sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Arraial de Nazaré

Fora os bullyings, há algo muito bom nos blogs, que é ler opiniões conflitantes, de pessoas nas quais confiamos e em quem respeitamos. Sobre a reforma da área onde hoje se instala um parque de diversões, ficando uns seis meses, desde alguns dias antes do início da programação festiva do Círio, acho que a decisão tem seus pontos positivos. Outros, são delicados. É parecido com o que ocorreu ao Quem São Eles. Lembro quando aquela área, na Wandenkolk foi adquirida. Era um pequeno e estreito corredor. Foi aumentando. Creio que gente como Paes Loureiro, Simão Jatene, Edgar Augusto e Villar Ferreira, por exemplo, foi para lá capinar o terreno que aos poucos foi alargando, até ficar do tamanho que está. O problema é que, na mesma medida, a Doca foi se transformando no que é hoje, bairro que mistura residências de alto luxo com restaurantes e boates de alvo nível. Ali, não há lugar para o Quem São Eles, que sobrevive de birra, contra as queixas que recebe dos vizinhos, por conta do barulho. Se fosse rock and roll, talvez não reclamassem. Mas é que o Quenzão foi invadido e ficou sem público. Uma Escola de Samba é o desaguadouro de alegrias e mágoas de uma comunidade, como ocorre, ainda, com o Rancho. Houve um momento, há vários anos atrás, que foi feita uma oferta generosa pelo terreno da sede do Quem. Em troca, um terreno, não sei ao certo, no Benguí ou Guamá. A diretoria ficou dividida. Venceram os conservadores. Deu no que deu.
No caso do Arraial, também vivi o suficiente para ter visto ele, na então Praça Justo Chermont, com barracas de madeira, shows de cantores bregas, brinquedos de madeira, bem toscos, lindos, como a Ôla, por exemplo. Mas a cidade foi crescendo, os prédios invadindo, moradores de alto padrão cercando e primeiro, veio alguém e aproveitou o terreno ao lado da Basílica para fazer o arraial. Hoje, tudo está confuso. Na época do Círio, todos os paraenses vão visitá-la, a Santa, claro, ou seja, saem de suas casas, famílias inteiras, e vão até lá para rezar, agradecer e também, se divertir. Sentam em bares, bancas, as crianças vão em brinquedos, e lá pelas nove da noite, cansados, carregando balão e crianças dormindo, querem pegar o ônibus de volta. O problema é que são estranhos ao bairro, principalmente à noite. Os ônibus fecham as ruas, as pessoas atravessam fora do sinal, aglomeram-se, enfim, causam transtornos aos moradores. O que fazer? Sob o ponto de vista de respeito a esses moradores atuais, fazer algo mais light, com poucos brinquedos, lanchonetes e bares mais limpos e tranquilos, parece interessante. Mas o que fazer com o povo, que vive além do imenso fôsso, a parede da Cultura, Educação, Saúde, que vive uma outra realidade? É romantico e interessante pensar que o arraial antigo pudesse voltar, com as imagens bonitas e selecionadas de meu passado, de minha infância. Será que cabe, ainda? É um problema urbano, sem dúvida, que vale a pena discutir. Digo porque li opinião contrária, reclamando justamente dessa classe média alta que reclama de tudo, se apossa dos lugares e não quer barulho, a menos que com ele concorde.

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