Conheci os Rolling Stones quase ao mesmo tempo em que conheci os Beatles. Naquele tempo, as informações eram escassas, mas tínhamos tempo de digerir os elepês inteiros, entender cada faixa. Para irritar meu irmão Edgar, dizia que os Stones eram minha banda preferida. A jogada de marketing era exatamente essa, os Beatles bonzinhos, os Stones malvados. Já estava bem adolescente quando veio Get yer ya ya's out e o Sticky Fingers, significando mudanças. Enfim, os caras estão aí até hoje e depois de ler "Vida", biografia de Keith Richards, escrita com James Fox, dá para entender. Eles se adaptaram às mudanças, algumas muito cruéis, afetando as relações. A banda é sobrevivente e percebeu que poderia ganhar dinheiro a partir dos anos 80, 90. Até lá tudo era muito complicado de entender. Agora que o disco acabou como mídia, mais do que nunca, shows ao longo de um, dois anos.
Lá pelo meio do livro, a relação com heroína começa a incomodar pra valer. Ao acabar de ler a bio de Eric Clapton, também fiquei muito decepcionado com a pessoa. E como é que debaixo de todas aquelas drogas eles ainda nos dão coisas lindas para ouvir? É tudo baseado na amizade, desde a infância, entre Keith e Mick. E acho que Keith, por sua maneira de ser, por dar a perceber a todos os outros a importância da banda, da amizade e do profissionalismo, é que mantém os Rolling Stones na ativa. Logo ele que foi viciado em heroína por mais de dez anos. Ele e sua esposa Anita Pallemberg. No meio disso tudo, o filho Marlon, durante anos, o único autorizado a acordar o pai antes dos shows. Keith dormia com um revólver debaixo do travesseiro. Trabalho, muito trabalho. Keith se fechou durante muito tempo entre o trabalho e o vício. Para onde ia, pensava, antes, como obter herô. Vai dando um enjôo. Um por um os amigos vão caindo, morrendo, sendo presos. Ele consumia apenas o melhor, a mais cara. E na dose certa. Bom malandro. Nunca aloprou. A morte de Brian. A saída de Mick Taylor. A saída de Bill Wyman. Mick Jagger traindo o grupo e fazendo carreira solo. A carreira solo com os X Pensive Winos. O retorno com Steel Wheels. A separação de Anita e o casamento com Patti Hansen. O rei dos riffs. São tantos que em um show, antes de uma música, ficou em dúvida. Qual o riff agora? O segredo da afinação em aberto da guitarra. E como saem as músicas de Jagger e Richards. Acho que vale a pena por isso. Os Stones são tão importantes quanto os Beatles. Menos simpáticos, talvez. Keith aproveita para esclarecer que nunca trocou seu sangue na Suiça. Foi uma resposta torta que deu a um repórter, que virou contra si. Se não houvesse as drogas, será que ele seria ainda melhor?
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