segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A Copa no Pará

Casa de Caba. Vespeiro. Como manifestar opinião sobre a guerra entre palestinos e israelenses. As pessoas são simplistas. Ou Remo ou Paysandu. Eu sou da sensatez. Tenho lido vários artigos a respeito da Copa do Mundo no Brasil e as cidades disputando a honra e riqueza de serem sedes. Há um Monte Everest escondido sob a Fifa, desde João Havelange, mas é verdade que através do futebol, ganha da ONU em número de afiliados. Verdade também que hoje interessa muito mais a mercados emergentes ser da Fifa, participar de suas competições, do que os leões da Europa, obrigados a ceder seus caríssimos jogadores em troca de quase nada e o risco de contusões e problemas psicológicos. Se há um Everest por trás de Blatter, há uma Serra de Tumucumaque por trás de Ricardo Teixeira. Agora, todos são recebidos com ares de papa pelos presidentes, governadores, puxa sacos. É muito dinheiro em patrocínios, dinheiro do povo envolvido. Aí vem Natal e quer gastar alguns bons milhões para construir estádio e acabar recebendo dois ou três jogos. Para quê? Incrementar turismo? E o futebol, em si? Há algum clube de Natal, ou do Rio Grande do Norte na Série A? E ao contrário, não há milhões de prioridades para o uso do dinheiro público ali? Milhões! Cultura, Educação, Saneamento, Saúde....
Claro, gostaria que a Copa fosse em Belém, pelo coração, mas pela razão, nem pensar. Prefiro Manaus, que ao longo do tempo, posicionou-se como símbolo da cidade da Amazônia, especializando-se na recepção turística com seus hotéis de selva. Aqui, ao contrário, oferecemos a coleção que era de meu tio Abelardo Santos, de santos antigos, talvez para brigar com as 365 igrejas da Bahia.. Nossos clubes estão em processo acelerado de amadorismo. Nossos torcedores, a cada diz, torcem mais pelo Liverpool e Chelsea, ou Barcelona e Real Madri. Sim, mesmo que em nível inferior, há São Paulo, Flamengo, Corinthians, enfim. E quando Remo e Paysandu jogam, passa na televisão. Porquê ir ao estádio, ser assaltado duplamente, nos ingressos e pelo bandido, correr todos os riscos e assistir jogos amadores, se até beber, posso fazê-lo em casa, ou no bar da esquina, com amigos?
E remodelar o Mangueirão, desculpem, Estádio Edgar Proença, para receber dois ou três jogos da Copa e depois? Servir de praia aos domingos? A galera pegando sol, empinando papagaio, enfim, porque nossas equipes viraram amadoras e mesmo quando jogam suas peladas, elas são transmitidas. Não há milhões de prioridades? Milhões!
E os nossos clubes têm eleições, novas pessoas assumem e já anunciam a continuação de todo o processo amador, ridículo, criminoso que matou a maior diversão do povo. O Baenão é hoje uma ruína. A Curuzu, tem novos lugares, que acabaram de ser construídos, vetados. Como?
Alguém, no jornal, escreveu hoje sobre o que ficou na cidade depois do Forum, a não ser a duplicação de uma via, a Perimetral e a reforma de um terminal de ônibus.
O absurdo é que pessoas inteligentes, probas, quando o assunto é futebol, portam-se como se fosse um time de botão, ou seja, diversão, pode tudo. Como os que dizem que o Governo deve dar, mesmo, dinheiro para Remo e Paysandu. É a alegria do povo, dizem. Que beleza, dizem os dirigentes que continuam queimando dinheiro sem rastros, e descendo a ladeira, felizes da vida. Se os clubes de futebol, associações particulares, com um campeonato gerido por um entidade particular, com um presidente eleito por representantes dos times, merece o dinheiro que o Estado investiu há poucos dias, qualquer um de nós também tem esse direito. O pessoal do Teatro, da Música, os Filósofos, os Garis, sei lá, qualquer um tem o direito. Pior, os antas não leram o contrato. Os jogos passam para o interior e para Belém. Quem ainda vai a campo? Assisti um tanto do jogo do Remo contra Aguia. O estádio é desses de várzea, de pelada, inclusive pelo público que compareceu. Está tudo errado. Tudo amador. Tudo ridículo. É um absurdo, é totalmente inaceitável a maneira pela qual os nossos times são geridos, a Federação é gerida, a decisão de dar esse dinheiro é tomada. E agora, querem os milhões da Copa.
Li, neste final de semana, um inglês escrevendo sobre uma equipe londrina pela qual torcia, Wembley, que entre idas e vindas da quarta até a primeira divisão, foi comprado, trocou de cidade e até de nome, mostrando como o negócio futebol é atraente. A Premier League, da Inglaterra, é hoje a mais rica do planeta. Planejam jogos inclusive na Arábia, por conta de transmissões, o que antecipa equipes planetárias, que Arsenal, Manchester e Chelsea já são. Eu mesmo, gostei mais de Liverpool x Chelsea do que Flamengo x Volta Redonda, ou Remo x Águia. Eu, hein! Pois o inglês escreveu lá da americanização do futebol inglês, imitando o que ocorre na NBA, onde, muitas vezes, clubes são comprados e trocam de cidade, região e isso é encarado naturalmente. O inglês acha fundamental o apoio da torcida, o calor da cidade. Também acho que sim, mas temo que estejamos batidos, nesta questão de transformar os clubes em planetários. Aqui em Belém já temos uma garotada que nem sabe os nomes dos jogadores do Paysandu, mas tem camisa e acompanha os jogos ingleses.
Ter um clube, hoje, ainda é ter o coração de pessoas, uma camisa, algo intangível, que veste onze jogadores em campo. E fazer o clube atravessar fronteiras, conquistas, vendendo jogos, camisas, souvenires. Comprar e vender jogadores. No mundo inteiro isso funciona, menos aqui, que vamos céleres ao fundo do fundo do fundo do fundo do poço. Já imaginaram se o Remo ou o Paysandu se arrumam, começam a conquistar títulos, torcedores e se estabelecem ou um ou outro, claro, como o representante da Amazônia, nos campeonatos mundiais, planetários? Quá quá quá, tem que rir, não é mesmo? E o Paysandu ainda inscreveu um genérico Time Negra no campeonato de pelada, não foi? É demais.

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