terça-feira, 30 de novembro de 2010
Eu assisti Paul McCartney em São Paulo
Cheguei em São Paulo no domingo. Assisti, no Fantástico, highlights do show. Às quatro da tarde daquela segunda, olho para o tempo e vejo a chuva. Ah, vai passar logo. É verão aqui no sudeste. Até a hora do show está limpo. Foi a primeira vez em que pensei se tinha idade e disposição para encarar aquela chuva. A idéia de assistir ao show de Paul McCartney no Morumbi veio em uma empolgação, a partir de uma lembrança maravilhosa, quando assisti, no mesmo estádio, ao show de Roger Waters, tocando "Dark side of Moon". Lembrei de estar ali, à altura da intermediária de um dos gols, ouvindo aquele som alto, muito alto e a emoção que senti. Emoção acumulada por todos os anos, a diferença de informação, a pesquisa, curiosidade, que vive um cara que mora no extremo norte do Brasil. Comprei o ingresso. Peguei o taxi, preventivamente, às seis da tarde. O esporte preferido dos motoristas paulistas é analisar quais as melhores rotas para chegar ao seu destino. O rapaz bem que tentou. Esgotou. Enfim, com a chuva engrossando, cheguei às proximidades do Morumbi depois das oito da noite. No caminho, compro por 10 reais (depois soube que antes era 5 e mais tarde, virou em 20 reais) uma capa de chuva, uma espécie de saco plástico que nos envolve. Entro sem dificuldade. Compro camisas comemorativas. Faz parte. E entro no campo, com um piso especial, de borracha. Tocam clássicos do rock, tipo "Born on the Bayou". E rapidamente percebo algo errado. Não consigo ver o palco, a não ser por frestas ou quem sabe, saltando. Praguejo contra a natureza que me fez tão baixinho. Há como que uma parede de seres humanos mais altos à minha frente. Vou bordejando, procurando uma boa posição. Um tiozinho com camisa da primeira vinda de Paul ao Brasil grita: vamos fazer uma hola! Porra, ninguém quer fazer uma hola comigo? Adiante, um casal jovem. Ele, estupefato, diz à moça: quer dizer que você só está aqui para me fazer a vontade? Se dependesse de você, não vinha? Ela confirma. Não sei o resto. Uma moça uniformizada vende batatas chips, gritando "Olha a batata do Paul! O tempo vai passando, a chuva continua, mas não estou molhado. As pernas doem e me pergunto se tenho idade para estar ali. Há muitos tiozinhos. Muitos fumam maconha. O cheiro no ar é bem forte. Vem uma série de projeções nos telões, hits de Paul e pronto, vai começar o show. Ao contrário de muitos, não vi ninguém. Procurei e não achei. Será que eu era o único representante do distante Pará por aqui? Claro que não. Mas não vi ninguém. Sabe de uma coisa? Fui postar-me por trás dessas casas onde ficam os técnicos de luz e de som, gigantescas, absurdas, incompreensíveis, incomodando estéticamente e em termos de visibilidade, todo mundo. Será que ninguém consegue uma alternativa. Pois bem, atrás da casa, estava bem legal. Tiozinhos e tiazinhas com filhos, dançando e cantando. E ele abre com "Magical Mystery Tour". E vem "All my loving". Não deu pra segurar. Chorei. Macca é muito profissional. Sabe conduzir o espetáculo. Não é um showman de grandes movimentos e gestos. Está sempre tocando baixo ou piano. Os coroas da banda são irrepreensíveis. Tudo bem ensaiado e até natural. Vibram, dançam, solam, têm seu espaço. O baterista Abe Laboriel um show à parte. "Blackbird singing in the dead of night".. Ligo para a garota. Ouve aí. Ciao. Homenageia George Harrison, John Lennon na bela e tocante "Here Today", levemente estragada pelo público, que acompanhou batendo palmas. Quebrou o clima. E vem "Live and let die", com seus fogos de artifício. Vai embora e pedem bis. "Helter Skelter". Perto de mim, um tiozinho toca uma guitarra imaginária. Ao lado, seu filho resmunga "Ê pai, pára com isso, pô..". "Yesterday" ao violão, linda. Mas eu queria o final. Eu sabia o final. Primeiro o encerramento de "Sgt Pepper", "we're sorry but it's time to go". E quebrando para "The End". Gosto de acreditar que foi a última música gravada pelos Beatles. Desde sempre, basta ouvi-la, fico tocado. Há acordes de guitarra, riffs, vem o solo de bateria de Ringo Starr e finalmente "and in the end, the love you take, is equal to the love you make". Se no disco é bonito, imaginem em um show para 65 mil pessoas! E o cara inteirão, gostando de estar ali, de receber aplausos, de "when you got a job you gotta do it well", voz inteira, sem rouquidão, feliz da vida, super profissional. Saio e pelos corredores do estádio a multidão canta "Hey Jude". Que sensação deve ser essa? Ando, subindo uma ladeira, dois quilometros até conseguir um taxi que me cobra 80 reais para levar para casa. Tiro a capa de chuva e percebo que estou ensopado de suor. Chego ao hotel ainda excitado, feliz. Depois do jantar e do banho, deito e repasso o que vi. Grande show, mas querem saber se iria novamente? Não.
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