Eu estava muito bem instalado no Estádio do Morumbi, São Paulo, quando Roger Waters começou a tocar um dos clássicos de "Dark side of the moon". Estava de pé, procurei chegar mais próximo, tentei filmar em máquina tosca, pensei em pedir a um dos seguranças, que filmasse um pouco para que eu pudesse assistir sem nenhum filtro, aquilo que minha mente queria guardar. Aquele negócio em que perdemos o melhor dos acontecimentos por conta de uma filmadora onde assistiremos, mais tarde, o que era tão importante. Pois é, quando olhei ao lado, para o segurança, ele também filmava e cantava a plenos pulmões. E logo adiante, os helicópteros soavam naquele estádio enorme, o pig inflável estava sob nossas cabeças e eu confesso, chorei de emoção. A diferença brutal entre o momento em que ouvi aquele som pela primeira vez, em vinil, em Belém do Pará, absolutamente distante de tudo e agora, à minha frente. Como o Pink Floyd nunca teve em seus integrantes, músicos performáticos, suas apresentações, no início, apostavam em projeções psicodélicas, até Waters enveredar por ilustrações mais teatrais, digamos. Então veio "Wish you were here", como uma obra inteira, já usando problemas pessoais de seu autor com citações de Syd Barrett e transbordou tudo em "The Wall". Roger hoje diz que ele e David Gilmour cresceram muito em direções opostas e foi fatal haver um choque de opiniões. Os demais companheiros não estavam muito interessados. E Roger fez quase tudo em "The Wall". Gravavam em estúdios diferentes, nos EUA. Ele, sempre, contratando músicos, côros, pensando no show, em como fazer, chamando Gerald Scarf com seus desenhos, agora tridimensionais. "Another brick on the wall", que alguém sugeriu a batida da galera do Chic e foi super acertado, dando a eles um super hit. E no meio da briga, o produtor Bob Ezrin pega os tapes e se tranca em casa, no estúdio particular, de onde volta com uma sequência, uma ordem das músicas. O magistral solo de David Gilmour em "Comfortably Numb", saibam, foi feito de prima. Houve poucos shows. Tudo era muito caro. E as brigas. Ainda veio um último disco, novamente com Roger no comando e tchau. Brigas judiciais, a volta do PF sem Waters. Seus discos solo. Seu retorno no Live Aid. Agora, Roger Waters está mostrando "The Wall", pelo mundo. Tomara que venha por aqui. Gilmour disse que fará o solo de "Comfortably.." em algum dos shows.
E o que é "The Wall". Uma mistura das angústias de Roger, que perdeu o pai quando ainda tinha cinco meses de idade. Ele morreu na Batalha de Anzio, Segunda Guerra Mundial. Aos colegas, Roger dizia que o pai ainda voltaria. Pediu à mãe para ir buscá-lo em Anzio. As angústias de Syd Barrett, envolvido na bruma entre as drogas e a veneração dos fãs. E suas angústias como artista pop, a quem todos vêem como um deus, todos querendo tirar um pedaço e ele é apenas um ser humano frágil, mas que, do alto daquele palco, pode se tornar um ditador. É curioso que Roger tenha tanta admiração pelo primeiro disco solo de John Lennon, que traz "Mother", e uma das canções mais expressivas de "Wall" seja, justamente, "Mother".
É o que se escreve depois de "pensar alto". Acabei de ler uma entrevista de RW à Rolling Stone americana. Gosto dele. De sua música, o ambiente, teatral, com sons do dia a dia, como também fez o Sparklehorse. Acho que vou ouvir "The Wall"
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