quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pedofilia

Abuso de Crianças

A respeito da CPI da Pedofilia, fui buscar algo antigo que escrevi após assistir uma peça de teatro de Wlad Lima, no Teatro Puta Merda.

Estou há muito tempo para escrever algo a respeito do estupro de crianças. Gosto muito delas. Gosto de brincar, sobretudo com o ser que lhes habita o corpo em jogos de inteligência, alegria, bom humor. Tenho, em função do mundo atual, o costume de pedir licença aos pais, de maneira a desarmá-los de qualquer suspeita. Quando leio, diariamente, notícias referentes a esses abusos, fico impressionado. Diariamente, fico impressionado. Hoje li que metade das crianças na Índia pode já ter sido estuprada. Aqui em Belém, basta folhear o caderno policial dos jornais e está aquela cara assustada de gente comum, com a pecha de tarado, pois foi flagrado. Quase todos não têm explicação. Alguns, mais idiotas, ainda dizem que a culpa foi da criança, ao ficar passando à sua frente com roupas sensuais. Mesmo que isso seja verdade e é outro lado da questão, não há uma só desculpa para esse ato vergonhoso, que até já mereceu filme internacional, pois a maioria dos casos se verifica no âmbito doméstico, com pais, padrastos, irmãos, amigos, se aproveitando das crianças. E se isso é realmente diário, no mundo inteiro, porque não dedicamos mais tempo para tentar diminuir, alertar, fazer com que possíveis estupradores reflitam sobre o que ocorre?
Seremos nós, homens, esse animal sexual? Quantos são apenas doentes, pedófilos, que mesmo cometendo ato hediondo, merecem apenas tratamento, até, quem sabe, em regime fechado? No filme Volver, de Almodóvar, o padrasto passa pelo quarto da enteada e a porta está entreaberta. A menina, de uns treze anos, troca de roupa e vemos seu perfil, com os seios ainda recentes. Ele olha cobiçando e mais tarde, a ataca. Quase todos dizem que estavam bêbados, se descontrolaram. Qual a razão? Onde está o sexualmente atrativo nas crianças? A menina do Almodóvar era uma pré adolescente, mas a maioria dos estupros é na faixa dos sete, oito anos, alguns pegam bebês, meu Deus. Será a vontade de tomar aquela carne tenra, indefesa, por isso mesmo à disposição, sem maiores argumentos? Quer tomar aquilo que já é seu, por ser filho? Considera seu, por ser filho e por isso mesmo, talvez, se vingue da mãe, que por algum motivo não o satisfaz? Ou também foi abusado quando criança e quer repetir, mas agora ao contrário, sendo o possuidor? Vê a si próprio na criança e quer devolver a agressão? Vê na criança a figura da mãe, mas indefesa, e se vinga? A velha falta de Cultura que faz com que as relações da sociedade regridam, tragicamente, ao mesmo tempo em que a televisão grita costumes do século 21, para pessoas que vivem no século 19. Os programas infantis com as crianças vestidas como prostitutas, shorts cavados, danças lascivas, aumentando a tensão sexual, quem nem assim pode ser perdoada. Em Carne e Osso, espetáculo que o Cuíra estréia no Teatro Porão Puta Merda, com Wlad Lima, Olinda Charone, Cláudio Barros, Patrícia Gondim e Oriana Bitar, também fala disso. A criança sofrendo, calada. Se contar, vai apanhar. Se contar, não vão acreditar. Se contar e acreditar, a mãe se separa do pai ou padrasto e a tranqüilidade do lar vai ser quebrada, o homem vai embora e todos ficam sem o mantenedor da casa. É muita tensão na cabeça dessa criança que então, sofre calada, meu Deus, sofrendo diariamente o abuso. Ou a mãe sabe e faz que não sabe, seja por amor ao homem, seja por medo dele ir embora. A criança conta e ainda apanha. Perde toda a dignidade. Todos os valores éticos. Não acredita no mundo, em ninguém. Se considera um lixo, sem importância no mundo. Que cidadão é esse que está em formação? Agora mesmo, uma das mulheres profissionais do sexo, que trabalha com o Cuíra em Laquê, precisou se mudar. O filho havia sido estuprado quando a mãe saiu para trabalhar. É um assunto tão sério, tão absurdo, tão violento, tão importante, e ninguém do Governo trata dele. É algo latente, uma luz vermelha a piscar sem parar em todos os lares. Como pode alguém, que não seja pedófilo, ou seja, doente, precisando de tratamento, sentir tesão em uma criança de sete anos, meninas ainda sem seios ou quadris arredondados, meninos sem nada disso?
Arilene Rodrigues, a menina que trabalhou no segundo filme da série Tainá, de vez em quando passa uns dias aqui em Belém. Nós a levamos para comprar roupas. Nada do que traz é aproveitado, não só pelo desgaste, mas principalmente pelos modelos, absurdamente sensuais. E quando chegamos às lojas infantis, todos os modelos são na mesma tecla. Shorts cavados, mini saias, calcinhas biquíni, enfim, terrível. Basta ligar a tv, que no caso, fica ligada o dia inteiro e não é na Globo, mas sobretudo em outros canais, com a estética inteiramente comprometida.
A ausência de Cultura levou todos a acreditar que Cultura é a mesma coisa que Lazer. Não é. Assim, quando digo que a falta de Cultura é muito mais dramática do que a falta de Educação e Saúde, sei que muitos não levarão a sério. Enfim. Estamos regredindo em tudo. Estava no McDonald’s. Ao meu lado, mãe e filhinha, classe média. Ela diz à filha “fica do meu lado pra ti pedir teu lanche”. Começa desde cedo. O império da burrice, da cretinice, violência, agressividade. Que coisa

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