quarta-feira, 9 de junho de 2010

Todos estão surdos

Cacá Carvalho é um grande ator e diretor paraense, com trabalhos aplaudidos no Brasil e resto do mundo. Nunca esqueceu sua terra, onde vem sempre que pode. E veio, há alguns dias, trazendo, com um jovem grupo de atores que dirige através da Casa Laboratório, o espetáculo "O Homem Provisório", baseado em Guimarães Rosa. Estávamos no carro, vindo do aeroporto, quando a repórter ligou e percebeu que além das palavras a respeito do trabalho, Cacá pretendia falar sobre outros assuntos. Agendou outro horário e saiu, em um domingo, capa do caderno "Você", de O Diário do Pará, uma longa entrevista onde criticou indistintamente todas as "figuras" que têm comandado a área cultural do Estado. Não disse nenhuma novidade. Depois de um maluco, tivemos um político que lá entrou somente para poder percorrer o Estado às nossas custas, fazendo campanha para sua eleição. Estamos atrasados, no mínimo, 50 anos. Para recuperar isso, nem sei quanto tempo e dinheiro investido. Voltamos à selva. À insensibilidade total. A voz de Cacá deveria ter peso. Suscitar respostas. Mas não. Nada. No domingo, a Fumbel lançou sua quadra junina. A Secult está calada. Cincinato Jr, artista, luta para obter o dinheiro necessário para pagar compromissos assumidos em Editais. E o silêncio. Ninguém se manifesta. Nem a favor. Vivemos em um deserto de idéias.

2 comentários:

oswaldo reis junior disse...

Edyr Augusto, em plena campanha para que não mudes o nome do teu blog, já que o "velho" Edyr merece muito esta homenagem, inicio aqui uma observação. Apesar da recuperação de prédios e monumentos históricos da nossa cidade nos últimos anos, o povo paraense está perdendo o sentimento de pertencimento e resgate das nossas mais enraizadas manifestações culturais. Falo aqui das populares (artísticas, etnias indígenas, quilombos, artesanato, danças folclóricas, festivais). Patrimônio e monumentos, mesmo em Belém, tem muito a ser recuperado e conhecido.No Estado, nem se fala. Falta fruição cultural,que só se tem conhecendo minimamente sobre o que se aprecia, falta ensino da história das nossas manifestações artísticas nas salas de aula, do nosso rico folclore. Há tempos se vê um afastamento da elite econômica paraense das universidades públicas, locus da diversidade e da experimentação. O que esperar no médio prazo dos filhos da nossa elite econômica? Apartheid social? O amálgma do povo paraense é uma manifestação cultural religiosa, o Círio de Nazaré. É muito pouco para a diversidade, riqueza e grandeza das nossas manifestações culturais. Insuficiente. O carimbó é um ritmo de alcance universal, mestre Verequete e Pinduca têm reconhecimento do nosso povo? Cacá Carvalho, Fafá, Benedito Nunes(talvez o maior intelectual brasileiro vivo), Max Martins, têm? Nossos pesquisadores do NAEA e do Goeldi são reconhecidos na cidade em que trabalham? A academia sente-se à vontade em fazer uma aproximação e troca de experiências e conhecimentos por meio de debates em jornais, rádios e televisão? São chamados para isso? Proponho, meu caro Edyr, que comecemos imediatamente uma campanha estadual de valorização das manifestações artísticas e culturais paraenses. Te parabenizo pelo blog e peço que não desistas da tua luta pela valorização da memória e da cultura paraense.
Oswaldo

Edyr Augusto Proença disse...

Obrigado, Oswaldo. Estamos juntos. A culpa é de todos nós, que pelos mais variados motivos, nos afastamos, abrindo caminho para os cretinos. Por meu lado, tenho tentado fazer alguma coisa através do Cuíra. Mas há muito a ser feito.