quinta-feira, 2 de outubro de 2014

MÔNICA SALMASO - CORPO DE BAILE


 O disco novo de Mônica Salmaso é para ser ouvido de maneira contrita, como em uma missa. É seu décimo trabalho e penso que chegou ao ápice da carreira, como a melhor cantora do Brasil. Contrapõe, com a obra, toda essa massa sonora de má qualidade que somos obrigados a ouvir em todos os meios de comunicação. É tão bom que nem sei por onde começar. O repertório. É composto por músicas da parceria entre Guinga e Paulo César Pinheiro. Estava guardado em fitas cassete e quase todo inédito, por conta de um desentendimento. Um pecado. São sambas, marcha rancho, bolero, violadas, um leque vasto e lindo. Obras primas. As melodias são belas, tortuosas como uma brisa que passa entre as árvores e flores. As letras de uma riqueza ímpar, poéticas, românticas, saudosas, cheias de humor e caráter brasileiro. Os arranjos são acústicos e então cordas e madeiras rangem, sob o comando de Tiago Costa, Nelson Ayres e Dori Caymmi. Vêm flautas, saxes, clarinetes, de melodia, opinião, autoria, às vezes camerísticos, em outros, como um imenso céu azul. “Bolero de Satã” é a única mais conhecida, gravada anteriormente por Elis Regina em “Essa Mulher” e sem receber, talvez por conta do grande número de sucessos naquele trabalho, a atenção devida. Aqui, Mônica devolve à composição, toda a honra devida. Por mim, prefiro mesmo é o fado “Navegante”, que me encheu de emoção. O disco soa Villa Lobos, Antonio Carlos Jobim. É o melhor disco de música brasileira de alto nível em muitos anos. Um clássico. Para ouvir com olhos fechados. Que lindo!

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