sexta-feira, 24 de outubro de 2014

NESTE DOMINGO

As atrizes Malu Galli, Andréa Beltrão e Mariana foram ao programa de Jô Soares falar sobre uma peça teatral que apresentam no Rio de Janeiro, Teatro Poeira. E foi sobre o teatro que se demoraram a conversar, tendo em vista a importância de sua existência e dificuldades em geral. A casa é uma empreitada ousada das atrizes Andréa Beltrão e Marieta Severo, contando com o luxuoso apoio da Petrobrás. Deu tão certo que adquiriram imóvel ao lado, onde antes havia uma oficina. Agora é o “Poeirinha”, com 60 lugares. Já estive lá. É tudo bem feito. Tudo de primeira. Que maravilhoso para atores e técnicos dispor de um local para ensaiar e encenar seus espetáculos. Melhor ainda é contar com um bom patrocinador, que garanta um mínimo de condições para manter vivo o empreendimento. Fiquei pensando no nosso Teatro Cuíra. É claro que há diferenças profundas entre Belém e RJ. Lá, há mercado teatral, profissional e amador. Creio que Estado e Município administram suas casas e programas para atingir outras praças, ou subúrbios. Aqui, não é assim. Há, pelo contrário, total animosidade por parte das “artoridades” em relação aos artistas. Os cargos na área de Cultura são entregues a amadores, malucos, incompetentes, gente que se orgulha da própria cretinice e até se vangloria dela, como método de agredir mais ainda aqueles que produzem Cultura e tentam viver disso. Escrevo isso e penso do alívio que nós, do Grupo Cuíra sentimos, semana passada, ao saber da aprovação de mais um projeto cultural, junto à Funarte. Alívio e emoção por saber que provavelmente, mesmo à custa de sacrifícios, sobreviveremos por mais um ano. Pagaremos as contas de uma casa antiga, datada de 1905, mas hoje viva, muito viva, cheia de idéias e alegria, com cem lugares, ar condicionado e todos os sonhos do mundo.
Já tivemos apoio da Petrobrás, mas ligado a um projeto específico. Não é um patrocínio constante, como o Teatro Poeira. Ah, se isso fosse possível! Fazer Teatro em Belém, é como ter um cavalo ferido de morte e usar de todos os seus esforços para salvá-lo. Você sabe que ele vai morrer, mas não vai deixar isso acontecer.
E os artistas e técnicos, o que fazem entre um projeto e outro? Rezam. Sim, há quem ouse viver apenas do fazer teatral. As contas chegam e não são pagas. Se não há para alimentação e moradia, como fazer para viver? Não são perdedores, infelizes, sem instrução ou força de vontade. São vencedores, talentosos, cultos, gente vital para o desenvolvimento de um povo. São os artífices da Cultura. E no entanto, a situação é terrível. Será que isso pode mudar?

Sábado passado, na Livraria Fox, aconteceu a Flipa, Feira de Literatura Paraense. Nove escritores com seus livros à disposição dos leitores, premiações e palestras reuniram um grande número de interessados. Que bom seria se houvesse uma política cultural profissional no Pará, em Belém. Nesses vinte anos de tucanos, fomos ao mais profundo dos buracos em termos culturais. Uma geração inteira de artistas se perdeu, sem apoio, fomento, sem mercado de trabalho. Neste domingo, cruzaremos uma fronteira. Se o governo atual se mantiver, será o fim de tudo, pelo menos para nós, artistas, pelo tanto que a corda foi esticada. Vai arrebentar. Se perderem, abre-se a chance de recuperar tudo, aos poucos. O dano foi muito maior do que se pensa. Mas vamos nos profissionalizar, atualizar, espalhar por esse imenso Pará. Neste domingo.

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