Veríssimo já disse que os cronistas se repetem no Natal. Deixo pra lá. Adoro o Natal, as compras, as trocas de presentes. Quem quiser que vire o nariz e se queixe de consumismo, falsidades nas relações, desagradáveis reuniões com familiares. Para mim é ao contrário. Desde muito cedo, minha mãe transformou o Natal em um momento maravilhoso para nós, seus filhos. Éramos cinco capetas em férias e ela já anunciava um tal de "anjinho Pedroca", ajudante de Papai Noel, de olho se procedíamos bem, passando de ano, se nos comportávamos corretamente. Quando pequenos, a festa era ao acordar, no dia 25, correr até a árvore que ela armava com todo cuidado, incluindo presépio e bonecos infláveis do Noel. Uma festa.
A recordação mais antiga vem de um tempo em que havia, no térreo do Edifício Renascença, a loja Salevy, de Samuca Levy, a quem chamava de tio, uma espécie de bazar, precursor dos shoppings de hoje. Na semana do Natal, barraquinhas eram instaladas na calçada e em determinada noite, havia a chegada do Papai Noel, na verdade, o "Buraco", profissional da propaganda volante, cuja família é dona hoje do Grupo Rauland de Comunicação. Ele chegava mais cedo e ia para o último andar do Renascença. Na frente do prédio, juntava uma multidão. "Lá vem o helicóptero do Papai Noel" e todos olhávamos, aceitando qualquer coisa, até mesmo que existisse Noel e o helicóptero. O "Buraco" começava a descer, indo de apartamento em apartamento, distribuindo balas e jogando lá do alto para a correria das crianças. Quanto a mim, ficava dividido entre a curiosidade da visita e o pavor dessa coisa que animava meus sonhos. Edgar Augusto conta que sua primeira estupefação foi constatar hálito de bebida em Noel. Depois, ele conhecer nosso pai com quem conversava sobre futebol. "Então o Noel é amigo do meu pai?" Não posso acrescentar mais nada. O medo foi mais forte e me escondi debaixo de um sofá até Noel descer. Outra lembrança é de ter revelado ao meu irmão Janjo, o truque de nossos pais para deixar os presentes na árvore. Eles aguardavam que fôssemos dormir e os levavam. Mas, naquela noite, com os corações aos saltos, estávamos escondidos atrás de uma cadeira, na sala e vimos quando papai e mamãe depositaram nossos presentes. Se até hoje lembro disso é porque ainda não me perdoei por isso. E a crônica do "Papa Filas". Era um sonho. Um ônibus de grande tamanho, puxado pelo que chamam de "cavalo de aço". Era tudo o que eu queria ganhar. E ganhei. O Natal caiu em um domingo. Após a abertura dos presentes, fomos para nossa casa de campo no Lago Azul, hoje lugar de endinheirados. Saí, garboso, com meu papafilas puxado por um fio a passear. Encontrei Cícero, filho de Seu Antônio, caseiro do lugar. Ele vinha puxando um caminhão, em tudo diferente do meu. Era feito a partir dessas latas de alumínio que guardam querosene Jacaré. As rodas feitas de tampas de refrigerantes. Belo. Criativo. Diferente. Difícil foi explicar em casa, quando cheguei, a razão de ter trocado de presente com Cícero e entregue o tal papafilas.
Estarei reunido logo mais com meus irmãos, filhos, namorada e minha mãe. Ela está velhinha mas razoavelmente lúcida e ministrando aulas de Redação para candidatos ao Vestibular. A festa toda ainda é a partir dela, de sua alma cheia de imaginação, criatividade, alegria, teatralidade. Sinto falta de meu pai, que também adorava a data, presenteando a todos nós e seus amigos. Após a meia noite e as orações, trocamos presentes alegremente, como se ainda fôssemos crianças. A família cresceu, os sobrinhos já adolesceram. Talvez seja o momento de chegarem netos. Mas a alegria é a mesma. Feliz Natal para todos!
2 comentários:
Edyr, adorei teu blog,desculpa a falta de modestia,mas, ele eh bonito igual ao meu...kkkk!olha, adorei a cronica sobre o Natal e cheguei a uma conclusao:tudo eh plantado a partir da infancia..a tua foi feliz e as lembrancas sao otimas e te moldaram ateh hoje, a minha foi triste, minha mae morreu quando eu tinha 5 anos, entao talvez por isto deteste o Natal.Mas,ao ficar com inveja (das boas) das tuas lembrancas descobri o motivo de nao gostar do bom velhinho, mas, o blog ja diz"opiniao nao se discute". Adorei saber das pirracas que fazias com os rollings stones p/ chatear o meu querido Degas. morri de rir. Bom, FELIZ 2011. Bjs. Fatima Aragao a nova seguidora.
Obrigado, querida. Nunca esqueci de nossa amizade e da admiração por ti.
Beijos
Edyr
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