Essa é a infeliz conclusão de uma pesquisa revelada hoje pelo Datafolha e Fundação Getúlio Vargas, com 2.400 entrevistas feitas em 82 cidades do Estado de São Paulo. Notem bem, estamos nos referindo ao mais rico Estado do Brasil, com inúmeras ações, nas mais variadas esferas, federal, estadual, municipal, iniciativa privada, inúmeros espaços culturais, incluindo desde galerias até teatros, por exemplo, enfim, o resultado é desolador.
A grosso modo, 40% dos entrevistados não vai ao cinema, enquanto 60% não vai a teatro e 61% não vai a museus, misturando, basicamente, três motivos: não me interesso, não gosto e não me sinto bem fazendo. Antigamente, havia a crença em uma pressão social para que todos fôssemos cultos, bem informados e consumidores de Cultura. Respondiam, eu bem que gostaria, mas está tão caro, ou então, é tão longe de casa, mas hoje, nada disso. Hoje, a resposta é, sou cretino e tenho orgulho disso. Pior, 84% acha que as cidades deveriam ter mais espaços culturais, enquanto que 38% somente consome cultura quando viaja para outra cidade. Há outros números, como 97% ouve música em casa, 87% assiste filmes em DVD em casa, 71% acham que consome Cultura quando vai a shoppings, 68% lê livros (ééééé????) e 66% somente vai a festas. Ficou evidente, também o consumo doméstico, levado principalmente pela compra de filmes piratas.
Trazer os resultados da pesquisa para Belém do Pará nos leva para uma situação absolutamente desesperadora. Andei há semanas atrás pela Santo Antônio, coalhada de vendedores de Dvds piratas. Diria que 98% mistura filmes de sangue, violência, terror e pornô. Se é isso o que as pessoas consomem em casa, estamos feitos. Em termos de música, há uma alegria, no ar, tocando o brega mais pornô possível. Na questão de quem vai ao teatro, nem sei o que dizer. Hoje, felizmente, há muita produção local sendo apresentada, mas um público diminuto. Fiel, mas diminuto. O grande público se perdeu do Teatro. Há muitas razões, mas a falta de Educação e Cultura, espelhada em 16 anos de administrações desastrosas, refletem isso. Imaginem museus. Dois exemplos, o primeiro, o Teatro Cuíra, cem lugares. Estamos lá com As Gatosas. Felizmente os colegas jornalistas publicam reportagens. Mas quem está lendo jornais, hoje em dia? Estamos na televisão, mas as pessoas parecem temer se aproximar do Teatro local. Acham que é menor, ruim, amador. Só vão quando é no Teatro da Paz, com artista global. E nem querem assistir a peça, e sim fotografar o astro. Ou então vêm comentar que viajaram e foram todos os dias ao teatro. Outros logo perguntam se é comédia. "De problemas bastam os meus". E museus? Nosso próximo espetáculo, em novembro, é sobre o amor do Governador Magalhães Barata e Dalila Ohana. Para poder ver as roupas de Barata, junto com figurinistas e cenógrafos, tivemos uma longa negociação e procura, entre vários órgãos, até acharmos, no Museu do Estado, onde fomos muito bem atendidos. Tudo guardado, encaixotado. O museu de Barata, ridicularizado pelas pessoas que não sabem sua história, o significado de seu formato arquitetônico, está fechado há vários anos, sem qualquer previsão de retorno.
E temos Belém, temos o Pará, com zero de Cultura, governos do Estado e do Município que estão, perdoem o palavrão, cagando para a Cultura. Então, sinto-me, muitas vezes, quase sempre, pregando no deserto, mas continuando por acreditar no que faço. Está claro na cara das pessoas, "eu não me interesso pelo que você faz", mas e daí, eu acho importante. Agora me chega um email, enviado há muitos outros, onde a governadora Ana Júlia chama para uma "conversa sobre Cultura". Quá quá quá. Pois eu digo, desculpem, nem fodendo!
2 comentários:
Estive já por aqui e cá estou outra vez. Belo espaço para as letras, para a poesia, para o pensamento... para tornarmos mais claros nossos caminhos! Ao mesmo tempo em que te mobilizo para removermos este triste índice de 2 livros/ano por leitor brasileiro (na Argentina são dezoito livros/ano),
te convido a conhecer meus romances. Em meu blog, três deles estão disponíveis inclusive para serem baixados “de grátis”, em formato PDF.
Um grande abraço e boa leitura!
Vou até lá, com muito prazer.
Abs
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