Nesta quarta fazemos a estréia de As Gatosas, comédia sobre mulheres com idade em torno dos 50 anos e seus problemas, angústias, alegrias e principalmente, postura nos tempos em que vivemos. Uma mulher de 50 anos, hoje, é completamente diferente de outra, na mesma idade, no final do século passado.
A idéia veio quando minha namorada esteve em uma médica e conversou sobre sintomas de menopausa. Preciso esclarecer, sob pena de sumária execução, que ela ainda não está na faixa dos 50 anos. Mas veio a idéia de escrever algo assim. Decidimos reunir atrizes nessa faixa etária e para fazer o texto, primeiro ouvi-las falar. Por coincidência, li uma crônica que Vera Cascaes escreveu em O Liberal, com o mesmo teor. Leitor de Vera, enviei email, fiz contato e a convidei para participar dos encontros. As demais Gatosas escolhidas foram Sandra Perlin, Olinda Charone e Sonia Alão. Os encontros transformaram-se em alegres e divertidas reuniões e uma Vera que chegou, naturalmente tímida, agora conduzia as conversas. E tão rica a participação de Vera que a convidei para escrever, comigo, o texto. Depois de aceitar, um novo pedido. Ela teria coragem de estar em cena, como uma Gatosa? Ousada como ela só, concordou.
Escrevemos o texto, trocando emails e começamos a fazer leitura de mesa. Vera faz Marina, uma gatosa tipo esotérica, mística, que a cada semana acredita em um guru diferente e canta mantras no jardim. Sandra Perlin faz Beta, fazendeira, gay, animada, charuteira. Olinda Charone faz Bia, alucinada por malhação, dessas que passa o dia naquelas roupas Nike e bike. Sonia Alão faz Pat, uma perua elegantérrima, viciada em tratamentos de beleza. Esses personagens estudaram juntos em um colégio, e ficaram amigas, na adolescência. Agora, alguém teve a idéia de reuni-las novamente. Assim, o encontro.
Posso dizer a vocês que não sou nem tenho vontade de ser um diretor teatral. É uma missão espinhosa, difícil, para quem tem uma cultura teatral vasta, imaginação e inteligência. Não sou essa pessoa. Sou um escritor. Após assistir Cacá Carvalho trabalhar, fiquei ainda mais respeitoso pelo ofício. Mas as circunstâncias do Cuíra me levaram à direção. Componho trilhas sonoras, faço sonoplastia e agora dirijo. Por amor ao Cuíra. Assim, a direção, que começou em "Abraço", devidamente protegido por Zê Charone e Cláudio Barradas. Agora, no meio dessas quatro gatosas, confesso que foi ao mesmo tempo muito gostoso, agradável, mas também muito cansativo. São quatro atrizes de gênio forte, alegres, impetuosas, inteligentes, safas, de raciocínio rápido e eu no meio desse tiroteio. Como em "Abraço", procurei não atrapalhar o trânsito. As meninas cuidam de Vera que, convenhamos, é uma grata surpresa, tão à vontade como se sente.
É uma comédia, mas também convida à reflexão. Homens e mulheres. É a função do teatro. Agora está sendo entregue. Imaginem que estou ensaiando, ao mesmo tempo, outra peça, "Sem dizer adeus", sobre as últimas 72 horas de vida de Magalhães Barata, com Zê Charone e Cláudio Barradas. Uma pedrada. E tudo isso sem tirar férias de meus afazeres. Ao final do dia dá um cansaço bem forte. Não dá para fazer tudo. Preciso voltar a escrever. Talvez em novembro, vamos ver. As Gatosas estréia oficialmente na próxima quarta, 8 de setembro, ficando sempre às quartas, neste mês. Em outubro, aos finais de semana. O espetáculo recebeu os prêmios "Cláudio Barradas", de Artes Cênicas, Secult e também o "Myriam Muniz", da Funarte. Faço um convite a todos.
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