As atrizes Malu Galli, Andréa
Beltrão e Mariana foram ao programa de Jô Soares falar sobre uma peça teatral
que apresentam no Rio de Janeiro, Teatro Poeira. E foi sobre o teatro que se
demoraram a conversar, tendo em vista a importância de sua existência e
dificuldades em geral. A casa é uma empreitada ousada das atrizes Andréa
Beltrão e Marieta Severo, contando com o luxuoso apoio da Petrobrás. Deu tão
certo que adquiriram imóvel ao lado, onde antes havia uma oficina. Agora é o
“Poeirinha”, com 60 lugares. Já estive lá. É tudo bem feito. Tudo de primeira.
Que maravilhoso para atores e técnicos dispor de um local para ensaiar e
encenar seus espetáculos. Melhor ainda é contar com um bom patrocinador, que
garanta um mínimo de condições para manter vivo o empreendimento. Fiquei
pensando no nosso Teatro Cuíra. É claro que há diferenças profundas entre Belém
e RJ. Lá, há mercado teatral, profissional e amador. Creio que Estado e
Município administram suas casas e programas para atingir outras praças, ou
subúrbios. Aqui, não é assim. Há, pelo contrário, total animosidade por parte
das “artoridades” em relação aos artistas. Os cargos na área de Cultura são
entregues a amadores, malucos, incompetentes, gente que se orgulha da própria
cretinice e até se vangloria dela, como método de agredir mais ainda aqueles
que produzem Cultura e tentam viver disso. Escrevo isso e penso do alívio que
nós, do Grupo Cuíra sentimos, semana passada, ao saber da aprovação de mais um
projeto cultural, junto à Funarte. Alívio e emoção por saber que provavelmente,
mesmo à custa de sacrifícios, sobreviveremos por mais um ano. Pagaremos as
contas de uma casa antiga, datada de 1905, mas hoje viva, muito viva, cheia de
idéias e alegria, com cem lugares, ar condicionado e todos os sonhos do mundo.
Já tivemos apoio da Petrobrás,
mas ligado a um projeto específico. Não é um patrocínio constante, como o
Teatro Poeira. Ah, se isso fosse possível! Fazer Teatro em Belém, é como ter um
cavalo ferido de morte e usar de todos os seus esforços para salvá-lo. Você
sabe que ele vai morrer, mas não vai deixar isso acontecer.
E os artistas e técnicos, o que
fazem entre um projeto e outro? Rezam. Sim, há quem ouse viver apenas do fazer
teatral. As contas chegam e não são pagas. Se não há para alimentação e
moradia, como fazer para viver? Não são perdedores, infelizes, sem instrução ou
força de vontade. São vencedores, talentosos, cultos, gente vital para o
desenvolvimento de um povo. São os artífices da Cultura. E no entanto, a
situação é terrível. Será que isso pode mudar?
Sábado passado, na Livraria
Fox, aconteceu a Flipa, Feira de Literatura Paraense. Nove escritores com seus
livros à disposição dos leitores, premiações e palestras reuniram um grande
número de interessados. Que bom seria se houvesse uma política cultural
profissional no Pará, em Belém. Nesses vinte anos de tucanos, fomos ao mais
profundo dos buracos em termos culturais. Uma geração inteira de artistas se
perdeu, sem apoio, fomento, sem mercado de trabalho. Neste domingo, cruzaremos
uma fronteira. Se o governo atual se mantiver, será o fim de tudo, pelo menos
para nós, artistas, pelo tanto que a corda foi esticada. Vai arrebentar. Se
perderem, abre-se a chance de recuperar tudo, aos poucos. O dano foi muito
maior do que se pensa. Mas vamos nos profissionalizar, atualizar, espalhar por
esse imenso Pará. Neste domingo.
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