sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O fim do Cinema tesouro e a magia do Teatro viva

Peter Greenaway deu entrevistas esses dias. Esteve no Rio ou SP. É um grande artista. Nem tenho Cultura cinematográfica suficiente para discutir mas assisti algumas de suas obras extasiado. Seus últimos trabalhos foram sobre Rembrandt. Está morando na Holanda. Ficou louco pela técnica do pintor em luz artificial. Imagino o que deve ter feito. Mas Peter está desencantado com o Cinema. Acha que está morto. Acha que webmasters inventaram a arte do cinema participativo, não passivo, onde entramos naquele útero escuro e nos postamos, sentados confortavelmente, para receber aquela carga de informação que vem da tela, daquele ser, daquela boca luminosa. Peter acha que o cinema acabou com a invenção do controle remoto. Talvez esteja falando comigo. Quase não vou ao cinema. Tenho uma boa tela e assisto no conforto de minha casa. Xixi, Coke, biscoitinhos, sabe como é. Disse que não tem twitter pois ou passava o dia atento aos outros e respondendo, ou ia criar. Bem, também não tenho twitter. E Arnaldo Jabor? A Folha não gostou, mas o Estadão fez elogios ao seu "Suprema Felicidade", um "Amarcord" brasileiro. Gosto do Jabor jornalista. Lembro ter assistido "Eu te amo" e ter gostado mais do texto do que do filme. Jabor disse que o cinema tesouro acabou. A ilusão que levava ao êxtase. Agora é o cinema como realidade alternativa. Ou às vezes, como documentário. Leio críticas sobre "Tropa de Elite 2" e acho que as pessoas comentam o filme como se tivessem assistido a um documentário. Como se o Coronel Nascimento existisse e temos de discutir suas ações. É somente um filme. Também penso na espetacularização da violência feita por Hollywood. Há muito que não vamos ao cinema para ouvir o que o filme diz. Ouvir e pensar. É somente aquela torrente de agressões visuais e sonoras, como uma picareta querendo invadir nossa alma. Meu filho me mostrou um jogo em BluRay. Você escolhe quem quer ser. É um sujeito encarregado de matar uma outra em Manhattan. Ih, a Polícia já está atrás. Você sai correndo, atira, mata, toma um carro, segue pelas ruas de Manhattan, logo uma rádio patrulha aciona a sirene, há um mapa da ilha, por onde ir? Deixar o carro, se esconder no Central Park, onde era, mesmo, que estava o cara que iria matar? A veracidade e qualidade do Game me fazem pensar no garoto com pouco preparo intelectual e psicológico, que após passar doze horas seguidas jogando, sai de casa e vai à Academia malhar e de repente, fica pilhado, ligado, máquina de matar pronta para arremedar o Game. Vai à festa não para ver as meninas, mas para estraçalhar outros garotos. Que vai no seu carro e vem um bobo e encosta, bate, sei lá, tranca. É perseguido e estraçalhado. Penso nisso com grande preocupação e estou na porta do Teatro Cuíra, recebendo o público das Gatosas. Muita gente vindo pela primeira vez ao Cuíra. E que só esteve em Teatro para assistir qualquer global que passou por aqui. E ali, naquele lugar simples, mas com o público bem próximo, dá-se a química. Olho seus rostos, olhos atentos, sorriso na face, a mágica acontecendo na sua frente, quase pele com pele. E saem dizendo que gostaram, já perguntaram uma vez se elas são atrizes paraenses, pois parecem de fora, enfim, essas coisas. A mágica do teatro. Semana que vem estreamos "Sem Dizer Adeus" e usamos projeção de imagens. O cinema com o teatro, no caso, o cinema como coadjuvante, como um instrumento a mais para fazer a mágica funcionar. Tomara que gostem.

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