quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Andando pelas ruínas da cidade

Por motivos diferentes, dei boas caminhadas pelo centro da cidade. Na primeira vez, ao sair da Estação das Docas, resolvi tomar a direção da João Alfredo, passando pela frente da Igreja das Mercês, tão bonita, históricamente tão importante e ali cercada pelos apaches. Pior ainda a Praça em frente, com belas estátuas, absolutamente ignoradas pelos camelôs que lhe ofendem com a presença, sujam e denigrem a história. Olho em volta. Olho para cima. Belas e antigas casas, tantas coisas a contar. E embaixo, essa chusma que grita, mija, caga e fode com a ordem. Nenhum deles desejará ter um emprego no qual use uniforme, tenha relógio de ponto e obrigações. Como "marreteiros", passam o dia jogados, conversando, rindo, arengando, sem horário, sem pagar impostos, vendendo produtos piratas. A inversão de toda a Ordem que chamamos de Civilização, maneiras que encontramos para conviver, um respeitando o direito do outro. Olho o tabuleiro dos cds e dvds piratas. Dos artistas, nunca ouvi falar. Dos filmes, apenas de terror, violência, monstros, um grito de socorro que dão, pedindo, mesmo que não saibam, Educação, Cultura, Saúde e Saneamento. Ali, estamos descendo muitos degraus retornando à selva.
Da segunda vez, voltando do Pátio Belém, da Padre Eutíquio para a Presidente Vargas. Hora de almoço. De um lado, o shopping e sua praça de alimentação. Fora, inúmeras barraquinhas, lotadas, vendendo algo que não se posso chamar comida, tamanha a falta de higiene e qualidade. O fosso, mais uma vez presente. Será que há quem vá passear no shopping e saia para comer onde pode pagar? Será que são funcionários do shopping? Lá dentro, vendem artigos de qualidade, mas têm de sair e comer o que há de pior? E as casas? Há casas lindas ali, em uma delas, meu pai nasceu, quando a rua ainda era São Mateus. Passo na Praça Barão de Rio Branco, bem cuidada, felizmente. Nas paradas de ônibus, uma miríade de camelôs oferece de tudo e joga os restos no chão. As casas são imundas, depredadas, com outdoor na frente, machucadas, ofendidas, agredidas. A beleza esmurrada. e todos no meio da rua, ou expulsos pelos camelôs, ou porque estamos voltando à selva e lá, não há calçadas. Onde está Belém, tão linda, que sobrevive em nosso coração?

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