segunda-feira, 6 de abril de 2009

Leis Culturais - Beco sem saída

Wlad Lima esteve em Salvador e presenciou o fim da Redemoinhos, uma organização a partir do Grupo Galpão, que reunia grupos de teatro brasileiros para trocar idéias. O problema está na questão das leis culturais, no caso, Lei Rouanet. Os grupos do Rio, SP, Minas e entorno, querem uma revisão urgente, porque a lei tem contemplado apenas grandes empresas como Itaú, Bradesco, bem como produtores de grandes iniciativas, que trazem ao Brasil espetáculos como Cirque du Soleil. A elas é permitido captar milhões, mesmo que cobrem altíssimo pelos ingressos. Os departamentos de marketing fazem fila para patrocinar iniciativas assim. Quanto a Itaú e Bradesco, usam o dinheiro do Estado para fortalecerem suas próprias marcas através de seus institutos culturais. Até aí, tudo bem. Queriam apoiar o atual ministro Juca qualquer coisa na idéia de constituir o Fundo Nacional de Cultura, onde um Conselho decidiria onde melhor botar o dinheiro dos patrocinadores. Como tudo tem dois lados, o perigo está no que dizem ser "dirigismo", ou seja, amigos ou abençoados políticamente, sendo agraciados com as verbas. Mas a confusão realmente começou quando o pessoal do que eles consideram "terreno baldio", como norte e nordeste, começou a gritar que ruim com a lei, pior sem ela. Se com a Lei é quase impossível convencer um marketeiro a botar o dinheiro em Belém do Pará e não no Rio de Janeiro, imagine com um Conselho de paulistas, mineiros, cariocas e etc. Em discussão, a Redemoinho acabou. Não sei se vai renascer ou até com outro nome, mas acabou.
Semana passada, o ministro Juca de tal esteve em São Paulo em grande bate boca com a participação de notáveis. Os mineiros, cariocas e paulistas continuam contra a participação da turma do norte, por exemplo. Por absoluta ignorancia, não conseguem compreender que somos todos iguais neste República, e que temos tanta competência quanto eles. Que nascer naquela região não os fez melhor do que ninguém.
Agora, se isso está acontecendo com a Rouanet, imagine descer à nossa realidade Estadual e Municipal. Tenho participado de diversas reuniões com diretores e chefes de marketing de grandes empresas locais, para obter patrocínio à próxima peça do Cuíra. Quando não se trata de jovem absolutamente desconhecedor de quem somos, o que fazemos e do que se trata, vem a choradeira de crise. Apesar de se tratar de dinheiro do Estado, na forma de imposto, tratam sempre a idéia de o "nosso projeto". Pior, dos 100% do patrocínio, exige-se que o empresário entre com 20% de dinheiro próprio a título de incentivo. Claro, o empresário pede esse dinheiro de volta. Como é possível aplicar somente 5% do total de imposto que se deve pagar, para atingir o valor de um patrocínio de peça de teatro, uns 60 mil reais, é preciso grandes patrocinadores, o que já diminui nossa história para uns dez, talvez, em Belém. Agora, imagine. De 100% dos que recebem a autorização para captar, talvez uns 15% consigam. Tem alguma coisa errada. A perversidade da Lei está no desestímulo ao empresário de patrocinar um evento cultural, desconhecendo todos os benefícios de tal iniciativa, comprovados em livros e pesquisas. E quando os procuramos para buscar o patrocínio, buscamos o patrocínio e não ajuda, apoio, esmola. É bom para ambos os lados. A situação quando chega à Lei Tó Teixeira ainda fica pior, como até foi publicado em jornal. Além de permitir projetos somente até 20 mil reais, apresenta resultados igualmente decepcionantes. E no meio disso tudo ficamos nós, fazedores de Cultura, como párias, sem porvir. Atores, diretores, tecnicos de iluminaçao, aderecistas, cenógrafos, enfim. Um beco sem saída. Dá para pensar em parar com tudo.

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