sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Uma casa chamada Celina

Leio no jornal que Marcílio Costa está lançando um livro com poemas inspirados em uma casa, no Mosqueiro, chamada "Celina", na qual, segundo o autor, morou Maria Lúcia Medeiros, mãe de Mariano Klautau Filho. É verdade. Maria Lúcia passou lá seus dois últimos anos de vida. Marcílio deve tê-la visitado muito e se sentiu inspirado pela casa e seu nome. Mas o que Marcílio talvez não saiba, embora nada disso afete o que deve ter escrito, pois as emoções são diferentes, é que a casa se chama "Celina", por conta de minha avó, Celina Paiva Proença. Que aquela casa, no Farol, abrigou a felicidade de toda uma família durante longos anos. O Mosqueiro está na base das minhas lembranças de infância e adolescência. A casa, também. Quando lá chegávamos, para as férias de julho, vindos no Presidente Vargas, com bagagens carregadas pelo "Sete" e no carro americano ou inglês do Seu Cecy, ela nos aguardava com um cheirinho de casa fechada. Com uma frente onde havia jardim com jasminzeiro, vinha logo um grande pátio. Houve pequenas mudanças no pátio, tornando-o maior. Uma sala grande, de refeições, uma suite, onde ficavam meus avós, dois quartos onde ficavam meninos e meninas e o quarto de meus pais. A cozinha, pequena, onde Biá se arrumava. Atrás, outro jardim, uma pequena casa onde dormiam as empregadas e a seguir, um longo quintal, que ia até a Estrada da Bateria. Um mundo. Nos quartos, íamos direto aos armários onde estavam brinquedos antigos, pranchas de "pegar jacaré", bolas de futebol. Levávamos amigos, amigas, virava uma festa. Uma vez Seu Rubem Ohana chegou com a kombi cheia de meninos e meninas do Chapéu Virado. Alguém botou discos e dançaram. Tinham a minha idade, mas eu era muito acriançado, ficava olhando meu primo dançando de menina em menina. Havia uma praça em frente onde, certa vez, dia de semana, meus pais, mais Celina e Edgar foram a Belém, eu me pendurei em um galho de árvore e fiquei pensando na vida, naquele lugar parado, sem trânsito, o barulho do vento nos açaizeiros, o paraíso Mosqueiro. No final das tardes, bicicleta, cair, ralar o joelho, esperar na fila que o Seu Harley Vieira passasse com seu kart e nos levasse para dar uma volt . E no pátio da "Celina", ficávamos conversando, cantando, ouvindo meu avô contar histórias, meu pai tocar violão, as visitas de final de semana, meu avô no portão, saudando quem passava para a praia. E no quintal, o campo de vôlei que meu praia e Seu Zumero construíram. A trave onde eu chutava para que Antônio Valentim pegasse a bola, fazendo o goleiro. E de repente o chamado para a merenda, banana com leite em pó, mais nescau, acho. O tempo a perder de vista. Acordar e ficar ouvindo, ao fundo, as ondas indo e vindo, o vento nos açaizeiros, as brincadeiras, o primeiro amor - será que ela está namorando comigo? Mas como se eu nem a pedi em namoro? O murmúrio de minha mãe e as empregadas, no dia de voltar para casa, bem de madrugada, deixando para nos acordar somente no momento final, esperar o ônibus ou Seu Cecy e ir até a Vila, pegar o "vapor". Tomar banho de chuva na lateral da casa, a cabeça debaixo do esguicho que vinha do telhado. Ah, "Celina", tantas emoções e alegrias passaste! Nós éramos cinco danados vivendo nosso aprendizado para uma vida inteira em brincadeiras, imaginação e felicidade. O tempo veio, crescemos, Salinas ficou na moda, nossos filhos fizeram sua escolha e a casa foi vendida. Sempre que vou a Mosqueiro, passo na frente, como uma reverência respeitosa. Que bom que continuaste a ser importante, viver novas vidas e agora, gerar livros. Quanta saudade!

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