Quando começa o filme "Estão todos bem", de Kirk Jones, um remake de "Stanno tutti bene", de Giuseppe Tornatore, música de Enio Morricone, pensei que era mais um filme mostrando como desprezamos os mais velhos, fazendo com que eles fiquem sós, não os atendendo quando nos ligam, mas não. Robert de Niro está bem, como sempre, fazendo um viúvo que espera pela visita dos filhos, que nunca aparecem. Assim, decide visitar um por um, para matar as saudades. A cada visita, um susto, a impressão que encenam um bom cenário, para não preocupá-lo. A falta do que dizer, após os cumprimentos de praxe. Falta de assunto. O viúvo era desses pais que trabalham o dia inteiro e à noite, chegam tão cansados que não têm folego para conversar com os filhos. A mãe cuidava de tudo. O personagem de Niro pegou enfisema, pois foi operário de fábrica de fios condutores. Por isso, a cada viagem, por trem, vai olhando os postes e ouvindo uma cacofonia de conversas. Conversas que nunca teve com os filhos. Ao final, Paul McCartney cantando bela canção. Meu pai também trabalhava muito. À noite, quando estava em casa, era na máquina de datilografar, escrevendo para jornal. Aí comecei a ir com ele assistir aos jogos em que ele trabalhava. Ou então para o Lago Azul em uma famosa pelada às noites de quarta. Melhor, deu um click e ele voltou à música. Com isso, rejuvenesceu e tornou-se parceiro dos filhos. Até hoje.
E "Amor sem escalas", que candidatou-se ao Oscar? George Clooney, o bonitão, vive em um mundo artificial, onde não há dúvidas, contas a pagar e melhor, há milhagem. Viaja permanentemente pelos EUA. Mora em hotéis. Conhece com a palma da mão esse mundo. Sem compromissos. Namora, quando as agendas encaixam, com Vera Farmiga, bela atriz, também executiva, vivendo a mesma linha. O problema é que o filme enlouquece, querendo provar que bom, mesmo, é viver casado, nive to five, televisão, bingos e churrasco aos sábados. E quando Clooney sente amor por Vera Farmiga, vai atrás, bate na porta e descobre, grande golpe, que ela é casada e tem filhos. Nele, tinha uma fantasia. Se há uma coisa a destacar é esse momento. Bem feito. De resto, zero. De vez em quando me vou a algum lugar. Há algo interessante nesse mundo de viajantes. Muitas vezes, viajo sozinho. Aeroportos, taxis, hotéis, restaurantes. Gosto de transitar por esses lugares, anonimamente. Uma lembrança forte, quando andava em San Francisco, procurando uma Tower Records. No bolso do paletó, um rádio ligado na 101.3, creio, sei lá. De repente, toca "Like a Rolling Stone", com Bob Dylan e tudo fez sentido. Mas é bom voltar para casa, sem dúvida, embora não goste de "pertencer" a algum lugar. Sou paraense. De Belém. Mas minha cabeça está muito longe daqui.
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