quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Belém é o túmulo do carnaval?
Fora um ou outro bloco de sujo, o final de semana prolongado foi de descanso e silêncio para quem ficou em Belém. Quem te viu, quem te vê. Criança, morador em frente a Presidente Vargas, lembro dos Boêmios da Campina. Das festas de salão. De brincar no Pará Clube, que tinha uma séde na Nazaré, onde hoje há um prédio. Do Baile dos Brotinhos, onde ficávamos em volta do salão, vendo as meninas passar, tentando alguma abordagem. Guilherme Coutinho botando quente, com a ajuda de mais alguns músicos. Kzan Lourenço transmitindo um flash para a Rádio Clube e após, caindo na dança. A compra de smoking para ir ao Baile das Máscaras da AP. Um rito de passagem. No ano em que fiquei careca no vestibular, um bloco de egípcios, sei lá. E aí vem o retorno do Quem São Eles, puxado por intelectuais. A primeira vez em que desfilei foi na Presidente Vargas, sendo letrista do samba enredo Cobra Norato, pesadelo amazônico. Fomos na última ala e era grande emoção. Tudo lotado. Ficávamos aguardando o momento do desfile em infindáveis conversas, tomando cerveja em uma cuia de queijo, emprestada no bar ali na subida do Boulevard. E aí vieram também os blocos. Eu saí no Bandalheira. A maioria de homens. Exibíamo-nos para as meninas e mais adiante, os sobreviventes de tanta bebida, tomavam banho e seguiam para a AP. Depois, passou a ser em todos os domingos a partir de janeiro. A Praça da República ficava lotada até meia noite de domingo, aguardando todos passar, inclusive Escolas, ensaiando. Na Doca, ainda saí algumas vezes, como um dos autores da letra do Pai d'Égua, homenageando Raymundo Mario Sobral e na homenagem a meu pai. Mas ali, todos viviam uma mentira. Os blocos eram absolutamente espontâneos. Claro, alguém faturava vendendo as mortalhas, não lembro bem como chamavam, mas o dinheiro era para comprar birita e som, corda, seguranças, por exemplo. Alguém lançou o concurso de blocos na Doca. E tudo acabou. A expectativa de ganhar um troféu, fez com que os blocos se concentrassem apenas naquele sábado gordo. Os outros domingos? Adeus. As Escolas também viveram seu inferno. Rancho e Arco Íris, infladas por dinheiro do bicho, traziam Joãozinho Trinta, mulatas, que dançavam e no domingo, sete da manhã,via Varig, retornaram para o desfile no RJ. Coitado do Quem São Eles, até seu bicheiro era pobre.. Quando o dinheiro foi para outro lugar.. Quando um prefeito ou governador achou de não dar o dinheiro.. Quando um idiota resolveu levar metade dos concorrentes para Ananindeua, só pra sacanear com o prefeito Edmilson, que construiu a Aldeia Cabana.. Bem. E todo ano, faltando três dias para o carnaval, lemos que a prefeitura distribuirá dinheiro, bem como o Estado. Há queixas de ser muito tarde e argumentos do Estado, que de agora em diante, uma comissão tratará de tudo, de maneira a fazer as escolas funcionarem durante todo o ano, quando receberão turistas, enfim, um blablabla irritante e mentiroso que se repete. E são apenas os governantes a mentir? Não. Tal como os dirigentes do futebol, os dirigentes do carnaval não querem ajuda. Não querem profissionalizar nada. Não aceitam que ninguém, de fora, venha dizer como fazer. Querem apenas o dinheiro para gastar como sempre fizeram, para continuar teimando, recusando sumir, mas recusando também a melhorar. Quanto menos pessoas nas arquibancadas, melhor. Cadê o dinheiro do governo, é o que perguntam. É muito bom que essa galera nova esteja relançando os blocos, a partir da Cidade Velha, mas isso precisa, principalmente, continuar no carnaval. E todos, no carnaval, vão para as praias. Então, não é assim, tão bom, né? Assisti a uma reportagem mostrando desfile de carnaval em Outeiro. Não sei se é para rir ou chorar. Uma moça mostra o que ela chama de carro alegórico, e.. A cidade está tão parada que o jeito é jantar lá no Hilton, completamente vazio. Em uma hora dessas, dá vontade de chorar a falta de turismo e essas secretarias, municipal ou estadual, com seus cargos, carros e nada. O que é que uma pessoa vem fazer, vem conhecer em Belém do Pará? E o carnaval vai sumindo. Acabaram os bailes de salão. Os blocos. As escolas. Leio que o Quem São Eles desfilou às oito e meia da manhã e tenho vontade de gritar. Quer dizer que não basta tudo contra, ainda conseguem desfilar às oito e meia da manhã? Que show é esse! Aqueles bloquitos e escolas de terceira, dez gatos pingados, tristes, em andrajos, mas exigindo seu lugar, desfilam às dez da noite, mas a grande escola, as grandes atrações, entram às oito e meia da manhã? É fazer gol contra sem parar. É incompetência. É ódio contra a cidade, a Cultura. Ódio contra si próprio. Nós próprios. Acabo de reler Rio de Raivas, de Haroldo Maranhão e penso que não mudou nada. O livro é um acerto de contas do genial Haroldo com seu passado, com a cidade. Não mudou nada. Continuamos matando, a cada dia, qualquer possibilidade de felicidade, nesta cidade.
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