quarta-feira, 26 de maio de 2010

Nós e Dunga

Todas as seleções saíram do Brasil para a Copa não exatamente em lua de mel. Mesmo Telê, que dirigiu a inesquecível seleção de 82, sofria até com Jô Soares, que gritava semanalmente "bota ponta, Telê!". É que, achando lugar para Zico, Sócrates, Falcão, Cerezzo, não havia nenhum ponta direita, na época, uma posição ainda existente. Bem antes, Coutinho botava laterais na ponta direita, querendo o que hoje qualquer meia faz, no esquema 4-4-2. Mas sempre depende dos jogadores que se tem. Assim se escala uma equipe. Quanto a Dunga, há uma brutal distância entre aquilo que um técnico profissional, com uma carreira, um nome a zelar e, principalmente, com o sonho de ganhar uma Copa do Mundo, e o que nós brasileiros, achamos que a seleção deve ser. Nós, brasileiros, queremos uma seleção que nos represente. Que represente o que consideramos o futebol ideal. Malandro, rápido, desconcertante, elegante, bonito, cheio de dribles, jogadas bonitas e claro, vitorioso. Para nós, esse é o futebol brasileiro que nos orgulha. Uma distância brutal para o que um técnico pretende. Imaginem Dunga, que nem é treinador. No caso específico, ele foi contratado para repor no lugar algo que hoje já soa meio estranho em seleções. O amor à Pátria. Já escrevi sobre isso em outra postagem. Nossos jogadores, quase 100% jogam fora do Brasil. Passam o ano correndo e chutando bolas nos mais diferentes países. Quando chega a Copa do Mundo, também é um torneio, mais um torneio, o top de linha, para suas carreiras, com grandes premiações. Amor à Pátria? Não tem nada a ver. Patriotismo é outra coisa. O que ocorreu na Copa passada foi muito pior. Jogadores milionários, encararam com pouco profissionalismo o torneio. Deu no que deu. Dunga quer patriotismo. Acho ridículo. Mas que ele consiga reunir atletas interessados em fazer seu nome, ganhar prêmios e claro, dar ao Brasil a Copa, já é ótimo. Dunga não quer perder. Nenhum quer. Mas é um profissional dizendo isso, não um torcedor que pensa primeiro em ganhar. Ele, pensa primeiro em não perder. Como volante marcador, cansado de levar dribles, tem ojeriza aos craques. Se enche de marcadores e deixa uns dois à frente. Muitos fizeram assim. Felipão foi campeão. Todo mundo atrás e na frente, Rivaldo e Ronaldo, além do Gaúcho. Ele leva uns sete volantes. Acredita neles. Sabe que volantes compreendem, mais do que todos, a necessidade de marcar. Mas fica limitado. A seleção de Dunga joga no contra ataque. Mas quem atacará o Brasil? Talvez mais à frente, se passar. A dificuldade virá quando Kaká não encontrar espaço para o contra ataque, por exemplo. O adversário estará todo atrás. E aí? Gostaríamos que a seleção jogasse como o Barcelona. Como a própria seleção espanhola, que joga bonito, trocando passes, marcando à frente. Nem pensar, para Dunga. Ele prefere ganhar como a Internazionale ganhou a tríplice coroa, todo na defesa. Vou assistir. Gosto de futebol. Sou brasileiro. Espero que dê certo. Mas, como todos os brasileiros, não me considero representado pela seleção escalada.

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