quarta-feira, 30 de junho de 2010

Delay

E esse delay para quem assiste a transmissão dos jogos da Copa de maneira digital? Como se já não bastasse atuar Galvão Bueno, que nos faz despertar instintos assassinos, o delay acaba com qualquer emoção. O jogador está com a bola nos pés e o vizinho já está comemorando. Assim não é possível.

The Road

Assisti ao filme sobre o já famoso livro de Cormac McCarthy, no Brasil, A Estrada. É muito bom, cinza, tenso, depressivo, com Viggo Mortensen em atuação destacada. Mas em um cenário de tanta desolação, desesperança e agressividade, brilha, linda, a relação entre um pai e um filho. Ainda não li o livro que está na fila.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Seminarista

Acabei de ler "O Seminarista", livro de Rubem Fonseca, pela Agir. Gosto muito. Sim, pode ser que já esteja se repetindo. São muitos livros. Fico chateado quando alguém se queixa que um baladista, por exemplo, insiste nas baladas. O cara é baladista! Assim como um compositor tem sua estrutura musical própria, sempre repetida, assim o escritor. E Fonseca me ensinou a ser conciso, a não temer cenas pesadas e não florear. Como já vinha da redação de rádio, jornal e publicidade, não foi difícil. Há livros com tão longas tergiversações que pulo e vou direto aos fatos.
"O Seminarista" é a história de um matador que tenta deixar a profissão, mas não consegue. Tudo ali pelo Rio de Janeiro. Se me permitem, acho que nas últimas páginas ele se apressa um tanto, "facilitando" coisas que lá no começo não eram tão fáceis. Não eram e não são tão fáceis. Mas isso, já disseram de um livro meu, acho que o primeiro "Os Éguas" e eu não achei bem. Bom.

Valleys of Neptune

Uma manhã de sábado, talvez em 1968, acabara de chegar do Colégio Nazaré, onde jogara futebol e estava deitado no quarto, quando meu irmão Edgar chegou do trabalho na Rádio Clube do Pará. Tal como sempre fazia, ligava sua "eletrola" para ouvir seus discos. Foi assim que cresci ouvindo tudo de Beatles, Rolling Stones, Bee Gees, anos 60. Mas em vez desses, por curiosidade, colocou para ouvir um álbum chamado "Electric Ladyland", de um tal de Jimi Hendrix. Levantei da cama feito choque elétrico. Nunca mais fui o mesmo. Aquele era o "meu" som e não o do irmão mais velho. Não consigo imaginar até hoje o choque estético daquele instante. Aquele cara, misturando rock, jazz, folk, tudo, era o que eu precisava. Ele me ensinou os caminhos harmônicos, o feeling das notas e até as letras, para mim, super estranhas, eram mais um mistério. Lembro, no Rio de Janeiro, onde morei com minha avó, trancado em uma cabine de som de uma loja antiga, que já não existe mais, ouvindo "Are you experienced" e "Axis: Bold as Love". Minha sensação é que somente eu conseguia entender aquilo. Era um tesouro pessoal, na época, também dividido com Janis Joplin. Curiosamente, lembro que as primeiras letras de música que tentei traduzir, usando inclusive um dicionário, eram dos Beatles, indo de uma ponta como "Penny Lane", descrevendo todo um ambiente, até "Strawberry fields forever", psicodélica. Os "newspaper taxis, as celophane flowers" de "Lucy in the Sky with Diamonds". A estrutura da canção brasileira era diferente. Casos de amor, por exemplo. "Penny Lane" contava o que havia na rua, nas calçadas, a barbearia. "Strawberry" era louca e eu não entendia, ainda, o quadro lindo que pintava, incitando a imaginação.
Jimi se foi e até hoje ganham milhões com ele. Esse "Valleys of Neptune" é mais uma enganação. Músicas que já conhecemos com outros títulos, ou em gravações de estúdio. Na formação, Jimi oscila entre Billy Cox e Noel Redding no baixo, mas Mitch Mitchell está sempre na bateria. O guitarrista implicava com o baixista. O problema é que, ao formar o Experience Trio, Chas Chandler chamou Noel que era guitarrista, para assumir o baixo. E na estética de Jimi, o baterista podia tudo, quebrar, virar, solar, mas o baixista era o âncora, sem floreios. Peça a um guitarrista para tocar apenas o óbvio. Há ótima regravação de "Stone Free" e shows em estúdio de "Sunshine of your love", do Cream e "Red House". Mas se quer conhecer Hendrix, ouça os álbuns de estúdio, como os citados lá no começo.

As cantoras genéricas

É uma definição cruel, bem sei. Algum jornalista publicou e me deixou pensando. Acabei de ouvir "Raconte Moi", cd mais recente de Stacey Kent, cantora que mistura jazz, bossa nova, música francesa, com graça e charme imensos. Desta vez, todo o repertório é francês. O disco passado foi dedicado à música brasileira. Ela é linda, brilhante, canta muito bem, mas será que falta um tanto de originalidade? Não seria genérica de Madeleyne Peyroux, por exemplo, esta, por seu lado, genérica de Billie Holiday? No caso de Peyroux, nem acho, pois é somente o timbre. Digamos que Madeleyne é original. E Stacey? A sensação, também, é que escutamos, percebemos a qualidade, mas não chegamos a vibrar com a originalidade. Há muitas outras iguais. Vivemos uma época de super oferta. É nesse momento que o algo a mais precisa aparecer.
Também acontece aqui no Brasil. Há um boom de cantoras. Muitas cantam o samba novo, que vem da Lapa. Desculpem, mas não gosto de nenhuma. Não chego a detestar, todos os cds delas e deles, jovens sambistas, têm qualidade, mas eles tocam, acabam, e não dá vontade de repetir, cantar junto, olhar a letra. Lembro, para não ir tão atrás na história, de um momento em que saíram Ney Matogrosso, Luiz Melodia, Sergio Sampaio e Raul Seixas, quase no mesmo pacote. Tão diferentes, tão geniais. Hoje, parece que todos querem uma uniformização que só faz prejudicar. Lembrei agora de Roberta Sá, cujo primeiro disco ouvi, gostei alguma coisa e continua, como cantora famosa e não consigo ver nada. São as genéricas.

Minha alma canta

É o novo cd dos Cariocas. Meu pai era apaixonado pelos caras. Houve várias substituições. Penso que hoje, apenas Badeco e Severino, do original. O repertório é sensacional. Bossa nova e clássicos. Penso que fazem show, o público adora e quer comprar. Hoje, quem compra cds, ainda, é a turma de mais idade, que gosta de bossa nova. Mas espera aí, porque o repertório tem músicas de João Donato, Newton Mendonça, Milton Nascimento, Carlos Lyra, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Marcos Valle, Dolores Duran, Guinga, Aldir Blanc, Johnny Alf e Chico Buarque. Tocando, gente como Mauro Senise, Leo Gandelman, Vittor Santos, Carlos Malta, Gilson Peranzetta, Eumir Deodato, além de Donato, Menescal e Marcos Valle, e a voz de Milton Nascimento em "Clube da Esquina 2". Cara, demais. O arranjo, tipo big band para "Rapaz de Bem", de Alf, é maravilhoso. Som bom, bem tocado, música ótima e Os Cariocas, arrebentando. Vinha ouvindo no carro e pensando que bem podia estar ali no Leblon, São Conrado, sei lá. Vida besta!

Brothers e Ilha do Mêdo

Assisti "Brothers", um bom filme sobre relacionamentos, pegando o gancho da guerra no Afeganistão como assunto de fundo. Família de militares, o pai lutou no Vietnã; dois filhos, um é militar, está prestes a retornar pela segunda vez para o Afg, o outro é black sheep, está sendo libertado da prisão para onde foi após assalto. O pai enche o saco do bs. O outro é herói, casado com Natalie Portman, pai de suas meninas adoráveis. O cara vai pro Afg, seu helicóptero é abatido e vem a notícia de sua morte. Enterro, cerimônias, e o irmão vai se chegando, se regenerando, fazendo amizade com as sobrinhas, até rola um beijo com Natalie Portman. Quem não beijaria Natalie Portman? O herói não morreu. Sobreviveu com mais um soldado. Sofrem o diabo na mão dos barbudos. Para culminar, o herói é forçado a matar o companheiro. Os marines o salvam. Ele volta meio frozen. Desconfia do irmão com a mulher. Enfim. O problema foi ter matado o companheiro. Parece simples, mas são as atuações que são boas. Na trilha, "Bad" e "Winter", do U2. Os atores são Tobey McGuire, Jake Gyllenhaal (muito bom), Natalie Portman e Sam Sheppard.
Mas não sei se gosto de "Ilha do Medo", monumental direção de Martin Scorcese, a partir de livro de Dennis Lehane, lançado antes, no Brasil, com o título "Paciente 67" e o filme "Shutter Island". Acompanho a carreira de Lehane. Tenho quase todos seus livros. Gosto dele ter escolhido Boston como cenário de sua obra. Humildemente também faço assim com Belém. Mas é muito tortuoso o caminho que Scorcese toma, para nos contar o roteiro. Leonardo di Caprio, mais uma vez, muito esforçado, mas não sei, também, se o admiro atuando. Desculpem com os "não seis", mas é que oscila, mesmo, mas não sei se gosto de filmes ou livros que despistam em 90%, indicando outras direções e, de repente, aparecem com uma solução que arremata tudo e parece gracejar dos bobalhões que pensavam outra coisa. É tão assim que nem me arrisco e dar um preview, porque acaba com tudo. Podia ser melhor.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Jinkings vai fechar

Não pode haver notícia mais triste, quanto a do fechamento de um teatro, biblioteca, cinema, livraria, por exemplo. Devíamos, todos, chorar. O fechamento de um centro gerador de Cultura, deveria ser terminantemente proibido. Sei lá, fugir às regras do mercado. Li em uma placa no shopping boulevard, que agora em julho deverá ser inaugurada a Saraiva, cadeia nacional de livraria. Ao mesmo tempo, o encerramento de atividades da Jinkings. Conheci e admirava muito Raimundo, o velho Jinkings, bem como Dona Isa e os meninos, pelos quais tenho afeto. A dona da editora Boitempo, da qual faço parte da lista de autores, Ivana, é outra grande amiga. Mas isso é de menos. A livraria foi, durante muitos anos, tradução do local de Belém onde comprar livros. Com todo respeito aos concorrentes. Comprei ali, provavelmente, mais da metade de toda minha biblioteca. O quanto bebi de Cultura!
É uma terra hostil, realmente, nossa Belém de hoje, para com a Cultura. Seja bem vinda, Saraiva. Minhas lágrimas para a Jinkings. Ficamos mais pobres. A chegada de uma não desculpa a ida de outra. A estupidez está ganhando de goleada a inteligência em Belém.

A dança africana

Nesta Copa do Mundo, com tantas táticas a realçar técnicos e futebol de menos, exatamente por conta dos técnicos, assisti a uma das mais belas cenas de minha vida. É até compreensível que os atletas, no túnel que dá entrada ao campo, à arena de leões, onde poderão deixar até suas almas, estejam com rostos crispados, nervosos, aborrecidos, tensos. Também não é necessário ser um estúpido como Dunga. Bonito, mesmo, foi assistir a entrada dos Bafana Bafana, a seleção da África do Sul, em campo. Cantando, felizes, em uníssono, uma melodia forte, alguns abraçados, demonstração de amizade, alegria por estar ali, vivendo aquilo, o ápice de sua profissão, de seu amor pela profissão. Muito bonito.

Honoráveis Bandidos

O livro escrito por Palmério Dória é bastante dolorido. Do começo ao fim, uma sequência de roubos, maldades, bandidagens que são cometidas diariamente - agora mesmo - contra o povo brasileiro e a favor de uma quadrilha, há longos anos instalada em cargos chave da administração pública, sob o comando, no caso da nossa região, do maranhense José Sarney, imaginem, o Presidente do Congresso Nacional. Somente a qualidade do texto de Palmério, seu bom humor, suas ironias, nos conseguem fazer continuar a leitura deste mar de crimes onde estamos, o país, afogados, sem vomitar de nojo. E basta apenas ler com atenção o noticiário e juntar os fatos, as pessoas, para perceber a quadrilha que atua à luz do dia.

The September Issue

Acabei de assistir em DVD "The September Issue", documentário feito sobre a famosa edição de setembro da revista Vogue, bíblia da moda mundial. Por questões mercadológicas, a edição de setembro é a que concentra os lançamentos do próximo inverno, comenta as semanas de moda em NY, Londres e Paris. Por isso, o expressivo número de páginas vendidas. Precisa ser sensacional. A issue em questão teve 840 páginas, demonstrando a pujança da publicação. Um dos segredos da Vogue está na qualidade de sua Editora Chefe, Anne Wintour, figura que causa calafrios, mesmo nos mais famosos barões das griffes. Uma opinião pode fazer mudar tudo, tal sua influência. Pensem, então, no tamanho da responsabilidade dessa mulher, que já foi mostrada, em ficção, no "Diabo veste Prada". O documentário vai para a redação da revista, visita os shootings, flagra discussões de diferentes níveis. O bambambam da Condè Nast, pedindo, com muito jeitinho, para não atrasarem os prazos de impressão. A principal auxiliar de Anne, ela própria, ex modelo, que acaba de produzir um ensaio maravilhoso e mesmo assim, o vê preterido, ficando muuuito aborrecida, mas contida. O grande fotógrafo Mário Testino, rindo amarelo, ouvindo erros cometidos nas fotos de Siena Miller. Anne nos desfiles, sentada na primeira fila, grandes black shades e o rosto inexpressivo. Ela sabe que qualquer expressão será captada no mundinho e poderá significar tendências e bobagens. Também penso que gosta de fazer o personagem.
Quanto a mim, gosto de moda. Assino revistas. Gosto de comprar roupas para minha mulher. Não tenho estudo algum para dar opinião, mas sei o que gosto. Assino a Vogue e adorei o documentário. Perceber a força de Anne e principalmente, a qualidade de sua equipe. Acordar, todos os dias e conseguir ser a melhor, em uma cidade como NY, em uma revista de alcance mundial. Nível de exigência máximo. Encerrar uma edição e já acordar, no dia seguinte, pronto para ser novamente number one.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mudar as regras do futebol?

Tanto investimento, tantos gastos para essa festa planetária e em campo, vemos equipes com medo de ser feliz. Técnicos que pensam em tudo, menos em fazer gol. Como manter o futebol como atração de primeira linha, levando multidões, seja em estádios, seja na frente de monitores de tv?
Meu amigo e comentarista Gerson Nogueira, de O Diário do Pará, que está lá na África do Sul, em seu comentário de hoje, chega a sugerir acabar com o impedimento. Com todo respeito ao Gerson, mas isso seria acabar com o futebol. Não melhorar. A regra do impedimento é a mais inteligente de todas. É o que diferencia de tudo, inclusive porque ética. A regra faz com que as equipes "se amassem" no espaço demarcado do campo. Mas, se ambas estão preocupadas apenas em se defender, realmente, fica difícil, porque as equipes concentram em espaços cada vez menores, o maior número de homens, possível, para defender. Difícil sair gol. Por outro lado, creio que tem faltado às seleções como Espanha e Brasil, por exemplo, um princípio utilizado no basquete e no futebol de salão, que mistura precisão, rapidez, deslocamento e a jogada pessoal, para trabalhar em pequenos espaços. No jogo atual, o número de gols originados da cobrança de alguma infração cresce. Há alguma coisa errada. E sim, imagine se acabarem com a regra do impedimento. Sabe aquela pelada em que você joga e que, com quinze minutos, já tem perna de pau com a língua pra fora, cansado? Então, formam dois magotes, nas cercanias da grande área de cada lado. No resto do campo, um vazio ocupado por alguns poucos mais resistentes. Imagine no futebol profissional. Seriam escalados jogadores altíssimos, que ficariam, o jogo inteiro, dentro da área, onde seriam despejadas as bolas, de todos os lados, para tentar o gol. Entre as duas áreas, um vazio imenso.
Sim, acho que o futebol precisa mudar, atualizar, trabalhar para seguir sendo um bom espetáculo, competindo com as emoções contínuas do basquete e do vôlei. Acho que o lateral deve ser cobrado com o pé. Acho que é preciso haver limite de faltas. Acho que talvez deva ser cronometrado um tempo mínimo para uma equipe ultrapassar o meio de campo. Mas acho, principalmente, que a atitude pró gol deve prevalecer, como manda a Fifa, mas ao contrário do que é considerado. Hoje, para pênalti, impedimento, qualquer coisa é motivo para não marcar, para não ser gol. E gol não é detalhe. Gol é tudo.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

No mais alto volume

Não me peçam explicações. Meu método de leitura dos incontáveis livros que compro é caótico, mas eu sei por onde começar. Somente agora li o livro "De A-Ha a U2", do jornalista Zeca Camargo, hoje reporter e apresentador do Fantástico. Egresso da MTV, Zeca é um dos poucos a conseguir sobreviver na Grande Irmã. Lista, em ordem alfabética, os artistas que já entrevistou, seja para MTV, seja para Globo. Também comenta discos importantes. Nada assim imprescindível. Talvez uma boa leitura para avião. Mas escreve fácil, leve, divertido. Me deixou pensando, lembrando da minha carreira liliputianamente diferente, como entrevistador de artistas que por aqui passaram, e também em viagens. Fui ao Recife para o lançamento do novo disco de Elba Ramalho. Hotel 5 estrelas em Olinda, farra e festa de graça. Foi bom porque compus a trilha sonora de "A Terra é Azul", para o Experiência. Fui ver Wando no Olympia, São Paulo, distribuindo calcinhas. Elymar Santos no Asa Branca, Rio de Janeiro. Oasis no Credicard Hall, acho, Rio. Lembro, na van em que íamos para o show, uma gaúcha metida e cheia de sotaque, dizendo que aceitara o convite somente por causa da viagem, uma vez que trabalhava na FM Atlantida, PoA, e considerava o Oasis, muito farofa. Aos primeiros acordes de Roll with it, mudou de idéia e dançou. Bons tempos.
Assisti ao documentário "It might get loud", que flagra o encontro entre Jack White (White Stripes), The Edge (U2) e Jimmy Page (Led Zeppelin). Uma delícia. Muita guitarra. Page tocando alguns compactos de sua coleção de blues. Jack construindo o que chamamos "pau elétrico", com o auxílio de uma garrafa de vidro. O estúdio de Edge e a descoberta do riff de um clássico do U2 em uma fita cassete, com demos. E finalmente, a melhor tomada. Page toca o riff de "Whola Lotta of Love" para seus dois companheiros que ficam embasbacados, olhar distante, como qualquer um fica ao lado de um deus da guitarra, como Page.

O sinal digital e um olhar para a doca

Desculpem se pareço um bobo, mas fiquei chocado com a qualidade da imagem digital em meu televisor. Comprei exatamente por isso, mas ao chegar em casa, por pura preguiça, preferia assistir os outros canais através da Orm. Minha namorada apertou o botão do digital. Ficamos assistindo ao Jornal Nacional e a novela das oito. Quando acabou o capítulo, decidi retornar ao cabo e fiquei chocado. Mais de uma hora, seguida, assistindo em digital. O retorno é difícil. A diferença é chocante. Os jogos da Copa, excetuando o futebol até agora jogado, ficaram ótimos de assistir. O problema é Galvão Bueno. Só de ouvir sua voz, fico de mau humor. Quando emite conceitos, me desperta os mais primitivos instintos, se me entendem. O jeito é desligar e ouvir na Rádio Clube. Enfim, fora isso..
Pensei nisso quando, outro dia, lanchando no Doca Boulevard, peguei uma mesa ao lado da parede de vidro que dá vista para a Doca de Souza Franco. Aquela vala imunda, cercada por alguns dos prédios mais luxuosos da cidade. Por aquele shopping luxuoso. Que hoje é local de grandes festejos. Fiquei pensando no desamor que temos por esta cidade. Em nosso extremo e imperdoável egoísmo. O célebre caso de viver em um castelo, dotado de todos os confortos, mas ao inevitavelmente ir até a rua, mergulhar o pé na lama. Nossos apartamentos são luxuosos, caros. Nossos carros são mini caminhões. Mas ao sair do castelo, do carro, mergulhamos na lama. Dela, nada queremos. Não é nossa, diremos, ao mesmo tempo em que jogamos a embalagem do sorvete, que acabamos de sorver, pela janela. Não pensamos coletivamente. Não estamos aptos a viver em sociedade. Não temos mais noção de civilidade. Onde iremos parar?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pra frente Brasil!

Já estão todos nas ruas, com camisas amarelas, os carros pintados, foguetes, um clima de alegria no ar por conta da estréia do Brasil na Copa do Mundo. Sinto muito, mas não participo disso. Sou alucinado por futebol, mas minha compreensão do que se passa é outra. Me acostumei, desde criança, a acompanhar uma partida sem torcer, procurando perceber o que se passava no gramado. Confesso que hoje, em casa, grito em gols do Flamengo. E só. O que se passa no gramado é muito rico para misturar com festa. E é claro que todos estamos envolvidos pela brutal e violência mídia veiculada de maneira ampla, geral e irrestrita. Somos induzidos ao comportamento. Diria até que a maioria sequer sabe a escalação do time. Estamos nessa pela festa, as roupas, bebidas, companhia e vibração.
Assistirei aos jogos sozinho em casa. Talvez minha namorada esteja comigo, mas como não se interessa pelo assunto, temo que fique puxando conversa fora de hora, se me entendem. Não concordo, como muitos, tradicionalmente, com a convocação e escalação do time do Brasil. Não concordo sequer com a escolha do "técnico", entre aspas porque, estranhamente, saiu do 0 ao 1000, dirigindo nossa seleção. Só no Brasil. E Argentina. Compreendo a grande diferença entre nossa seleção, aquela que acreditamos representar nosso futebol, nosso coração alegre, cheio de fintas, bonito, que vibra mais com uma bela jogada do que gol mixuruca, e a seleção de um treinador que absorve todas as pressões e está naquele banco de reservas com o coração na mão, querendo, primeiro, não perder, depois ganhar, se der. Pior se é um gaúcho aborrecido e chucro, sem condições de manter um debate em alto nível. Mesmo assim, é a nossa seleção em campo. Como disse um confrade na tv, outro dia, agora esta é a nossa seleção. Sem essa de viúva de quem não foi. Vamos discutir nossa seleção. E ela é péssimamente escalada. Ainda assim, nossos talentos são tão bons que podemos seguir vencendo. Se jogar bonito, vibrarei. Se jogar feio e vencer, empatar ou perder, estarei assistindo com cara fechada. O que não posso é sair pelas ruas, fazendo a maior festa, sem realmente saber a razão dela. Para um brasileiro, não basta ganhar. Precisa vencer e jogar bonito. É a nossa alma.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Todos estão surdos

Cacá Carvalho é um grande ator e diretor paraense, com trabalhos aplaudidos no Brasil e resto do mundo. Nunca esqueceu sua terra, onde vem sempre que pode. E veio, há alguns dias, trazendo, com um jovem grupo de atores que dirige através da Casa Laboratório, o espetáculo "O Homem Provisório", baseado em Guimarães Rosa. Estávamos no carro, vindo do aeroporto, quando a repórter ligou e percebeu que além das palavras a respeito do trabalho, Cacá pretendia falar sobre outros assuntos. Agendou outro horário e saiu, em um domingo, capa do caderno "Você", de O Diário do Pará, uma longa entrevista onde criticou indistintamente todas as "figuras" que têm comandado a área cultural do Estado. Não disse nenhuma novidade. Depois de um maluco, tivemos um político que lá entrou somente para poder percorrer o Estado às nossas custas, fazendo campanha para sua eleição. Estamos atrasados, no mínimo, 50 anos. Para recuperar isso, nem sei quanto tempo e dinheiro investido. Voltamos à selva. À insensibilidade total. A voz de Cacá deveria ter peso. Suscitar respostas. Mas não. Nada. No domingo, a Fumbel lançou sua quadra junina. A Secult está calada. Cincinato Jr, artista, luta para obter o dinheiro necessário para pagar compromissos assumidos em Editais. E o silêncio. Ninguém se manifesta. Nem a favor. Vivemos em um deserto de idéias.

Bet. E

Nelson Motta deu a dica e fui atrás de Bet. E, uma cantora, parece, canadense, que também faz carreira em dupla com Stef. Faz algo semelhante a Basia, ou Swingout Sister, privilegiando a bossa nova e o samba leve, com letras em inglês, ou cantadas com forte sotaque. Fica super charmoso. Bet. E canta muito bem. No repertório, em português, "Regra Três", de Toquinho e Vinícius, "Canto de Ossanha", de Baden e Vinícius, "Eu vim da Bahia", de Gilberto Gil, "Eu quero um samba", acho que Janet de Almeida e "Feminina", de Joyce. Há também faixas em francês e alguma coisa no estilo salsa. Tudo muito melódico, bom de ouvir. Procurem.

Opinião não se discute?

Marise Morbach escreveu em seu blog, a partir de uma visita a este blog, que o título "Opinião não se discute", não abria margem a qualquer comentário. Confesso que não havia pensado nisso. O título é uma homenagem a meu pai, que teve, por longos anos, uma coluna de esportes, em jornais, assim chamada. Marise, talvez não se discuta a opinião de quem emitiu, mas nada impede de alguém emitir a sua e ponto final. Será? Enfim, o que eu queria, Marise e demais ilustres visitantes, era debater os posts aqui feitos. Puxa, será que terei de mudar o título do blog?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Vivas para os cretinos e estúpidos

Foi natural, após montar "Laquê", espetáculo que marcou a chegada do Grupo Cuíra à Rua Riachuelo, onde se estabeleceu em um Teatro, aparecer a vontade de contar a história recente do Pará, de Belém. Como se, após a abertura da Belém Brasília, da chegada da televisão e principalmente a Revolução, tenha sido levantado um muro intransponível. Então veio "Prc5, a Voz que Fala e Canta para a Planície", com os 80 anos da Rádio Clube. Agora, "Sem dizer adeus". Mais adiante, um musical sobre Magalhães Barata.
"Sem dizer adeus" veio após a leitura do livro que Dalila Ohana escreveu para contar o que passou, nas últimas 72 horas de vida do caudilho. Encontrei o livro em um sêbo de Salvador, que me enviou pelo correio. Agora, após conversar com Cacá Carvalho e muitas dúvidas, começamos a leitura de mesa do texto que escrevi, juntando Cláudio Barradas e Zê Charone. Outras grandes figuras locais participarão. Fomos atrás das imagens de Barata. Através do Secretário Cincinato Jr e a diretora do MIS, Paula Macedo, além da colaboração dos funcionários do Museu, que está jogado em salas do Museu de Arte Sacra, com seu material se deteriorando sem estar na temperatura ideal, teremos essas imagens, feitas por Líbero Luxardo e Milton Mendonça, à nossa disposição. Claro, com todas as licenças das partes envolvidas. E para visitar o Memorial Barata? Será responsabilidade da Fumbel? Alguém foi até lá. "Não, eu acho que isso é do Estado, lá do Centur". Não é. Alguém nos consegue outro contato. "Não sei, mas vou pesquisar". O tempo vai passando. Como pode a Prefeitura, através de seu órgão de Cultura, não saber do que se trata? Agora, ligamos e estão sempre "em reunião". No domingo, Praça da República, há o lançamento da quadra junina, por parte da Prefeitura. Ouço o locutor passar a palavra ao titular da Fumbel. Vou até lá e consigo o contato. Ele acha que é de outro órgão, Segep, algo assim. Hoje, segunda, conversamos novamente. Dá-me outro número de telefone, da pessoa desta Segep, informar. Ligo. Pena. O "chapeu do Barata", ele diz, está fechado. Lá, funcionava também uma biblioteca técnica. Estava dando infiltração. Não há nada para ver? Não. Tudo está empacotado. Parado. Pena. Preciso dizer que sempre fui bem atendido, com toda a educação, mas puxa vida, que pena! Outro dia foi aniversário dele. Somente no dia seguinte, algum jornal comentou. O pior é que nos três jornais locais, haveria motivos suficientes para alguma manifestação. E pensar que na metade do século passado o cara mandava em tudo. Hoje, ninguém lembra nada. Passamos na Magalhães Barata sem nos dar conta de onde estamos pisando, passando. Passamos em São Brás e vemos o que alguns chamam de "disco voador". Achamos que o mundo começou com nosso nascimento. Pisamos onde pisamos, é mundo e pronto. Um povo sem Cultura, um povo sem passado, não pode ter presente, nem futuro. E é isso que somos, hoje. Não temos sequer um presente. Voltamos à selva. Vivas para os cretinos e estúpidos.

Uma cantora

Acabei de ouvir o disco novo de Sophie Milman, intitulado Take Love Easy. Mistura jazz e pop, com a mais alta qualidade. Encaixa standards como "Love for Sale", "I'm on Fire" (de Bruce Springsteen), "50 ways to leave your lover" (Paul Simon) e a famosa "Fever". Procurem e ouçam que vale a pena.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Urgente porém sem pressa

Folheei, em casa, o livo com os poemas de Geraldo Alencar, que servem de texto para O Homem Provisório. O que mais me impactou foi "Deus vem vindo, ninguém vê. Igual ele fez o mundo. Urgente, porém sem pressa". Que lindo.
Acabei de ler "Sem deixar vestígios", policial de um autor de sobrenome Doolittle. Bom, simplesmente. Assisti "Vício Frenético", e a sofreguidão que o ator nos passa, não lembro agora seu nome, é parecida com a de um amigo fraterno que tenho, embora este, o amigo, esteja pilhado em comer, sem parar e o outro, o personagem, seja por drogas.

A selva, não a floresta

Encontro João de Jesus Paes Loureiro na Praça da República, esperando o horário de abertura de um banco. Ele procura ver, nas casas restantes, entre o Edifício Selecto e o Banco, o que deveria ter estado ali. Lembro-lhe de um casarão onde funcionava a Tuna Luso Comercial, depois, Brasileira. Havia também, ouvi dizer, outro clube, que realizava festas. Quase na esquina da General Gurjão, os Abud recuperam um belo prédio, de tantas histórias. Atravessando a rua, nos altos, restos de um belo casario. Embaixo, lojas horrorosas. Ao lado do Hotel Grão Pará ficava a casa de meu amigo de infância, Nelson Lima e ao lado, outro amigo, Carlos Tonini. Brincávamos, ali e na Praça da República, esta mesmo que faz cem anos e ninguém nem festeja, sequer lhe cuida. Comentamos a regressão à barbárie e falo do que considero a "volta à floresta". Ele me conserta. "Floresta não, porque é outra coisa, bela, romantica. Volta à selva, que é algo anterior à floresta". Certo. Volta à selva. Pena, não é?