mais rígida de nossos pais. Não me arrependo nem um pouco. Somos amigos. Bons amigos. Dividimos música, roupas, futebol, assuntos de trabalho. Apesar de ter chegado às últimas etapas do curso de Psicologia, Felipe vai se formar em Administração com ênfase em Marketing e está comigo na Jovem Pan. Não é chegado em Teatro, como eu, mas gosta de ler, ver filmes, ouvir música, sabendo tocar instrumentos. Talvez tenha custado um tanto a amadurecer, mas eu também custei e agradeço a Deus ter permitido poder gozar da infância e adolescência até onde foi possível. Bastante independente, começou a dirigir logo aos 18 anos, com seus amigos e afazeres pessoais. E me deixava em casa sem dormir direito, preocupado. Ainda deixa. Já é um adulto, mas para mim, uma criança. Um menino. Eu o respeito como adulto, em suas opiniões, mas o observo com amor e carinho. Agora vai se casar com Ana Paula, filha do Boulhosa, que conheci ainda no Colégio Nazaré, uma boa moça, tranquila, de opinião, que também gosta de ouvir música, ler e assistir filmes, odontóloga de profissão. Eles casam hoje e eu fiquei pensativo, observando a passagem do tempo. Por coincidência, esta semana, mexendo em papéis antigos, topei com uma revista local, dessas que duraram dois ou três números, falando do rádio e televisão em Belém. Engraçado, em uma das páginas, não lembro a razão, uma foto de Felipe com pouco mais de 1 ano de idade, tirada pelo amigo Luiz Braga. O tempo passa, não nos damos conta. Ainda é o mesmo filho bonito que tenho e lembro de um sonho que cheguei a transcrever para o papel mas não sei onde botei, onde ele estava em uma situação em que sustentava o peso do mundo e eu chegava próximo ao seu rosto e notava a perfeita tranquilidade em que estava. Sim, eu estou feliz, muito feliz e tranquilo, em paz, porque meu filho é um belo rapaz e eu espero que seja muito feliz com sua Ana Paula. Será que serei avô brevemente?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Na vera, veríssimo

O grande Luiz Veríssimo já publicou em sua coluna em O Globo, os fartos e costumeiros elogios à Feira Calhorda do Livro em Belém, onde sempre é convidado, bem recebido, paparicado. Veríssimo ficou espantado com o número de visitantes, embora afirme saber que nem todos foram ali movidos pelos livros e sim pelos shows gratuitos de grandes estrelas da mpb. Mas é que sem saber o que realmente acontece, o grande escritor e jornalista colabora para a continuação dessa agressão contínua à Cultura do Pará. Não sei se recebe cachê, acho provável. Mas fica em hotel de alto nível, é paparicado (justamente) pelo público, é levado ao Capone na Estação das Docas onde estraçalha um filhote, por exemplo, retornando à sua base feliz da vida.
Quando Veríssimo elogia a Feira Calhorda, colabora com o nosso fim, ou seja, a propaganda é muito mais forte do que as tímidas manifestações contrárias. E este ano, mercê da inclusão de um stand, a FC (Feira Calhorda) recebeu apoio de O Liberal. Qualquer assessoria de imprensa reúne os recortes dos elogios feitos, erradamente, ou equivocadamente, e comprova que a Feira é ótima. Não é.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Aqui é o fim do mundo

Pego o trecho de Marginália, de Gilberto Gil a cada dia em que leio pesquisas nacionais em que Belém, ou o Pará, sempre figuram nos últimos lugares. Um dos piores em Educação. Uma das piores em Violência e Assassinatos. Belém é uma das cidades que menos é servida por Saneamento, do Brasil. A Saúde no Pará é uma das piores do país. Este é o mesmo Pará em que pululam instituições de ensino superior? Esta é a mesma Belém, o mesmo Pará em que políticos insistem que dobraram, triplicaram o investimento em Segurança? Esta é a mesma cidade em que a construção civil bate recordes em lucros e lançamentos? Esta é a cidade em que a Saúde tem diversos hospitais inaugurados ou sendo inaugurados? Um amigo médico, sábado passado, me contou que estava de plantão no hospital metropolitano. Chega um rapaz com a mão estourada. Sala de cirurgia, rápido. Anestesiou e foi em busca dos instrumentos e demais materiais para a operação. Não havia. Está em falta. O hospital passou para outra administração que demitiu 200 funcionários e reduziu despesas. O que fazer?
Posso fugir do horário político, mas às vezes, as inserções nos pegam desprevenidos. Como aceitar que os governantes dos últimos 50 anos tenham o desplante de vir pedir votos? De elencar realizações em seus governos? Deveriam ter vergonha, fugir, pedir para sair. E quando há debates, são tão amarrados que as respostas beiram o ridículo, mentira sobre mentira. Como aceitar aquelas faces sorridentes, pedindo votos? E que terra tão pródiga é esta, com esses índices devastadoramente baixos, miséria total, ausência de tudo, mas com tanta briga por eleição?
E sim, a culpa é nossa. Nós que por motivos individuais, pequenos ganhos, cargos, favores lícitos ou ilícitos, tomamos partido deste ou daquele, indiferentes à destruição coletiva. A velha história da dualidade, Remo e Paysandu. Se critico o Paysandu é porque sou Remo e vice versa, não dando espaço à verdade, por nenhum interesse nela. Ricos em seus carrões importados, gigantescos, mas que ao saltar na porta de suas mansões ou palácios de cinquenta andares, pisam na lama. Até quando? É uma geração incompetente, a minha. Quanto a mim, fiz as minhas tentativas. Ainda faço. Talvez sejam insuficientes. Talvez seja incompetente, também, mas ao menos reconheço essa possibilidade.
Aproveito para elogiar o artigo que Lúcio Flávio Pinto escreveu em seu Jornal Pessoal desta semana, sobre o Presidente Lula. Assino embaixo.

A vida não vale nada

Meu amigo mora na baixada que fica por trás da Unama da Alcindo Cacela. Eu mesmo costumo passar por ali, driblando o engarrafamento para chegar à Duque de Caxias. Há nas proximidades duas arenas para jogar futebol. Uma, atapetada, onde já joguei diversas vezes. Outra, parede com parede, mais humilde, de terra batida, onde também já joguei, mas que serve mais aos moradores das redondezas, que realizam ali diversos e disputadíssimos campeonatos. Meu amigo, como eu, é louco por futebol. Mais do que eu (grande inveja), joga umas três vezes por semana. E quando não vai jogar, ali naquele horário em que as mulheres estão coladas na novela do Totó, vai dar uma espiada em quem está jogando. Ontem, quinta feira, estava à margem do campinho, assistindo. Do nada, entraram três homens encapuzados. dirigiram-se a um rapaz, também à margem do campo, e sem perguntas ou aviso, sem dar tempo a alguma reação, dispararam uns seis tiros. Saíram como entraram. Um deles ainda retornou e disparou um tiro de misericórdia na cabeça do rapaz, estatelado ao chão.
Meu amigo não conseguiu dormir, claro. A violencia com que seu cotidiano foi atingido rompe todos os tecidos, as áreas de segurança que delimitamos, em nosso íntimo, para nós. É algo inimaginável na cidade grande, na civilização. Algo que assistíamos em filmes de bang bang, os mais violentos, as cenas de execução, porque o que mais temos são tiroteios onde personagens se dão tiros, quinhentos, sem recarregar. Muito diferente da execução.
A velocidade com que retornamos à selva é muito maior do que imaginamos. Não há mais medida. Os bandidos não têm nenhum medo do aparato policial. Não que tenhamos uma patrulha em cada esquina, como uma cidade em estado de sítio, mas é que o criminoso teme a possível aparição da Polícia. Ele normalmente sabe o tamanho do delito que está a cometer. Normalmente. Na Belém de hoje, os assassinos de aluguel, montando motos velozes, cometem seus crimes à luz do dia, ou diante de pessoas, sem nenhuma preocupação com o flagrante. Chegam e saem com a certeza da falta de policiamento. Desapareceu aquele quê de temor pela segurança, acho até que sumiu o respeito pela vida, a responsabilidade por tirar uma vida. Antes, havia ao menos uma tocaia, uma surpresa, a falta de testemunhas. Filigranas, hoje.
As motos substituíram os cavalos. Como eles, as motos sobem calçadas, fazem contra mão, são velozes e entram onde carros não podem. O preço cobrado para tirar a vida de uma pessoa também deve ser aviltante. Ficou comum. Fácil.
Quando assistimos na tv a propaganda política, consideramos um escárnio quando os políticos vêm dizer que entregaram 400 viaturas; fizeram concurso para 2 mil guardas e outros e outros números. Não pode ser verdade. Um dia desses não flagraram um preso fazendo as vezes de escrivão em uma cidade do interior? Onde está essa Polícia? E escrevo isso não em detrimento dos policiais, fardados ou civis que contra tudo e todos se matam para fazer o que podem. Esse delegado Éder Mauro, que escolheu essa vida e procura fazer o melhor. Gente acossada pelo stress mais intenso que é a pressão pela defesa da própria vida, da sociedade, sem nenhum respaldo, muitos terminando por adotar comportamentos também agressivos, guerra na selva, enquanto sabemos que está tudo errado. A Polícia não é a vingadora da sociedade. O policial é um técnico, um profissional, que deverá agir pelos melhores meios para realizar seu trabalho. Acabei tergiversando. A vida não vale nada.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

As Gatosas

Nesta quarta fazemos a estréia de As Gatosas, comédia sobre mulheres com idade em torno dos 50 anos e seus problemas, angústias, alegrias e principalmente, postura nos tempos em que vivemos. Uma mulher de 50 anos, hoje, é completamente diferente de outra, na mesma idade, no final do século passado.
A idéia veio quando minha namorada esteve em uma médica e conversou sobre sintomas de menopausa. Preciso esclarecer, sob pena de sumária execução, que ela ainda não está na faixa dos 50 anos. Mas veio a idéia de escrever algo assim. Decidimos reunir atrizes nessa faixa etária e para fazer o texto, primeiro ouvi-las falar. Por coincidência, li uma crônica que Vera Cascaes escreveu em O Liberal, com o mesmo teor. Leitor de Vera, enviei email, fiz contato e a convidei para participar dos encontros. As demais Gatosas escolhidas foram Sandra Perlin, Olinda Charone e Sonia Alão. Os encontros transformaram-se em alegres e divertidas reuniões e uma Vera que chegou, naturalmente tímida, agora conduzia as conversas. E tão rica a participação de Vera que a convidei para escrever, comigo, o texto. Depois de aceitar, um novo pedido. Ela teria coragem de estar em cena, como uma Gatosa? Ousada como ela só, concordou.
Escrevemos o texto, trocando emails e começamos a fazer leitura de mesa. Vera faz Marina, uma gatosa tipo esotérica, mística, que a cada semana acredita em um guru diferente e canta mantras no jardim. Sandra Perlin faz Beta, fazendeira, gay, animada, charuteira. Olinda Charone faz Bia, alucinada por malhação, dessas que passa o dia naquelas roupas Nike e bike. Sonia Alão faz Pat, uma perua elegantérrima, viciada em tratamentos de beleza. Esses personagens estudaram juntos em um colégio, e ficaram amigas, na adolescência. Agora, alguém teve a idéia de reuni-las novamente. Assim, o encontro.
Posso dizer a vocês que não sou nem tenho vontade de ser um diretor teatral. É uma missão espinhosa, difícil, para quem tem uma cultura teatral vasta, imaginação e inteligência. Não sou essa pessoa. Sou um escritor. Após assistir Cacá Carvalho trabalhar, fiquei ainda mais respeitoso pelo ofício. Mas as circunstâncias do Cuíra me levaram à direção. Componho trilhas sonoras, faço sonoplastia e agora dirijo. Por amor ao Cuíra. Assim, a direção, que começou em "Abraço", devidamente protegido por Zê Charone e Cláudio Barradas. Agora, no meio dessas quatro gatosas, confesso que foi ao mesmo tempo muito gostoso, agradável, mas também muito cansativo. São quatro atrizes de gênio forte, alegres, impetuosas, inteligentes, safas, de raciocínio rápido e eu no meio desse tiroteio. Como em "Abraço", procurei não atrapalhar o trânsito. As meninas cuidam de Vera que, convenhamos, é uma grata surpresa, tão à vontade como se sente.
É uma comédia, mas também convida à reflexão. Homens e mulheres. É a função do teatro. Agora está sendo entregue. Imaginem que estou ensaiando, ao mesmo tempo, outra peça, "Sem dizer adeus", sobre as últimas 72 horas de vida de Magalhães Barata, com Zê Charone e Cláudio Barradas. Uma pedrada. E tudo isso sem tirar férias de meus afazeres. Ao final do dia dá um cansaço bem forte. Não dá para fazer tudo. Preciso voltar a escrever. Talvez em novembro, vamos ver. As Gatosas estréia oficialmente na próxima quarta, 8 de setembro, ficando sempre às quartas, neste mês. Em outubro, aos finais de semana. O espetáculo recebeu os prêmios "Cláudio Barradas", de Artes Cênicas, Secult e também o "Myriam Muniz", da Funarte. Faço um convite a todos.

O fim do Leão Azul?

Não tenho como duvidar do amor que a família Klautau tem pelo Clube do Remo, mercê de inúmeras demonstrações. Mas o que o presidente Amaro fez ao mandar derrubar o escudo do clube, no pórtico do estádio Evandro Almeida é de uma truculência, agressividade, maldade incalculável. Agrediu o clube, a torcida, a cidade, o povo do Pará, mesmo os torcedores de outros clubes, em um sentido muito mais amplo, o da Cultura. E nem quero saber de necessidades de negócio. Um desrespeito sem nome. Pior ainda o que alguns idiotas fizeram, pregando uma bandeira do Paysandu no lugar, certamente obra dos mesmos moleques que se divertem subornando juízes, pagando salários altos de jogadores, menos dando dinheiro para o clube bicolor, no caso, acertar também as suas contas, estando ele também correndo risco de perder sede social e estádio. É bom dizer que do lado do Remo, o cenário ainda é mais desalentador. Não sou contra a venda do estádio, sequer conheço os detalhes do negócio, mas o que me preocupa é desfazer-se de um patrimônio histórico e o dinheiro ser entregue a dirigentes com a mentalidade que fez o clube mergulhar no abismo em que se encontra. Dirigentes como os do Remo, Paysandu e da Federação conseguiram falir um negócio como nenhum outro, movido a paixão, com somas de cinquenta, cem mil reais por semana, ou mais. Dinheiro sem rastro, limpo, para administrar de maneira moderna e nos levar aos pontos mais altos. Não adiantam os exemplos claros de clubes como os da Espanha, endividados, é certo, mas com um potencial pagador imenso, tendo em vista mais de 100 mil associados. E para ficar apenas no Brasil, o Internacional, que veio da Serie B e agora já foi novamente Campeão da Libertadores, com mais de 100 mil associados, em uma reforma excelente, mudança de mentalidade e profissionalismo. Será que esses dirigentes que levaram o futebol paraense à vala, realmente gostam de futebol? A pergunta cabe porque quase todos são homens de sucesso em suas empresas particulares. O que vão buscar no futebol? Cartaz, mídia ou simplesmente o tal dinheiro sem rastro, que escorre por um ralo muito bem escolhido?
E nossa imprensa que apenas assiste, aqui e ali registrando alguma queixa, mas preferindo comentar apenas a parte técnica do jogo, disputado por atletas cada vez mais semi amadores. Abrimos páginas, manchetes, para atletas da Quarta Divisão! E no entanto há salários a pagar, passagens de avião, equipamentos. E menos dinheiro. A imprensa é sócia do negócio futebol paraense. Precisa exigir atenção, sentar para discutir, não em eventos públicos, aos quais, justamente, não comparecem nem principais dirigentes, nem principais jornalistas. Quantos fundos de poço precisamos ultrapassar para dar a volta? Ou não daremos e terminaremos como os maranhenses e amazonenses?