O disco novo de Mônica Salmaso
é para ser ouvido de maneira contrita, como em uma missa. É seu décimo trabalho
e penso que chegou ao ápice da carreira, como a melhor cantora do Brasil.
Contrapõe, com a obra, toda essa massa sonora de má qualidade que somos
obrigados a ouvir em todos os meios de comunicação. É tão bom que nem sei por
onde começar. O repertório. É composto por músicas da parceria entre Guinga e
Paulo César Pinheiro. Estava guardado em fitas cassete e quase todo inédito,
por conta de um desentendimento. Um pecado. São sambas, marcha rancho, bolero,
violadas, um leque vasto e lindo. Obras primas. As melodias são belas,
tortuosas como uma brisa que passa entre as árvores e flores. As letras de uma
riqueza ímpar, poéticas, românticas, saudosas, cheias de humor e caráter
brasileiro. Os arranjos são acústicos e então cordas e madeiras rangem, sob o
comando de Tiago Costa, Nelson Ayres e Dori Caymmi. Vêm flautas, saxes,
clarinetes, de melodia, opinião, autoria, às vezes camerísticos, em outros,
como um imenso céu azul. “Bolero de Satã” é a única mais conhecida, gravada
anteriormente por Elis Regina em “Essa Mulher” e sem receber, talvez por conta
do grande número de sucessos naquele trabalho, a atenção devida. Aqui, Mônica
devolve à composição, toda a honra devida. Por mim, prefiro mesmo é o fado “Navegante”,
que me encheu de emoção. O disco soa Villa Lobos, Antonio Carlos Jobim. É o
melhor disco de música brasileira de alto nível em muitos anos. Um clássico.
Para ouvir com olhos fechados. Que lindo!
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