terça-feira, 30 de novembro de 2010

O novo Hair

Eu não assisti a montagem de Hair, seja em NY ou no RJ. Mas eu era moleque e ganhei o disco com a trilha sonora e capa linda, um contraluz de uma cabeleira afro. Era uma época efervescente. A informação que chegava até aqui em Belém era rala. Não entendia a razão de músicas tão curtas, outras maiores. Não entendia que era um musical rock. Aí veio o 5th Dimension com "Aquarius/Let the sunshine in". Claro, assisti à montagem de Milos Forman, para o cinema. "Hair" tocava em diversos assuntos que revolucionavam costumes. Cabelo, roupas, desapego, sexo livre, hippies, recusa em ir para o Vietnã, musica, amor. E isso foi chocante. Quanto desse choque fica para uma montagem no século 21, Rio de Janeiro, cidade hedonista, mas que vive momentos perturbadores? Na noite em que fui assistir, as polícias do Rio de Janeiro estavam na Vila Cruzeiro, disparando. Era Tropa de Elite ao vivo. Chovia. Mas o teatro estava lotado. Não há cenário nem projeções. Andaimes e luz. Elenco grande, moças e rapazes bem jovens e bonitos. Cantam bem. Mas querem saber? Não funciona. Uma das causas talvez seja a falta de carisma do líder dos hippes, Berger. O ator é bonito, canta bem, mas não tem carisma. Fala como um dublador de filmes americanos que passam nas tardes de sábado. E sem isso, desaba tudo. Berger é lindo, simpático, alto astral, todos querem namorar com ele, meninas e meninos. Também não sei onde foi parar o desejo de romper com tudo. Sim, há a tal cena de nu coletivo, mas os rapazes à frente e as meninas, bem escondidas. Andamos para trás? E justamente no Rio onde um ou dois centimetros de pano escondem vaginas e bicos de seios? Errado também que levaram uma banda para o palco, mas não lhe aplicaram nenhum figurino. O maestro é careta, os músicos também, com exceção do guitarrista que dá show. Mas não cativa, não conquista. E acaba por ficar um tanto longo. Uma boa tesoura tirava uma meia hora e ficava bem. E quando, ao final, cantam "Let the sunshine in", fica bem bonito, só isso. É preciso encerrar, botar a banda para tocar forte e repetir para a casa levantar e aplaudir. Esperava mais. Tenho assistido a alguns musicais no Rio e gostado. Talvez tenha esperado demais.

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