sexta-feira, 29 de junho de 2012

Em que eu pensava?


Alguém postou no facebook uma foto do edifício da Booth Line, que ficava na subida da Presidente Vargas e foi demolido para a construção de um monstrengo moderno. Além da mundialmente famosa empresa de navegação, também era residência e consulado da Inglaterra. Eu aprendia inglês com a filha de Mr. Kup. Em noite de festas, ela foi apresentar o aluno ao pai. How do you do, ele perguntou e eu, encabulado, respondi “ainda não dei isso”. Desmoralizante. A Presidente Vargas. Meu avô Edgar dizia que a cidade se resumia a ela. “Além do Pinto da Silva, para mim, já é outro município”. A Praça da República foi playground meu e de meus irmãos. Brincávamos de cowboy, desfilando com nossas armas e espoletas, bicicletas, jogávamos cemitério, meninos contra meninas. As compras eram feitas no Vesúvio, com “Seu” Pereira, sempre com um lápis apoiado em uma das orelhas. Ao lado, o “Salão Avenida”, com seus espelhos e cadeiras metálicas, lindas, os barbeiros bigodudos, afiando as navalhas e nós, aborrecidos porque preferíamos cabelos longos. Os navios apitavam no porto e minha mãe dizia que era o “navio dos cabeludos”, para assustar. Devia ser uma tripulação e tanto! Acabei dando o título ao meu primeiro livro. A sirene da Folha do Norte também apitava. Cheguei a brincar por entre as mesas da terrace do Grande Hotel. Onde é o edifício do Basa e antes fora um famoso café, agora havia uma imensa cratera. Que mania essa de derrubar tudo! No cruzamento em frente do meu prédio, havia a propaganda do cigarro Aspirante. “Depois de um Aspirante, só outro Aspirante”. Ainda ouvíamos passar o “garrafeiro” ou então o “peixeiro”, anunciando-se de maneira melodiosa e inesquecível. A carrocinha do leite ou os caminhões transportando carne verde. No rádio, as últimas radionovelas de sucesso, principalmente Gerônimo, o herói do sertão. Agora era Copa do Mundo no Chile. Meu pai, trancado no escritório, dublando a narração radiofônica. Quem desse um pio.. Meu pai fez entrar em casa a primeira tv. Homem de rádio, imagino sua perplexidade. Aquele aparelho era um cavalo de Tróia. O indiozinho da Tv Marajoara. Nequinho e Alecrim. O primeiro caía estrepitosamente. Levantava. O segundo perguntava: caíste? Não, me levantei. Eu morria de rir. Hoje, não sei. Nunca perdi um Círio. Desfilei pelo Nazaré no Dia da Raça. No carnaval, dormia cedo, mas me lembro dos malandros de terno branco, calça vermelha e sapatos brancos, chapéu, aguardando os Boêmios da Campina. No térreo do meu prédio, funcionava o shopping da época, as lojas Salevy. Não sei a razão do “lojas”. Não havia outras. Tio Samuca Levy era o dono. No Natal, espalhava barraquinhas nas calçadas para aumentar as vendas. Foi uma infância de sonhos, em uma cidade à qual só se chegava de barco ou de avião. Uma Camelot com seus reis e rainhas, heróis, vilões, artistas, um mundo à parte. Eu talvez pensasse nisso, quando desapareci de casa, deixando minha mãe enlouquecida a ligar para vizinhos até decidir ir para as ruas e me encontrar passeando de elevador, para cima e para baixo, pensando. Em quê? Na vida.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quadrilhas, um mundo à parte

Não tenho certeza, mas creio que as quadrilhas juninas vieram com antigos costumes franceses. São parte importante da cultura nordestina, mas aqui no norte também têm peso grande, com algumas modificações. O que realmente me espanta é a força que têm nos subúrbios de Belém. Nossos jovens suburbanos ficam entre as músicas americanas para dançar e o tecnobrega. Há toda a cultura da televisão, do rádio, anúncios. No entanto, logo depois do carnaval, todos os dias, após a hora de jantar, basta percorrer as ruas do subúrbio para encontrar jovens reunidos, começando a ensaiar. E nos dias de junho, entre concursos, grupos voltam andando, as moças carregando suas saias rodadas, brincando, rindo, festejando sua juventude. De onde vem essa força que não parece ter nada empurrando, nenhum modelo a copiar? E é uma dança infantil, braços agitados como a nadar desesperadamente, balançando os quadris. Algumas quadrilhas até utilizam músicas não necessariamente nordestinas para suas apresentações, o que é uma evolução na direção de algo bem próprio. Talvez o segredo esteja nas relações entre jovens. A cada ano meninos e meninas descobrem o amor, o outro sexo ou meramente, o sucesso. Os que dançam melhor, os mais bonitos, passam a ter destaque na comunidade. Durante os ensaios, há tempo suficiente para o contato, início de namoros e conversas. Na hora de dançar, a galera do rock, hip hop, house, tecnobrega e samba se une dançando quadrilha. Vivem todos a quadra junina intensamente, esse outro mundo que tem Luiz Gonzaga, sanfona, zabumba, triângulo. Pessoalmente, acho muito interessante, embora minha paciência não comporte assistir mais do que uma apresentação a cada ano e olhe lá. Quando lembro daqueles braços requebrando e aquelas saias como can can, puxa, é realmente difícil suportar. Qual será o segredo das quadrilhas juninas?

Uma nova Copa do Mundo

Já escrevi sobre a idéia, mas é que de vez em quando volta o assunto. Quando o torneio Copa do Mundo foi criado por Jules Rimet, o mundo tinha outro ritmo. Os meios de transporte e as comunicações. A Copa era um ótimo momento de congraçamento entre esportistas, torcedores e principalmente, escolas de futebol. Os ingleses, inventores, e seus cruzamentos longos para a área. Os russos, pragmáticos com seu futebol científico. Italianos e seu "catenaccio" e os brasileiros com sua alegria e improviso. Fazia total sentido reunir as seleções para aferir a quantas ia o futebol. O mundo mudou. Os meios de transporte. As comunicações. O fluxo de jogadores cruzando países e continentes, com o mais alto nível de profissionalismo, também. No Brasil, chegamos ao cúmulo de ter uma seleção de atletas que não atuavam, nenhum, em nosso país. Que escola representam? O futebol mudou. Hoje, estrangeiros fizeram com que o jogo na Inglaterra privilegie a técnica. Na Espanha, sobretudo, onde atuam Messi e Cristiano Ronaldo, os melhores jogadores da atualidade. A Copa precisaria mudar. Agora, são seleções de atletas que atuam em cada país, a mostrar a realidade de cada um. Na Espanha, além de Xavi, Iniesta e Fabregas, teríamos Messi e C. Ronaldo. E daí? Não reflete o nível do futebol de lá? Aqui no Brasil, talvez tivéssemos o goleiro argentino do Corinthians, o zagueiro chileno do Flamengo, Valdívia no ataque, sei lá, todos juntos com Neymar e Ganso. E chega dessa cerimônia sem graça de hino nacional. Copa do Mundo é um riquíssimo torneio de férias, disputado por profissionais que lá estão movidos por altos prêmios, exposição na mídia e melhores contratos. Lutar por seu país? O compromisso é com o público, com sua equipe, companheiros e sua carreira. Fazer o seu melhor. A batalha é dentro do campo, onze contra onze e juízes para decidir lances duvidosos. Um brasileiro não seria um traidor se preferisse torcer pela Inglaterra, já que pela tv a cabo, assiste a todos os jogos, conhece e admira os jogadores. Somente nós, brasileiros, através de nossa mídia, empurramos nossos atletas para "batalhas em defesa do país". Rapazes que com sua arte vão para a Europa e dois anos depois, sem contato com o Brasil, vivendo outra realidade, vestem a "amarelinha" com a faca entre os dentes. Pois sim. Acho uma boa idéia, essa de uma Copa diferente. E vocês?