quarta-feira, 14 de julho de 2010

o fim do JB impresso

Estou chocado com a notícia do final da impressão do Jornal do Brasil. Não era segredo para ninguém as dificuldades que vinha enfrentando há mais de vinte anos, mas a notícia causa tristeza, sensação de ausência de algo muito importante e querido. Tornei-me leitor ali pelos anos 70, também seduzido por sua diagramação, jornalistas como João Saldanha, Zózimo e Tárik de Souza, que até hoje ainda milita, publicando sua coluna às sextas feiras. Quando entrou no ar, aqui, a Rádio Cidade Morena, nome em homenagem a meu avô, Edgar Proença, logo desembarcou um advogado, enviado pelo JB, mostrando que a empresa era detentora do nome "Rádio Cidade Qualquer Coisa", com pesada multa, no caso de desobediencia. Imagine se iríamos, eu e meu irmão, brigar com o JB. Também vieram vender uma das primeiras idéias de cadeia de rádio FM, com sua formidável Rádio Cidade, à qual adotamos imediatamente. E quando, em visitas ou a trabalho, íamos ao Rio de Janeiro, lembro da pompa da entrada do prédio do JB, ali em São Cristóvão. A empáfia das recepcionistas. Os cariocas, já naquela época, com a pose encobrindo a malandragem e incompetência escondidas. A empáfia de alguns, maior que a dos donos - é sempre assim. Era um prédio lindo, onde funcionavam gráfica, redação e emissoras de rádio. Nos corredores, circulavam garçons em carrinhos impecáveis, servindo café, chá ou refrigerantes. O JB tentou um canal de Tv, mas os militares preferiram Silvio Santos. A barra pesou. Brigas na família proprietária. Apareceu a dívida. Os presidentes da República que vieram, esquivaram-se de ser autores do fechamento do jornal. Veio Nelson Tanure, empresário que trabalha com estaleiros e outros negócios. Vendeu o prédio. Adotou o formato tablóide. Diminuiu a circulação. Foi um dos primeiros a apostar na internet. Foi assim que segui como leitor do JB, que deixou de chegar às bancas, o que hoje, ocorre com todos os outros. Manteve alguns dos articulistas como Tárik e Hildegard Angel. Aos domingos, a revista Domingo, lançada por Ruy Castro, que por lá esteve, entre tantos, continuou na briga. Mas agora, há atrasos de pagamento e o jornal agoniza. Muita pena. Somente na internet, creio, agora, não mais porque é moderno, mas porque pode estar definhando. Quando um jornal do porte e importância do JB fecha suas portas, algo muito errado está acontecendo.

2 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Edyr,
Quando jornais, livrarias, cinemas e bibliotecas fecham, há algo errado, realmente.
Aqui em Belém, não há mais livarias. Cinemas viram lojas ou templos. A fonoteca Satyro de Mello (quem lembra?) fechou, acho. Havia um espaço maravilhoso na Alcindo Cacela, a Sala Jacques Flores, que fechou. A Nossa Livraria, os sebos, agora a Jinkings, fechados. O sebo do Denis Cavalcante sobrevive porque o dono não precisa dele para se manter, e ainda assim hoje funciona nos fundos de um bar...
E além de tudo, o JB não tem mais versão impressa.
O que falta?

Edyr Augusto Proença disse...

Amigo, estamos voltando à selva