quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Insatisfeito
Não tenho gostado de nada. Devem ter percebido. De filmes, por exemplo. Não, gostei de um, Miss Pettigrew lives a day. Não lembro o título em português. Mas também não tenho gostado dos cds. Ainda compro. Discos instrumentais, bossa nova, novos nomes. Nada tem me deixado feliz. Comprei Roberto Carlos e Caetano Veloso cantam Tom Jobim. Uma lástima, claro, para o que se poderia esperar. O show foi comprado por patrocinador. Eles iriam lá, fariam seu papel, sem desgaste e pronto. Mas veio o olho grande de uma indústria falida. Virou cd e dvd. Aí, vêm os problemas. Ao juntar duas grandes figuras da nossa música, deviam permitir, ou ambos deviam permitir-se, realmente, misturar-se, trocar figurinhas, arriscar-se pelo prazer da companhia. Li, certa vez, a respeito de um show semelhante, que juntou João Gilberto e Tom Jobim, do drama de bastidores, tipo quem ensaia primeiro, quem fica em pé, quem senta, quem canta a primeira música, e a última, quem vai entrar primeiro ou por último no palco. Vaidades. Roberto Carlos é, tecnicamente, um grande cantor. Sua opção, adulta, pela música romântica, que com o tempo e desgaste virou brega, é lamentável. Ainda hoje, rico, já decaindo, inevitavelmente em vendas, seja pelo crack da indústria, seja pela baixa qualidade, ele não arrisca nada novo. O terno é o mesmo, o cabelo alisado e os arranjos soporíferos de orquestra. Caetano Veloso também evita. Cada um no seu quadrado. E Caetano com um paletó aberto, má composição, ali ao lado, sem química, sem nada diferente. Sem tipo, agora, nessa, Caetano toca violão e eu canto, na outra eu toco piano e ele canta, aqui fazemos vocal, mudamos o andamento dessa, como uma reunião entre amigos, dois grande cantores técnicos, dois grandes vendedores de discos. E o que é esse Daniel Jobim, neto de tom, fantasiado de Tom, cantando igual a Tom, as músicas de Tom? Não gostei. Não gostei, também, de Zé Renato cantando a Jovem Guarda. Quando li a notícia, achei demais. Zé tem ótima voz e vive procurando brechas interessantes para gravar, vender seus discos e seguir em frente. Mas quando Zé Renato vai pegar as músicas da Jovem Guarda, imagino que vá torcer, aqui e ali os andamentos, oferecer outros instrumentos, leituras, ousar um pouco e ainda assim, sair-se bem. Não. A base é violão, ou banda de Jovem Guarda. Há uns dois cellos aqui e ali, mas sem um comportamento mais agressivo, bonito, diferente. Quando digo lástima, é lástima para um Zé Renato. Não gostei. Cantei todas as músicas e em cada uma, chato, lembrei da original com mais carinho. A mesma falta de garra no último cd de Leo Gandelman, que venceu naquele momento do jazz pop e hoje não sabe o que fazer. Decidiu por um karaokê chic, onde clássicos da música brasileira, em arranjos simples, são cantados por figuras como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Leila Pinheiro e outros estelares, e secundados por seus solos de saxofone. É muito fácil, muito simples. E depois reclamam que ninguém compra disco. Ah, não arriscam porque os consumidores, mais próximos do brega, não gostarão se complicar.. Chato. Meu irmão Edgar, diariamente conversa comigo sobre música, por exemplo. Raramente temos a mesma opinião. Ele é mais condescendente. Eu, não. Esses grandes nomes me acostumaram mal. Não posso perdoar-lhes, já que pago preço alto, sem desconto, para ouvir um Gilberto Gil e um Milton Nascimento que perderam sua voz e insistem em passar vexame. Ando insatisfeito, sabe?
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3 comentários:
Edir,
Também ando insatisfeito com o que antigamente se chamava a nata da música, brasileira ou não. Por isso, tenho apostado cada vez mais nos jovens talentos. Entre os que não querem imitar ninguém e, sim, seguir caminho próprio e diferente, aparece muita gente boa. Não no nível de Caetano, Gil, Roberto ou Milton quando eram jovens, mas ainda assim melhores do que os medalhões em sua performance atual.
A internet ajuda a encontrar gente boa. Uma boa garimpada garante momentos prazerosos de boa música.
Amigo, ando insatisfeito, mesmo. Você não imagina como, fuçando em todos os lugares, ouço gente jovem, que não me agrada. Mesmo assim, no campo internacional, aqui e ali, ainda se descobre coisa boa.
Abraços e obrigado pela visita
Edyr
Edyr, eu que o diga da dificuldade de ouvir música de qualidade hoje. É um pessoal que surge num dia e desaparece noutro. O pessoal que curto é da nossa MPB tradiconal que até hoje ninguém supera. Ou então o velho pop internacional. Parabéns pelo blog. Sucesso.
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