quinta-feira, 30 de abril de 2009

I don't wanna grow up

Nunca tive pressa de crescer. Fui criança até quando pude. Estudei o primário no Suiço Brasileiro. De lá, guardo no coração alguns colegas que de vez em quando encontro nas ruas. A convivência era mais com meus irmãos. Cinco irmãos, cada um mais genioso que o outro, comandados por uma mãe maravilhosamente louca e um pai que no momento certo decidiu adolescer também, voltando a fazer música, convivendo com os filhos. No meu primeiro dia de aula no Colégio Nazaré, onde fiz ginásio, científico e vestibular, ouvi o palavrão "porra", sem saber do que se tratava. Era criança. Muito criança. Foi ótimo daí em diante, porque ao mesmo tempo em que o universo da molecada invadiu minha vida, a outra vida, dentro de casa, com meus irmãos, continuou intensa, forte e me protegendo de todas as maneiras, continuei criança. A vida interior, com os livros e as histórias do mundo. Era o "campeão do tranca", disputado em bicicletas, na Praça da República, nosso playground luxuoso. Ali jogava peteca com os motoristas de praça, que ficavam de plantão pela Osvaldo Cruz, próximo à esquina da Presidente Vargas. Ou brincava de cavaleiro medieval construindo espadas, escudos, pintados conforme os filmes e os livros de Ivanhoé, por exemplo. E no cinema passava Scaramouche, os Três Mosqueteiros. Meu avô me emprestou toda a coleção de Alexandre Dumas. O professor Berbary, de Português, passou trabalho a partir de livros que tínhamos de ler. Para mim, Menino de Engenho, de José Lins do Rêgo. Pedi ao meu avô, emprestado. Abro o livro e está uma dedicatória de Rêgo. Caraca. Me pegou. Nunca mais larguei os livros. Li os outros dois, Doidinho e Banguê. Uau. E os colegas trouxeram a adolescência para mim. Um irmão marista ensinou Educação Sexual. Lembro dele, explicando o saco escrotal e as risadas inocentes que dávamos. As tertúlias dançantes da Assembléia Paraense, ao som de Guilherme Coutinho e Walter Bandeira. Do início ao fim, dançando. Quer dizer, depende. Uma vez, estava animado, mas a garota pediu para parar. Suas companhias iam embora. Está bem. Eram as duas últimas músicas. Eu queria dançar até o fim. Olhei e vi a menina. Devia ter minha idade, mas como era bem bonita, era assediada pelos mais velhos, a eles também preferia dar atenção. E daí? É preciso terminar a noite. Vamos dançar? Não, estou cansada. Pau na testa. Morava quase ao lado do clube. Voltava à pé. Os amigos se reuniam e pegavam taxi. Começaram a me contar que iam dar voltas, antes. Iam à Condor, o bairro boêmio, prostitutas. Uma noite decidi ir, também. O carro cheio de guris. O motorista, ao saber o destino, começou a dizer que achava certo. Que meninos precisavam começar cedo na sacanagem. Nós, atrás, sem dar palavra, a não ser um, que ia respondendo, dando corda ao assunto. Chegamos à praça da Condor. Redonda. Em volta, uma multidão misturando homens e mulheres, à porta das boates. O motorista pergunta onde ficamos. Nosso amigo pede que ele dê a volta na praça. Vamos, lentamente, olhos grudados nas "mulheres da vida" que estão à vontade, indo e vindo em seu trottoir. Ao final da volta, o motorista olha como quem pergunta " e agora"? Volta para o centro, ele ordena. O motorista não diz nada. Nem ninguém. Calados, voltamos todos. Mas aconteceu, claro. Fomos outra noite até lá. Meu primo me chama. Tem duas ali que consegui para nós. Vamos atrás delas. Fomos. Sinceramente, não lembro do rosto, de nada. Era um quartinho com lugar apenas para a cama. Lembro do cheiro. Só. Rápido. Uma semana depois, gonorréia. Vou à farmácia. A enfermeira, com a seringa nas mãos, indica que deve aplicar a injeção nas nádegas. Claro que não, brado, feito Randolph Scott. Ela aplica no braço. No caminho de 100 metros até minha casa, choro de dor.
O amor chegou e se armazenou no meu peito com todo o romantismo dos livros que lia. Houve duas ou três palavras trocadas e nunca mais. Ficou algo platônico. Em uma viagem, a que seria a primeira namorada. Turma de adultos. Por exclusão, ficávamos juntos. Voltamos. Em julho, Mosqueiro, o mítico Mosqueiro de tantas recordações. Boate Ressaca, dançamos colados. Tenho de ir. Está bem. Tchau. Volto para casa e fico sem dormir. O que houve? Estava namorando? No dia seguinte, vou até sua casa e não acontece nada. As férias acabaram. Encontramos na boate da AP. Estamos indo para o Papa Jimi. Quer ir? O namorado da minha irmã paga. Tá. Dançamos. Ela pergunta, enfim, se estamos namorando. Sim. Ufa. Durou pouco tempo. As familias, amigas, torceram. Não deu. A adolescência durou muitos outros anos. Quem tem pressa de crescer? O mundo nos pressiona. Vestibular. Carreira. Trabalho. Aos 17 anos, não sabia se queria ser jornalista, radialista, talvez advogado. Escrevi minha primeira peça de teatro. No meu colégio, havia apenas turmas de Medicina e Engenharia. Fiz Engenharia, passei. Hoje sou formado em Jornalismo. Penso que manter a mesma curiosidade em relação ao mundo, a todas as coisas, é um dos meus segredos. Hoje, não sei bem o que sou. Criança, certamente, não. Um adolescente que se recusou a virar adulto? Um adulto que se recusou a envelhecer? Tenho avidez pela vida. É o título de meu livro de poemas inédito, a sair até o final do ano. Ávida a vida. Não quero crescer.

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