sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Desculpe, por escrever corretamente?

As mídias sociais aproximaram pessoas distantes geograficamente e talvez as afastaram da conversa face à face. Podemos dizer que fizeram muita gente voltar a escrever, não somente e-mails, mas papear, dar opiniões, mostrar-se para o público, registrar seu dia a dia. Também deixaram clara a má formação dos brasileiros no que diz respeito à boa escrita. Não estou me referindo às novas maneiras de abreviar palavras e outros truques. Língua é um organismo vivo. Mas escrever errado é humilhante. Diria que em 80% das postagens há erros crassos de ortografia. Pra mim fazer, pra ti ir e outros, lotam as mídias. E as simples palavras escritas de maneira errada? Uma piada que rola, dá conta de uma moça que convidou seu pretendente para jantar e pediu uma confirmação, ao que ele respondeu: com certesa. Esfriou a relação. A verdade é que na medida em que filmes começam a passar nos cinemas e até em canal fechado dublados, na medida em que música sertaneja se transforma em universitária, na medida em que ir a um barzinho, não é mais conversar e sim assistir lutas de MMA, tudo fica difícil.

E as relações? A mulher começa um namoro. Acha o cara legal. Ele a convida para uma reunião de amigos. Mulheres de um lado, homens de outro, jogando dominó! Ou então ela fica sentada enquanto ele joga bilhar e de vez em quando, lança um olhar orgulhoso. Por meu lado, tenho o defeito de ler livros e jogar futebol, mas creio que ao menos no segundo defeito, tenho tantos seguidores que acabo absolvido. A mulher começa o namoro e ele, ao invés de leva-la a um jantar romântico, prefere uma churrascaria. Ele quer ouvir no carro o último disco de Mônica Salmaso, mas a garota insiste em um pagode. Ela quer ir ao cinema mas ele diz que só vai se o filme for dublado. E o toque do celular? O dele é de funk. O dela é Mozart. São diferenças abissais, que dificilmente chegam a um consenso. E vocês sabem, as relações são boas quando se chega a um consenso, afinal, cada um tem seus gostos. Mais do que tudo, essas diferenças citadas dizem respeito à Estética. E aí, é bem difícil. O que conversar se o namorado de olhos rútilos acompanha o lutador socar seguidamente o adversário que se esvai em sangue? Essa questão estética opõe gravemente o que muitos consideram boa educação, informação, senso estético e, puramente, falta de educação e preparo. Um amigo, de 14 anos, estudante de bom colégio particular, me conta que há poucos dias, corrigiu o professor que se expressava erradamente, de maneira chula. Se começa pelo professor.. Nossa Educação vai muito mal e já temos cidadãos que parecem falar outra língua, têm outras preferencias. Pior, já são maioria. E lembrar que em países como a França, o ditado, a leitura em voz alta, nas salas, o estudo sobre os escritores, são obrigatórios, que promovem o conhecimento, a opinião própria e principalmente, o diálogo, a argumentação. Isso tudo reflete em mídias como facebook e what’sup. Dá vontade de rir. Dá vontade de chorar. Dá constrangimento, quando se trata de alguém que você conhece, mas não tanto para corrigir. Há como que um dialeto falado pela maioria da população, uma estética diferente, de um lado com o onipresente brega e do outro, pagodeiros e sertanejos “universitários”. Vem até o constrangimento em falar corretamente no grupo de amigos. Muitos preferem o tal “coloquial”, para sentirem-se adotados, não parecer querer ser melhores do que outros. O problema é nacional. O problema é estadual. E aqui, já dura mais de vinte anos. Neste domingo, vote, no mínimo, pela Cultura. Aos que vão sair, todo meu desprezo pelo mal que fizeram ao povo.

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